3 de mai. de 2018

Manejo Nutricional de Caprinos e Ovinos


Introdução

A exploração de caprinos e ovinos é uma atividade que tem despertado interesse de produtores, tendo em vista o aumento da demanda, principalmente pela carne ovina e o leite caprino. Ressalte-se que o uso desses produtos pecuários por toda a população expande-se desde o acesso em grandes restaurantes e redes de supermercados, geralmente associados a criadores mais tecnificados, até consumidores de menor poder aquisitivo e condições de criação com menor grau de tecnificação. O estudo de mercado ainda é deficitário para a maioria dos criatórios de ovinos e caprinos leiteiros. Além disso, a falta de um manejo nutricional adequado, a reduzida disponibilidade de alimentos em determinados períodos do ano, geralmente resultando em dietas com inadequado valor nutritivo, têm sido convertidos em prejuízos à quantidade e à qualidade dos produtos fornecidos ao consumidor.

Diante desse cenário, é preciso desenvolver técnicas que propiciem a melhoria dos índices produtivos e otimizem o uso de recursos alimentares disponíveis, especialmente associando-o ao conhecimento sobre o valor nutritivo de alimentos alternativos e tradicionais e os dados mais recentes sobre as exigências nutricionais de pequenos ruminantes distribuídos em categorias produtivas. Por fim, a difusão técnica dessas informações propiciará melhores ajustes dietéticos e melhores estratégias de suplementação alimentar, visando o aumento da eficiência produtiva e econômica.
Na presente revisão, pretende-se dar ênfase às medidas de manejo nutricional específicas à criação de ovinos e caprinos, conforme as categorias produtivas em recomendações para ambas as espécies, no tocante ao que é comum entre elas, independentemente da aptidão produtiva.

Pré-Monta

Dietas com maior teor nutritivo, notadamente em energia, são oferecidas às fêmeas ao longo de duas a três semanas que antecedem a estação de monta e nas duas semanas posteriores. Esse manejo é conhecido por flushing. Como vantagens, podem ser destacadas: alta apresentação de cios no momento da cobertura, aumento da taxa ovulatória, maior concepção e sobrevivência embrionária e maiores taxas de fertilidade e prolificidade.

Muitos produtores utilizam essa técnica para corrigir a condição nutricional dos animais antes de entrar na estação de monta. Fêmeas com escore de condição corporal (ECC) adequado (3,0 e 4,0) dispensam tal manejo, uma vez que trabalhos relatam que a superalimentação durante a fase inicial da gestação pode causar efeitos negativos sobre a viabilidade embrionária (Robinson, 1982).

Estação de monta

Fazendo-se o fornecimento alimentar adequado no período pré-monta, geralmente se atinge o desejável durante a estação de monta, que são as maiores taxas de fertilidade e fecundidade. De acordo com Fraser e Stump (1989) apud Rogério et al. (2011), é desejável que na fase reprodutiva os animais estejam com ECC entre 3 e 4. Caso as fêmeas não tenham atingido a condição corporal entre 3 e 4 após a dieta de flushingpré-monta, é recomendável observar aspectos de sanidade, divisão adequada de lotes quanto ao tamanho, peso e idade e se realmente os alimentos ofertados apresentavam a qualidade nutritiva no momento da oferta, conforme foi estabelecida na formulação. Nesse caso, é recomendável que continuem recebendo o flushing, após corrigida alguma possível falha no manejo, a fim de que entrem na estação de monta apenas quando o escore estiver entre 3 e 4.

Assim, os escores derverão ser acompanhados em cada fase produtiva: durante o início e meio da gestação, o ECC deve estar entre 2,5 e 4; no terço final da gestação, deve estar entre 3,0 a 3,5; e 3,5 a 4,0 para gestantes com 1 e 2 fetos, respectivamente. Após o parto e no início da lactação, o ECC deve ser de no mínimo 2,0. É importante ressaltar que fêmeas em início de gestação não devem perder mais do que 7% do seu peso, pois conforme esses autores, essa redução acarreta mudanças de 0,5 na condição corporal dos animais. Na Figura 1, é possível observar o escore de condição corporal em função da fase do ciclo produtivo.


