17 de dez. de 2016

Mercados e comercialização do Gado de Corte



Mercados e comercialização

No Brasil, a pecuária bovina de corte possui longo ciclo de produção, variando de 5 a 7 anos, de acordo com o nível da tecnologia adotado.
De acordo com a maturação do seu produto final, a produção de gado de corte é dividida em diversas fases, que podem ou não estar integradas dentro da mesma propriedade rural. São as fases de cria, recria e engorda, todas elas desenvolvidas predominantemente em pastagens. A fase de cria concentra-se na produção de bezerros, mantidos ao pé da vaca até a desmama (7 a 9 meses), sendo extremamente importante, nesta fase, o manejo da reprodução e da alimentação. Esta fase representa o cerne da pecuária bovina e é a mais sensível à baixa produção de forragens, principalmente no inverno ou na seca, sendo responsável, quase integralmente, pelos baixos índices de produtividade do rebanho nacional. A fase de recria vai da desmama até a época de acasalamento das fêmeas e engorda dos machos, variando de 2 a 4 anos, dependendo da tecnologia adotada. A fase de engorda tem duração de aproximadamente 12 meses, sendo na sua quase totalidade realizada em pastagens, embora nos últimos dez anos tenha aumentado significativamente o número de animais confinados no País. De 1992 a 2001, o número de bovinos confinados aumentou de 825.000 animais (cerca de 0,5% do rebanho efetivo em 1992) para 1.868.000 animais (cerca de 1,1% do rebanho efetivo em 2001), representando aumento de 126,42% no período (Anualpec, 2002). De qualquer modo, em relação ao efetivo bovino brasileiro, o número de animais confinados é muito pequeno, caracterizando-se a produção em pastagens.

Abate e comercialização

A concentração geográfica, a proporção de machos e de fêmeas em oferta e as formas de compra e venda de animais são as principais características do abate e da comercialização no País. A maior concentração do abate e do comércio se dá no centro-sul brasileiro (cerca de 76% do total), sendo o maior mercado consumidor o Estado de São Paulo (Estado com maior rendaper capitado País), onde se encontra o maior número de estabelecimentos de abate do Brasil, muitos deles operando hoje com capacidade ociosa. Nas últimas décadas, têm se verificado deslocamentos de frigoríficos para as regiões de maior produção de gado de corte, caindo com isto a importância da capacidade instalada de abate do Estado de São Paulo, notabilizando-se hoje por concentrar mais estabelecimentos de desossa e de distribuição.
A taxa geral de abate no Brasil em 1992 foi de 19,6% e em 2001 de 22,6% (Anualpec, 2002).
Os preços são formados nas regiões de comercialização e as decisões dos produtores de compra e venda se baseiam nas cotações ali praticadas. No Estado de São Paulo, destacam-se as praças de Araçatuba, Marília, Bauru, São José do Rio Preto, Barretos e Presidente Prudente; no Estado de Mato Grosso do Sul, as praças de Três Lagoas e Campo Grande; no Estado do Mato Grosso, a praça de Barra do Garça; no Paraná, as praças de Londrina e Maringá; em Goiás, a praça de Goiânia; e em Minas Gerais, a praça de Uberaba.

