30 de abr. de 2018

Manejo reprodutivo de Caprinos e Ovinos de Corte



A reprodução assistida ou manejo reprodutivo tem grande relevância dentro de um sistema de produção em pequenos ruminantes. Ele é composto por uma série de decisões técnicas (Sanitárias, Nutricionais e Zootécnicas) a serem tomadas pelo criador no sentido de monitorar, controlar e elevar a eficiência reprodutiva do rebanho de forma racional. Assim, o manejo reprodutivo tem foco na elevação das taxas reprodutivas de acordo com a exploração desejada, tornando-o mais rentável.
Um dos primeiros passos para organizar o manejo reprodutivo em um rebanho é a identificação individual dos animais. Os critérios dependem da preferência do criador (tatuagem, brincos, colares, identificação eletrônica, marcação a fogo ou marcação a frio). Sugere-se, para uma maior segurança, a associação de duas ou mais formas de identificação, evitando ou diminuindo perdas de informações do animal. Nos pequenos ruminantes, os métodos mais usuais são tatuagens, brincos e colares com placas identificadoras. Uma vez feita a identificação, o criador pode selecionar os animais durante os ciclos de produção (estação de monta, parto, desmama e recria). Dessa forma, podem ser obtidas informações zootécnicas e reprodutivas individuais no rebanho e identificar no plantel apenas os animais produtivos ou não.
Como escolher uma fêmea para reprodução
A escolha de fêmea para reprodução é um passo importante para a eficiência reprodutiva. Essa seleção ocorre dentro do rebanho ou por intermédio de aquisições oriundas de criatórios externos. Dependendo da condição fisiológica da fêmea (jovem, gestante ou com cria ao pé) e do tipo de exploração, algumas características devem ser preconizadas. Entre elas, as características a serem observadas, destacam-se:
  • Presença de habilidade materna – boa produção de leite para atender as necessidades da(s) cria(s) e não rejeitar a(s) cria(s);
  • Possuir bom desenvolvimento corporal compatível à idade e raça;
  • Ter atingido pelo menos 70% do peso adulto das femêas do rebanho;
  • Ter aspecto feminino e docilidade;
  • Apresentar prenhezes e partos normais;
  • Ter bons aprumos e cascos sadios;
  • Ter fertilidade comprovada (ser fecundada a cada ciclo reprodutivo);
  • Ausência de doenças e defeitos físicos.
Um dado relevante que pode indicar o potencial produtivo da fêmea é a relação de desmama, sendo o valor gerado em função da divisão do valor em kg de cria desmamada pelo peso da ovelha à desmama multiplicado por 100 (Figura 1).
Então, uma fêmea será considerada superior à outra, não apenas considerando o peso de suas crias desmamadas, mas também seu próprio peso. Lembre-se que matrizes mais pesadas necessitam de mais alimento de boa qualidade em quantidade suficiente para manterem seu corpo quando comparadas com fêmeas mais leves. Um equilíbrio deve ser considerado neste aspecto e sempre com foco na meta do sistema produtivo. 