Figura 1. Escore de condição corporal (ECC) em função da fase do ciclo reprodutivo-produtivo. 
Fonte: Cesar e Souza (2006).

Gestação

Na fase inicial da gestação, as exigências nutricionais das ovelhas devem ser calculadas para exceder ligeiramente a mantença (ALBUQUERQUE et al., 2005; SUSIN, 1996). Geralmente, a utilização de uma dieta à base de forrageiras de boa qualidade é suficiente para atender as exigências nesse período (ALBUQUERQUE et al., 2005). Nesta fase, o crescimento fetal equivale a 10-15% do peso do cordeiro (BELL et al., 1995). Devido a esse fato, maior atenção deve ser dada às fêmeas no terço final de gestação (Figura 2).

Figura 2. Desenvolvimento fetal em pequenos ruminantes ao longo da gestação.
Fonte: Sahlu e Goetsch (1998)
Nas últimas semanas de gestação, as ovelhas exigem maior aporte de nutrientes em menor volume de alimentos por conta da redução do espaço abdominal para o rúmen. Ajustes na dieta devem ser realizados, especialmente com a inclusão de alimentos de maior densidade energética (ROGÉRIO et al., 2011). 
Como há diferenças nas exigências de ovelhas de primeira gestação com aquelas mais velhas (3-6 anos), assim como a prolificidade (número de crias/parto), torna-se necessário adotar um programa alimentar diferenciado para cada lote (ALBUQUERQUE et al., 2005). Segundo esses  autores, essa estratégia deve persistir após o parto, visando melhores condições de recuperação devido à gestação e objetivando o início da lactação.
O incremento dos teores energético-proteicos das dietas, pelo uso de alimentos concentrados, funciona como estimulante de consumo, além de promover o desenvolvimento das papilas ruminais, necessárias à melhor absorção de nutrientes para o feto, uma vez que o seu desenvolvimento é afetado pelo plano nutricional da fêmea durante a gestação (MELLOR, 1987). Na Tabela 1, podemos observar as exigências nutricionais das fêmeas durante a gestação. O metabolismo fetal tem prioridades nutricionais, e o peso da cria ao nascer é proporcional ao plano de nutrição da matriz.
Animais mal nutridos durante a gestação apresentam maior tempo de recuperação pós-parto, maiores intervalos entre partos, menor número de partos duplos, entre outros problemas (MACEDO JUNIOR et al., 2006). Situações em que fêmeas ao final da gestação sofreram restrição severa e abrupta apresentaram decréscimo da taxa de crescimento fetal em até 40% (MELLOR, 1987). Se a restrição prosseguir por mais de duas semanas nesta fase, as perdas podem ser ainda maiores.
O manejo de ovelhas e cabras em terço final de gestação implica na compreensão de que esses animais apresentam exigências elevadas, já que 70% do crescimento fetal ocorre nesse período. Recomenda-se melhorar o plano nutricional, com utilização de forrageiras de boa qualidade e concentrado. Pimenta Filho et al. (2007) avaliaram o desenvolvimento de cordeiros Morada Nova a partir do fornecimento às mães de diferentes níveis de energia metabolizável dietéticos (2,2; 2,8 e 3,4 Mcal/dia) no terço final de gestação. De acordo com o estudo, o efeito “nível energético dietético” não influenciou o peso dos cordeiros ao nascimento e até às quatro primeiras semanas de vida, nem a composição do colostro das matrizes (P>0,05), mas os autores ressaltaram um possível direcionamento dos nutrientes dietéticos para os tecidos fetais e mamários, visto que a mobilização de reservas não foi observada nesse estudo. Apenas as fêmeas que receberam 3,4 Mcal/dia no trabalho de Pimenta Filho et al. (2007) aproximaram-se da recomendação de ECC feita por Fraser e Stump (1989), citado por Rogério et al. (2011), sendo observados valores médios de ECC de 2,25; 2,5 e 2,8 para os animais consumindo dietas com 2,2; 2,8 e 3,4 Mcal/dia, respectivamente.
Tabela 1. Exigências nutricionais de ovelhas adultas e cabras leiteiras adultas, em gestação.
Início da gestação
Espécie
No de crias
Peso (kg)
Ingestão de Nutrientes



