22 de set. de 2015

Infra-estrutura na Criação de Caprinos e Ovinos



A infra-estrutura de um sistema de produção de carne caprina e ovina para a região Nordeste envolve a parte de instalações e também a infra-estrutura de suporte alimentar para uso dos rebanhos principalmente na época seca.

Instalações

A importância das instalações dentro de um processo de produção está na facilidade e redução da mão-de-obra para as tarefas diárias, facilidade de manejo do rebanho e o controle de doenças, proteção e segurança aos animais, divisão de pastagens, armazenamento de alimentos, favorecendo, assim, maior eficiência produtiva.

A localização de uma instalação está relacionada com as características de cada propriedade, no que diz respeito à sua forma geométrica, a disposição das pastagens existentes e a disponibilidade de água, entre outras. No entanto algumas orientações devem ser seguidas, tais como: O local deve ser uma área convergente das pastagens ou permitir fácil acesso a todas elas a fim de favorecer a otimização da mão-de-obra no manejo do rebanho; O terreno deve ser de textura bem consistente (duro, pedregoso ou de afloramento calcário) e com boa drenagem; construída próximo à casa do manejador; em instalações com área coberta, esta deve ser construída no sentido norte-sul, no maior comprimento e com declividade de 2 a 5%.
Os fatores mencionados são de fundamental importância para a segurança e saúde dos animais nas instalações, bem como, para facilitar os trabalhos de manejo na propriedade.

Aprisco de Chão Batido


Este é o tipo mais usado entre os criadores de caprinos e ovinos no Nordeste. Para a construção deste tipo de instalação considerar os aspectos anteriormente mencionados sobre localização. Considerar para fins de altura do pé direito, algo entre dois e dois e meio metros de altura. A área por animal está descrita logo abaixo.

Área coberta por categoria de animal
1,0 m2/matriz
0,8 m2/jovem de reposição (recria)
0,5 m2/cria.
3,0 m2/reprodutor

Área Descoberta
Recomenda-se utilizar o dobro da área coberta para cada categoria de animal.
Quanto ao piso, deve-se utilizar material que permita uma boa compactação com uma boa drenagem. Escolher uma área com declive em torno de 2 % a 5 %.
Recomenda-se, limpeza quinzenal no período seco e diário no período chuvoso.
Aconselha-se construir, no compartimento destinado às crias, um estrado de madeira para o piso com ripões de 3,0 cm de largura, espaçado de 1,0 cm entre si.

Pedilúvio


A finalidade do pedilúvio é fazer a desinfeção espontânea dos cascos dos animais, toda vez que eles entrem ou saiam do aprisco.

Os pedilúvios deverão ser construídos na entrada dos currais, apriscos ou chiqueiros, de tal modo a forçar os animais a passarem, pisando através deles.
Eles devem ter as seguintes dimensões: 2,0 m de comprimento com 10,0 cm de profundidade. A largura deve ser a mesma largura da porteira, que deve medir 0,75 m.
Vários são os produtos que podem ser utilizados nos pedilúvios. a) solução de formol a 10 %; o sulfato de cobre a 10 % e a cal virgem. A cal virgem diluída em água funciona como um bom desinfectante sendo mais barato que os demais.

Isolamento


O isolamento é uma instalação chamada também de “hospital”. Ele destina-se a abrigar os animais doentes.

Sua construção deve seguir as mesmas recomendações do aprisco ou do chiqueiro, porém devem localizar-se bem distante destes, para evitar o contato de animais doentes com os sadios. De preferência, deve localizar-se longe de fontes de barulhos freqüentes e de movimentação de pessoas.
O isolamento deve oferecer o bem-estar e boas condições de higiene para os animais doentes.

Bretes


Os bretes são instalações complementares de um centro de manejo. Devem ser centralizados e construídos de tal forma a permitir um fácil acesso dos animais.

O tamanho pode ser variado de acordo com o número de animais do rebanho. O modelo mais divulgado é de oito metros (8,0 m) de comprimento; com uma largura de0,25 m na base e 0,35 m na parte superior e com uma altura de 0,85 m.
Os bretes são de grande utilidade para o manejo dos animais, no que diz respeito a vacinações, vermifugações, pesagens e outras práticas.
A balança para pesagem dos animais deve ficar na saída do brete, abrigada por uma cobertura para uma melhor proteção da mesma e oferecer uma condição favorável de sombreamento para o manejador.

Esterqueira


A esterqueira é uma construção reservada para depósito de esterco. Ela permite o melhor aproveitamento do esterco e contribui para melhorar as condições higiênicas da criação.

