26 de nov. de 2019

Abate Comercial de Animais Silvestres



5. ABATE COMERCIAL

O produtor tem poucos caminhos a seguir com relação ao abate. O primeiro deles é contratar os serviços de um abatedouro de pequenos animais, (essa categoria de estabelecimentos abate suínos, ovinos e outros pequenos animais), que tenha inspeção sanitária. Com mínimas adaptações, sua estrutura pode ser usada para o abate de capivaras, catetos, queixadas, pacas e javalis (OLIVEIRA, 2008).

Figura 2: Carcaça de jacaré.

A maioria dos criadores começa fazendo o abate caseiro, que geralmente é feito no quintal de suas casas e sem as menores condições, depois percebem que a distribuição de seu produto, em escala comercial, torna-se inviável porque não há como comercializar sem o aval da inspeção. Outro aspecto a considerar é que a infra-estrutura disponível, para o abate caseiro, geralmente é bastante precária inviabilizando o abate de um maior número de animais, e pior são as condições higiênicas que são desfavoráveis, comprometendo a qualidade do produto que será entregue a uma clientela que, normalmente, ainda está desconfiada diante de um produto novo. Portanto, na hora de planejar um criatório, deve-se levar isso em consideração (OLIVEIRA, 2008).
Quanto à legislação, essa modalidade de abatedouro está amparada legalmente para fazer o abate de pequenos animais de qualquer espécie, inclusive silvestres, sendo necessário também o registro junto ao IBAMA. O maior problema a ser enfrentado por quem tem animais para abate é a baixa prioridade dada aos animais silvestres nesse tipo de frigorífico. Estabelecidos especializados no ramo de suínos, por exemplo, considerando ainda o pequeno significado do abate de animais silvestres em seu faturamento, acabam dando muito mais prioridade ao abate de suínos (ROCHA, 2001).

Figura 3: Limpeza de carcaça de jacaré.

As alternativas para o produtor são a verticalização da atividade com a construção de um abatedouro ou as parcerias entre os criatórios e os frigoríficos. Na primeira alternativa é preciso, obviamente, levar em conta que há necessidade de alta produção para que o abatedouro se torne economicamente viável, tanto em termos de retorno ao investimento feito em infra-estrutura, como nos custos de operação (OLIVEIRA, 2008).
Outra saída é a associação entre criadores para a construção de um abatedouro comum.
Essa opção significa menos investimento para cada criador e mais oferta de animais para o abate. 
A implantação de um abatedouro depende, portanto, da resposta a duas perguntas muito importantes: Há demanda para a carne produzida? Há oferta de animais para o abate e comercialização? Entre esses dois dados defini-se o potencial do negócio. A partir de 3 mil animais para abate por ano, o empreendimento começa a ter viabilidade econômica (ROCHA, 2001).

5.1. Abate humanitário
Há algumas décadas, o abate de animais era considerado uma operação tecnológica de baixo nível científico e não se constituía em um tema pesquisado seriamente por universidades, institutos de pesquisa e indústrias. A tecnologia do abate de animais destinados ao consumo somente assumiu importância científica quando se observou que os eventos que se sucedem desde a propriedade rural até o abate do animal tinham grande influência na qualidade da carne (REHAGRO, 2003)
O abate humanitário pode ser definido como o conjunto de procedimentos que garantem o bem-estar dos animais desde o embarque na propriedade rural até o manejo no frigorífico. O excesso de agressividade neste manejo pré-abate provoca o estresse dos animais, comprometendo o seu bem-estar, causando dor e sofrimento ao animal, o que é percebido através dos hematomas, das contusões e das fraturas. Uma das etapas que causam mais estresse no período pré-abate é o transporte. Quando os animais são expostos a novo grupo social, ambiente diferente e contato com pessoas estranhas, o estresse psicológico aumenta, assim como o estresse físico causado pelo desgaste durante o embarque, tempo de transporte e desembarque (WSPA, 2009).
Antes do abate, deve-se garantir que todos os animais estejam insensibilizados corretamente, para que a morte se dê enquanto estão inconscientes (anestesiados), evitando o sofrimento no momento da sangria. Devemos respeito aos animais e o mínimo que podemos garantir é que todas as práticas no manejo ocorram com o menor grau de sofrimento possível, e que na cadeia de produção haja preocupação ética, social e ambiental como um todo (WSPA, 2009).
Outros vários critérios que definem um bom método de abate são:
a) os animais não devem ser tratados com crueldade;
b) os animais não podem ser estressados desnecessariamente;
c) a sangria deve ser a mais rápida e completa possível;
d) as contusões na carcaça devem ser mínimas;
e) e o método de abate deve ser higiênico, econômico e seguro para os operadores (ROÇA, 2001).
Há necessidade do treinamento de todas as pessoas envolvidas, dentre eles: motoristas, funcionários das fazendas/ granjas e frigoríficos, assim como dos veterinários responsáveis pela inspeção do abate, que estão envolvidos diretamente na forma de organizar o manejo e melhorar o bem-estar dos animais (WSPA, 2009).
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2009), fiscais agropecuários e técnicos que trabalham no controle de qualidade de frigoríficos serão capacitados em bem-estar animal pelo Programa Nacional de Abate Humanitário, resultado de um acordo de cooperação firmado pelo MAPA com a Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA), em janeiro de 2008. O treinamento é voltado para profissionais agropecuários de estabelecimentos que atuam sob inspeção federal, estadual ou municipal, sendo abordado temas como a condição física e o comportamento do animal no abate e os efeitos do estresse na qualidade da carne e manejo, em conformidade com a Organização
Mundial de Saúde Animal (OIE), União Européia e outros países que importam carne brasileira.