Figura 1. Fórmula da relação de desmama que avalia o potencial produtivo de uma matriz.
Em caso de aquisição de animais de outros criatórios, dar preferência às matrizes que pariram pelo menos uma vez e, em caso de aquisição de animais jovens (cabritas ou borregas) também se recomenda a observação da produção dos pais, avós e irmãs.
A realização de um exame clínico-ginecológico, que consiste em avaliar a matriz em questão por meio de inspeção visual, palpações e exames específicos (Hemograma, Ultrassonografia, dentre outros) o funcionamento correto do seu organismo, antes da aquisição e deverá ser executado por um médico veterinário de sua confiança.
Como escolher um macho para reprodução
A seleção de um macho para reprodutor é definida por um padrão de características produtivas desejáveis dentro do rebanho. O macho passa por uma maior pressão de seleção em relação às fêmeas, visto que um macho consegue deixar um número maior de descendentes que uma fêmea naturalmente. Assim, o reprodutor é o principal responsável pelo melhoramento genético de um rebanho. Um equívoco nessa seleção poderá trazer prejuízos inestimáveis aos criadores. Portanto, essa escolha deve ser criteriosa, realizada em indivíduos oriundos do próprio rebanho, ou de outros criatórios. A seguir, são listados alguns aspectos que devem ser observados na escolha:
  • Presença da libido ou apetite sexual. O macho deve possuir interesse sexual por fêmeas. O número de fêmeas que o macho pode cobrir ou o número de saltos, na mesma fêmea, em um intervalo de uma hora é um bom indicador. Machos que cobrem até quatro fêmeas ou realizam quatro saltos em um intervalo de uma hora são considerados excelentes e devem ser priorizados quando comparados com outros que cobrem ou saltam menos dentro de um mesmo padrão genético e racial;
  • Ter desenvolvimento corporal compatível com a idade e a raça;
  • Apresentar aspecto masculino e ter comportamento dominante;
  • Nos caprinos, evitar animais mochos de nascença;
  • Possuir aparelho genital externo, testículos, pênis e saco escrotal compatível à normalidade;
  • Ter bons aprumos e cascos sadios;
  • Estar livre de doenças.
Em várias situações, animais são selecionados apenas em função de sua composição genética ou pedigree. Isso por si só não assegura a seleção de um macho para ser utilizado dentro de um rebanho.
Um exemplo disso pode ser observado na Figura 2. Trata-se de um animal que utilizado em sistema de monta natural, visto lateralmente, torna-se flagrante a posição vertical dos membros posteriores, postura popularmente conhecida como “pé de frango”. Quando observado de um ângulo posterior, percebe-se outro grave defeito que são os jarretes para dentro. Ambas as condições dificultam a cobertura e machos com essas características devem ser retirados do rebanho.
Foto: Jeferson Ferreira Fonseca
Figura 2. Visão lateral (A) e posterior (B) de bode adulto selecionado e utilizado em sistema de monta natural. Atente-se aos graves defeitos de aprumo dos membros posteriores.
De acordo com a procedência e idade do animal, fazem-se necessárias observações na produção dos seus ascendentes, como pais ou avós, para uma predição de seu potencial reprodutivo. No caso de reprodutores sexualmente maduros, procurar informações sobre suas crias. Recomenda-se, se possível, numa aquisição de animais de outros criatórios, a realização de um exame andrológico do reprodutor em questão, que deverá ser executado por um médico veterinário de sua confiança.
Lembre-se que a vida útil de um reprodutor pode ser de até oito anos. Todavia, de forma geral, indica-se sua permanência por até quatro anos dentro de um rebanho, em função da consanguinidade.
Época ideal para acasalamentos
A maturidade sexual é a época em que os animais estão aptos fisiologicamente e hormonalmente a exercerem plenamente a reprodução. Para tal, no tocante às fêmeas em fase de recria, o peso é o parâmetro zootécnico mais indicado para início das atividades reprodutivas. Cronologicamente, cabritas e borregas atingem 60 a 70% do peso adulto por volta dos seis a oito meses (Figura 3). Isso pode variar em função da raça e da forma como são criadas. Indica-se um peso mínimo que se aproxime dos 70 % do peso de uma fêmea adulta e uma idade de oito meses como padrão para a primeira cobertura. Os machos devem ser utilizados um pouco mais tarde (12 meses). A esse tempo, já puderam ser selecionados e caracterizados como adequados para o plantel, além de terem alcançado bom desenvolvimento e reservas corporais.

Figura 3. Relação do percentual de peso corporal referente a uma fêmea adulta da raça e idade à puberdade em cabras e ovelhas em três diferentes sistemas de ganho de peso.
Fonte: Adaptado de Fonseca e Bruschi (2008).
Condição de Escore Corporal
A reprodução é uma função que exige muita energia tanto do reprodutor quanto da matriz. Assim, nos pequenos ruminantes, a nutrição e a sanidade são condições importantíssimas para que a função reprodutiva tenha a eficiência desejada em um sistema de produção. Para tanto, a caracterização da condição de escore corporal (ECC) é muito importante. Trata-se de uma prática simples de visualização e palpação de pontos específicos (região lombar e esternal) no animal. O objetivo é avaliar subjetivamente o acúmulo de reservas do animal (músculo e gordura). São essas reservas que serão utilizadas pelo animal para manifestar suas funções reprodutivas (cio); ditarão sua fertilidade e potencial de levar uma gestação e partos normais, produzindo, criando e desmamando crias dentro do padrão esperado. Usa-se uma escala de 1 a 5 pontos para pequenos ruminantes. A precisão dessa avaliação depende de treinamento, bem como do conhecimento das particularidades das raças, espécies e ordem de partos das fêmeas. Neste contexto, atente-se que raças leiteiras são normalmente mais descarnadas que raças de corte, raças de corte deslanadas são também normalmente mais descarnadas que raças de corte lanadas. Por fim, fêmeas que nunca pariram, como cabritas e borregas, merecem atenção especial.