CMS
NDT
PB (40% CPNDR)
Ca
P
Ovelhas

1

40
0,99
0,52
79
3,4
2,4
50
1,16
0,61
91
3,8
2,8
60
1,31
0,70
103
4,2
3,2
2
40
1,15
0,61
95
4,8
3,2
50
1,31
0,70
107
5,4
3,7
60
1,51
0,80
124
5,9
4,2

3 ou mais

40
1,00
0,67
98
5,4
3,3
50
1,46
0,77
123
6,5
4,4
60
1,65
0,87
137
7,1
4,9
Cabras
1
30
0,98
0,52
79
3,8
2,2
40
1,21
0,64
96
4,2
2,5
50
1,42
0,75
111
4,4
2,8
2
30
1,08
0,57
93
5,5
2,9
40
1,32
0,70
111
5,8
3,2
50
1,55
0,82
129
6,2
3,6
3 ou mais
30
1,14
0,61
101
7,0
3,5
40
1,40
0,74
122
7,3
3,9
50
1,64
0,87
140
7,6
4,2
Final da gestação
Espécie
No de crias
Peso (kg)
Ingestão de Nutrientes
Ovelhas

1

40
1,00
0,66
96
4,3
2,6
50
1,45
0,77
120
5,1
3,5
60
1,63
0,86
134
5,7
4,0
2
40
1,06
0,85
123
6,3
3,4
50
1,47
0,97
148
7,3
4,3
60
1,65
1,09
165
8,1
4,8

3 ou mais

40
1,22
0,97
144
7,7
4,1
50
1,41
1,12
165
8,7
4,7
60
1,57
1,25
183
9,5
5,2
Cabras
1
30
1,09
0,72
112
4,0
2,4
40
1,33
0,88
134
4,3
2,7
50
1,94
1,03
169
5,2
3,5
2
30
1,09
0,87
134
5,5
2,9
40
1,59
1,05
169
6,2
3,6
50
1,85
1,23
194
6,6
4,0
3 ou mais
30
1,20
0,95
151
7,0
3,6
40
1,47
1,17
181
7,4
4,0
50
1,70
1,36
205
7,7
4,3
Adaptada do NRC (2007). CMS – Consumo de matéria seca (kg/dia), NDT – Nutrientes digestíveis totais (kg/dia), PB – Proteína Bruta (g/dia) proporcional ao consumo de 40% de proteína não degradável no rúmen (CPNDR), Ca – Cálcio (g/dia), P – Fósforo (g/dia).

