17 de dez. de 2016

Mercados e comercialização do Gado de Corte



Mercados e comercialização

No Brasil, a pecuária bovina de corte possui longo ciclo de produção, variando de 5 a 7 anos, de acordo com o nível da tecnologia adotado.
De acordo com a maturação do seu produto final, a produção de gado de corte é dividida em diversas fases, que podem ou não estar integradas dentro da mesma propriedade rural. São as fases de cria, recria e engorda, todas elas desenvolvidas predominantemente em pastagens. A fase de cria concentra-se na produção de bezerros, mantidos ao pé da vaca até a desmama (7 a 9 meses), sendo extremamente importante, nesta fase, o manejo da reprodução e da alimentação. Esta fase representa o cerne da pecuária bovina e é a mais sensível à baixa produção de forragens, principalmente no inverno ou na seca, sendo responsável, quase integralmente, pelos baixos índices de produtividade do rebanho nacional. A fase de recria vai da desmama até a época de acasalamento das fêmeas e engorda dos machos, variando de 2 a 4 anos, dependendo da tecnologia adotada. A fase de engorda tem duração de aproximadamente 12 meses, sendo na sua quase totalidade realizada em pastagens, embora nos últimos dez anos tenha aumentado significativamente o número de animais confinados no País. De 1992 a 2001, o número de bovinos confinados aumentou de 825.000 animais (cerca de 0,5% do rebanho efetivo em 1992) para 1.868.000 animais (cerca de 1,1% do rebanho efetivo em 2001), representando aumento de 126,42% no período (Anualpec, 2002). De qualquer modo, em relação ao efetivo bovino brasileiro, o número de animais confinados é muito pequeno, caracterizando-se a produção em pastagens.

Abate e comercialização

A concentração geográfica, a proporção de machos e de fêmeas em oferta e as formas de compra e venda de animais são as principais características do abate e da comercialização no País. A maior concentração do abate e do comércio se dá no centro-sul brasileiro (cerca de 76% do total), sendo o maior mercado consumidor o Estado de São Paulo (Estado com maior rendaper capitado País), onde se encontra o maior número de estabelecimentos de abate do Brasil, muitos deles operando hoje com capacidade ociosa. Nas últimas décadas, têm se verificado deslocamentos de frigoríficos para as regiões de maior produção de gado de corte, caindo com isto a importância da capacidade instalada de abate do Estado de São Paulo, notabilizando-se hoje por concentrar mais estabelecimentos de desossa e de distribuição.
A taxa geral de abate no Brasil em 1992 foi de 19,6% e em 2001 de 22,6% (Anualpec, 2002).
Os preços são formados nas regiões de comercialização e as decisões dos produtores de compra e venda se baseiam nas cotações ali praticadas. No Estado de São Paulo, destacam-se as praças de Araçatuba, Marília, Bauru, São José do Rio Preto, Barretos e Presidente Prudente; no Estado de Mato Grosso do Sul, as praças de Três Lagoas e Campo Grande; no Estado do Mato Grosso, a praça de Barra do Garça; no Paraná, as praças de Londrina e Maringá; em Goiás, a praça de Goiânia; e em Minas Gerais, a praça de Uberaba.

