14 de out. de 2018

Aspectos Agro e Zoo ecológicos na Exploração de Gado Leiteiro



Fisionomicamente, o Cerrado é uma savana mais ou menos densa, com uma cobertura herbácea contínua, e com um dossel descontínuo de elementos arbóreos e arbustivos, de galhos retorcidos, cascas espessas e, em muitas espécies, grandes folhas coriáceas.
As formações savânicas do Brasil abrangem terras onde coincidem as seguintes condições climáticas e edáficas: 
a) clima tropical estacional com chuvas da ordem de 1.500 mm anuais e duração da época seca, definida em termos de déficit hídrico, de 5 a 7 meses, coincidindo com os meses mais frios do ano; 
b) solos distróficos na grande maioria da região onde as condições de baixa fertilidade se somam a elevada acidez e altos valores de saturação de alumínio.
Ecologicamente, os dois principais fatores determinantes da presença dos Cerrados são os solos ácidos (álicos), de baixa fertilidade (distróficos), e o clima estacional. No entanto, existem outros tipos fisionômicos aos quais se associam determinados fatores. Por exemplo, quando as condições ambientais acima expostas se somam a ocorrência de solos arenosos, litólicos ou hidromórficos, que implicam em diferentes tipos de limitações adicionais, as fisionomias resultantes tendem a formas mais abertas, localmente chamadas de Campo Cerrado, Campo Sujo, ou Campo Limpo.
Ao contrário, quando ocorrem condições ambientais que implicam em compensações hídricas ou edáficas, as fisionomias tendem a formas mais densas, como Cerrado Denso ou Cerradão. Nestas circunstâncias podem ainda ocorrer as formações Mata Mesofítica e Mata de Galeria. Quando um fator limitante adicional atua plenamente, como é o caso da saturação hídrica dos solos em áreas de surgências, a vegetação típica dos Cerrados passa a ser substituída por campos Inundáveis, Veredas ou Campos de Murundus.
No estrato herbáceo os Cerrados apresentam como espécies dominantes o Capim-Flechinha (Echinolaena inflexa) e diversas espécies dos gêneros AgeniumAxonopusSchizachryrium e Aristida.
As principais espécies dos estratos arbóreo e arbustivo são a Lixeira (Curatella americana), o Barbatimão (Stryphnodendron adstringens e Dimorphandra mollis), o Pau-Santo (Kielmeyera coriacea), o Pau-Terra (Qualea grandiflora), Gritadeira ou Douradão (Palicourea rigida), Cagaita (Eugenia desynterica) e o Murici (Byrsonima coccolobifolia).
A heterogeneidade de condições ambientais dos Cerrados é um elemento a ser levado em conta, especialmente na pesquisa agropecuária, uma vez que essa característica vai influir nas possibilidades de extrapolações de resultados. Cabe ressaltar uma característica marcante do clima dos Cerrados que é a interrupção do período de chuvas estivais. Este fenômeno, conhecido como veranico, assume importância agronômica decisiva, devido ao fato de que mais de 90% dos seus solos são fortemente ácidos e com elevada saturação de alumínio, o que limita o desenvolvimento de raízes das culturas à pequena camada da superfície do solo quando corrigida apenas com calcário (sem a aplicação concomitante do gesso agrícola). Dessa forma, o efeito da estiagem é mais acentuado nos Cerrados do que nas áreas onde o volume do solo explorado pelas raízes é maior.
O estudo de mapeamento dos solos da Região dos Cerrados é bastante recente, sendo a EMBRAPA/SNLCS a principal responsável por este levantamento, quando em 1981 publicou o Mapa de Solos do Brasil, em escala 1:5.000.000. Neste Mapa, devido à escala cartográfica utilizada, as unidades de solos mapeadas foram constituídas por associações de solos em que apenas os componentes principais são indicados.
Baseado no Mapa de Solos do Brasil, verifica-se que os Latossolos ocupam a maior parte da área total do Cerrado brasileiro, com uma área de 993.330 km2 (48,8%). Os solos de Areia Quartzosas ocupam uma área de 309.715 km2 (15,2%); os solos Podzólicos ocupam uma área de 307.677 km2 (15,1%); os solos Litólicos ocupam uma área de 148.134 km2 (7,3%); os solos tipo Lateritas Hidromórficas ocupam uma área de 122.664 km2 (6,0%); os solos Cambissolos ocupam uma área de 61.943 km2 (3,0%); os Solos Concrecionários ocupam uma área de 57.460 km2 (2,8%); as terras Roxas ocupam uma área de 34.231 km2 (1,7%), enquanto outros tipos de solos ocupam uma área total de 19.154 km2 (0,9%). Por esta estatística apresentada, verifica-se a importância que os Latossolos desempenham no Cerrado brasileiro.