Parto

A viabilidade e o desenvolvimento pós-natal das crias são influenciados diretamente pelo aporte energético dado às matrizes no periparto (PIMENTA FILHO et al., 2007). Segundo esses autores, uma ovelha subnutrida no último terço da prenhez terá cordeiros com menor peso ao nascimento, mesmo que o plano nutricional durante os primeiros 100 dias de gestação tenham sido adequados. Inversamente, um alto nível nutricional no último terço da gestação produzirá cordeiros normais, ainda que a nutrição no início da gestação tenha sido deficitária. Isso, entretanto, não quer dizer que podem ser negligenciadas as fases anteriores ao periparto, pensando-se em manejo nutricional adequado.
Para que a ovelha atinja todo o seu potencial para produção leiteira, atenção especial deve ser dada a ela desde a fase gestacional, pois matrizes desnutridas durante a gestação podem ter redução do crescimento da glândula mamária e consequente comprometimento da lactação (ALBUQUERQUE et al., 2005).
De modo geral, todas as fases produtivas requerem cuidados especiais em termos de fornecimento de nutrientes em níveis adequados. No momento do periparto (terço final de gestação e início de lactação) o adensamento de nutrientes nas dietas, pela maior exigência nutricional das matrizes nessa fase produtiva, faz-se necessário (ROGÉRIO et al., 2011).
As exigências nutricionais das fêmeas no início da lactação são geralmente elevadas e, ao mesmo tempo, a capacidade ruminal ainda se encontra diminuída em virtude da incompleta involução uterina. Esses dois fatores associados implicam geralmente na mobilização de tecidos (gordura principalmente) no começo dessa fase (ALBUQUERQUE et al., 2005).
As exigências nutricionais das ovelhas em lactação variam ao longo das fases do ciclo produtivo. Os sistemas de produção podem adotar intervalos de Partos (IP) de 8 ou 12 meses. Para que o sistema funcione bem com intervalos mais curtos, as fêmeas devem ter alimentação de alta qualidade durante todo o ano, uma vez que serão bem mais exigidas. Além de oferecer volumosos de boa qualidade, cerca de 500 g/dia de concentrado, mais 200 a 300 g/dia por kg de leite produzido, de acordo com a fase de lactação deverão ser oferecidos (OLIVEIRA et al, 2011). Se os intervalos entre partos são mais longos (acima de 12 meses, por exemplo) a suplementação pode ser diminuída para 200 g/dia com volumosos de boa qualidade. Cada caso é um caso, e o acompanhamento de um profissional graduado em veterinária, zootecnia ou agronomia, com conhecimentos específicos em nutrição de ruminantes, poderá ser necessária para o adequado ajuste dietético.
Para facilitar a compreensão da necessidade dos ajustes necessários durante a lactação da fêmea ovina, as fases de lactação foram divididas. Na primeira fase, ou início da lactação, as exigências nutricionais aumentam rapidamente, concomitantemente ao aumento da produção de leite, que tem o pico de produção atingido entre a 6ª e a 9ª semana. Porém, o pico da ingestão de alimentos não coincide com o pico de produção de leite, de maneira que a ingestão de nutrientes é insuficiente, provocando o emagrecimento. No primeiro mês de lactação, as fêmeas podem perder até 900 g de tecido adiposo por semana para manter a produção de leiteira, no 2º mês a perda média é de 450 g (OLIVEIRA et al, 2011). É possível visualizar esse comportamento na Figura 3 (abaixo).

Figura 3. Evolução da produção de leite, ingestão da matéria seca e peso vivo de cabras leiteiras de alta produção, considerando-se um intervalo entre partos de 12 meses.
Fonte: Sahlu e Goetsch (1998).
Para amenizar a perda de peso, é aconselhável utilizar rações palatáveis e com elevada densidade energética, sem se esquecer do fornecimento da quantidade mínima de fibra. De acordo com Macedo Júnior (2004), pelo menos 28,08% de FDN devem ser incorporados nas dietas de fêmeas ovinas no final da gestação.
Durante a fase 2, a capacidade de ingestão das fêmeas é restabelecida, enquanto a produção de leite começa a diminuir. O peso corporal passa a aumentar de 0,6 a 1,9 kg por mês. Essa fase pode variar conforme o intervalo de partos, caso seja de 12 meses, dura cerca de 5 meses, e apenas 1 mês quando o IP for de 8 meses (OLIVEIRA et al., 2011).
Para a fase 3, a fêmea já pode, inclusive, estar gestante novamente (três meses de gestação). Nesse caso, o animal começa a acumular reservas corporais para a próxima lactação. E por fim, na fase 4, correspondente ao terço final de gestação, implica no aumento na demanda por nutrientes. O ganho de peso durante a fase varia de 6 a 9 kg e corresponde principalmente ao crescimento do(s) fetos(s). É recomendado utilizar volumoso de boa qualidade, preferencialmente feno, e 500 a 800 g de concentrado/cabeça/dia (OLIVEIRA et al., 2011). Caso utilize silagem, essa não deverá ser o único volumoso, pelo baixo teor de matéria seca.
Tabela 2. Exigências nutricionais de ovelhas adultas e cabras leiteiras adultas, no início e no final da lactação.

