16 de out. de 2017

Importância econômica e Comercialização do Mel



Importância econômica

Estudos sobre a produção apícola no Brasil mostram dados contraditórios quanto ao número de apicultores e colmeias, produção e produtividade.  Quanto aos apicultores, as pesquisas apontam os extremos entre 26.315 e 300.000; esses produtores, juntos, possuem entre 1.315.790 e 2.500.000 colmeias e um faturamento anual entre R$ 84.740.000,00 e R$ 506.250.000,00 (Sampaio, 2000; Wiese, 2001).
Os dados conflitantes refletem a dificuldade em se obterem informações precisas quanto à produção e comercialização no setor agropecuário, entretanto, conseguem passar a idéia da importância dessa atividade para o País.

Produção de mel no Brasil e no mundo

Dimensionar o volume de mel produzido e comercializado é uma tarefa difícil, pois os poucos dados confiáveis sobre o assunto são conflitantes. Estima-se que a produção mundial de mel durante o ano de 2001 foi de, aproximadamente, 1.263.000 toneladas, sendo a China o maior produtor (256 mil toneladas). A Tabela 1 demonstra a produção de mel nos continentes e em alguns países nos últimos anos.
Segundo os dados do IBGE, a produção de mel em 2000 no Brasil foi de 21.865.144 kg, gerando um faturamento de R$ 84.640.339,00.
Os maiores exportadores mundiais são: China, Argentina, México, Estados Unidos e Canadá. Juntos, esses países comercializaram durante o ano de 2001 cerca de 242 mil toneladas, movimentando, aproximadamente, US$ 238 milhões (Tabela 2).
Entre janeiro e julho de 2002, o Brasil exportou 10.615 toneladas de mel, mas estima-se que o mercado internacional conseguirá absorver 170 mil toneladas/ano de mel oriundo do Brasil. Os principais compradores de mel do País são: Alemanha, Espanha, Canadá, Estados Unidos, Porto Rico e México.
Tabela 1. Produção Mundial de mel em mil toneladas.
Continente/País
1998
1999
2000
2001
Ásia
401
435
457
465
China
211
236
252
256
América do Norte e Central
218
201
208
205
Canadá
46
37
31
32
Estados Unidos
100
94
100
100
México
55
55
59
56
América do Sul
109
133
141
131
Argentina
75
93
98
90
Brasil
18
19
22
20
Europa
291
293
286
288
União Européia
109
117
112
111
Oceania
31
29
29
29
Austrália
22
19
19
19
Total
1188
1232
1265
1263
Tabela 2. Principais exportadores de mel (em mil toneladas) e os ganhos (em milhões de dólares)
País
1998
1999
2000
Mel
US$
Mel
US$
Mel
US$
China
79
87
87
79
103
87
Argentina
68
89
93
96
88
87
México
32
42
22
25
31
35
Estados Unidos
5
9
5
9
5
8
Canadá
11
20
15
21
15
21
União Européia
44

46

48

Fonte: Braunstein, 2002.
Outros produtos importantes da atividade
Além do mel, que será descrito com maiores detalhes adiante, o produtor poderá obter renda de outros produtos como Cera,Própolis,Pólen,Polinização,Geléia real,Apitoxina.

Cera

Utilizada pelas abelhas para construção dos favos e fechamento dos alvéolos (opérculo). Produzida por glândulas especiais (ceríferas), situadas no abdome das abelhas operárias. A cera de Apis mellifera possui 248 componentes diferentes, nem todos ainda identificados. Logo após sua secreção, a cera possui uma cor clara, escurecendo com o tempo, em virtude do depósito de pólen e do desenvolvimento das larvas.
As indústrias de cosméticos, medicamentos e velas são as principais consumidoras de cera; entretanto, também é utilizada na indústria têxtil, na fabricação de polidores e vernizes, no processamento de alimentos e na indústria tecnológica. Os principais importadores são: Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Japão e França; os principais exportadores são: Chile, Tanzânia, Brasil, Holanda e Austrália.

Própolis

Substância resinosa, adesiva e balsâmica, elaborada pelas abelhas a partir da mistura da cera e da resina coletada das plantas, retirada dos botões florais, gemas e dos cortes nas cascas dos vegetais.
A própolis é usada pelas abelhas para fechar as frestas e a entrada do ninho, evitando correntes de ar frias durante o inverno. Em razão das suas propriedades bactericidas e fungicidas, é usada também na limpeza da colônia e para isolar uma parte do ninho ou algum corpo estranho que não pode ser removido da colônia.
Sua composição, cor, odor e propriedades medicinais dependem da espécie de planta disponível para as abelhas. Atualmente, a própolis é usada, principalmente, pelas indústrias de cosméticos e farmacêutica. Cerca de 75% da própolis produzida no Brasil é exportada, sendo o Japão o maior comprador.