3 de nov. de 2019

FORMAS DE COMERCIALIZAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES


Preservar o meio ambiente deixou de ser uma luta apenas dos ecologistas e um conceito sintonizado com o correto para angariar dividendos às empresas. Mais do que a preservação da natureza, produtos elaborados a partir de matérias-primas vindas da fauna e flora nacionais, apontam um mercado promissor em desenvolvimento no país. Acredita-se que as organizações estão de olho na sustentabilidade de seus negócios e preocupadas em conceber produtos, serviços e processos que as aproximem do equilíbrio ambiental.

4.1 Venda de animais vivos 

Pode-se dizer que depois da carne os principais produtos comercializáveis, em um criatório de animais silvestres, são as matrizes e os reprodutores. Mas vale destacar que, historicamente, o mercado de reprodutores de animais nativos não tem oferecido a mesma remuneração que ofereceram os mercados de exóticos, como é o caso dos javalis, que na década de 90 foram vendidos a preços altíssimos, isso porque essas espécies passaram por 
um período em que muito se especulou com seu preço e disponibilidade, porém essa diferença de remuneração tende a desaparecer, pois algumas espécies exóticas têm sofrido queda em seu comércio por causa de problemas legais (ROCHA, 2001). Outras questões também tornam o mercado de reprodutores menos atrativo, pois os criatórios de animais nativos podem, por exemplo, adquirir reprodutores e matrizes provenientes do IBAMA, oriundos da apreensão de contrabandos ou de criatórios não legalizados. Em determinadas situações podem, ainda, ser capturados na natureza, mediante a autorização do IBAMA e verificada a existência de população natural suficiente (IBAMA, 2009). 
Apesar de todas essas questões, alguns criatórios oferecem os reprodutores como um item de seus produtos e em geral a venda se dá a um preço ligeiramente superior ao pago pelos animais destinados ao abate. Se de um lado há certa disponibilidade de animais praticamente sem custos de aquisição junto ao IBAMA, do outro é importante considerar que como o mercado está em evolução, geralmente os criadores evitam vender reprodutores para manter seu próprio plantel em crescimento e vale destacar que vender reprodutores é atividade para criatórios que já possuem um plantel bastante numeroso. 

4.2 Comércio no varejo 

Muitos hotéis fazenda e restaurantes rurais tornaram-se pontos de venda da carne de animais silvestres, incluídas no cardápio como atração principal. Alguns deles chegaram a instalar pequenos criatórios como atração para seus hóspedes ou clientes, criando na 
maioria das vezes apenas uma espécie, sem a menor pretensão de alcançar uma escala de produção. Esse tipo de empreendimento turístico é, portanto, um potencial comprador do produto, principalmente quando não há um criatório próprio (CARRER, 2001). 
Entre os restaurantes, as churrascarias são os maiores compradores de carne de animais silvestres. O produto tornou-se um importante diferencial para esse tipo de estabelecimento que atrai fregueses interessados em consumir alimentos diferenciados. O consumo nas maiores churrascarias pode passar de uma tonelada ao mês, fato já relatado por distribuidores de carne. As churrascarias também têm feito excelente divulgação da carne de animais silvestres, ajudando a difundir a venda a varejo. Vários outros tipos de restaurantes, mais ou menos sofisticados que atendem clientela de diferentes níveis socioeconômicos, cada vez mais tem incluído em seus cardápios as carnes silvestres (ROCHA, 2001). 
Os supermercados também se tornaram compradores dessas carnes. A maioria das grandes redes tem procurado produtos diferenciados, havendo boa receptividade dos clientes. Açougues de maior porte e as chamadas boutiques de carnes, também se apresentam como clientes de grande potencial para a colocação do produto no varejo (OLIVEIRA, 2008). 
Sejam restaurantes ou açougues, os pontos de venda a varejo onde são comercializados produtos oriundos da fauna silvestre, também precisam estar registrados no IBAMA (IBAMA, 2009). 