Os preços do boi gordo nos Estados de maior importância na comercialização constam da 
Na Tabela 2.2, é mostrada a pequena variação real no preço da arroba do boi gordo nos diferentes Estados, sendo que o aumento real mais expressivo se deu no Rio Grande do Sul (13,46%) e o menor aumento na Bahia (2,72%). Com relação à variação real do preço da arroba em dólares, a maior redução se deu também na Bahia (26,61%) e a menor redução no Rio Grande do Sul (20,16%). Sob a ótica da oferta e da demanda, o aumento real do preço da arroba (R$) no Rio Grande do Sul reflete, num primeiro momento, maior demanda interna para o produto, pois esse Estado é tradicional consumidor de carne bovina, além de estar bem situado em termos de renda per capitafrente à maioria dos Estados brasileiros. Quanto à Bahia, a situação se inverte, principalmente pela má distribuição de renda, reprimindo a demanda. Contudo, em termos gerais, os aumentos reais no preço do boi gordo refletem no período (1995 - 2001) pouca demanda pelo produto, ou seja, média de aumento real de 5,42% no preço da arroba do boi gordo. A média da redução real no preço da arroba em dólares de 25,18% reflete depreciação cambial, o que tem favorecido, em parte, as exportações líquidas, que representavam 4,5% da quantidade produzida de carne bovina em 1997 e passaram a representar aproximadamente 12%, em 2001. As exportações líquidas poderão elevar-se muito mais em função da maior produtividade do setor, viabilizando quantidade e qualidade de carne, e da redução de barreiras tarifárias. Entre 1997 e 2001, o consumo interno de carne bovina reduziu em aproximadamente 1%, passando de 6.226 (97,3% da produção) para 6.179 milhares de toneladas de equivalente-carcaça (89,2% da produção), o que pode estar refletindo, no período, demanda reprimida, pela má distribuição de renda, e também oferta inelástica da produção de carne bovina. No mesmo período, as exportações passaram de 4,7% da produção para 11,4% e as importações, de 1,7% para 0,6%. Esses fatos evidenciam a necessidade de se elevar a produtividade (aumento da eficiência econômica e da mudança tecnológica) do setor de produção de carne bovina, aumentando a oferta com economias de escala (técnica e pecuniária), como forma de motivar a demanda reprimida por má distribuição de renda, fator de solução mais a longo prazo do que o aumento da produtividade.
Os ganhos de produtividade e o aumento da produção somente se viabilizarão mediante a utilização econômica eficiente de técnicas intensivas de produção, como, por exemplo, adubação e manejo intensivo de pastagens de gramíneas de alta produção de massa, possibilitando elevada carga animal por hectare, estação de monta (reprodução) concentrada e bem definida, visando à obtenção de taxas elevadas de natalidade e desmame, cruzamentos industriais para exploração da heterose e produção de novilho precoce com excelente qualidade de carcaça, compatível com a demanda internacional, principalmente, União Européia, EUA, Extremo Oriente, Oriente Médio e outros mercados, representando, segundo a ABIEC, no ano de 2000, respectivamente 53,0%; 11,79%; 15,34% e 19,84% das nossas exportações de carne bovina.
Visão geral da cadeia da carne bovina no Brasil

A cadeia da carne bovina no Brasil passa atualmente por transformações profundas, muitas delas ainda não completamente percebidas por agentes dos diferentes elos.
A cadeia tem como primeiro elo o produtor, que ressente bastante a mudança de paradigma da pecuária nacional, da pecuária extensiva, extrativista, apoiada na fertilidade natural das pastagens e, conseqüentemente, de baixo custo, para a pecuária que exige produtividade em decorrência da crescente utilização de insumos, principalmente de fertilizantes, elevando os custos de produção e reduzindo as margens de lucro. O segundo elo da cadeia é o do transporte, que opera com dificuldades, em virtude do sucateamento das rodovias e das ferrovias brasileiras, o que eleva os custos do frete. O terceiro elo é o de processamento e industrialização da carne bovina, cujos frigoríficos têm operado com capacidade ociosa. O quarto elo é o de transporte do frigorífico até o comércio atacadista e varejista. Na ponta da cadeia estão os supermercados e os açougues, fundamentais no processo de organização da cadeia, dada a grande interface com o consumidor.
A cadeia de carne bovina no Brasil carece de coordenação, embora vários esforços estejam sendo efetuados nessa direção. A falta de integração e de coordenação dos elos da cadeia têm interferido no seu desempenho, sendo que a ausência de contratos que regulem a comercialização tem causado prejuízos, impedindo a adoção de novas tecnologias e reduzindo a competitividade do segmento em nível internacional.
Na perspectiva acima, governo e o setor produtivo têm função especial. O Governo deve estimular o crescimento do produto interno bruto com estabilidade (menor inflação), equidade (distribuição de renda) e competitividade (menor tributação, menor taxa de juros, austeridade fiscal e investimentos em infra-estrutura). Quanto ao setor produtivo de carne bovina, este necessita avançar em termos de coordenação da cadeia, problema que deve ser resolvido em benefício da sua competitividade e do cumprimento da sua responsabilidade social.