Figura 4. Escore de Condição Corporal em função da fase do ciclo reprodutivo.
Fonte: Adaptado de Cezar e Sousa (2006).
Avaliações mensais são indicadas como rotina, ou pelo menos, antes do início nos ciclos de produção, tais como: estação de monta, pré-parto e recria. Nessas ocasiões podem ser necessários ajustes alimentares para elevar o ECC. Preconiza-se para o uso de matrizes em reprodução um escore mínimo de 3 pontos (Figura 4).
Estação de reprodução (Monta)
Cabras e ovelhas, desde que tenham aporte nutricional quanti-qualitativo suficiente, apresentam períodos cíclicos estrais de 21 e 17 dias, respectivamente, durante o ano nas regiões semiáridas brasileiras. Com base nisso, pode se dimensionar uma estação de monta que proporcione uma concentração de parições por ciclo de produção. A estação de monta é o manejo estratégico realizado em tempo definido (semanas ou meses) durante o qual os animais são acasalados. Recomenda-se que seja feito um planejamento com pelo menos 60 dias de antecedência. Isso é necessário para planejar sua execução, preparar as fêmeas e machos que serão utilizados.
Por vezes, indica-se o uso do flushing ou alimentação estratégica tanto nas fêmeas quanto nos machos. Isso consiste no fornecimento, semanas antes e no início da estação de monta, de uma dieta rica em energia e com proteína adequada capaz de elevar o ECC para níveis satisfatórios para reprodução, além de estimular as ovulações nas fêmeas (Figura 5). Dessa forma, pode haver uma resposta positiva na fertilidade e prolificidade do rebanho, uma vez que tais índices dependem do ECC.

Figura 5. Efeito do Escore de Condição Corporal (ECC) ao parto sobre o desempenho reprodutivo de cabras e ovelhas, em dietas não suplementadas, em região tropical.
Fonte: Adaptado de Simplício e Santos (2005).
Quando a estação de monta é implantada pela primeira vez, ou retomada após longo período de não utilização, recomenda-se utilizar um período que permita pelo menos três ciclos estrais para as fêmeas, sendo 63 dias para cabras e 51 dias para as ovelhas. A partir dos anos seguintes, reduz-se para dois ciclos, isto é, 42 dias para as cabras e 34 dias para as ovelhas. Vale ressaltar que durante o período de preparação (60 dias), as fêmeas devem estar separadas dos machos. Quando o contato é iniciado por ocasião do início da estação de monta, muitas fêmeas entram em cio nos primeiros três dias de exposição. Algumas delas podem não ser cobertas, pois superam a capacidade de cobertura do macho, enquanto outras têm ciclo irregular, retornando ao cio precocemente (oito dias), e outras são cobertas, mas não ovulam enquanto outras mesmo fertilizadas podem perder precocemente a gestação. Por esses motivos, recomenda-se a introdução de um rufião cirurgicamente preparado (Ex.: vasectomizado) ou machos com avental que não permita coberturas. Isso propiciará cios férteis e bem distribuídos de praticamente todas as fêmeas durante a primeira quinzena da estação de monta.
As estações de monta devem ser programadas de acordo com necessidade do sistema de produção de forma a reduzir o intervalo entre partos e diminuir o período improdutivo de uma fêmea. O intervalo de parto de 12 meses praticado na maioria dos criatórios no semiárido, às vezes, pode não ser tão interessante para sistemas produtivos mais tecnificados. Então, em criatórios mais organizados, sugerem-se intervalos de cerca de oito meses. Dessa forma, pode-se obter três parições em dois anos, aumentando cerca de 50% no número de crias por animal por ano em relação ao sistema tradicional (Figuras 6 e 7). Todavia, mais uma vez é preciso considerar outros aspectos do sistema de produção em questão. Cabras e ovelhas leiteiras de raças especializadas são um caso à parte. Esse intervalo não poderá ser alcançado em função da duração e do potencial de produção de leite da lactação são fatores impeditivos. O ideal é que as fêmeas estejam sempre em fase produtiva. Isso pode significar cria ao pé ou no ventre e/ou produção de leite eficiente.