Espécie
No de crias
Produção de leite (kg/dia)
Peso (kg)
Ingestão de Nutrientes
Início da lactação

CMS
NDT
PB (40% CPNDR)
Ca
P
Ovelhas
1
0,71 a 1,32
40
1,09
0,72
149
4,1
3,4
50
1,26
0,83
169
4,6
3,9
60
1,77
0,94
200
5,4
5,0
2
1,18 a 2,21
40
1,40
0,93
213
6,0
5,0
50
1,61
1,07
242
6,7
5,7
60
1,80
1,20
268
7,3
6,3
3 ou mais
1,53 a 2,87
40
1,36
1,08
253
7,1
5,7
50
1,88
1,24
297
8,3
7,0
60
2,09
1,38
327
9,1
7,8
Cabras
1
0,88 a 1,61
30
1,38
0,73
73
5,5
3,5
40
1,67
0,89
89
5,9
3,9
50
1,94
1,03
104
6,3
4,3
2
2,06 a 3,22
40
2,34
1,24
115
10,0
6,4
50
2,70
1,43
133
10,5
6,9
60
3,03
1,61
150
10,9
7,3
3 ou mais
3,49 a 4,82
50
2,77
1,83
136
13,7
8,5
60
3,10
2,05
153
14,1
8,9
70
3,41
2,26
169
14,6
9,4
Espécie
No de crias
Produção de leite (kg/dia)
Peso (kg)
Ingestão de Nutrientes
Final da lactação

Ovelhas
1
0,23 a 0,45
40
1,09
0,58
100
2,7
2,3
50
1,26
0,67
114
3,0
2,7
60
1,43
0,76
129
3,3
3,1
2
0,38 a 0,75
40
1,38
0,73
136
3,7
3,2
50
1,60
0,85
156
4,2
3,7
60
1,80
0,95
174
4,6
4,2
3 ou mais
0,55 a 0,97
50
1,83
0,97
185
5,0
4,4
60
2,06
1,09
207
5,6
5,0
70
2,29
1,21
229
6,1
5,5
Cabras
1
0,38 a 0,69
30
1,05
0,56
61
5,1
3,1
40
1,28
0,68
75
5,4
3,4
50
1,51
0,80
88
5,7
3,7
2
0,88 a 1,38
40
1,57
0,83
86
8,9
5,3
50
1,83
0,97
100
9,3
5,7
60
2,07
1,10
113
9,6
6,0
3 ou mais
1,50 a 2,07
50
2,16
1,14
112
12,8
7,7
60
2,43
1,29
127
13,2
8,0
70
2,69
1,43
141
13,6
8,4
Adaptada do NRC (2007). CMS – Consumo de matéria seca (kg/dia), NDT – Nutrientes digestíveis totais (kg/dia), PB – Proteína Bruta (g/dia) proporcional ao consumo de 40% de proteína não degradável no rúmen (CPNDR), Ca – Cálcio (g/dia), P – Fósforo (g/dia).