13 de dez. de 2016

Doenças e Parasitos mais comuns nos Bovinos de Corte

Doenças e Parasitos mais comuns

Na pecuária de corte, pretere-se a clínica curativa em favor da clínica profilática. Isto se deve ao tamanho do rebanho e o seu manejo diferenciado. No rebanho criado a campo, torna-se difícil a observação de animal por animal, como acontece na pecuária de leite.
Atualmente, com a facilidade de transporte, tornou-se muito intensa a movimentação de animais de uma região para outra. Com isto, houve grande disseminação de doenças entre os bovinos, principalmente as doenças viróticas. Para controle dessas doenças, utilizam-se as vacinações como forma preventiva. No Brasil, existem vacinas obrigatórias por lei, como é o caso da vacina contra a febre aftosa e, mais recentemente, a da brucelose em alguns Estados. Outras tornam-se obrigatórias não por lei, mas pelo fato de que sem elas fica quase impossível a criação de bovinos em certas regiões, a exemplo da vacinação contra a raiva bovina e o carbúnculo sintomático.
Para obter sucesso na pecuária de corte, faz-se necessário elaborar um calendário profilático, esquematizando as épocas de vacinações. Há vacinas que são aplicadas no rebanho todo, outras são aplicadas somente em certas categorias de animais, selecionando idade e até mesmo o sexo, como é o caso das vacinações contra o carbúnculo sintomático e a brucelose. Uma das práticas para bom manejo sanitário na pecuária de corte é a implantação de uma estação de monta, para concentrar os nascimentos dos bezerros na mesma época do ano. O manejo profilático inicia-se com a cura do umbigo do bezerro, para evitar a onfalite (inflamação do umbigo). Em seguida, é recomendável a aplicação de l mL de avermectina, para evitar as miíases (bicheiras por larvas de moscas).
As doenças e as vacinações mais comuns na pecuária de corte são:
Febre aftosa: É uma doença aguda que acomete os animais fissípedes (que têm os cascos partidos), extremamente contagiosa e causada por um vírus. É caracterizada por febre alta e feridas na boca e nos cascos. Essa doença é de grande interesse para o Brasil, por ser um fator limitante na exportação de carne para outros países onde ela já foi erradicada. Atualmente, a vacina é oleosa, que dá imunidade mais duradoura. É uma vacina de caráter obrigatório e feita em todo rebanho, independentemente de idade. O seu calendário é determinado pela secretaria de agricultura de cada Estado.
Brucelose: É uma doença bacteriana, que interfere na reprodução, provocando aborto. Essa doença, além do prejuízo econômico, pode ser transmitida ao homem. A vacinação contra ela está se tornando obrigatória em vários Estados brasileiros. Ela é feita em dose única e somente em fêmeas de 3 a 8 meses de idade. É recomendável que se faça um teste de soro aglutinação anualmente em todos os animais em idade reprodutiva.
Tuberculose: Embora a tuberculose em bovinos de corte tenha menor incidência do que no gado de leite, ela não deixa de ser preocupante. Foi criado recentemente um programa nacional para erradicação da brucelose e da tuberculose no rebanho bovino brasileiro. Considerando que a vacinação contra a tuberculose é de pouca eficácia, faz-se o controle dessa doença em bovinos por meio do teste de tuberculinização. Em bovinos de corte, o teste é feito com a aplicação de tuberculina PPD bovina em animais de idade igual ou superior a seis semanas de vida. A aplicação é feita na prega caudal, fazendo-se a leitura 72 horas após. Os animais positivos são eliminados do rebanho. Animais reagentes positivos deverão ser isolados de todo o rebanho e sacrificados no prazo máximo de 30 dias após o diagnóstico, em estabelecimento sob serviço de inspeção oficial, indicado pelo serviço de defesa oficial federal e estadual. Na impossibilidade de sacrifício em estabelecimento sob serviço de inspeção oficial, indicado pelo serviço de defesa oficial federal e estadual, os animais serão destruídos no estabelecimento de criação, sob fiscalização direta da unidade local do serviço de defesa oficial, respeitando procedimentos estabelecidos pelo Departamento de Defesa Animal.
