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9 de out. de 2019

Tuberculose Bovina



Cientistas rastreiam tuberculose bovina por meio de DNA

Por meio de mutações observadas no genoma da bactéria Mycobacterium bovis, agente causador da turberculose bovina, cientistas estão rastreando a transmissão da doença em animais ou no rebanho. O trabalho é de pesquisadores da Embrapa Gado de Corte (MS), em projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e aprovado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect). Esse é o primeiro resultado da pesquisa recém-iniciada e com duração prevista de dois anos.

“Constatamos que fazendas próximas ou que comercializaram animais têm isolados de Mycobacterium bovis idênticos geneticamente. Com isso, avançamos no conhecimento das relações entre genótipos e distribuição espacial de cepas de M. bovis”, relata o imunologista Flábio Ribeiro de Araújo, pesquisador da Embrapa. Ele ressalta que esse conhecimento é importante aos estudos de manutenção e disseminação de focos de tuberculose bovina, essenciais para o sucesso de medidas de erradicação da doença. “Uma metodologia de rastreamento de focos de tuberculose bovina baseada em mutações de sítio único terá como clientes potenciais o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Tuberculose do Ministério da Agricultura (Mapa), além das agências estaduais de vigilância sanitária”, prevê.

Araújo comenta que os experimentos foram realizados em animais do Rio Grande do Sul e servem de base para as demais regiões. “Sequenciamos isolados provenientes de cultivo de tecidos de bovinos obtidos pelos serviços veterinários desse estado em seis propriedades rurais”, conta. Cada isolado de bovino acompanha dados de localização do foco, origem dos animais, movimentações prévias, resultados de diagnóstico pela prova intradérmica (teste cervical comparativo), sorologia, cultivo e nested-PCR de tecidos.

O cientista relata que próximo passo será trabalhar, estaticamente, a relação da distância física entre as propriedades e o número de mutações idênticas. Esse é um dos objetivos da doutoranda Rudielle Andrade, do programa de Ciências Veterinárias da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), orientada por Araújo. Andrade realizou treinamento na área no Instituto Sanger, no Reino Unido.

Monitorando a bactéria em humanos

Outra frente de trabalho tem sido desenvolvida por pesquisadores de instituições do norte do País (Amazonas e Pará). Eles trabalham com o sequenciamento de isolados dessas regiões e com um detalhe inédito: foco em humanos. “Se encontrarmos M. bovis em humanos, vamos correlacionar quão parecidos são com os isolados de bovinos da região. Se isso for confirmado, será a primeira descrição no Brasil de tuberculose zoonótica, o que representa muito para os estudos”, acentua Araújo. Pioneiramente, esses testes são realizados no Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) de Manaus (AM), ligado à Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), parceira do projeto.

Os estudos estão sob os cuidados dos pesquisadores Paulo Alex Carneiro (Instituto Federal do Amazonas – IFAM e Centro de Epidemiologia Comparada da Michigan State University – MSU), John Kaneene (MSU), Haruo Takatani e Christian Barnadd (Agência Defesa Agropecuária e Florestal do Amazonas – ADAF) e Marlucia Garrido e Ana (FVS-AM).

O grupo de pesquisa ainda é formado por especialistas de diversas instituições, como Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Universidade de São Paulo (USP), e Secretaria da Pecuária, Agricultura e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul.

Sobre a doença

A tuberculose bovina é uma doença infectocontagiosa crônica causada pela bactéria M. Bovis, que acomete animais e humanos. Entre os animais atingidos estão bovinos, bubalinos, caprinos, ovinos, suínos e animais silvestres, como javalis, por exemplo. Sua presença na fazenda implica exclusão da propriedade do rol de exportação do produto para alguns mercados e o pesquisador alerta que a carne de um animal infectado não pode ser consumida, pois representa risco à saúde. “A forma mais comum de o ser humano se infectar é consumir leite cru ou derivados de animais infectados. A ingestão de carne não inspecionada também é um potencial risco”, ressalta Araújo.

O cientista da Embrapa conta que o diagnóstico da doença em animais não é fácil, porque nem sempre eles apresentam sintomas. No entanto, animais infectados podem apresentar emagrecimento ou problemas respiratórios. Araújo relata que quanto mais tempo o animal estiver infectado, pior será a situação dele e da própria propriedade. “O desenvolvimento da doença é progressivo e causa lesões no sistema linfático e no pulmão. A queda na produção gira em torno de 10% a 15%”, esclarece.

“A tuberculose é um obstáculo comercial e uma doença importante, por isso, são necessários estudos avançados, como os que já estão em andamento, para conhecer com mais detalhes a transmissão da doença, sua origem e disseminação e dessa forma construir linhas de controle, combate e erradicação,” defende o pesquisador.

Fonte: Embrapa

A tuberculose bovina é doença infectocontagiosa de evolução crônica, causada pela bactéria Mycobacterium bovis, da família Mycobacteriaceae. Acomete principalmente bovinos e bubalinos e pode afetar também suínos, equinos, aves, pequenos ruminantes, cães e gatos e humanos. Já foi erradicada em alguns países desenvolvidos, sendo sua maior prevalência em países em desenvolvimento.

São bacilos, ácido-álcool resistentes, de morfologia variável, encontrados em solo, água e pastagens por até dois anos. Os reservatórios naturais são gambás, búfalos e veados. As lesões características tem aspecto nodular principalmente em pulmões e linfonodos. Os impactos econômicos são: queda no ganho de peso e na produção leiteira, descarte precoce de animais, eliminação de animais de alto valor zootécnico, condenação de carcaças na inspeção frigorífica, morte de animais e perda da credibilidade do criador.


Há alguns fatores predisponentes como:

Raças leiteiras, superlotação, estado nutricional e fatores ambientais (umidade e pouca ventilação). Geralmente a doença é introduzida no rebanho pelo contato direto ou indireto com rebanho infectado, por exemplo: a partir da aquisição de novos animais ou participação de eventos com outros animais.