Pólen apícola


Gameta masculino das flores coletado pelas abelhas e transportado para a colmeia para ser armazenado nos alvéolos e passar por um processo de fermentação. Usado como alimento pelas abelhas na fase larval e abelhas adultas com até 18 dias de idade. É um produto rico em proteínas, lipídios, minerais e vitaminas.

Em virtude do seu alto valor nutritivo, é usado como suplementação alimentar, comercializado misturado com o mel, seco, em cápsulas ou tabletes. Não existem dados sobre a produção e comercialização mundial desse produto.

Polinização

A polinização é a transferência do pólen (gameta masculino da flor) para o óvulo da mesma flor ou de outra flor da mesma espécie. Só após essa transferência é que ocorre a formação dos frutos.
Muitas vezes, para que ocorra essa transferência, é necessária a ajuda de um agente. Além da água e do vento, diversos animais podem servir de agentes polinizadores, como insetos, pássaros, morcegos, ratos, macacos; entretanto, as abelhas são os agentes mais eficientes da maioria das espécies vegetais cultivadas.
Em locais com alto índice de desmatamento e devastação ou com predominância da monocultura, os produtores ficam extremamente dependentes das abelhas para poderem produzir. Com isso, muitos apicultores alugam suas colmeias durante o período da florada para serviços de polinização.
Embora esse tipo de serviço não seja comum no Brasil, ocorrendo somente no Sul do País e em regiões isoladas do Rio Grande do Norte, nos EUA metade das colmeias é usada dessa forma, gerando um incremento na renda do produtor.

Dependendo da cultura, local de produção, manejo utilizado e devastação da região, a polinização pode aumentar a produção entre 5 e 500%. Dessa forma, estima-se que por ano a polinização gere um benefício mundial acima de cem bilhões de dólares (De Jong, 2000).

Geléia real

A geléia real é uma substância produzida pelas glândulas hipofaringeanas e mandibulares das operárias com até 14 dias de idade. Na colmeia, é usada como alimento das larvas e da rainha.
Constituída basicamente de água, carboidratos, proteínas, lipídios e vitaminas, a geléia real é muito viscosa, possui cor branco-leitosa e sabor ácido forte. Embora não seja estocada na colmeias como o mel e o pólen, é produzida por alguns apicultores para comercialização in natura, misturada com mel ou mesmo liofilizada. A indústria de cosméticos e medicamentos também a utilizam na composição de diversos produtos.
A China é o principal País produtor, responsável por cerca de 60% da produção mundial, exportando, aproximadamente, 450 toneladas/ano para Japão, Estados Unidos e Europa.

Apitoxina

A apitoxina é o veneno das abelhas operárias de Apis mellifera purificado. O veneno  é constituído basicamente de proteínas, polipeptídios e constituintes aromáticos, sendo produzido pelas glândulas de veneno nas duas primeiras semanas de vida da operária e armazenado no "saco de veneno" situado na  base do ferrão. Cada operária produz 0,3 mg de veneno, que é uma substância transparente, solúvel em água e composta de proteínas, aminoácidos, lipídios e enzimas.
Embora a ação anti-reumática do veneno seja comprovada e o preço no mercado seja muito atrativo, trata-se de um produto de difícil comercialização, pois, ao contrário de outros produtos apícolas, o veneno deve ser comercializado para farmácias de manipulação e indústrias de processamento químico, em razão da sua ação tóxica.
A tolerância do homem à dose do veneno é bastante variada. Existem relatos de pessoas que sofreram mais de cem ferroadas e não apresentaram sintomas graves. Entretanto,  indivíduos extremamente alérgicos podem apresentar choque anafilático e falecer com uma única ferroada.

Comercialização

Informações de Mercado

A produção mundial de mel teve uma tendência crescente nos últimos 20 anos, apesar das flutuações, em regiões e países (industrializados e não-industrializados), atribuídas a um aumento no número de colméias e da produção por colônia. O consumo também aumentou durante os últimos anos, sendo atribuído ao aumento geral nos padrões de vida e também a um interesse maior em produtos naturais e saudáveis.
O mundo produz 1.200.000 toneladas de mel por ano. A Alemanha compra 50% do mel exportado no mundo e só produz 33.000 t/ano. A China é o principal exportador de mel para a Alemanha até 1987. No Japão, 60% do mel consumido se destina a usos na indústria e 40% constitui mel de mesa. O Japão tem-se transformado num dos maiores importadores de mel, principalmente devido à redução do número de apicultores, em decorrência da competição dos preços de importação e da diminuição de áreas melíferas. A Argentina, que produz cerca de 60.000t/ano, consome só 10.000 t/ano e possui uma área de apenas 2.776.700 Km2 (Munhoz, 1997). 
Desde o início de 2002, decisões dos EUA e da Comunidade Européia suspenderam a importação de mel da China devido aos altos índices de resíduos de drogas veterinárias encontrados no mel oriundo daquele país. Concomitantemente, os EUA suspenderam também a importação de mel da Argentina, alegando distorções no preço do produto, o que estava promovendo uma concorrência desleal com os próprios produtores americanos.