Os preços do boi gordo nos Estados de maior importância na comercialização constam da 
Na Tabela 2.2, é mostrada a pequena variação real no preço da arroba do boi gordo nos diferentes Estados, sendo que o aumento real mais expressivo se deu no Rio Grande do Sul (13,46%) e o menor aumento na Bahia (2,72%). Com relação à variação real do preço da arroba em dólares, a maior redução se deu também na Bahia (26,61%) e a menor redução no Rio Grande do Sul (20,16%). Sob a ótica da oferta e da demanda, o aumento real do preço da arroba (R$) no Rio Grande do Sul reflete, num primeiro momento, maior demanda interna para o produto, pois esse Estado é tradicional consumidor de carne bovina, além de estar bem situado em termos de renda per capitafrente à maioria dos Estados brasileiros. Quanto à Bahia, a situação se inverte, principalmente pela má distribuição de renda, reprimindo a demanda. Contudo, em termos gerais, os aumentos reais no preço do boi gordo refletem no período (1995 - 2001) pouca demanda pelo produto, ou seja, média de aumento real de 5,42% no preço da arroba do boi gordo. A média da redução real no preço da arroba em dólares de 25,18% reflete depreciação cambial, o que tem favorecido, em parte, as exportações líquidas, que representavam 4,5% da quantidade produzida de carne bovina em 1997 e passaram a representar aproximadamente 12%, em 2001. As exportações líquidas poderão elevar-se muito mais em função da maior produtividade do setor, viabilizando quantidade e qualidade de carne, e da redução de barreiras tarifárias. Entre 1997 e 2001, o consumo interno de carne bovina reduziu em aproximadamente 1%, passando de 6.226 (97,3% da produção) para 6.179 milhares de toneladas de equivalente-carcaça (89,2% da produção), o que pode estar refletindo, no período, demanda reprimida, pela má distribuição de renda, e também oferta inelástica da produção de carne bovina. No mesmo período, as exportações passaram de 4,7% da produção para 11,4% e as importações, de 1,7% para 0,6%. Esses fatos evidenciam a necessidade de se elevar a produtividade (aumento da eficiência econômica e da mudança tecnológica) do setor de produção de carne bovina, aumentando a oferta com economias de escala (técnica e pecuniária), como forma de motivar a demanda reprimida por má distribuição de renda, fator de solução mais a longo prazo do que o aumento da produtividade.
Os ganhos de produtividade e o aumento da produção somente se viabilizarão mediante a utilização econômica eficiente de técnicas intensivas de produção, como, por exemplo, adubação e manejo intensivo de pastagens de gramíneas de alta produção de massa, possibilitando elevada carga animal por hectare, estação de monta (reprodução) concentrada e bem definida, visando à obtenção de taxas elevadas de natalidade e desmame, cruzamentos industriais para exploração da heterose e produção de novilho precoce com excelente qualidade de carcaça, compatível com a demanda internacional, principalmente, União Européia, EUA, Extremo Oriente, Oriente Médio e outros mercados, representando, segundo a ABIEC, no ano de 2000, respectivamente 53,0%; 11,79%; 15,34% e 19,84% das nossas exportações de carne bovina.
Visão geral da cadeia da carne bovina no Brasil

A cadeia da carne bovina no Brasil passa atualmente por transformações profundas, muitas delas ainda não completamente percebidas por agentes dos diferentes elos.
A cadeia tem como primeiro elo o produtor, que ressente bastante a mudança de paradigma da pecuária nacional, da pecuária extensiva, extrativista, apoiada na fertilidade natural das pastagens e, conseqüentemente, de baixo custo, para a pecuária que exige produtividade em decorrência da crescente utilização de insumos, principalmente de fertilizantes, elevando os custos de produção e reduzindo as margens de lucro. O segundo elo da cadeia é o do transporte, que opera com dificuldades, em virtude do sucateamento das rodovias e das ferrovias brasileiras, o que eleva os custos do frete. O terceiro elo é o de processamento e industrialização da carne bovina, cujos frigoríficos têm operado com capacidade ociosa. O quarto elo é o de transporte do frigorífico até o comércio atacadista e varejista. Na ponta da cadeia estão os supermercados e os açougues, fundamentais no processo de organização da cadeia, dada a grande interface com o consumidor.
A cadeia de carne bovina no Brasil carece de coordenação, embora vários esforços estejam sendo efetuados nessa direção. A falta de integração e de coordenação dos elos da cadeia têm interferido no seu desempenho, sendo que a ausência de contratos que regulem a comercialização tem causado prejuízos, impedindo a adoção de novas tecnologias e reduzindo a competitividade do segmento em nível internacional.
Na perspectiva acima, governo e o setor produtivo têm função especial. O Governo deve estimular o crescimento do produto interno bruto com estabilidade (menor inflação), equidade (distribuição de renda) e competitividade (menor tributação, menor taxa de juros, austeridade fiscal e investimentos em infra-estrutura). Quanto ao setor produtivo de carne bovina, este necessita avançar em termos de coordenação da cadeia, problema que deve ser resolvido em benefício da sua competitividade e do cumprimento da sua responsabilidade social.




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