As fontes de transmissão são por animais infectados, aerossóis, pastagens, água e alimentos contaminados; raramente o homem passa a doença para o animal. As portas de entrada são principalmente pelo trato respiratório e digestivo, mas também mucosas e feridas de pele. Animais infectados podem eliminar através por várias vias, dependendo da localização: gotículas e secreções respiratórias, leite, colostro, sêmen, fezes e urina.

O animal é infectado e as bactérias são fagocitadas no local por macrófagos produzindo uma inflamação granulomatosa progressiva. Forma-se um tubérculo no local de infecção e nos linfonodos regionais. Há formação de lesões secundárias necróticas e firmes e, quando ocorre ruptura destas lesões, espalha-se para serosas e órgãos parenquimatosos, via linfática e sanguínea, tornando-se generalizada.

Possui quatro formas de apresentação: pulmonar, ganglionar, intestinal e cutânea. É comum a ocorrência de animais assintomáticos, porém, os animais doentes apresentam emagrecimento, hipertrofia ganglionar, dispneia e tosse seca.

A forma de transmissão para humanos pode ocorrer pela via digestiva, através do consumo dos produtos lácteos não pasteurizados, causando lesões extra-pulmonares, ou ainda pela via respiratória- mais comum em técnicos laboratoriais e industriais, que lidam diretamente com animais doentes. Para evitar a contração da doença recomenda-se beber apenas leite pasteurizado, ser vacinado com BCG e evitar contato com bovinos infectados. Crianças, idosos e imunodeprimidos são mais suscetíveis e requerem cuidados extras.

O diagnóstico de tuberculose pode ser direto, através do isolamento do agente e identificação bioquímica, histopatológico ou ainda detecção de DNA e, pode ser indireto, através da tuberculinização (avaliação da resposta imunológica ao M. bovis), sendo este o teste mais utilizado na rotina clínica de campo.

Não há recomendação de tratamento para tuberculose em bovino. A maioria dos casos não responde ao tratamento e contribui para o surgimento de cepas resistentes, além da eliminação de medicamentos no leite.

As formas de controle são:

Animais com mais de 6 semanas fazem teste anual, sendo que os positivos devem ser isolados e descartados.Limpeza e desinfecção do ambiente e exames clínicos em todos os animais e tratadores da propriedade.

No Brasil existe o Programa Nacional e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal – PNCRBT que é Conjunto de estratégias desenvolvidas visando erradicar a Brucelose e Tuberculose. Dentre estas estratégias há o controle de trânsito, testes diagnósticos regulares, educação sanitária, entre outros.

Fontes:

Oliveira, Sergio J. de, Guia Bacteriológico prático: microbiologia veterinária. 2ª Ed. Canoas: Ed. Ulbra, 2000




27 de jun. de 2018

Principais Raças Bovinas de Corte no Brasil



A pecuária bovina é um dos principais setores da economia brasileira. O mercado de bovinos tem um valor bruto de produção estimado em 74,38 bilhões neste ano, de acordo com levantamento do Ministério da Agricultura. Além disso, a área deve prosperar bastante nos próximos anos.
Segundo projeção do ministério, a produção de carne bovina deve crescer 21% na próxima década, chegando a um volume de 10.236 mil toneladas em 2026 (leia mais: aumento de produtividade é responsável por 80% do crescimento da agropecuária).
  O crescimento expressivo está ligado ao número de cabeças de gado do país, que formam o maior rebanho comercial do mundo, com 214 milhões de animais. Só neste ano, foram abatidas 30,6 milhões de cabeças em todo o Brasil, de acordo com dados do IBGE.   Outros fatores que tornam o Brasil competitivo no mercado de carne são a diversidade das raças existentes no País e o desenvolvimento genético, que seleciona animais com desempenho superior para a pecuária de corte e a produção leiteira. Confira na lista abaixo algumas raças bovinas que compõem o rebanho brasileiro e impulsionam o desenvolvimento da pecuária nacional.
A força dos bovinos
Os bovinos podem ser divididos de acordo com duas classificações. Os taurinos, de origem europeia, e os zebuínos, originários da Ásia. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), por causa da adaptação ao clima tropical, os zebuínos se desenvolveram mais no Brasil e representam atualmente cerca de 80% do rebanho brasileiro.   Os zebuínos brasileiros são fruto do cruzamento com outras espécies e, apesar de manterem as principais características zebu, eles se diferenciam dos bois de outros países. “O Brasil possui uma tecnologia em agropecuária única no planeta e tem a melhor genética zebuína do mundo”, afirma Antônio Jorge Camardelli, presidente da ABIEC em publicação comemorativa da associação.

Nelore

É a raça predominante no Brasil, muito procurada por produtores de carne. Sua característica marcante é a pelagem branca, que pode ter tons de cinza claro. Tem orelhas pontiagudas e chifres curtos, mas algumas variações são mochos, ou seja, sem chifres.       

Boi Guzerá 

Guzerá Foi a primeira raça de zebuíno a ser trazida para o País e é uma das mais antigas do mundo. É reconhecida por possuir um par de chifres grandes e curvados para cima e pode ser direcionada tanto para a pecuária de corte como de leite. A pelagem varia em tons de cinza, do mais claro ao escuro. Os animais apresentam grande porte, a raça é muito fértil e resistente à seca. 
        
boi Gir 

Gir Trazido ao Brasil em 1911, das montanhas Gir na Índia, a raça é indicada para a pecuária de leite. Inclusive, a raça Girolando, a mais famosa na produção leiteira no Brasil é resultado de cruzamento de Gir com a vaca Holandesa. Os indivíduos dessa raça apresentam chifres compridos e torcidos para baixo, com orelhas enroladas na parte superior. A pelagem varia do vermelho ao amarelado e pode apresentar pintas. A raça é dócil e as fêmeas têm grande habilidade materna.     