Preço

Estes acontecimentos provocaram uma importante redução da oferta e, consequentemente, um desequilíbrio na relação oferta-demanda, elevando significativamente o preço do mel. Até 2001, o quilograma do mel era vendido, no mercado interno, em um intervalo de preço que variava de R$ 1,50 a R$ 2,00. Após o desequilíbrio citado, o quilograma do mel chegou a atingir  R$ 4,50 no mês de setembro, no Estado do Piauí, preço líquido pago ao produtor. Mesmo considerando que é uma situação conjuntural, a tendência é de que esse preço se estabilize em patamares significativamente superiores aos praticados até 2001, pois a crise da apicultura chinesa, maior produtor e exportador mundial, é de difícil solução.

Comercialização

Esses dois fatos estão contribuindo para colocar o Brasil, pela primeira vez, na rota do mercado mundial. Até 2001, a produção brasileira de mel era totalmente consumida no mercado interno.
No Brasil, as importações são maiores que as exportações. Praticamente tudo o que se produz é consumido no mercado interno. Os altos custos de produção e o bom preço do mercado interno, até 2001, desestimulavam a exportação. O consumo per capta é inferior a 300g/ano. A Argentina exporta cerca de 2,2% de sua produção para o Brasil (1.300t/ano) e o Uruguai 4% (350 t/ano) (Munhoz, 1997), observando-se que a área do Uruguai é 176.200 km2 e da Argentina é 2.776.700 Km2. A área territorial do Brasil é 8.512.700 Km2, três vezes maior que a Argentina e 48 vezes maior que o Uruguai. 
Segundo dados disseminados pelo Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior, denominado ALICE-Web, da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as importações e exportações brasileiras de mel natural, de 1998 a 2001 (jan/dez), tiveram comportamentos inversos: enquanto as importações diminuíram, as exportações aumentaram (Tabela 8). A produção de mel nesse mesmo período também apresentou tendência crescente (Tabela 9), em função do aumento do número de colmeias e da produtividade.

Tabela 1. Exportações e importação brasileiras de mel natural, de 1998 a 2001*.
Produção de mel (Toneladas)
Ano
1998
1999
2000
2001
Importações
2.428,8
1.820,7
287,2
252,5
Exportações
16,7
18,6
268,9
1814,4
Tabela 2. Produção de mel de abelhas no Brasil, 1998 a 2001, segundo a FAO.
Produção de mel (Mt)
Ano

1998
1999
2000
2001
Brasil
18,308
19,751
21,865
20,000
Segundo Vilela (2000), nos últimos 15 anos a atividade apícola cresceu 94,7% no Piauí, com uma importante expansão entre 1996 e 1998, quando o aumento foi de 39,7%, numa média de 13,23% ao ano. Entretanto, entre 1999 e 2000 o incremento foi de apenas 6%, redução que pode ser atribuída às dificuldades encontradas nos anos de 1998 e 1999, devido ao longo período de estiagem, provocado pelo fenômeno El Niño, quando muitos apicultores perderam entre 80 e 100% de seus enxames, desistiram da atividade e desmotivaram futuros produtores. O registro de importações de mel pelo Estado, em 1999, de 20 toneladas (SECEX - Sitema Alice) vem confirmar esta ocorrência. Este comportamento também foi confirmado nos registros de exportações de mel do Piauí de 1998 a 2001, considerados insignificantes.

Coeficientes Técnicos, Custos, Rendimentos e Rentabilidade

A tabela abaixo explicita os principais parâmetros para o estabelecimento da relação custo-rentabilidade, considerando diferentes categorias de apicultores de acordo com o tamanho do empreendimento, que é definido pela quantidade de colméias com as quais ele trabalha.
DISCRIMINAÇÃO P/ 100 COLMÉIAS
Custo anual Total (R$).................................   3.766,77
Preço de Venda (R$/kg de mel)......................        1,40
Produção (kg de mel)...................................   3.000,00
Receita Total (R$).......................................   4.200,00
Preço de Custo (R$/kg de mel).......................         1,27
Lucro (R$/kg de mel)....................................         0,13

DISCRIMINAÇÃO P/ 350 COLMÉIAS
Custo Anual Total (R$).................................   9.786,70 
Preço de Venda (R$/kg de mel)......................         1,40
Produção (kg de mel)...................................  10.500,00
Receita Total (R$).......................................  14.700,00
Preço de Custo (R$/kg de mel).......................         0,93
Lucro (R$/kg de mel)....................................         0,47

DISCRIMINAÇÃO P/ 1000 COLMÉIAS
Custo Anual Total (R$).................................  27.281,90 
Preço de Venda (R$/kg de mel)......................          1,40
Produção (kg de mel)...................................   30.000,00
Receita Total (R$) ........................................ 42.000,00
Preço de Custo (R$/kg de mel)......................           0,91
Lucro (R$/kg de mel)...................................           0,49

 100 a 350 colmeias - individua




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