A esterqueira não deve ficar muito próxima das instalações, pois o esterco pode funcionar como reservatório de larvas de helmintos e de moscas ou como fonte de contaminação de outras doenças.
Afora a grande importância das esterqueiras, com relação às condições higiênicas do rebanho e a saúde dos animais, elas propiciam a produção de adubo orgânico de elevada qualidade.
A esterqueira pode ser de alvenaria, medindo 4,0 m de largura x 2,0 m de profundidade e 1,5 m de altura.

Cercas


Um dos maiores pontos de estrangulamento do planejamento e na economia de uma empresa rural é o capital investido na construção de cercas, principalmente tratando-se de criação de caprinos e ovinos.

Existem vários tipos de cercas, a saber: a) cercas de arame farpado; b) cercas de arame liso: c) cercas elétricas; d) cercas de madeira (varas); cercas mistas ou de estacotes (arame e madeira); e) cercas de tela; f) cercas vivas e, ainda, g) cercas de pedras toscas. Vale salientar que o custo de cada cerca varia com o tipo e com o material empregado. Nos sistemas de produção que visam o aproveitamento da pele com qualidade, as cercas para caprinos e ovinos não devem ser feitas com arame farpado.
O arame liso pode ser usado da mesma forma que o convencional arame farpado, com até oito fios, ou ainda com até quatro fios com uso de cerca elétrica. A eletrificação da cerca pode ser realizada com bateria solar. Normalmente a cerca elétrica custa entre quatro e cinco vezes menos que qualquer cerca convencional. Porém, sua principal limitação para pequenos animais é a altura do primeiro fio. O contato do fio inferior com a vegetação acarreta em perda de carga elétrica da cerca comprometendo sua eficiência na contenção dos animais. O primeiro fio deve estar a 20 cm do solo, um segundo fio logo aos 50 cm do solo, ambos eletrificados, e mais dois fios complementares, na parte superior (Sório, 2003). Este tipo de cerca é mais adequado para ovinos, tendo em vista que o comportamento explorador do caprino pode comprometer a contenção eficiente desta espécie neste tipo de cerca.
A cerca de tela tem se apresentado com muita eficiência na contenção de animais, o custo de implantação é mais alto que da cerca elétrica, no entanto, os custos com manutenção são inferiores. Para reduzir os custos com cerca no sistema rotativo de uso do pasto, o produtor poderá usar telas fixas apenas na cerca periférica e usar duas telas móveis, limitando apenas a área que está sendo pastejada, semelhante ao que ocorre no pastejo em faixas.
As cercas externas devem conter nove fios de arame e as internas (de divisão de pastos) oito, com o primeiro fio distanciando-se 20 cm, a partir do solo. O distanciamento entre os quatro fios seguintes é de 13 cm, no sentido de formar uma cinta de segurança, para em seguida ir aumentando até atingir 20 cm nos fios subseqüentes.
As cercas divisórias representam uma das mais onerosas benfeitorias de uma propriedade. Porém, sem a existência delas, seria muito difícil manejar, adequadamente, os animais e as pastagens. Estas cercas devem ser construídas com mourões grandes, localizados no encontro de duas cercas e distanciados de dez metros entre si. Entre os mourões, vão as estacas distanciadas de um metro entre si.
Os mourões e as estacas devem ser enterrados na profundidade 70 cm e 50 cm, respectivamente, ligados aos fios de arame estendidos em diferentes distâncias.

Bebedouros e Comedouros


Os comedouros e bebedouros devem estar localizados fora das baias evitando assim a contaminação fecal de água e alimentos, bem como facilitando o acesso e a limpeza dos mesmos pelo manejador. Para colocação externa de comedouros e bebedouros faz-se necessária a existência de aberturas (canzis) para a passagem da cabeça do animal.

Tanto bebedouros como comedouros além de estarem fora das baias devem estar na área coberta ou com alguma proteção.
Para bebedouros devem ser evitados recipientes muito grandes, pela dificuldade da limpeza e da renovação da água. Evitar uso de bebedouros com bóias individuais, que são facilmente danificados pelos animais. O sistema de vasos comunicantes em nível, utilizando funis de alumínio de 20 cm de diâmetro é econômico, prático de de fácil limpeza. Os funis devem estar no mesmo nível da bóia da caixa dágua que os alimenta. Uma caixa dágua com 50litros alimenta 10-12 bebedouros.
Os comedouros podem ser construídos de alvenaria, madeira ou outros materiais como pneus. De um modo geral, recomenda-se 0,25 m linear de cocho para cada animal adulto, ou seja, utilizar 04 animais para cada metro linear de cocho. O fundo do cocho deve estar a 20 cm do piso da instalação. Se o animal estiver recebendo forragem verde ou silagem como volumoso, as sobras devem ser coletadas diariamente a fim de evitar que o animal consuma alimento fermentado, podendo prejudicar sua saúde.