Gado cangaian 

Cangaian Essa raça chegou ao Brasil entre 1962 e 1963, vindo da região Sul da Índia. A raça representa um rebanho pequeno e pouco representativo, em números, no Brasil. Os bois têm pequena estatura e possuem chifres longos e grossos, mas são indicados somente à produção de carne, porque não produzem muito leite. São muito resistentes ao calor e a doenças.           

Gado brahman 

Brahman Veio em 1994 dos Estados Unidos e é o resultado do cruzamento de Nelore, Guzerá, Sindi, Cangaian e Indubrasil. A coloração pode ser cinza-claro, cinza-escuro ou vermelho. Não tem chifres e as orelhas são de tamanho médio. É indicado como gado de corte (leia mais: conheça as vantagens de criar brahman).       

Boi tabapuã 

Tabapuã Surgiu ao cruzar zebuínos Nelore, Gir e Guzerá com os mochos brasileiros e apesar de ser uma raça  nacional, é criada também em outros países, na maioria da América do Sul. A pelagem varia do branco ao cinza e não possui chifres. É usado na produção de carne, porque tem boa musculatura.       

Gado sindi 

Sindi Originária da província de Sindi, no Paquistão, a raça veio para o Brasil em 1952 e é formada por animais resistentes, que sobrevivem em locais secos e com pouco pasto sem perder peso. Por causa disso, são criados principalmente em regiões nordestinas. São bois pequenos, com chifres curtos e pelo vermelho. Podem ser usados para a produção de carne ou leite.

         Gado indubrasil 

Indubrasil A raça é fruto do cruzamento de Nelore, Gir e Guzerá. Surgiu no Brasil em 1930, sendo criação de bovinicultores do Triângulo Mineiro. A pelagem pode ser branca, cinza ou vermelha e tem chifres médios. É usado como gado de corte e já foi exportado para os Estados Unidos.       

Gado angus 

Angus Essa é a mais famosa raça de taurinos no Brasil. Seu nome ficou conhecido e a raça se popularizou especialmente a partir do investimento de grandes empresas, como o MC Donald’s, que criou um hambúrguer com a carne Angus. De acordo com a Associação Brasileira de Angus, as principais vantagens da raça para a criação são a alta fertilidade e precocidade, pois atingem a puberdade e o estado de abate mais cedo. Seu diferencial é a ótima qualidade da carne, que é marmorizada e macia (leia mais: angus garante produção de carne com qualidade superior).     

Gado caracu 

Caracu É um gado taurino português, trazido para o Brasil na época colonial, que tem pelagem amarela ou alaranjada. Segundo informações do Conselho Nacional de Pecuária de Corte, a raça é extremamente rústica, atingindo níveis de engorda mesmo em pastagens ruins. Outra vantagem da raça é ser resistente a doenças endêmicas brasileiras e a ectoparasitas. É usada como gado de corte ou de leite e também como animal de tração.   

Charolês 

Gado charolês De origem francesa, essa raça taurina é excelente para produção de carne. Informações do Conselho Nacional de Pecuária de Corte indicam que, no Brasil, é também muito usada na criação de mestiços, como o gado Canchim. A raça possui pelagem branca ou creme, com narinas rosas e é uma das melhores para engorda em confinamento, porque chega a atingir, em machos adultos, mais de uma tonelada (leia mais: conheça as vantagens de criar charolês).










17 de dez. de 2016

Mercados e comercialização do Gado de Corte



Mercados e comercialização

No Brasil, a pecuária bovina de corte possui longo ciclo de produção, variando de 5 a 7 anos, de acordo com o nível da tecnologia adotado.
De acordo com a maturação do seu produto final, a produção de gado de corte é dividida em diversas fases, que podem ou não estar integradas dentro da mesma propriedade rural. São as fases de cria, recria e engorda, todas elas desenvolvidas predominantemente em pastagens. A fase de cria concentra-se na produção de bezerros, mantidos ao pé da vaca até a desmama (7 a 9 meses), sendo extremamente importante, nesta fase, o manejo da reprodução e da alimentação. Esta fase representa o cerne da pecuária bovina e é a mais sensível à baixa produção de forragens, principalmente no inverno ou na seca, sendo responsável, quase integralmente, pelos baixos índices de produtividade do rebanho nacional. A fase de recria vai da desmama até a época de acasalamento das fêmeas e engorda dos machos, variando de 2 a 4 anos, dependendo da tecnologia adotada. A fase de engorda tem duração de aproximadamente 12 meses, sendo na sua quase totalidade realizada em pastagens, embora nos últimos dez anos tenha aumentado significativamente o número de animais confinados no País. De 1992 a 2001, o número de bovinos confinados aumentou de 825.000 animais (cerca de 0,5% do rebanho efetivo em 1992) para 1.868.000 animais (cerca de 1,1% do rebanho efetivo em 2001), representando aumento de 126,42% no período (Anualpec, 2002). De qualquer modo, em relação ao efetivo bovino brasileiro, o número de animais confinados é muito pequeno, caracterizando-se a produção em pastagens.

