9 de out. de 2019

Tuberculose Bovina



Cientistas rastreiam tuberculose bovina por meio de DNA

Por meio de mutações observadas no genoma da bactéria Mycobacterium bovis, agente causador da turberculose bovina, cientistas estão rastreando a transmissão da doença em animais ou no rebanho. O trabalho é de pesquisadores da Embrapa Gado de Corte (MS), em projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e aprovado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect). Esse é o primeiro resultado da pesquisa recém-iniciada e com duração prevista de dois anos.

“Constatamos que fazendas próximas ou que comercializaram animais têm isolados de Mycobacterium bovis idênticos geneticamente. Com isso, avançamos no conhecimento das relações entre genótipos e distribuição espacial de cepas de M. bovis”, relata o imunologista Flábio Ribeiro de Araújo, pesquisador da Embrapa. Ele ressalta que esse conhecimento é importante aos estudos de manutenção e disseminação de focos de tuberculose bovina, essenciais para o sucesso de medidas de erradicação da doença. “Uma metodologia de rastreamento de focos de tuberculose bovina baseada em mutações de sítio único terá como clientes potenciais o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Tuberculose do Ministério da Agricultura (Mapa), além das agências estaduais de vigilância sanitária”, prevê.

Araújo comenta que os experimentos foram realizados em animais do Rio Grande do Sul e servem de base para as demais regiões. “Sequenciamos isolados provenientes de cultivo de tecidos de bovinos obtidos pelos serviços veterinários desse estado em seis propriedades rurais”, conta. Cada isolado de bovino acompanha dados de localização do foco, origem dos animais, movimentações prévias, resultados de diagnóstico pela prova intradérmica (teste cervical comparativo), sorologia, cultivo e nested-PCR de tecidos.

O cientista relata que próximo passo será trabalhar, estaticamente, a relação da distância física entre as propriedades e o número de mutações idênticas. Esse é um dos objetivos da doutoranda Rudielle Andrade, do programa de Ciências Veterinárias da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), orientada por Araújo. Andrade realizou treinamento na área no Instituto Sanger, no Reino Unido.

Monitorando a bactéria em humanos

Outra frente de trabalho tem sido desenvolvida por pesquisadores de instituições do norte do País (Amazonas e Pará). Eles trabalham com o sequenciamento de isolados dessas regiões e com um detalhe inédito: foco em humanos. “Se encontrarmos M. bovis em humanos, vamos correlacionar quão parecidos são com os isolados de bovinos da região. Se isso for confirmado, será a primeira descrição no Brasil de tuberculose zoonótica, o que representa muito para os estudos”, acentua Araújo. Pioneiramente, esses testes são realizados no Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) de Manaus (AM), ligado à Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), parceira do projeto.

Os estudos estão sob os cuidados dos pesquisadores Paulo Alex Carneiro (Instituto Federal do Amazonas – IFAM e Centro de Epidemiologia Comparada da Michigan State University – MSU), John Kaneene (MSU), Haruo Takatani e Christian Barnadd (Agência Defesa Agropecuária e Florestal do Amazonas – ADAF) e Marlucia Garrido e Ana (FVS-AM).

O grupo de pesquisa ainda é formado por especialistas de diversas instituições, como Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Universidade de São Paulo (USP), e Secretaria da Pecuária, Agricultura e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul.

Sobre a doença

A tuberculose bovina é uma doença infectocontagiosa crônica causada pela bactéria M. Bovis, que acomete animais e humanos. Entre os animais atingidos estão bovinos, bubalinos, caprinos, ovinos, suínos e animais silvestres, como javalis, por exemplo. Sua presença na fazenda implica exclusão da propriedade do rol de exportação do produto para alguns mercados e o pesquisador alerta que a carne de um animal infectado não pode ser consumida, pois representa risco à saúde. “A forma mais comum de o ser humano se infectar é consumir leite cru ou derivados de animais infectados. A ingestão de carne não inspecionada também é um potencial risco”, ressalta Araújo.

O cientista da Embrapa conta que o diagnóstico da doença em animais não é fácil, porque nem sempre eles apresentam sintomas. No entanto, animais infectados podem apresentar emagrecimento ou problemas respiratórios. Araújo relata que quanto mais tempo o animal estiver infectado, pior será a situação dele e da própria propriedade. “O desenvolvimento da doença é progressivo e causa lesões no sistema linfático e no pulmão. A queda na produção gira em torno de 10% a 15%”, esclarece.