Saleiro


São pequenos cochos distribuídos estrategicamente em meio às instalações, com a finalidade de promover a suplementação mineral dos animais. Geralmente, são feitos com pneus cortados, suspensos do solo de 20 cm a 30 cm, em forma de balanço, no sentido de favorecer o acesso ao consumo de minerais e dificultar o acesso à contaminação e ao desperdiço do sal.

Os saleiros podem também ser construídos de madeira ou de cimento podendo ser fixos ou móveis. No caso do saleiro de cimento, eles devem ser bem lisos para facilitar a limpeza.
As dimensões recomendadas para os saleiros são: 30 cm a 40 cm de altura acima do piso; 20 cm de profundidade por 30 cm de largura e o comprimento não deve ultrapassar os dois metros.

Aspectos Gerais da Infra-estrutura de Suporte Alimentar


A região Nordeste é caracterizada pela precipitação pluvial irregular e por longos períodos de seca (6-8 meses). Diante da fragilidade da vegetação nativa, faz-se necessária a inclusão no sistema de produção de uma estrutura de produção e conservação de forragem para uso durante a época seca. Existem muitas opções para compor a estrutura de suporte alimentar de uma propriedade no semi-árido. Esta estrutura envolve desde a construção de silos, até a manutenção de capineiras e bancos de proteína. Os tipos e a quantidade de estruturas de suporte alimentar irão variar de acordo com o tamanho do rebanho.


Pastagens Cultivadas


As pastagens cultivadas podem ser uma boa alternativa de estrutura alimentar para os rebanhos no Nordeste Brasileiro. Em áreas onde não há disponibilidade de água podem ser cultivadas gramíneas tolerantes à seca (búffel, andropogon, urochloa, gramão, entre outras). Em áreas onde há possibilidade de uso de água de irrigação, podem ser implantadas gramíneas de maior produtividade como tanzânia, mombaça, tifton e outras.

A escolha da gramínea deve levar em consideração o ambiente onde vai ser cultivada, tolerância a pragas e doenças, produção de forragem, palatabilidade, valor nutritivo e resistência ao pisoteio.
Para o preparo da área são necessárias basicamente a realização das práticas de aração e gradagem da área. Em área de mata fechada, necessita-se fazer o desmatamento. Neste caso, deixar algumas árvores para serem utilizadas como sombra.
Além das práticas de aração e gradagem importantes para preparar o solo para o plantio, a Adubação é um ponto chave para o sucesso do sistema. É importante que seja feita a correção dos nutrientes que estão em déficit no solo.
A adubação deve ser feita sempre tendo por base resultado da análise de solo.
No processo de preparo do solo, há formação de melhores condições para infiltração de água, aeração etc..., o que propicia ambiente adequado para decomposição da matéria orgânica e conseqüente liberação de N. Por isso, só é recomendada a adubação nitrogenada na implantação de pastagem nos casos de extrema carência de matéria orgânica ou algum problema quanto aos minerais presentes no solo.
Na adubação de manutenção, a eficiência de utilização do N aplicado cai à medida que se ultrapassa determinado limite (±300-400 kg N/ha/ano). Existem plantas forrageiras que respondem até doses mais elevadas, como os capins Elefante, Colonião e Pangola. No entanto, devido ao crescimento mais lento, algumas espécies só respondem com aumento na produção de forragem com doses moderadas entre 200-250 kg N/ha/ano.
Os valores da tabela 2 podem ser utilizados como parâmetro tanto para implantação como para manutenção da fertilidade do solo de áreas cultivadas com forrageiras.