Processo de Formação do Solo

Por serem os Latossolos e Podzólicos os solos mais representativos da Região Sudeste, os seus processos de formação serão descritos, porém de forma reduzida.
Latolização
É importante destacar que o processo de latolização consiste na remoção de sílica e bases do perfil do solo. Os solos oriundos desse processo são aqueles que apresentam horizonte B latossólico, os mais velhos da crosta terrestre, ocupando, portanto, as partes velhas (há muito tempo expostas) da paisagem. Em geral, além de se apresentarem em maior proporção na paisagem, ocupam também as superfícies mais elevadas em relação à paisagem circundante. Essa situação é comum na Região Sudeste.
Em geral, os solos latossólicos são muito profundos e apresentam pouca diferenciação de horizontes, bastante intemperizados - argilas de baixíssima atividade - pouca retenção de bases e sem minerais primários facilmente intemperizáveis. Além disso, devido à grande lixiviação a que estão sujeitos, tanto a sílica como outros elementos são removidos do perfil do solo, promovendo um enriquecimento relativo de óxidos de ferro e de alumínio. Estes, como agentes agregantes (cimentantes), provocam grande macroporosidade, dando à massa de solo aspecto maciço poroso (esponjoso), resistência à erosão e alta friabilidade, facilitando, assim, o trabalho no solo, mesmo depois das chuvas.
Os Latossolos são solos fortes a moderadamente drenados, muito profundos, com seqüência de horizontes A, B e C pouco diferenciados. No horizonte B latossólico os teores de argila permanecem constantes ao longo do perfil, ou aumentam levemente sem, contudo, chegar a configurar um B textural, característicos do solos Podzólicos. O horizonte B latossólico, ocorre imediatamente abaixo do horizonte A. As cores predominantes do perfil dos Latossolos variam de vermelhas muito escuras a amareladas; geralmente são mais escuras no horizonte A, vivas no B e mais claras no C. São solos minerais, não-hidromórficos, em avançado estádio de intemperização, virtualmente destituídos de minerais primários (facilmente intemperizáveis), formados por uma mistura, em que predominam óxidos hidratados de ferro e/ou alumínio, ou argilo-minerais do tipo 1:1.
Os componentes granulométricos principais são a argila e areia. A argila varia de 15 a 80%. O silte apresenta-se relativamente constante quaisquer que sejam as combinações entre a argila e a areia, situando-se entre 10 e 20%. As estruturas dominantes são em forma de blocos subangulares (francamente desenvolvidos), ultrapequena granular ou maciças.
Quimicamente, os Latossolos são em sua quase totalidade distróficos, ácidos e com baixos valores de capacidade de troca catiônica (CTC). Os valores de pH situam-se entre 4,0 e 5,5, o que caracteriza como fortes e medianamente ácidos.
Os valores da soma de bases (SB), na maioria dos Latossolos, são bastante baixos, variando de 0,2 a 3,8 meq/100g de solos (atualmente cmolc/dm3 nos horizontes superficiais, com exceção dos desenvolvidos a partir de rochas básicas, em que os valores situam-se em torno de 6,1 cmolc/dm3. Nas camadas inferiores do perfil, aqueles valores decrescem consideravelmente. A maior contribuição para o total das bases é devida ao cálcio (Ca) e a menor, quase insignificante, ao sódio (Na). Os teores de potássio (K) são em geral muito baixos.
Os teores de carbono (C) em Latossolos argilosos variam de 0,5 a 2,4 % (atualmente dag/kg nas camadas superficiais, decrescendo até 0,2 dag/kg nas camadas inferiores, valores esses considerados de médio a altos. Em solos de textura média, os teores de C são menores. Além de ser fonte de nutrientes, a matéria orgânica melhora as condições físicas do solo, aumenta a capacidade de retenção de água e é responsável, em grande parte, pela CTC.
Os valores médios de CTC no horizonte A dos Latossolos argilosos variam entre 3,9 a 13,9 cmolc/dm3, enquanto nos de textura média situam-se entre 4,3 e 5,1 cmolc/dm3. Os valores médios da CTC efetiva, obtida pela soma de SB + Al, foram extremamente baixos, ficando na casa de 1,1 cmolc/dm3. Este fato evidencia reduzido número de cargas próximo ao do pH natural, o que, juntamente com os baixos teores de bases, indica limitada reserva de nutrientes para as plantas.
A porcentagem de saturação de bases (V) na maioria dos Latossolos é inferior a 50%, o que caracteriza solos distróficos. Em áreas localizadas com perfis desenvolvidos de sedimentos provenientes de rochas básicas, podem ocorrem Latossolos Roxos ou Vermelho-Escuro eutróficos (solos com saturação de bases superior a 50%). Os Latossolos,na maioria, são álicos, ou seja, apresentam saturação de alumínio superior a 50%.
Os teores de fósforo disponíveis são extremamente baixos, situando-se em torno de 2 ppm (atualmente mg/dm3).
Podzolização
Outro processo também importante na formação do solo refere-se à Podzolização, que consiste essencialmente na translocação de materiais do horizonte A, acumulando-se no horizonte B. O principal grupo de solo que sofreu o processo de Podzolização refere-se ao solos Podzólicos, também bastante representativos da pedopaisagem da Região Sudeste. Se o material translocado do horizonte A para o B for argila silicatada (material de origem geralmente mais argiloso), depositando-se nas superfícies das estruturas (agregados) do horizonte B e formando cerosidade, tem-se um solo B textural (ou podzólico). Se o material translocado é matéria orgânica e óxido de ferro e de alumínio, o que geralmente acontece quando o material de origem é pobre em argila (por exemplo, quartzito, ou arenito pobre) e a drenagem é deficiente, tem-se um solo com B podzol.
A área bioclimática típica desse solo está nas regiões frias do globo, com vegetação de coníferas, mas algumas condições locais podem dar origem a estes solos, mesmo em regiões mais quentes.
Assim, sobre o processo de Podzolização, pode-se concluir:
  • os solos podzolizados têm horizontes bem diferenciados, provocados pela translocação;
  • os solos com B podzol são muito pobres e ácidos, visto que a vegetação, quando se decompõe, dá grande acidez ao solo e o material de origem é muito pobre;
  • os solos com B textural são mais férteis do que os com B podzol, apresentando mais argila no horizonte B que no horizonte A;
  • tanto os solos com B podzol quanto os com B textural, se estão em relevo movimentado, tendem a ser facilmente erodíveis, por causa do material arenoso e sem estrutura que apresentam, no horizonte. No caso do B textural, principalmente, por causa da diferença de textura entre os horizontes dificultando infiltração de água, há favorecimento do processo de erosão.