Figura 6. Representação esquemática de como obter três partos em dois anos em cabras.
Fonte: Adaptado de Fonseca (2006).

Figura 7. Representação esquemática de como obter três partos em dois anos em ovelhas.
Fonte: Adaptado de Fonseca (2006).
O reconhecimento do cio também auxilia para o êxito de uma estação de monta. O cio ou estro é um complexo de sinais fisiológicos e comportamentais que ocorre antes de uma ovulação (Tabela 1). É o período em que uma fêmea está receptiva sexualmente ao macho, com possibilidade de ser coberta e tornar-se gestante.
A duração de um cio varia de 24 a 48 horas para cabras e de 24 a 36 horas para ovelhas. A raça, a idade, o estádio nutricional, a estação e a presença do macho podem influenciar na sua duração. Os sinais de cio são mais evidentes nas cabras do que nas ovelhas, contudo, a presença do macho (ou rufião) auxilia na detecção desses sinais que podem, às vezes, ser assim exprimidos:
Tabela1. Evidências de cio em fêmeas caprinas e ovinas.
Sinais
Cabra
Ovelha
Inquietude
Presente
Ausente
Urina e berra com frequência
Presente
Às vezes
Procura o reprodutor com interesse
Presente
Presente
Balança a cauda frequentemente lateralmente
Presente
Às vezes
Apresenta a vulva inchada e avermelhada
Presente
Presente
Monta e se deixa montar em outras matrizes
Presente
Às vezes
Fica imóvel quando montada
Presente
Presente
Presença de secreção vaginal cristalina no início e caseosa no fim do cio
Presente
Às vezes
Fonte: Adaptado de Freitas et al. (2005).
Uma técnica que auxilia no sucesso da estação de monta é o efeito macho, pois pode induzir um alto percentual de cio em 72 horas, conforme descrito anteriormente. O efeito macho consiste em realizar um afastamento total dos machos do rebanho, onde as fêmeas não possam visualizar, escutar ou mesmo sentir odores deles. Após um período, em média 60 dias, os reprodutores são reintroduzidos com as fêmeas e sua presença estimula o aparecimento do cio. Essa técnica associada à indução ou sincronização de cio por meios hormonais podem elevar a taxa de fertilidade dentro de uma estação de monta.
Por fim, mais uma vez, reitera-se a necessidade de conhecer e ou comprovar a fertilidade dos reprodutores que irão trabalhar na estação de monta. Exame andrológico prévio é uma exigência. Machos devidamente qualificados reprodutivamente determinam o sucesso desse manejo.
Sistemas de Acasalamento
Basicamente, o acasalamento pode ser efetuado de duas formas: pela monta natural (descontrolada ou livre, Controlada e Dirigida) ou pela inseminação artificial (IA). A escolha de uma ou outra forma deve ser feita em função da meta do empreendimento produtivo, a otimização do uso de reprodutores, instalações disponíveis, capacitação de técnicos e lotes de fêmeas envolvidas compatíveis com a capacidade dos machos, bem como a infraestrutura necessária à realização do acasalamento escolhido.
A relação de machos que servirão um número mínimo de fêmeas está diretamente relacionada ao tipo de acasalamento. Assim, no acasalamento livre a proporção é de 1:30, ou seja, um reprodutor para 30 matrizes, visto que as fêmeas nesse sistema ficam expostas ao macho continuamente, sem intervalos determinados. O desgaste é maior, pois o reprodutor identifica o cio e cobre ao mesmo tempo. Prática comum nos rebanhos nordestinos brasileiros, onde não há controle zootécnico efetivo. Já na monta controlada, as fêmeas são agrupadas com um macho, necessitando, então, de uma infraestrutura mínima para tal. Assim, o controle zootécnico é mais eficiente e pode ser otimizado com o uso de marcadores nos machos em serviço. A relação macho:fêmeas na monta controlada deve ser de 1:50.
Quanto à monta dirigida, esta proporção chega a 1:100. Nesse caso, utilizam-se animais identificadores de cio, os rufiões, os quais podem ser animais cirurgicamente preparados, fêmeas masculinizadas/androgenizadas ou animais criptorquíticos bilaterais (“castrados de nascença”). Vale salientar que esse tipo de acasalamento é bastante utilizado em sistemas intensivos e de confinamento.