Abate e comercialização

A concentração geográfica, a proporção de machos e de fêmeas em oferta e as formas de compra e venda de animais são as principais características do abate e da comercialização no País. A maior concentração do abate e do comércio se dá no centro-sul brasileiro (cerca de 76% do total), sendo o maior mercado consumidor o Estado de São Paulo (Estado com maior rendaper capitado País), onde se encontra o maior número de estabelecimentos de abate do Brasil, muitos deles operando hoje com capacidade ociosa. Nas últimas décadas, têm se verificado deslocamentos de frigoríficos para as regiões de maior produção de gado de corte, caindo com isto a importância da capacidade instalada de abate do Estado de São Paulo, notabilizando-se hoje por concentrar mais estabelecimentos de desossa e de distribuição.
A taxa geral de abate no Brasil em 1992 foi de 19,6% e em 2001 de 22,6% (Anualpec, 2002).
Os preços são formados nas regiões de comercialização e as decisões dos produtores de compra e venda se baseiam nas cotações ali praticadas. No Estado de São Paulo, destacam-se as praças de Araçatuba, Marília, Bauru, São José do Rio Preto, Barretos e Presidente Prudente; no Estado de Mato Grosso do Sul, as praças de Três Lagoas e Campo Grande; no Estado do Mato Grosso, a praça de Barra do Garça; no Paraná, as praças de Londrina e Maringá; em Goiás, a praça de Goiânia; e em Minas Gerais, a praça de Uberaba.

Os preços do boi gordo nos Estados de maior importância na comercialização constam da 
Na Tabela 2.2, é mostrada a pequena variação real no preço da arroba do boi gordo nos diferentes Estados, sendo que o aumento real mais expressivo se deu no Rio Grande do Sul (13,46%) e o menor aumento na Bahia (2,72%). Com relação à variação real do preço da arroba em dólares, a maior redução se deu também na Bahia (26,61%) e a menor redução no Rio Grande do Sul (20,16%). Sob a ótica da oferta e da demanda, o aumento real do preço da arroba (R$) no Rio Grande do Sul reflete, num primeiro momento, maior demanda interna para o produto, pois esse Estado é tradicional consumidor de carne bovina, além de estar bem situado em termos de renda per capitafrente à maioria dos Estados brasileiros. Quanto à Bahia, a situação se inverte, principalmente pela má distribuição de renda, reprimindo a demanda. Contudo, em termos gerais, os aumentos reais no preço do boi gordo refletem no período (1995 - 2001) pouca demanda pelo produto, ou seja, média de aumento real de 5,42% no preço da arroba do boi gordo. A média da redução real no preço da arroba em dólares de 25,18% reflete depreciação cambial, o que tem favorecido, em parte, as exportações líquidas, que representavam 4,5% da quantidade produzida de carne bovina em 1997 e passaram a representar aproximadamente 12%, em 2001. As exportações líquidas poderão elevar-se muito mais em função da maior produtividade do setor, viabilizando quantidade e qualidade de carne, e da redução de barreiras tarifárias. Entre 1997 e 2001, o consumo interno de carne bovina reduziu em aproximadamente 1%, passando de 6.226 (97,3% da produção) para 6.179 milhares de toneladas de equivalente-carcaça (89,2% da produção), o que pode estar refletindo, no período, demanda reprimida, pela má distribuição de renda, e também oferta inelástica da produção de carne bovina. No mesmo período, as exportações passaram de 4,7% da produção para 11,4% e as importações, de 1,7% para 0,6%. Esses fatos evidenciam a necessidade de se elevar a produtividade (aumento da eficiência econômica e da mudança tecnológica) do setor de produção de carne bovina, aumentando a oferta com economias de escala (técnica e pecuniária), como forma de motivar a demanda reprimida por má distribuição de renda, fator de solução mais a longo prazo do que o aumento da produtividade.
Os ganhos de produtividade e o aumento da produção somente se viabilizarão mediante a utilização econômica eficiente de técnicas intensivas de produção, como, por exemplo, adubação e manejo intensivo de pastagens de gramíneas de alta produção de massa, possibilitando elevada carga animal por hectare, estação de monta (reprodução) concentrada e bem definida, visando à obtenção de taxas elevadas de natalidade e desmame, cruzamentos industriais para exploração da heterose e produção de novilho precoce com excelente qualidade de carcaça, compatível com a demanda internacional, principalmente, União Européia, EUA, Extremo Oriente, Oriente Médio e outros mercados, representando, segundo a ABIEC, no ano de 2000, respectivamente 53,0%; 11,79%; 15,34% e 19,84% das nossas exportações de carne bovina.
Visão geral da cadeia da carne bovina no Brasil

A cadeia da carne bovina no Brasil passa atualmente por transformações profundas, muitas delas ainda não completamente percebidas por agentes dos diferentes elos.
A cadeia tem como primeiro elo o produtor, que ressente bastante a mudança de paradigma da pecuária nacional, da pecuária extensiva, extrativista, apoiada na fertilidade natural das pastagens e, conseqüentemente, de baixo custo, para a pecuária que exige produtividade em decorrência da crescente utilização de insumos, principalmente de fertilizantes, elevando os custos de produção e reduzindo as margens de lucro. O segundo elo da cadeia é o do transporte, que opera com dificuldades, em virtude do sucateamento das rodovias e das ferrovias brasileiras, o que eleva os custos do frete. O terceiro elo é o de processamento e industrialização da carne bovina, cujos frigoríficos têm operado com capacidade ociosa. O quarto elo é o de transporte do frigorífico até o comércio atacadista e varejista. Na ponta da cadeia estão os supermercados e os açougues, fundamentais no processo de organização da cadeia, dada a grande interface com o consumidor.
A cadeia de carne bovina no Brasil carece de coordenação, embora vários esforços estejam sendo efetuados nessa direção. A falta de integração e de coordenação dos elos da cadeia têm interferido no seu desempenho, sendo que a ausência de contratos que regulem a comercialização tem causado prejuízos, impedindo a adoção de novas tecnologias e reduzindo a competitividade do segmento em nível internacional.
Na perspectiva acima, governo e o setor produtivo têm função especial. O Governo deve estimular o crescimento do produto interno bruto com estabilidade (menor inflação), equidade (distribuição de renda) e competitividade (menor tributação, menor taxa de juros, austeridade fiscal e investimentos em infra-estrutura). Quanto ao setor produtivo de carne bovina, este necessita avançar em termos de coordenação da cadeia, problema que deve ser resolvido em benefício da sua competitividade e do cumprimento da sua responsabilidade social.