4.3. Pró-fauna 

A Pró-fauna pode ser considerada um modelo de empresa no ramo de criação, abate e comercialização de animais silvestres. Sua meta principal é fazer com que a atividade cresça em todo o país. Possui um quadro de técnicos especialistas na área, formado por agrônomos, biólogos, zootecnistas e veterinários que estudam alternativas de produção para as propriedades rurais brasileiras, desenvolvendo projetos que sejam economicamente viáveis, socialmente interessantes e ecologicamente adequados (OLIVEIRA, 2008). 
A empresa tem como objetivo garantir a biodiversidade da fauna brasileira, viabilizar economicamente áreas com vegetação natural e garantir a conservação e preservação de áreas da Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia. Além disso, busca geração de emprego e de renda com atividades que causam impactos positivos sobre o meio ambiente, realizando pesquisas e prestando consultoria sobre manejo de fauna silvestre e produção comercial. Para viabilizar essas duas linhas de trabalho, reúne profissionais de alto nível que fazem diversos experimentos organizados de maneira sistematizada, testando tecnologia de manejo que são repassadas aos clientes e parceiros. Essa diretriz procura atender a falta de conhecimentos acumulados sobre a fauna nativa e seu manejo em cativeiro (PRÓ FAUNA, 2009). 
A empresa foi criada em 1991 para dar suporte técnico a novos criadores de animais silvestres e acabou evoluindo para o interessante modelo de parcerias. Entre seus parceiros estão vários dos principais criadores do país, que encontraram segurança para comercializar seus produtos com tranqüilidade. Por esse motivo que a Pró-fauna, para os 
que tem produção suficiente e gostariam de investir no negócio para crescer, é um excelente modelo a ser seguido. Para quem cria ou vai criar, mas sabe dos problemas técnicos e mercadológicos que pode enfrentar, a Pró-fauna é um potencial parceiro, pois presta assessoria à parte do projeto, legalização, fornecimento de matrizes, transporte de animais e comercialização. Ao executar os projetos, são consideradas as características geográficas, as condições físicas, operacionais, econômicas e biológicas da área de cada propriedade (OLIVEIRA, 2008). 
A empresa possui duas fazendas, localizadas em Iguape no litoral sul do estado de São Paulo, com criações de catetos, queixadas e capivaras. A fazenda Devaneio, (fazenda sede que possui seu próprio abatedouro), é subdividida em piquetes que alojam separadamente os grupos de catetos, queixadas e capivaras. São piquetes de áreas enormes cercados com telas de arame, contendo em seu interior cochos cobertos, fonte de água potável, gramíneas de boa qualidade e áreas nativas de mata. No caso das áreas destinadas à criação de capivaras, existem aguadas artificiais além da estrutura comum às outras espécies de animais (PRÓ FAUNA, 2009). 
A propriedade apresenta muitas áreas de matas nativas, que funcionam como abrigo e constituem fontes naturais de alimento. Esse tipo de manejo permite a geração de renda a partir do uso da floresta sem ter que desmatá-la. O novo meio em que será submetido o animal, deve ser o máximo parecido com seu meio natural para reduzir o estresse da adaptação e exprimir o potencial de produção e reprodução sem falhas. De acordo com Baeta e Souza (1997), o ambiente estressante pode provocar várias respostas negativas, dependendo apenas da capacidade do animal de adaptar-se. 
Segundo Paulo Bezerra Silva (citado por OLIVEIRA, 2008), proprietário da Prófauna, para cada espécie deve ser designada uma área de pelo menos 25 mil metros 
quadrados, o que praticamente não é um “cativeiro” e a criação é em sistema semiintensivo. Somente os machos são abatidos e todos os animais ficam soltos no ambiente mantendo sua função ecológica. Eles se alimentam do pasto natural e recebem ração feita com 60% de proteína como suplemento (para isso utiliza-se cabeças de peixes na sua formulação). 
A empresa, devido ao crescimento e à grande demanda, montou seu próprio abatedouro. O primeiro de animais silvestres do país com registro no Ministério da Agricultura, enquadrado legalmente junto às autoridades sanitárias como abatedouro de pequenos animais e licenciado junto ao IBAMA para a comercialização de carnes silvestres. O abatedouro é pequeno, mas ainda está longe da sua capacidade, justamente por falta de animais. Com capacidade para abater 40 animais por dia, tem abatido 40 por semana (OLIVEIRA, 2008). 
A Pró-fauna compra animais de outras propriedades e comercializa a produção das fazendas de animais silvestres de todo o Brasil e, para comercializar as carnes, a empresa mantém a Empório Silvestre, uma boutique de carnes onde é feita a venda no varejo e ao mesmo tempo, por causa da venda em maior quantidade aos restaurantes e outros distribuidores de carnes, a loja tornou-se também um pequeno atacadista. Lá se encontram produtos de primeira linha, como carne de capivara, queixada, cateto, jacaré, aves silvestres e ainda carnes exóticas, como as de javali e rã (EMPÓRIO SILVESTRE, 2009).