A inseminação artificial representa a primeira linha de biotecnologias da reprodução. Seu uso ainda está restrito a rebanhos de elite. Isso ocorre em função de dificuldades, custos e peculiaridades da técnica em caprinos e ovinos. Sua relação macho:fêmeas pode chegar a 1:150 ou até mais, dependendo do reprodutor e da disponibilidade de sêmen. A técnica é efetuada com sêmen fresco, resfriado ou congelado. De forma geral, o sêmen a fresco tem apresentado melhores resultados em fertilidade. Todavia, a taxa de concepção ainda depende de algumas variantes, como: dose ou número de espermatozoides viáveis; volume inseminante; da via e forma de inseminação utilizada. Essa biotécnica pode ser realizada em tempo fixo (IATF) associada à sincronização/indução de cio, que, por meio da manipulação hormonal, estimula ovulações numa faixa temporal, fixando um tempo para as inseminações acontecerem.
Diagnóstico de gestação
Em pequenos ruminantes, várias técnicas em diagnóstico de gestação vêm sendo utilizadas com vários graus de precocidade e eficiência, não obstante, a sua utilização permite a minimização de perdas, principalmente as econômicas, com a alimentação de animais não gestantes e/ou com problemas reprodutivos permanentes. No entanto, o criador deve ponderar o custo-beneficio da técnica, antes de programar esse manejo.
Com o diagnóstico, permitindo a identificação de femêas não gestantes, o criador poderá decidir quem pode ser encaminhada para uma nova estação de monta ou mesmo para um descarte (caso de doença reprodutiva), refletindo positivamente na eficiência reprodutiva.
De forma usual, os criatórios se utilizam do método de “o não retorno ao cio”, ou seja, após serem cobertas presuntivamente, a fêmea que não voltou a “ciclar” ou ciar estará prenhe. Embora muito simples, esse manejo não quantifica o número de fetos, bem como, não possui uma precocidade necessária para um planejamento prévio de alimentação desses animais. Outro entrave é que fêmeas com problemas reprodutivos e ou alimentares também podem não ciar. Isso torna o método falho ou pouco eficiente.
Atualmente, o uso da ultrassonografia em tempo real (Modo Scan B) vem sendo popularizado pelos profissionais da área. Entre suas vantagens, ressaltam-se:
  • Alta eficácia e acurácia;
  • Precocidade do diagnóstico, seja na inseminação artificial (a partir do 25 dias), seja na transferência de embriões ou outra biotécnica utilizada (Fecundação in vitro, clonagem, transgênese e outras);
  • Verificação da viabilidade fetal por meio da detecção dos batimentos cardíacos;
  • Identificação do sexo do feto (a partir do 50 dias de gestação).
Gestação
O período gestacional dos pequenos ruminantes é em média de 150 dias, podendo variar de acordo com as raças, idade da mãe, ordem de parição, números de fetos e espécie. Com isso, pode-se prever a época da parição, para execução de medidas sanitárias, nutricionais e zootécnicas no periparto que visem a sobrevivência tanto da cria quanto da mãe.
Vale salientar que nos últimos 50 dias de gestação, ou seja, no terço final, há um aumento do tamanho do feto na ordem de 70%, além da preparação do úbere para uma lactação. Nesse caso, o fornecimento de dietas equilibradas ajuda tanto no crescimento do feto quanto na produção inicial de leite. Ainda nesse período, de acordo com indicação regional ou de manejo sanitário, pode ser recomendada a vermifugação e vacinação (Ex. clostridioses) das fêmeas gestantes, desde que o manuseio desses animais não leve a acidentes que possam acarretar o abortamento ou partos prematuros. Deve-se evitar todo tipo de estresse ou esforço da gestante, para garantir uma parição tranquila e uma recuperação do parto mais rápido. De preferência, separá-la em lote de gestantes para facilitar o manejo.
Parto
O parto é uma situação fisiológica, cuja previsão (Figura 8), pode auxiliar o criador em casos que necessitem de intervenções em possíveis complicações, para evitar problemas com a mãe e perdas das crias.