Raiva bovina: É uma doença causada por um vírus e transmitida por morcegos hematófagos. A vacinação contra essa doença só é feita em regiões onde existem colônias permanentes de morcegos sugadores de sangue. A vacinação se torna obrigatória quando aparecem focos esporádicos da doença em certas regiões. A aplicação da vacina é anual e feita em todo o rebanho, independentemente de idade.
Clostridiose: Das clostridioses que acometem os bovinos, a mais importante no Brasil é o carbúnculo sintomático. É uma doença típica de animais jovens (até 2 anos). Para sua prevenção, utilizam-se as vacinas polivalentes, isto é, que dão imunidade também contra outros tipos de clostrídios. Quando se utiliza a vacina polivalente, a aplicação é feita no pré-parto, ao nascimento, à desmama e aos 12 meses de idade. Nos animais adultos ela é aplicada uma vez ao ano.
Botulismo: É causada por uma toxina de uma espécie de Clostridium e que ataca o sistema nervoso dos animais. Essa toxina pode estar presente na medula de ossos de carcaças nas pastagens, em águas estagnadas e em cama de aves. A vacinação contra essa doença é feita quando ocorrem surtos na região. É uma vacina aplicada somente em animais acima de um ano de idade. De uma forma geral, recomenda-se o uso de duas doses iniciais com 4 a 6 semanas de intervalo e a seguir uma dose anual em todo o rebanho.
Leptospirose: É uma doença de distribuição mundial, sendo mais freqüente em áreas de clima quente e úmido. Essa doença é uma zoonose, isto é, pode ser transmitida ao homem. No bovino, a importância da doença é mais de ordem econômica, por influenciar o potencial reprodutivo do rebanho. No homem, porém, ela pode ser fatal. Essa doença nos bovinos pode ser controlada por vacinação, sendo a primeira dose aplicada entre 4 a 6 meses de idade, com reforço quatro semanas após. Todo o rebanho deve ser vacinado semestralmente.
Salmonelose: Essa doença, também chamada de paratifo, é mais comum em animais jovens. Ela provoca enterite (inflamação intestinal), acompanhada de diarréia, febre alta, descoordenação nervosa e morte em 24 a 48 horas. Embora os animais doentes respondam bem ao tratamento com antibióticos, a doença pode ser evitada com vacinação. A vacina é aplicada na vaca no pré-parto (8omês de gestação) e no bezerro entre 15 e 30 dias após o nascimento.
Pasteurelose: É uma doença infecciosa aguda, que causa febre, perda do apetite, diarréia sanguinolenta e prostração. Os animais enfermos respondem bem ao tratamento com sulfas. Essa doença pode ser evitada por vacinação, que é feita juntamente com a do paratifo (vacina polivalente). Sua aplicação se faz também no pré-parto e no bezerro entre 15 e 30 dias de vida.
IBR, BVD, PI3 e BRSV: São viroses comumente associadas com doenças respiratórias e perdas reprodutivas em bovinos. A prevenção contra essas doenças é feita com vacinas polivalentes, ou seja, existem vacinas para todas elas em conjunto. A vacinação é feita aos três meses de idade, com reforço 30 dias após, com revacinação anual em dose única.
Combate a ectoparasitos e endoparasitos: Os principais ectoparasitos de bovinos no Brasil são os carrapatos, os bernes e a mosca-dos-chifres. Só é recomendável combater esses parasitos quando as infestações forem altas. Isso ocorre mais nos meses de verão. Eles podem ser combatidos com produtos cujas vias de aplicação podem ser: pulverização, "pour-on" (sobre o dorso do animal), em banheiros de aspersão ou imersão e injetáveis. Quanto aos parasitos internos (vermes em geral), a preocupação maior é com os animais jovens, visto que os animais adultos são mais resistentes. Portanto, o combate à verminose deve estar mais voltado aos animais com menos de três anos. A melhor época para everminação deve abranger o período das secas.