13 de dez. de 2016

Doenças e Parasitos mais comuns nos Bovinos de Corte

Doenças e Parasitos mais comuns

Na pecuária de corte, pretere-se a clínica curativa em favor da clínica profilática. Isto se deve ao tamanho do rebanho e o seu manejo diferenciado. No rebanho criado a campo, torna-se difícil a observação de animal por animal, como acontece na pecuária de leite.
Atualmente, com a facilidade de transporte, tornou-se muito intensa a movimentação de animais de uma região para outra. Com isto, houve grande disseminação de doenças entre os bovinos, principalmente as doenças viróticas. Para controle dessas doenças, utilizam-se as vacinações como forma preventiva. No Brasil, existem vacinas obrigatórias por lei, como é o caso da vacina contra a febre aftosa e, mais recentemente, a da brucelose em alguns Estados. Outras tornam-se obrigatórias não por lei, mas pelo fato de que sem elas fica quase impossível a criação de bovinos em certas regiões, a exemplo da vacinação contra a raiva bovina e o carbúnculo sintomático.
Para obter sucesso na pecuária de corte, faz-se necessário elaborar um calendário profilático, esquematizando as épocas de vacinações. Há vacinas que são aplicadas no rebanho todo, outras são aplicadas somente em certas categorias de animais, selecionando idade e até mesmo o sexo, como é o caso das vacinações contra o carbúnculo sintomático e a brucelose. Uma das práticas para bom manejo sanitário na pecuária de corte é a implantação de uma estação de monta, para concentrar os nascimentos dos bezerros na mesma época do ano. O manejo profilático inicia-se com a cura do umbigo do bezerro, para evitar a onfalite (inflamação do umbigo). Em seguida, é recomendável a aplicação de l mL de avermectina, para evitar as miíases (bicheiras por larvas de moscas).
As doenças e as vacinações mais comuns na pecuária de corte são:
Febre aftosa: É uma doença aguda que acomete os animais fissípedes (que têm os cascos partidos), extremamente contagiosa e causada por um vírus. É caracterizada por febre alta e feridas na boca e nos cascos. Essa doença é de grande interesse para o Brasil, por ser um fator limitante na exportação de carne para outros países onde ela já foi erradicada. Atualmente, a vacina é oleosa, que dá imunidade mais duradoura. É uma vacina de caráter obrigatório e feita em todo rebanho, independentemente de idade. O seu calendário é determinado pela secretaria de agricultura de cada Estado.
Brucelose: É uma doença bacteriana, que interfere na reprodução, provocando aborto. Essa doença, além do prejuízo econômico, pode ser transmitida ao homem. A vacinação contra ela está se tornando obrigatória em vários Estados brasileiros. Ela é feita em dose única e somente em fêmeas de 3 a 8 meses de idade. É recomendável que se faça um teste de soro aglutinação anualmente em todos os animais em idade reprodutiva.
Tuberculose: Embora a tuberculose em bovinos de corte tenha menor incidência do que no gado de leite, ela não deixa de ser preocupante. Foi criado recentemente um programa nacional para erradicação da brucelose e da tuberculose no rebanho bovino brasileiro. Considerando que a vacinação contra a tuberculose é de pouca eficácia, faz-se o controle dessa doença em bovinos por meio do teste de tuberculinização. Em bovinos de corte, o teste é feito com a aplicação de tuberculina PPD bovina em animais de idade igual ou superior a seis semanas de vida. A aplicação é feita na prega caudal, fazendo-se a leitura 72 horas após. Os animais positivos são eliminados do rebanho. Animais reagentes positivos deverão ser isolados de todo o rebanho e sacrificados no prazo máximo de 30 dias após o diagnóstico, em estabelecimento sob serviço de inspeção oficial, indicado pelo serviço de defesa oficial federal e estadual. Na impossibilidade de sacrifício em estabelecimento sob serviço de inspeção oficial, indicado pelo serviço de defesa oficial federal e estadual, os animais serão destruídos no estabelecimento de criação, sob fiscalização direta da unidade local do serviço de defesa oficial, respeitando procedimentos estabelecidos pelo Departamento de Defesa Animal.
Raiva bovina: É uma doença causada por um vírus e transmitida por morcegos hematófagos. A vacinação contra essa doença só é feita em regiões onde existem colônias permanentes de morcegos sugadores de sangue. A vacinação se torna obrigatória quando aparecem focos esporádicos da doença em certas regiões. A aplicação da vacina é anual e feita em todo o rebanho, independentemente de idade.
Clostridiose: Das clostridioses que acometem os bovinos, a mais importante no Brasil é o carbúnculo sintomático. É uma doença típica de animais jovens (até 2 anos). Para sua prevenção, utilizam-se as vacinas polivalentes, isto é, que dão imunidade também contra outros tipos de clostrídios. Quando se utiliza a vacina polivalente, a aplicação é feita no pré-parto, ao nascimento, à desmama e aos 12 meses de idade. Nos animais adultos ela é aplicada uma vez ao ano.
Botulismo: É causada por uma toxina de uma espécie de Clostridium e que ataca o sistema nervoso dos animais. Essa toxina pode estar presente na medula de ossos de carcaças nas pastagens, em águas estagnadas e em cama de aves. A vacinação contra essa doença é feita quando ocorrem surtos na região. É uma vacina aplicada somente em animais acima de um ano de idade. De uma forma geral, recomenda-se o uso de duas doses iniciais com 4 a 6 semanas de intervalo e a seguir uma dose anual em todo o rebanho.
Leptospirose: É uma doença de distribuição mundial, sendo mais freqüente em áreas de clima quente e úmido. Essa doença é uma zoonose, isto é, pode ser transmitida ao homem. No bovino, a importância da doença é mais de ordem econômica, por influenciar o potencial reprodutivo do rebanho. No homem, porém, ela pode ser fatal. Essa doença nos bovinos pode ser controlada por vacinação, sendo a primeira dose aplicada entre 4 a 6 meses de idade, com reforço quatro semanas após. Todo o rebanho deve ser vacinado semestralmente.
Salmonelose: Essa doença, também chamada de paratifo, é mais comum em animais jovens. Ela provoca enterite (inflamação intestinal), acompanhada de diarréia, febre alta, descoordenação nervosa e morte em 24 a 48 horas. Embora os animais doentes respondam bem ao tratamento com antibióticos, a doença pode ser evitada com vacinação. A vacina é aplicada na vaca no pré-parto (8omês de gestação) e no bezerro entre 15 e 30 dias após o nascimento.
Pasteurelose: É uma doença infecciosa aguda, que causa febre, perda do apetite, diarréia sanguinolenta e prostração. Os animais enfermos respondem bem ao tratamento com sulfas. Essa doença pode ser evitada por vacinação, que é feita juntamente com a do paratifo (vacina polivalente). Sua aplicação se faz também no pré-parto e no bezerro entre 15 e 30 dias de vida.
IBR, BVD, PI3 e BRSV: São viroses comumente associadas com doenças respiratórias e perdas reprodutivas em bovinos. A prevenção contra essas doenças é feita com vacinas polivalentes, ou seja, existem vacinas para todas elas em conjunto. A vacinação é feita aos três meses de idade, com reforço 30 dias após, com revacinação anual em dose única.
Combate a ectoparasitos e endoparasitos: Os principais ectoparasitos de bovinos no Brasil são os carrapatos, os bernes e a mosca-dos-chifres. Só é recomendável combater esses parasitos quando as infestações forem altas. Isso ocorre mais nos meses de verão. Eles podem ser combatidos com produtos cujas vias de aplicação podem ser: pulverização, "pour-on" (sobre o dorso do animal), em banheiros de aspersão ou imersão e injetáveis. Quanto aos parasitos internos (vermes em geral), a preocupação maior é com os animais jovens, visto que os animais adultos são mais resistentes. Portanto, o combate à verminose deve estar mais voltado aos animais com menos de três anos. A melhor época para everminação deve abranger o período das secas.