Figura 8. Previsão de parto em pequenos ruminantes, ajustado para 150 dias.
Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Inseminação Artificial (2005).
O parto deve ocorrer de forma mais natural possível, sem que haja intervenção ou auxílio para a fêmea gestante, recomendando-se pelo menos uma semana antes, manter as fêmeas em piquetes ou baias maternidades, locais limpos, arejados e mais tranquilos. Próximo ao parto, observa-se um aumento no volume do úbere e inchaço da vulva. Com a aproximação do parto, ocorrem sinais visíveis, como: o isolamento das femêas, o balir com mais intensidade, o relaxamento dos ligamentos da garupa, a inquietação, o olhar constante para os flancos, a ação de deitar e levantar frequentemente e o extravaso pela vulva de uma secreção ligeiramente amarelada e opaca, que vem a ser o tampão mucoso.
No momento do parto, as contrações uterinas tornam-se mais fortes, há o rompimento da placenta e visualização da bolsa amniótica com os membros anteriores ou posteriores, que se projetam pela vulva. Logo após ocorre a expulsão do feto. Podem existir casos da cria nascer dentro da bolsa ou distorcias, necessitando intervenções nesses casos. O parto pode durar de uma a duas horas.
A previsão do parto pode predizer a época esperada para esse acontecimento. Com base nessa previsão, os partos podem ser induzidos, evitando concentrações de partos no mesmo dia ou mesmo interrompendo gestações que se prolongam para além da data esperada. Essa técnica consiste na administração de medicamentos que iniciem o processo de parto. Nas cabras, a utilização de análogos sintéticos de prostaglandina F2α induz o parto dentro de 30 a 40 horas após sua aplicação. Já nas ovelhas, a utilização de glicocorticoides como a dexametasona ou betametasona tem efeito positivo na indução em 36 a 56 horas. Lembrando sempre que a falta de critérios e escrituração adequada podem levar a indução de partos de fetos em idades inadequadas (Ex.: fêmea que repetiu cio, foi coberta e não devidamente anotada).
Cuidados ao nascimento
Quanto ao nascimento, a mãe, por instinto, deverá reconhecer sua (s) cria (s), lambendo-a (s) de forma vigorosa, sendo que essa atividade, além de fortalecer os laços maternos, estimula os batimentos cardíacos e movimentos respiratórios das crias, além de aquecê-las. Lembrando que esse comportamento é vedado aos caprinos leiteiros especializados, como medida adicional de controle de doenças, como a CAEV (artrite encefalite viral caprina). Nesse caso, o parto é assistido e a cria removida imediatamente após o nascimento. O próximo passo é a mamada de colostro obtido de cabras comprovadamente livres da CAEV ou seu fornecimento termizado a 56 ºC por 30 minutos, que conferirá uma imunidade passiva (vinda mãe) para a cria. Esta transferência deve ocorrer em até 2 horas para cordeiros e 4 horas para cabritos.
A regulação da temperatura corporal nos recém-nascidos de pequenos ruminantes não está desenvolvida o suficiente para mantê-los devidamente aquecidos logo após o nascimento. Assim, recomenda-se, neste caso, o uso de aquecimento artificial, seja por meio de campânulas, seja por meio de lâmpadas aquecedoras, em locais apropriados do tipo berçário.
Os cuidados com umbigo também evitam a mortalidade dos recém-nascidos. O umbigo deve, necessariamente, ser limpo e desinfetado com tintura de iodo a 10% por, pelo menos, três dias seguidos, imergindo-o na solução, promovendo assim uma cauterização local e sua cicatrização. Posteriormente, o umbigo deverá cair naturalmente. Alguns criadores e técnicos preconizam o corte do umbigo. Naturalmente, o umbigo é estrangulado por ocasião do parto de forma a não permitir acesso de microrganismos. O corte, tração e amarradura indevidas podem propiciar acesso de agentes infecciosos que podem até mesmo levar à morte o recém-nascido, além de favorecer a formação de hérnias umbilicais por interferirem na cicatrização e fechamento desse canal umbilical.
As crias devem ainda ser pesadas, identificadas e submetidas a medidas sanitárias necessárias de acordo com o calendário regional.
Considerações finais
A reprodução assistida ou manejo reprodutivo é um dos maiores responsáveis pela eficiência produtiva dos rebanhos de caprinos e ovinos. Sua dependência de outros manejos como nutricional e sanitário, eleva a exigência de atenção no sentido de sua integração dentro do manejo geral do sistema de produção. Compreender suas características e explorar suas possibilidades é, portanto, uma condição indispensável ao criador. Recomenda-se atenção adequada aos vários estádios que compreendem o manejo reprodutivo e a possibilidade de aplicação das variadas ferramentas e técnicas disponíveis. Toda orientação, implantação e monitoramento dessas técnicas devem ser compatíveis com o sistema de produção em questão e, sempre que possível, ser acompanhadas de uma escrituração zootécnica organizada. Uma vez seguidas essas orientações, observa-se a elevação nas taxas reprodutivas no rebanho que se reflete positivamente, tanto na eficiência reprodutiva e produtiva, quanto no sucesso na exploração desses animais.