Principais Segmentos da Pedopaisagem

A Região Centro-Oeste, onde predomina a formação de Cerrados, caracteriza-se por apresentar o solo, e em particular o horizonte "Cr", muito profundo, embora haja grandes afloramentos rochosos. Em geral, os solos são velhos e empobrecidos, encontram-se em franco processo de remoção. Os solos mais jovens e férteis são encontrados nas partes mais baixas, que vão penetrando vale acima, criando novas relações entre o homem e o solo. Além da grande profundidade e da espessura desproporcional entre solum e horizonte C, há um perfil de cor típica, da rocha fresca à superfície: o horizonte C profundo é tipicamente de coloração rósea (mais avermelhado quando úmido); próximo à rocha fresca ele se torna acinzentado e em direção à superfície é substituído por um horizonte B amarelado ou avermelhado.
Quando o horizonte C róseo é estreito ou a cor cinzenta vem até à base do horizonte B (ausência de cor rósea), o horizonte B tende a ser vermelho e eutrófico (Podzólicos Vermelho-Amarelos e Podzólicos Vermelho-Escuros). Se o horizonte C róseo é profundo, o horizonte B é amarelado (Latossolo Vermelho-Amarelo e Latossolo Una); Latossolo Vermelho-Escuro pode ocorrer, mas, em geral, não é, muito expressivo. Nos casos em que o processo erosivo é muito intenso e o solum é muito raso, ocorrem Cambissolos. 
Os Latossolos, os Podzólicos e as Areias Quartzosas são, de fato, as três grandes classes de solos que dominam a Região dos Cerrados, podendo se apresentar tanto nas regiões mais acidentadas, quanto em regiões mais planas.
O relevo característico em grande parte dessa região é representado pela Figura 1. Nessa Figura, é descrita a situação de cada um dos segmentos que compõem a referida pedopaisagem. Vale ressaltar que esta situação apresentada na Figura 1, embora sendo mais característica da área dos morros florestados da Região Sudeste, pode também ser encontrada nas demais regiões fisiográficas do País, como é o caso da Região Centro-Oeste coberta por extensas áreas de Cerrados.