Calendário profilático para bovinos de corte

Febre aftosa: É feita em todo rebanho, sendo o calendário de aplicação determinado pela secretaria de agricultura de cada Estado.
Brucelose: A vacina é aplicada somente em fêmeas de 3 a 4 meses de idade, acompanhada da marcação com um V seguido do último número do ano de nascimento, no lado esquerdo da cara. Deve-se fazer teste de soro aglutinação em todos os animais em idade reprodutiva uma vez ao ano.
Tuberculose: Fazer o teste de tuberculinização com PPD bovino na prega caudal, seguindo orientação do PNCEBT (Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose).
Raiva bovina: Vacinar todo rebanho, nas regiões endêmicas uma vez por ano, E nas regiões livres, somente quando determinada pelas secretarias de agricultura.
Clostridioses:
  • Pré-parto
  • Nascimento
  • Desmama
  • Aos 12 meses
  • Todo o rebanho uma vez por ano
Botulismo: Proceder vacinações quando ocorrer surto da doença. De uma forma geral, recomenda-se o uso de 2 doses iniciais, com 4 a 6 semanas de intervalo e a seguir uma dose anual em todo o rebanho.
Leptospirose: Vacinar os animais de 4 a 6 meses de idade, com reforço quatro semanas após. Vacinação em todo rebanho semestralmente.
Salmonelose e pasteurelose: Vacas pré-parto (8o mês de gestação) e bezerros de 15 a 30 dias de vida.
IBR, BVD, PI3 e BRSV: Vacinar aos 3 meses de idade, com reforço 30 dias após. Revacinação anual com dose única.
Combate a carrapatos, bernes e mosca-dos-chifres: Combate conforme a necessidade.
Everminação:
  • Ao nascimento, 1ml de avermectina
  • Em maio e julho, todos os animais até 24 meses
  • Em outubro, todo o rebanho.