26 de abr. de 2018

Aspectos agro e zooecológicos criação de Caprinos e Ovinos



A região Nordeste compreende nove estados da União (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia), ocupando uma área de aproximadamente 1.222.354 km2, o que corresponde a aproximadamente 14,4 % do território nacional (IBGE, 2013). Sua localização geográfica vai de 1º a 18º latitude sul e de 34º30` a 48º20` longitude oeste. Cerca de 60% da área total corresponde ao semiárido nordestino. Em termos de rebanhos caprinos e ovinos, dos mais de nove milhões de cabeças de caprinos presentes no Brasil, cerca de 90% estão na região Nordeste, enquanto que os ovinos são 17 milhões de cabeças, sendo mais da metade no Nordeste (IBGE, 2009).

Clima

O clima da região, de acordo com a classificação de Köppen, é um clima semiárido quente, na grande maioria da sua extensão territorial, com temperaturas elevadas, baixa umidade relativa do ar, evaporação maior que a precipitação e curta estação chuvosa. A temperatura média da região fica em torno de 27 °C (ANGELOTTI et al., 2011). Durante a época seca, a temperatura do solo pode chegar a 60 °C. Não há grandes variações de temperatura ao longo do ano, sendo tal fator mais afetado pela altitude do que pela insolação. A umidade do ar no período chuvoso pode ser maior que 80%, mas durante os longos períodos secos pode ficar abaixo dos 50%. A precipitação pluvial varia de 250 a 1.000 mm. A evapotranspiração potencial situa-se em torno de 2.700 mm/ano, caracterizando um elevado déficit hídrico, com um índice de aridez médio de 0,30 (SILVA et al., 2010).

Solo

A região semiárida apresenta grande diversidade de solos, em algumas situações com características distintas em uma mesma paisagem. Pode-se considerar que os solos da região semiárida vão do extremo arenoso dos Neossolos Quartzarênicos ao argiloso dos Luvissolos; dos Litossolos rasos e pedregosos aos profundos Latossolos; da baixa fertilidade dos Argissolos à alta fertilidade dos Vertissolos. Ainda, apresentam solos considerados característicos de zonas semiáridas, com pH elevado e alta saturação de bases, a solos mais encontrados nos trópicos, ácidos e lixiviados. De maneira geral, pode-se citar que os solos de maior abrangência nesta região são os Latossolos, os Argissolos, os Neossolos Quartzarênicos e Litólicos, os Planossolos e os Vertissolos (SAMPAIO et al., 1995; SILVA et al., 2006).
A região semiárida é caracterizada por uma grande diversidade ambiental, tornando difícil generalização sobre fertilidade de solos. No entanto, trabalhos sugerem que as deficiências de fósforo (P) são comuns; em relação aos cátions potássio, cálcio e magnésio as limitações são mais restritas. Resultados de pesquisas sugerem que há respostas positivas e significativas para nitrogênio e fósforo; confirmando as deficiências de fósforo e indicando que esses solos também apresentam limitações em nitrogênio (SAMPAIO et al., 1995).
O emprego de doses baixas de fertilizantes nos cultivos no semiárido produz retorno econômico, e que o não uso de adubos é justificado pelos agricultores acreditarem não compensar o investimento em função da suscetibilidade do clima, especialmente no que diz respeito à irregularidade de chuvas na região (SAMPAIO et al., 1995).
Os dados disponíveis para a região semiárida sobre os fatores que controlam a disponibilidade de fósforo são bastante limitados, em comparação com dados para regiões em que predomina agricultura comercial com elevados insumos. Ressalta-se a necessidade de manter um nível adequado de atividade biológica no solo, decorrente dos aportes de resíduos orgânicos associados à presença de plantas. Essa atividade favorece a manutenção de uma proporção significativa do P em formas orgânicas, evitando sua sorção pela fase mineral coloidal e a eventual formação de compostos inorgânicos relativamente inertes (SALCEDO, 2006).
Os valores médios de carbono orgânico do solo do bioma caatinga estão em torno de 9,3 g kg-1, considerando que 58% da matéria orgânica é carbono, o valor médio seria de 15,9 g kg-1 (MENEZES et al., 2012), o que é justificável em função da não reposição de nutrientes (baixo uso de estercos na área) e manejos pouco conservacionistas empregados por alguns agricultores como cultivo intensivo, não adoção do pousio e abertura de áreas de capoeira.