Calendário profilático para bovinos de corte

Febre aftosa: É feita em todo rebanho, sendo o calendário de aplicação determinado pela secretaria de agricultura de cada Estado.
Brucelose: A vacina é aplicada somente em fêmeas de 3 a 4 meses de idade, acompanhada da marcação com um V seguido do último número do ano de nascimento, no lado esquerdo da cara. Deve-se fazer teste de soro aglutinação em todos os animais em idade reprodutiva uma vez ao ano.
Tuberculose: Fazer o teste de tuberculinização com PPD bovino na prega caudal, seguindo orientação do PNCEBT (Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose).
Raiva bovina: Vacinar todo rebanho, nas regiões endêmicas uma vez por ano, E nas regiões livres, somente quando determinada pelas secretarias de agricultura.
Clostridioses:
  • Pré-parto
  • Nascimento
  • Desmama
  • Aos 12 meses
  • Todo o rebanho uma vez por ano
Botulismo: Proceder vacinações quando ocorrer surto da doença. De uma forma geral, recomenda-se o uso de 2 doses iniciais, com 4 a 6 semanas de intervalo e a seguir uma dose anual em todo o rebanho.
Leptospirose: Vacinar os animais de 4 a 6 meses de idade, com reforço quatro semanas após. Vacinação em todo rebanho semestralmente.
Salmonelose e pasteurelose: Vacas pré-parto (8o mês de gestação) e bezerros de 15 a 30 dias de vida.
IBR, BVD, PI3 e BRSV: Vacinar aos 3 meses de idade, com reforço 30 dias após. Revacinação anual com dose única.
Combate a carrapatos, bernes e mosca-dos-chifres: Combate conforme a necessidade.
Everminação:
  • Ao nascimento, 1ml de avermectina
  • Em maio e julho, todos os animais até 24 meses
  • Em outubro, todo o rebanho.