Figura 1. Toposseqüência característica da Região Sudeste do Brasil.
A seguir, é descrito cada um desses segmentos, localizando alguns aspectos relacionados ao seu uso, objetivando a exploração animal.
A – Leito Menor. Caracterizado pela presença de fontes de água da propriedade, normalmente constituído por olhos-d'água, minas d'água, córregos, riachos e rios, açudes, etc.
B – Leito Maior. Este segmento é caracterizado por inundações periódicas, ora permanecendo encoberto de água por períodos prolongados, ora inundados, porém com escoamento rápido do excesso de água. Além disso, sobressai por um enriquecimento de sua fertilidade natural, mercê das constantes inundações, que depositam grande quantidade de colóides na superfície do solo. Em decorrência desses freqüentes alagamentos, este segmento apresenta fortes limitações relativas à drenagem e à mecanização motorizada; é normalmente utilizado com forrageiras resistentes ao encharcamento, citando como exemplo: capim-angola, estrela africana, tangola, coast-cross e setária.
Por ser o capim-elefante uma planta que não se adapta a solos com problemas de drenagem, o leito maior não é recomendado para o seu cultivo. Da mesma forma, este segmento não é recomendado para o cultivo de forrageiras dos gêneros Panicum ou Brachiaria.
C – Terraço. É também um segmento plano da paisagem, porém mais elevado que o leito maior, não sujeito às inundações. Caracteriza-se também por apresentar fertilidade natural bastante elevada, além de não apresentar impedimento à motomecanização. Em geral, é usado com as culturas de milho, sorgo, feijão, arroz de sequeiro etc. Se usado para pastagens, deverá ser cultivado com espécies que apresentem alto potencial de produção de biomassa, relevando-se: capim-elefante, Panicum maximum, estrela africana, coast-cross, milho, sorgo e cana-de-açúcar.
D – Meia-Encosta. Sua forma côncava facilita a deposição de partículas de solo, removidas dos segmentos (E) e (F) pelo processo de erosão, enriquecendo sua fertilidade natural. Em geral, pode ser cultivado usando-se tração animal e/ou mecanizada. Por apresentar maior fertilidade natural e possibilidade de mecanização, deverá ser cultivado com forrageiras que apresentem alto potencial de produção de biomassa.
E – Morro (Área côncava e convexa) - Caracterizado por solos de baixa fertilidade natural e forte impedimento à mecanização motorizada.
Em razão desta baixa fertilidade natural e declive acentuado, é recomendado para cultivos com forrageiras que apresentem características de tolerância a fatores de acidez de solo; adaptação à baixa fertilidade natural; rapidez na cobertura do solo, após plantio; boa capacidade de produzir sementes, dentre outras. As forrageiras mais indicadas para serem usadas neste segmento são: braquiárias (especialmente B. ruziziensis B. decumbens), Hyparhenia rufa (capim-jaraguá) e capim-gordura (Melinis minutiflora), dentre outras.
Salienta-se, ainda, que o cultivo desta área implica emprego de práticas conservacionistas de manejo do solo.
F – Topo do Morro. Caracteriza-se por apresentar, geralmente, baixa fertilidade natural; entretanto, permite o uso de mecanização por tração motorizada.
Neste segmento, poderão ser cultivadas forrageiras adaptadas a solos de baixa fertilidade e acidez elevada. Poderá também ser cultivado com forrageiras que apresentem alta capacidade de produção de biomassa; neste caso haverá necessidade de se elevarem os níveis de calagem e de adubação de plantio e de manutenção.
O capim-elefante, assim como as cultivares do gênero Panicum, bem como as forrageiras milho, sorgo e cana-de-açúcar (recursos forrageiros usados como suplementos volumosos para a época seca do ano) são plantas extremamente sensíveis ao encharcamento do solo. Assim, as áreas da propriedade sujeitas a inundações ou elevação do lençol freático, como é o caso do segmento B, apresentado na Figura 1, não são indicadas para o cultivo dessas forrageiras. Além dessa limitação, áreas com declive acima de 25 a 30% (segmento E) não devem também ser empregadas. A não-recomendação das áreas de relevo mais acidentado deve-se à dificuldade de mecanização, bem como às perdas de solo e água pela erosão, e pelas dificuldades de adoção de práticas racionais de conservação de solo.
Assim, as áreas da propriedade mais indicadas ao cultivo destes recursos forrageiros são o terraço e meia-encosta (segmentos C e D), áreas estas não-sujeitas às inundações. Essas áreas, além de não apresentarem impedimento à mecanização, são também as que apresentam os solos de fertilidade natural mais elevada.