Nascimento

Nas primeiras semanas de vida, é importante a administração adequada do leite materno, ou em alguns casos, o fornecimento de sucedâneos. A partir da terceira semana de vida, a atividade enzimática do sistema digestivo das crias aumenta gradativamente, possibilitando a inclusão de outros ingredientes à dieta (DAVIS; DRACLEY, 1998). Administrar o colostro é importante por este ser rico em células de defesa (imunoglobulinas) que contribuirão com a prevenção de doenças. Em casos em que a fêmea não apresente ou tenha produção insuficiente de colostro ou em situações em que a cria não é aceita pela mãe, o neonato poderá ser colocado junto a outra fêmea recém-parida, ou então se deve proceder ao aleitamento artificial em mamadeira, preferencialmente nas primeiras 3 horas de vida (OLIVEIRA et al., 2011). Se o colostro estiver congelado, deverá ser descongelado em banho-maria. Na Tabela 3 está apresentado um exemplo de esquema de aleitamento artificial. Os cuidados com a higiene dos materiais utilizados são fundamentais para evitar o risco de diarreias nos animais durante essa fase.
A partir dos 10 dias de idade, os cordeiros já começam a ingerir alimentos sólidos. Para antecipar o desenvolvimento das papilas ruminais, o fornecimento em creep feeding é uma alternativa interessante nesta fase. Além da contribuição com o desenvolvimento papilar, o creep feeding contribui com o incremento nutricional na dieta das crias (leite), aumentando a taxa de crescimento, melhorando a eficiência alimentar e evitando o desgaste excessivo das fêmeas através da amamentação (CEZAR; SOUZA, 2006). Segundo Neiva et al. (2004), com o menor desgaste das fêmeas, é proporcionada melhoria da eficiência reprodutiva, uma vez que a cria está substituindo parcialmente o leite pelo alimento fornecido.
Tabela 3. Esquema de aleitamento artificial para caprinos e ovinos
Idade (dias)
Tipo de leite
Frequênciaa
Quantidade (Litros /dia)
1 a 7
Colostro
4-5
0,5-0,8
8 a 11
Leite Ovino/caprino + bovino (2:1)
3
1,0-1,5
12 a 15
Leite Ovino/caprino  + bovino (1:1)
3
1,0-1,5
16 a 19
Leite Ovino/caprino + bovino (1:2)
3
1,5-2,0
20 a 83
Bovino
3
2,0
84 a 90
Bovino
1
1,0
aNúmero de aleitamentos por dia. Adaptado de Oliveira et al. (2011).

Desmama

O consumo de alimento pelos cordeiros com duas a seis semanas de idade está ligado à palatabilidade, forma física da ração e das condições do ambiente em que o manejo será adotado (NEIVA et al., 2004). Os mesmos autores ressaltaram que o concentrado deve ter proteína com alta digestibilidade, energia prontamente disponível, minerais com alta disponibilidade biológica, bem como vitaminas. Com esse adensamento nutritivo, o creep feeding torna-se indispensável para encurtar o tempo de acabamento dos animais para abate (SAMPAIO et al., 2001). O fornecimento de volumosos de alta qualidade também é recomendado, pois contribui para o desenvolvimento da capacidade de ingestão de alimentos.
Além da curva de crescimento dos cordeiros nesta fase estar em franca ascendência, a intenção de se reduzir o tempo até o abate denota a necessidade de incorporação de dietas concentradas para potencializar o desenvolvimento. Ao avaliar um nível de energia que fosse ideal para esta fase, Garcia et al. (2003) incorporaram às dietas de cordeiros Suffolk níveis de 2,6; 2,8 e 3,0 Mcal de energia metabolizável/ kg MS em sistema de creep feeding. Esses autores verificaram que a dieta com 3,0 Mcal proporcionou o melhor desempenho aos animais.
Dependendo da necessidade por sistemas mais intensivos de produção e dos preços relativos de alimentos concentrados, a suplementação em creep feeding ao contribuir com o desenvolvimento papilar ruminal pode representar importante estratégia inclusive para antecipar o desmame (FRESCURA et al., 2005). Nesse tocante, Borges et al. (2005) destacaram a oportunidade para ovinocultores nordestinos utilizarem subprodutos oriundos do processamento de frutas como substitutos ao tradicional binômio milho: farelo de soja.
Oliveira et al. (2009), por sua vez, avaliaram o efeito de dois sistemas de alimentação (pastagem nativa ou pastagem cultivada e irrigada na época seca), três grupos genéticos (½Dorper x ½Sem Raça Definida - SRD, ½Santa Inês x ½SRD e ½Somalis Brasileira x ½SRD), sexo, tipo de nascimento e ordem de parto sobre o peso ao nascimento (PN), peso a desmama (PD) e ganho de peso diário (GPD) do nascimento à desmama (Tabela 4).
Considerando-se a coleta de dados relativa a três anos consecutivos na Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral-Ceará), verificou-se que os cordeiros do sistema de pastagem nativa foram superiores.