30 de nov. de 2016

Reprodução de Bovinos de Corte


Reprodução

Manejo Reprodutivo em Sistemas Intensivos de Produção de Carne

Sistemas intensivos de produção de carne bovina requerem a intensificação dos fatores básicos de produção, ou seja, da terra, do capital e do trabalho. Do uso desses fatores espera-se maior eficiência. Dessa forma, surge como condição fundamental a necessidade de elevada eficiência reprodutiva como meta principal dos produtores que objetivam rentabilidade na atividade pecuária.
No passado recente, várias biotécnicas de multiplicação animal têm sido desenvolvidas, estando algumas em rotina, outras em uso experimental. Entre estas podem ser citadas a transferência de embriões, a fertilização "in vitro", a transgênese e a clonagem. Contudo, a utilização de algumas dessas tecnologias, dado o elevado custo e a exigência tecnológica, fica limitada àqueles produtores de animais com genética tida como superior.
Mesmo a inseminação artificial, com todas as vantagens que proporciona e a facilidade de uso, apesar de disponível há mais de cinco décadas com material congelado, apresenta taxa de utilização em relação ao número de fêmeas em reprodução em nosso País, ao redor de 7%. Isso demonstra o grande potencial para expansão do uso dessa técnica, sobretudo para aqueles produtores de animais melhoradores de raças de corte, de cruzamentos industriais e produtores de leite.
Deduz-se, portanto, que mais de 90% dos bezerros nascidos no Brasil provêm de acasalamentos ocorridos em monta natural. Dessa forma, passa-se a descrever alguns tópicos importantes diretamente relacionados aos sistemas de produção de carne preponderantes no País.
Realização de exame andrológico
Estudos realizados no Brasil, envolvendo número expressivo de touros que estavam sendo utilizados em monta natural em diversos Estados da Federação, indicaram haver mais de 53% deles com problemas de fertilidade. As principais causas de baixa fertilidade ou infertilidade estão apresentadas na Tabela 10.1.
Segundo os autores, os fatores de meio ambiente desfavoráveis e o manejo indesejável constituíram as principais causas de baixa fertilidade para touros destinados a reprodutores em condições de Brasil Central. Assim, cuidadosos exames clínicos, sanitários e andrológicos são imprescindíveis para animais a serem usados como reprodutores, além de melhores critérios de seleção genotípica e melhor manejo.
Tabela 10.1. Principais causas de baixa fertilidade ou infertilidade identificados em touros usados em rebanhos, no Brasil.
Causa
Freqüência (%)
Degeneração testicular
21,5
Imaturidade sexual
11,9
Maturidade sexual retardada
3,5
Hipoplasia testicular
3,5
Espermiogênese imperfeita
2,9
Espermatocistite
2,7
Disfunção do epidídimo
2,1
Fonte: Vale Filho et al. (1978).
O exame andrológico completo deve incluir a avaliação clínica do animal, observando-se o histórico da vida reprodutiva e a avaliação do estado geral, do sistema locomotor, dos órgãos genitais internos e externos, e dos aspectos físicos e morfológicos do sêmen, bem como do comportamento sexual. Após os exames, os achados são interpretados, obedecendo critérios internacionais, e os animais podem ser classificados em:
  1. aptos ou satisfatórios para a reprodução,
  2. questionáveis, devendo aguardar novos exames, e
  3. inaptos ou insatisfatórios para a reprodução, devendo ser castrados e descartados.
Utilização de tabelas de circunferência escrotal
Durante a realização do exame andrológico, medida de extrema importância é a tomada da circunferência escrotal. O tamanho dos testículos está diretamente relacionado com a capacidade de produção espermática e existe correlação genética negativa entre a circunferência escrotal de touros ainda jovens e a idade à puberdade de suas meias-irmãs. Touros com testículos mais desenvolvidos apresentam maior volume e maior concentração espermáticos no ejaculado, podendo servir a maior número de fêmeas ou produzir maior número de doses de sêmen, quando em rotina de coleta e congelação. Existem tabelas de circunferência escrotal mínima, para a maioria das raças, em cada idade do touro.
Estabelecimento da proporção touro: vaca adequada