“A tuberculose é um obstáculo comercial e uma doença importante, por isso, são necessários estudos avançados, como os que já estão em andamento, para conhecer com mais detalhes a transmissão da doença, sua origem e disseminação e dessa forma construir linhas de controle, combate e erradicação,” defende o pesquisador.

Fonte: Embrapa

A tuberculose bovina é doença infectocontagiosa de evolução crônica, causada pela bactéria Mycobacterium bovis, da família Mycobacteriaceae. Acomete principalmente bovinos e bubalinos e pode afetar também suínos, equinos, aves, pequenos ruminantes, cães e gatos e humanos. Já foi erradicada em alguns países desenvolvidos, sendo sua maior prevalência em países em desenvolvimento.

São bacilos, ácido-álcool resistentes, de morfologia variável, encontrados em solo, água e pastagens por até dois anos. Os reservatórios naturais são gambás, búfalos e veados. As lesões características tem aspecto nodular principalmente em pulmões e linfonodos. Os impactos econômicos são: queda no ganho de peso e na produção leiteira, descarte precoce de animais, eliminação de animais de alto valor zootécnico, condenação de carcaças na inspeção frigorífica, morte de animais e perda da credibilidade do criador.


Há alguns fatores predisponentes como:

Raças leiteiras, superlotação, estado nutricional e fatores ambientais (umidade e pouca ventilação). Geralmente a doença é introduzida no rebanho pelo contato direto ou indireto com rebanho infectado, por exemplo: a partir da aquisição de novos animais ou participação de eventos com outros animais.

As fontes de transmissão são por animais infectados, aerossóis, pastagens, água e alimentos contaminados; raramente o homem passa a doença para o animal. As portas de entrada são principalmente pelo trato respiratório e digestivo, mas também mucosas e feridas de pele. Animais infectados podem eliminar através por várias vias, dependendo da localização: gotículas e secreções respiratórias, leite, colostro, sêmen, fezes e urina.

O animal é infectado e as bactérias são fagocitadas no local por macrófagos produzindo uma inflamação granulomatosa progressiva. Forma-se um tubérculo no local de infecção e nos linfonodos regionais. Há formação de lesões secundárias necróticas e firmes e, quando ocorre ruptura destas lesões, espalha-se para serosas e órgãos parenquimatosos, via linfática e sanguínea, tornando-se generalizada.

Possui quatro formas de apresentação: pulmonar, ganglionar, intestinal e cutânea. É comum a ocorrência de animais assintomáticos, porém, os animais doentes apresentam emagrecimento, hipertrofia ganglionar, dispneia e tosse seca.

A forma de transmissão para humanos pode ocorrer pela via digestiva, através do consumo dos produtos lácteos não pasteurizados, causando lesões extra-pulmonares, ou ainda pela via respiratória- mais comum em técnicos laboratoriais e industriais, que lidam diretamente com animais doentes. Para evitar a contração da doença recomenda-se beber apenas leite pasteurizado, ser vacinado com BCG e evitar contato com bovinos infectados. Crianças, idosos e imunodeprimidos são mais suscetíveis e requerem cuidados extras.

O diagnóstico de tuberculose pode ser direto, através do isolamento do agente e identificação bioquímica, histopatológico ou ainda detecção de DNA e, pode ser indireto, através da tuberculinização (avaliação da resposta imunológica ao M. bovis), sendo este o teste mais utilizado na rotina clínica de campo.

Não há recomendação de tratamento para tuberculose em bovino. A maioria dos casos não responde ao tratamento e contribui para o surgimento de cepas resistentes, além da eliminação de medicamentos no leite.

As formas de controle são:

Animais com mais de 6 semanas fazem teste anual, sendo que os positivos devem ser isolados e descartados.Limpeza e desinfecção do ambiente e exames clínicos em todos os animais e tratadores da propriedade.

No Brasil existe o Programa Nacional e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal – PNCRBT que é Conjunto de estratégias desenvolvidas visando erradicar a Brucelose e Tuberculose. Dentre estas estratégias há o controle de trânsito, testes diagnósticos regulares, educação sanitária, entre outros.

Fontes:

Oliveira, Sergio J. de, Guia Bacteriológico prático: microbiologia veterinária. 2ª Ed. Canoas: Ed. Ulbra, 2000





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