Uma das formas para incrementar o desempenho das crias a pasto é o creep grazing. Essa estratégia consiste em permitir aos cordeiros o acesso restrito a um pasto de melhor qualidade, sem que eles percam o contato visual da mãe. De acordo com Poli et al. (2008), o tempo para se atingir o peso ao abate utilizando-se o creep grazing seguido de terminação em confinamento é bem aproximado daquele que é obtido utilizando-se o creep feeding seguido de terminação em confinamento.

O período de desmama ideal é aquele que considera o modelo de sistema produtivo utilizado. Se a intenção é realizar a terminação em confinamento, por exemplo, a desmama pode ser precoce (em torno de 60 a 70 dias). Para isso, o acompanhamento do ECC dos cordeiros/cabritos (deve ser de no mínimo 3), a formulação de uma dieta para ganho de peso após um período pré-desmama com uso de creep feeding ou creep grazingsão preponderantes para a terminação de cordeiros/cabritos com adequado acabamento. Além disso, o uso de grupos genéticos que tenham potencial produtivo para responder mais rapidamente a esse tipo de dieta. Planejamento alimentar e qualidade nutritiva dos alimentos ofertados também são essenciais.
Tabela 4. Valores médios estimados (média ± desvio padrão) pelo método dos quadrados mínimos para peso ao nascimento (PN), peso ao desmame (PD) e ganho de peso diário (GPD)
Efeitos
PN (Kg)
PD (Kg)
GPD (g)
Sistemas de alimentação



Pastagem nativa
3,19 ± 0,06a
17,07 ± 0,31a
147 ± 3a
Pastagem cultivada
3,25 ± 0,06a
14,04 ± 0,29b
116 ± 3b
Grupo genético



½ Dorper X ½ SRD
3,41 ± 0,06a
16,02 ± 0,33a
135 ± 3a
½ Santa Inês X ½ SRD
3,16 ± 0,07b
15,07 ± 0,34b
127 ± 3b
½ Somalis X ½ SRD
3,08 ± 0,06b
15,58 ± 0,31ab
132 ± 3ab
Sexo



Fêmea
3,12 ± 0,06b
15,21 ± 0,29b
128 ± 3b
Macho
3,31 ± 0,06a
15,90 ± 0,30a
134 ± 3a
Tipo de nascimento



Simples
3,40 ± 0,07a
17,24 ± 0,28a
147 ± 3a
Duplo
3,03 ± 0,07b
13,87 ± 0,33b
115 ± 3b
Ordem de parto



1
2,96 ± 0,11c
15,13 ± 0,54a
129 ± 5b
2
3,04 ± 0,08bc
14,81 ± 0,40a
126 ± 4b
3
3,25 ± 0,06a
15,96 ± 0,29a
135 ± 3ab
4
3,22 ± 0,15abc
16,86 ± 0,70a
146 ± 7a
5
3,24 ± 0,08ab
15,66 ± 0,37a
132 ± 3ab
6
3,31 ± 0,06a
15,75 ± 0,30a
132 ± 3ab
7
3,25 ± 0,06a
15,85 ± 0,30a
134 ± 3ab
8
3,47 ± 0,39a
14,45 ± 1,85a
117 ± 18c
aMédias seguidas pela mesma letra na coluna, dentro de cada efeito avaliado, não diferem pelo teste t (P>0,05).






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