A quantidade de sementes a ser utilizada por hectare dependerá do valor cultural (VC). O valor cultural é um parâmetro para se calcular a quantidade de sementes necessárias em um plantio e indica também a qualidade das sementes. O valor cultural é função da pureza e germinação das sementes e é expresso em % como pode ser visto na fórmula abaixo.
VC (%) = Pureza X % Germinação /100
Para calcular o número de sementes utilizar a fórmula:
Kg de sementes /ha = FATOR/ VC,
Para Panicum maximum
Exemplo de determinação de quantidade de semente para plantio de Tanzânia
Kg de sementes /ha = FATOR/ VC
VC = 25%
Fator = 220
Logo,
Kg de sementes /ha = 220/25 = 8,8
Quando o produtor opta por usar o sistema rotacionado de manejo do pasto, uma série de adaptações deve ser realizada, por exemplo, definição do número de piquetes tamanho e formato dos piquetes.
O número de piquetes (NP) é obtido utilizando-se a fórmula:
NP = (período de descanso/período de ocupação) + número de grupos de animais
Exemplo de cálculo de número de piquetes para o capim-tanzânia:
PO = 3 dias
PD = 27 dias
N. grupos de animais = 01
NP = (27/3) + 1 = 10 piquetes
O tamanho dos piquetes é a razão entre o tamanho total da área que será utilizada e o número de piquetes. Se considerar que a área utilizada serão dois hectares, para o exemplo acima os piquetes terão 2.000 m2 (20.000m2/10). Os piquetes podem ter a dimensão de 40 m x 50 m.
Os piquetes devem ter formato próximo do quadrado, sendo aceitáveis as formas retangulares. Este formato visa aproveitar melhor a área disponível, além de facilitar a instalação de sistemas de irrigação. No centro da área pode ser construída uma instalação de apoio ao manejo.
Caso o pasto não disponha de sombra é necessária criação de uma área de lazer onde o animal possa ficar nas horas mais quentes do dia. Na área de lazer coloca-se o bebedouro e o saleiro. Água e sal devem estar à disposição dos animais durante todo período de terminação.

Silos


Silos são compartimentos fechados, onde a forrageira picada é armazenada e compactada. Após três semanas de fermentação na ausência do ar, tem-se o produto denominado silagem. Os silos são componentes importantes da infra-estrutura da propriedade tendo em vista que a conservação de forrageiras é fundamental para a manutenção da produção animal durante a época seca.

Existem vários tipos de silo: trincheira, superfície, cincho, entre outros. A escolha do tipo de silo a ser utilizado dependerá da quantidade de forragem que o produtor necessita armazenar.
Em propriedade que precisam de até 10t de silagem, o silo cincho é uma boa opção. Para produção de silagem em silos cincho são utilizados anéis de 50cm de altura e três metros de diâmetro. A altura máxima do silo deve ser de 2m.
Para armazenar grandes quantidades de silagem, o silo mais indicado é o tipo trincheira.
O silo do tipo superfície é uma espécie de silo trincheira invertido. Se adequa bem para pequenas e médias propriedades. Pode armazenar até 40 t de silagem.
Para o cálculo do tamanho do silo e da área de plantio devem-se considerar as perdas que ocorrem durante a colheita e armazenamento da forragem no silo. Essas perdas são influenciadas por uma série de fatores, e num sistema normal em que se utiliza silagem, deve-se considerar 15% de perda. Outro ponto importante para acrescentar no cálculo do silo é o peso de silagem que em 1 m3 é igual a 500 kg. Assim, o tamanho do silo deverá ser dimensionado para comportar um volume de 517 m3 de forragem (225 x 15% ÷ 500).
O cálculo da quantidade de forragem a ser ensilada deve considerar o número de animais da propriedade que se alimentaram da silagem, na quantidade consumida por cada animal e no número de dias que os animais receberam esta suplementação. Na tabela abaixo está uma simulação da quantidade de silagem necessária para alimentar um rebanho contendo 180 animais durante 120 dias.

Fenos


São locais preparados para armazenamento de feno. Este local deve ser de preferência ambiente seco e ventilado, cujo piso possua estrados de madeira que evitem o contato do feno com o chão, evitando assim que o feno adquira umidade e venha a se deteriorar. No mesmo local onde se armazena a ração pode ser armazenado o feno. Não é aconselhável o armazenamento do feno ao ar livre, pois, com a intensa insolação muitos dos nutrientes presentes no feno irá se perder se o mesmo não for acondicionado corretamente.


Capineira


Capineiras são áreas cultivadas com gramínea de alta produção, como o capim-elefante, que durante a época seca é mantida sob irrigação para a produção de forragem verde.

A capineira deve ser dimensionada com base no tamanho do rebanho, na quantidade de capim a ser consumida por cada categoria animal e no tempo que os animais irão receber este alimento.

Banco de Proteína


O banco de proteína é uma área de produção de leguminosas que deve ser implantado em áreas vizinhas ou adjacentes ao aprisco central, visando facilitar o acesso dos animais, facilitando o uso do esterco e de sobras de alimentos que deverão ser usados para melhorar e conservar o solo. A principal forrageira usada em banco de proteína no Nordeste Brasileiro. Nesta região a produtividade varia de 1.500 a 7.000 kg de Matéria seca/ha ano.

As sementes devem ter a dormência quebrada para serem plantadas. A quebra da dormência pode ser realizada deixando por três minutos as sementes em água quente. O espaçamento deve ser de 1,5 m X 0,5 m. O banco deve ser usado a partir do segundo ano. As plantas devem ser cortadas à altura de 50 a 70 cm para induzir a formação de rebrotas.








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