30 de nov. de 2016

Reprodução de Bovinos de Corte


Reprodução

Manejo Reprodutivo em Sistemas Intensivos de Produção de Carne

Sistemas intensivos de produção de carne bovina requerem a intensificação dos fatores básicos de produção, ou seja, da terra, do capital e do trabalho. Do uso desses fatores espera-se maior eficiência. Dessa forma, surge como condição fundamental a necessidade de elevada eficiência reprodutiva como meta principal dos produtores que objetivam rentabilidade na atividade pecuária.
No passado recente, várias biotécnicas de multiplicação animal têm sido desenvolvidas, estando algumas em rotina, outras em uso experimental. Entre estas podem ser citadas a transferência de embriões, a fertilização "in vitro", a transgênese e a clonagem. Contudo, a utilização de algumas dessas tecnologias, dado o elevado custo e a exigência tecnológica, fica limitada àqueles produtores de animais com genética tida como superior.
Mesmo a inseminação artificial, com todas as vantagens que proporciona e a facilidade de uso, apesar de disponível há mais de cinco décadas com material congelado, apresenta taxa de utilização em relação ao número de fêmeas em reprodução em nosso País, ao redor de 7%. Isso demonstra o grande potencial para expansão do uso dessa técnica, sobretudo para aqueles produtores de animais melhoradores de raças de corte, de cruzamentos industriais e produtores de leite.
Deduz-se, portanto, que mais de 90% dos bezerros nascidos no Brasil provêm de acasalamentos ocorridos em monta natural. Dessa forma, passa-se a descrever alguns tópicos importantes diretamente relacionados aos sistemas de produção de carne preponderantes no País.
Realização de exame andrológico
Estudos realizados no Brasil, envolvendo número expressivo de touros que estavam sendo utilizados em monta natural em diversos Estados da Federação, indicaram haver mais de 53% deles com problemas de fertilidade. As principais causas de baixa fertilidade ou infertilidade estão apresentadas na Tabela 10.1.
Segundo os autores, os fatores de meio ambiente desfavoráveis e o manejo indesejável constituíram as principais causas de baixa fertilidade para touros destinados a reprodutores em condições de Brasil Central. Assim, cuidadosos exames clínicos, sanitários e andrológicos são imprescindíveis para animais a serem usados como reprodutores, além de melhores critérios de seleção genotípica e melhor manejo.
Tabela 10.1. Principais causas de baixa fertilidade ou infertilidade identificados em touros usados em rebanhos, no Brasil.
Causa
Freqüência (%)
Degeneração testicular
21,5
Imaturidade sexual
11,9
Maturidade sexual retardada
3,5
Hipoplasia testicular
3,5
Espermiogênese imperfeita
2,9
Espermatocistite
2,7
Disfunção do epidídimo
2,1
Fonte: Vale Filho et al. (1978).
O exame andrológico completo deve incluir a avaliação clínica do animal, observando-se o histórico da vida reprodutiva e a avaliação do estado geral, do sistema locomotor, dos órgãos genitais internos e externos, e dos aspectos físicos e morfológicos do sêmen, bem como do comportamento sexual. Após os exames, os achados são interpretados, obedecendo critérios internacionais, e os animais podem ser classificados em:
  1. aptos ou satisfatórios para a reprodução,
  2. questionáveis, devendo aguardar novos exames, e
  3. inaptos ou insatisfatórios para a reprodução, devendo ser castrados e descartados.
Utilização de tabelas de circunferência escrotal
Durante a realização do exame andrológico, medida de extrema importância é a tomada da circunferência escrotal. O tamanho dos testículos está diretamente relacionado com a capacidade de produção espermática e existe correlação genética negativa entre a circunferência escrotal de touros ainda jovens e a idade à puberdade de suas meias-irmãs. Touros com testículos mais desenvolvidos apresentam maior volume e maior concentração espermáticos no ejaculado, podendo servir a maior número de fêmeas ou produzir maior número de doses de sêmen, quando em rotina de coleta e congelação. Existem tabelas de circunferência escrotal mínima, para a maioria das raças, em cada idade do touro.
Estabelecimento da proporção touro: vaca adequada
Embora tenha havido alguns esforços para definir experimentalmente o número exato de fêmeas que podem ser colocadas com um touro durante a estação de monta, a proporção touro:vacas adequada ainda não está determinada. Obviamente essa proporção depende de fatores ligados ao reprodutor, ao rebanho de fêmeas, às condições do ambiente e ao manejo definido para o rebanho.
Fatores ligados ao reprodutor estão ligados, além da idade, à sua capacidade de produção e maturação espermáticas, relacionadas com a circunferência escrotal e com o peso dos testículos, e também à libido, determinada pelos testes de comportamento sexual. Em geral, touros aptos em exame andrológico completo devem produzir no mínimo quatro ejaculados/dia, suficientes para cobrir até duas fêmeas, com sucesso, em cada dia da estação de monta.
Relacionado às fêmeas, o fator básico é saber a taxa de ciclicidade do rabanho em estação de monta. Taxa de ciclicidade pode ser definida como a percentagem de fêmeas em estro em relação ao total de fêmeas expostas por dia de estação. Essa taxa é de no máximo 5% e pode ser determinada observando-se o número de fêmeas em cio em dias prévios ao início da estação de monta e, a partir daí, determinar a proporção touro: vaca mais adequada.
O desafio imposto aos touros é resultante da taxa de ciclicidade do rebanho. Assim, numa proporção touro:vaca de 1:40, em que todas estejam ciclando, tem-se, em média, duas vacas em cio/dia, durante o primeiro ciclo (21 dias) da estação de monta, o que é compatível para touros em acasalamentos únicos. Dependendo então da taxa de concepção neste primeiro estro, o desafio proporcionado aos touros nos estros subseqüentes será inferior ao primeiro. Já numa proporção touro:vaca de 1:80 em que a taxa de ciclicidade seja 2,5%, o desafio imposto ao touro no primeiro ciclo da estação de monta, é o mesmo daquele para 1:40. Enfim, para definir a proporção touro:vaca adequada é necessário conhecer a taxa de ciclicidade do rabanho. Todavia, os fatores relacionados ao meio, tais como área das pastagens, topografia, tipo de vegetação, presença de acidentes geográficos, qualidade e quantidade de forragem disponível, bem como duração da estação de monta e uso de touros múltiplos, devem ser considerados. Em geral, os touros no Brasil são subutilizados.
Expectativa da dinâmica reprodutiva durante a estação de monta