Vegetação

A maior parte do território é ocupada por vegetação xerófila, denominada caatinga, que em tupi guarani significa mata branca, abrangendo uma área total de cerca de 824.000 km2 (GIULIETTI et al., 2002).
A vegetação de caatinga é constituída especialmente de espécies arbustivas e arbóreas de pequeno porte, geralmente dotada de espinhos, sendo caducifólias em sua maioria, perdendo suas folhas no início da estação seca. O componente herbáceo é formado por espécies anuais de grande importância na época chuvosa como fonte de alimentação para os rebanhos de ruminantes.
A caatinga possui registradas mais de 1.500 espécies (GIULIETTI et al., 2006). A presença de espécies endêmicas indica a rqiqueza desse ecossistema, sendo que já foram encontrados vinte gêneros, mais de 300 especies, sendo 80 da familia leguminoseae (GIULIETTI et al., 2002).
A região da caatinga é classificada como savana estépica. No entanto, existem diferentes unidades de paisagem, que variam em função de diferenças de pluviometria, fertilidade e tipo de solos e relevo. A divisão entre agreste e sertão é a mais conhecida, sendo o primeiro caracterizado por uma faixa de transição entre a caatinga e a mata atlântica, enquanto o sertão apresenta vegetação mais característica de caatinga. Outras denominações de sertão, são: Seridó, Curimataúcu, Caatinga e Carrasco.
Uma das classificações mais utilizadas atualmente divide a caatinga em oito regiões (GIULIETTI et al., 2002).

Complexo do Campo Maior- praticamente todo o Estado do Piauí e um pequeno pedaço do sudoeste do Maranhão. É uma zona que sofre inundações periódicas nas planícies sedimentares.
Complexo do Ibiapaba-Araripe – formado pelas Chapadas da Ibiapaba e do Araripe, no Estado do Ceará. Estende-se pelas fronteiras oeste do Ceará e nordeste do Piauí, pelo sul do Ceará e pela parte central do Piauí em direção ao sul. O clima sobre a Chapada do Araripe é quente e semiárido, com precipitação média anual de 698 mm no setor ocidental e 934 mm no setor oriental. Nas encostas das chapadas  floresta pluvial, enquanto nos topos existe  cerrado que guarda pouca relação com as áreas de Cerrado do Planalto Central. As demais áreas da ecorregião são cobertas por carrasco.
Depressão Sertaneja Setentrional - é a área mais árida da caatinga. Compreende desde a fronteira norte de Pernambuco, estendendo-se por quase toda a Paraíba, incluindo ainda parte do Rio Grande do Norte e Ceará. Prolonga-se até uma pequena faixa ao norte do Piauí. A principal característica dessa ecorregião são as chuvas irregulares ao longo do ano, especialmente durante o curto período chuvoso.
Planalto da Borborema - envolve territórios dos estados do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco e de Alagoas. Tem como principais características a presença de um relevo movimentado e grandes altitudes, o que determina mudanças de clima e vegetação.
Depressão Sertaneja Meridional - é a maior parte do bioma caatinga. A diferença entre essa e a Depressão Sertaneja Setentrional está no fato de a primeira apresentar melhor regularidade de chuvas e maior ocorrência de corpos de água temporários.
Dunas do São Francisco - é caracterizada pela presença de dunas de areias quartzosas. Está no Centro oeste do bioma.
Complexo da Chapada Diamantina - Localizada na parte centro-sul do bioma, integralmente no Estado da Bahia. É a região onde são registradas as menores temperaturas. Caracteriza-se pela presença de ilhas de campos rupestres, especialmente nas áreas de maior altitude, e é cercada de caatinga nas áreas baixas.
Raso da Catarina - caracteriza-se pela presença de uma caatinga arbustiva, com solo de areia muito densa. Localiza-se no centro-leste do bioma.