Manejo de Solo em Áreas de Relevo Acidentado

O manejo de solo em áreas de relevo acidentado constitui prática importante durante o estabelecimento de forrageiras, uma vez que o manejo mal conduzido acarretará perdas apreciáveis de solo, aumentando ainda mais sua degradação. Dependendo da espécie forrageira a ser implantada, há necessidade do estabelecimento de práticas conservacionistas, tais como: terraços e cordões de contorno.

Para exemplificar, na Figura 1 são apresentados resultados de perda de solo por erosão, numa pastagem degradada de capim-gordura, com aproximadamente 40% de declive em função dos tratamentos de manejo de solo que consistiram de diferentes proporções de área preparada.

Perdas relativas de solo por erosão
Figura 1 - Perdas relativas de solo por erosão, comparando-se sistemas de preparo do solo para a recuperação de pastagens.

Verifica-se que no preparo A, onde o solo permaneceu durante todo o período de avaliação descoberto, a perda relativa de solo foi de 100%, ao passo que nos outros dois tratamentos as perdas de solo sofreram redução bastante expressiva.

No preparo B, onde o solo foi totalmente preparado (aração e gradagem, seguido de adubação e plantio a lanço de capim-gordura), a perda de solo ao final do período experimental reduziu em 58%, em relação ao tratamento A. Quando o solo foi preparado em faixas e em nível, adubado e seguido de semeadura da forrageiras, (preparo C), cujas áreas preparadas corresponderam de um terço a dois terços da área total, as perdas de solo reduziram em média 93%. Esses resultados confirmam a importância da cobertura vegetal do solo, no controle da erosão e, principalmente, a manutenção de faixas de retenção, durante as operações de preparo do solo para a formação de pastagens em áreas declivosas.

A redução ocorrida no preparo de solo C é de extrema importância, não só para a pastagem, pois evita que haja perdas de nutrientes e água durante o processo erosivo mas, principalmente, por manter-se quase que inalterado, do ponto de vista de fertilidade natural, o solo, um recurso natural não-renovável.

Do ponto de vista prático, vale a pena destacar que as faixas devem ter largura média de dois metros. Essa largura facilita a operação de gradagem do solo, uma vez que as grades de tração animal têm, em média, dois metros de largura.

Além disso, dependendo dos resultados da análise do solo, há necessidade de se fazer recomendações de calagem e adubação nas faixas a serem preparadas.

Na Embrapa Gado de Leite, observou-se que, ao se usar o processo de recuperação uma forrageira com grande capacidade de sementeação, como é o caso das braquiárias, as faixas não-preparadas tiveram sua cobertura vegetal (em geral capim-gordura), totalmente substituída pela braquiária.

A Figura 2 apresenta com detalhes o processo de estabelecimento em faixas, em áreas declivosas.

Plantio de forrageiras em áreas montanhosas
Figura 2 – Plantio de forrageiras em áreas montanhosas, por meio de faixas (a) cultivadas em nível e intercaladas por faixas de retenção (b), não cultivadas.

Dependendo da espécie forrageira a ser implantada, especialmente se for uma forrageira "agressiva", como é o caso das braquiárias, as faixas poderão ser substituídas por sulcos em nível, alternados com áreas não-preparadas. A escolha de faixas ou sulcos dependerá da declividade do terreno. Sugerem-se sulcos em terrenos muito íngremes, onde o preparo das faixas é dificultado. O preparo de solo em áreas declivosas, com o uso de sulcos em nível, é também bastante adotado para o estabelecimento de leguminosas forrageiras.