A expectativa da dinâmica reprodutiva para estação de monta de 90 dias, taxa de ciclicidade de 100% (diária = 5%), taxa de concepção de 60% e proporção touro:vaca de 1:40 é apresentada no quadro a seguir:
Ciclos Estrais
1o
2o
3o
4o
Proporção touro: vaca cíclica
1:40
1:16
1:6
1:2
No estros/dia do ciclo
1,90
0,76
0,28
0,1
No de fêmeas gestantes ao final do ciclo
24
10
4
1
No fêmeas vazias no próximo ciclo
16
6
2
1
Para estação de monta de 90 dias, taxa de ciclicidade de 50% (diária = 2,5%), taxa de concepção/estro de 60% e proporção touro:vaca de 1:80, a expectativa é a do próximo quadro:
Ciclos Estrais
1o
2o
3o
4o
Proporção touro: vaca cíclica
1:40
1:28
1:20
1:14
No estros/dia do ciclo
1,90
1,33
0,93
0,67
No de fêmeas gestantes ao final do ciclo
24
17
12
8
No fêmeas vazias no próximo ciclo
56
39
27
19
Adoção de estação de monta
A adoção de um período restrito para o acasalamento dos animais é a maneira mais racional de conduzir o sistema de cria, pois permite a avaliação sistemática do desempenho reprodutivo, oferecendo oportunidades para a tomada de decisões, inclusive a realização dos descartes.
Para sistemas intensivos, em que não está prevista escassez de forragem, esse período de estação de monta na maioria das regiões do Brasil Central pecuário deve ser estabelecido de modo a atender as melhores condições fisiológicas dos animais, coincidindo com a melhor condição produtiva das forrageiras tropicais. Portanto, esse período tem sido estabelecido durante os meses de verão, quando ocorre alta pluviosidade e maior fotoperíodo, não necessitando ter prazo superior a 90 dias.
Independentemente do método de reprodução adotado, se monta natural ou inseminação artificial, uso de sincronização de cios, touros para repasse, etc., ao final do período é possível avaliar os resultados.
Monitoramento da condição corporal
A duração do período de serviço, ou seja, o período de tempo decorrido entre a parição e a concepção, é o aspecto mais importante na determinação do intervalo de partos. No Brasil, os trabalhos revelam longos períodos de serviço, o que contribui para aumentar os intervalos de partos e reduzir o número de crias por vaca no rebanho. Dessa maneira, várias medidas de alimentação e manejo devem contribuir para redução dos períodos de serviço.
Os efeitos nutricionais são os principais fatores controladores do anestro lactacional após o parto, que representa o principal problema reprodutivo do rebanho bovino nacional. O peso e a condição corporal, embora pareçam imprecisos ou subjetivos, são indicadores funcionais do estado energético e do desempenho reprodutivo após o parto. Assim, a monitoração da condição corporal é a melhor maneira de avaliar o estado nutricional dos bovinos e é considerada o melhor indicador do funcionamento fisiológico normal de todos os sistemas orgânicos. Sua avaliação à parição tem sido recomendada porque é um dos fatores mais importantes que influenciam o intervalo pós-parto e a taxa de prenhez em vacas.
As atividades de manejo necessárias para a reversão desse quadro de anestro devem ser orientadas para proporcionar boa condição corporal ao parto e evitar perda de peso após o parto, já que a maior fertilidade está relacionada com o ganho de peso da parição até o final da estação de monta. Bom nível nutricional pré-parto acelera o aparecimento de cios, reduzindo o intervalo parto-concepção e, conseqüentemente, proporcionando maior número de fêmeas gestantes no início da estação de monta. Já o nível nutricional pós-parto influencia o índice de prenhez, principalmente ao primeiro serviço, já que as necessidades nutricionais nesse período são maiores para a retomada da ciclicidade ovariana.
Para sistemas intensivos, em que não haja limitações de ordem nutricional, os animais devem ser manejados de acordo com a condição corporal, evitando excessos de peso e permitindo o ganho de peso durante a estação de monta.
Tabelas de pontuação da condição corporal têm sido usadas como ferramenta auxiliar no manejo reprodutivo.
Controle da amamentação das crias
A amamentação indiscriminada atrasa o aparecimento do cio pós-parto pela influência inibitória que o estímulo da mamada pelo bezerro exerce sobre os elementos regulatórios controladores da liberação das gonadotrofinas hipofisárias. Algumas alternativas de manejo têm sido usadas com o objetivo de melhorar a eficiência reprodutiva. Tanto a desmama precoce dos bezerros como a interrupção da amamentação por curto espaço de tempo (48 ou 72 horas) ou a redução na freqüência de amamentação para uma ou duas mamadas diárias podem ser adotadas, desde que as vacas estejam ganhando peso quando o bezerro é removido.
Para a adoção de amamentação uma vez por dia, alguns requisitos devem ser atendidos:
  1. os bezerros devem ter pelo menos 30 dias de idade,
  2. os bezerros devem ter curral seco e água fresca a disposição, e
  3. deve-se fornecer aos bezerros ração balanceada e feno de boa qualidade ou forragem verde cortada fresca, à vontade.
Uso da sincronização do estro
A otimização e a racionalização dos recursos disponíveis em propriedades que usam a inseminação artificial (instalações, mão-de-obra, alimentação) pode ser alcançada com a adoção da técnica da sincronização de cios, pois esta reduz o tempo e a mão-de-obra envolvida no processo.
A sincronização de cios é, portanto, uma técnica alternativa de manejo reprodutivo, que oferece a possibilidade de manipulação do ciclo estral das fêmeas para indução da ovulação e estro, em parte delas, dentro de um período pré-determinado. Necessita de planejamento prévio, requer insumos, e a chave do sucesso depende dos animais estarem ciclando. Necessita também de um plano nutricional adequado, rebanho saudável, mínimo de condições estressantes, inseminadores devidamente treinados, sêmen de boa qualidade, adequado sistema de apontamentos e controle e acompanhamento de todo o procedimento.
Vários protocolos estão disponíveis no comércio sob a forma de progestágenos, estrógenos e prostaglandinas F2a e seus análogos, bem como suas combinações. A escolha do método e a opção para adoção devem considerar a eficiência fisiológica e a relação benefício: custo.
Considerações Finais
Outras práticas de manejo, tais como, a utilização de creep feedingcreep grazing, uso de misturas múltiplas, uso de macho íntegro para a antecipação da atividade ovariana, etc., têm sido utilizadas, para buscar maior eficiência de produção de carne. Contudo, acredita-se que um rebanho mantido em boas condições sanitárias, com critérios bem definidos para entrada e saída de animais e bom senso de gerência, seja a chave do sucesso, na maioria das propriedades que usam manejo racional de produção.