Embora tenha havido alguns esforços para definir experimentalmente o número exato de fêmeas que podem ser colocadas com um touro durante a estação de monta, a proporção touro:vacas adequada ainda não está determinada. Obviamente essa proporção depende de fatores ligados ao reprodutor, ao rebanho de fêmeas, às condições do ambiente e ao manejo definido para o rebanho.
Fatores ligados ao reprodutor estão ligados, além da idade, à sua capacidade de produção e maturação espermáticas, relacionadas com a circunferência escrotal e com o peso dos testículos, e também à libido, determinada pelos testes de comportamento sexual. Em geral, touros aptos em exame andrológico completo devem produzir no mínimo quatro ejaculados/dia, suficientes para cobrir até duas fêmeas, com sucesso, em cada dia da estação de monta.
Relacionado às fêmeas, o fator básico é saber a taxa de ciclicidade do rabanho em estação de monta. Taxa de ciclicidade pode ser definida como a percentagem de fêmeas em estro em relação ao total de fêmeas expostas por dia de estação. Essa taxa é de no máximo 5% e pode ser determinada observando-se o número de fêmeas em cio em dias prévios ao início da estação de monta e, a partir daí, determinar a proporção touro: vaca mais adequada.
O desafio imposto aos touros é resultante da taxa de ciclicidade do rebanho. Assim, numa proporção touro:vaca de 1:40, em que todas estejam ciclando, tem-se, em média, duas vacas em cio/dia, durante o primeiro ciclo (21 dias) da estação de monta, o que é compatível para touros em acasalamentos únicos. Dependendo então da taxa de concepção neste primeiro estro, o desafio proporcionado aos touros nos estros subseqüentes será inferior ao primeiro. Já numa proporção touro:vaca de 1:80 em que a taxa de ciclicidade seja 2,5%, o desafio imposto ao touro no primeiro ciclo da estação de monta, é o mesmo daquele para 1:40. Enfim, para definir a proporção touro:vaca adequada é necessário conhecer a taxa de ciclicidade do rabanho. Todavia, os fatores relacionados ao meio, tais como área das pastagens, topografia, tipo de vegetação, presença de acidentes geográficos, qualidade e quantidade de forragem disponível, bem como duração da estação de monta e uso de touros múltiplos, devem ser considerados. Em geral, os touros no Brasil são subutilizados.
Expectativa da dinâmica reprodutiva durante a estação de monta
A expectativa da dinâmica reprodutiva para estação de monta de 90 dias, taxa de ciclicidade de 100% (diária = 5%), taxa de concepção de 60% e proporção touro:vaca de 1:40 é apresentada no quadro a seguir:
Ciclos Estrais
1o
2o
3o
4o
Proporção touro: vaca cíclica
1:40
1:16
1:6
1:2
No estros/dia do ciclo
1,90
0,76
0,28
0,1
No de fêmeas gestantes ao final do ciclo
24
10
4
1
No fêmeas vazias no próximo ciclo
16
6
2
1
Para estação de monta de 90 dias, taxa de ciclicidade de 50% (diária = 2,5%), taxa de concepção/estro de 60% e proporção touro:vaca de 1:80, a expectativa é a do próximo quadro:
Ciclos Estrais
1o
2o
3o
4o
Proporção touro: vaca cíclica
1:40
1:28
1:20
1:14
No estros/dia do ciclo
1,90
1,33
0,93
0,67
No de fêmeas gestantes ao final do ciclo
24
17
12
8
No fêmeas vazias no próximo ciclo
56
39
27
19
Adoção de estação de monta
A adoção de um período restrito para o acasalamento dos animais é a maneira mais racional de conduzir o sistema de cria, pois permite a avaliação sistemática do desempenho reprodutivo, oferecendo oportunidades para a tomada de decisões, inclusive a realização dos descartes.
Para sistemas intensivos, em que não está prevista escassez de forragem, esse período de estação de monta na maioria das regiões do Brasil Central pecuário deve ser estabelecido de modo a atender as melhores condições fisiológicas dos animais, coincidindo com a melhor condição produtiva das forrageiras tropicais. Portanto, esse período tem sido estabelecido durante os meses de verão, quando ocorre alta pluviosidade e maior fotoperíodo, não necessitando ter prazo superior a 90 dias.
Independentemente do método de reprodução adotado, se monta natural ou inseminação artificial, uso de sincronização de cios, touros para repasse, etc., ao final do período é possível avaliar os resultados.
Monitoramento da condição corporal
A duração do período de serviço, ou seja, o período de tempo decorrido entre a parição e a concepção, é o aspecto mais importante na determinação do intervalo de partos. No Brasil, os trabalhos revelam longos períodos de serviço, o que contribui para aumentar os intervalos de partos e reduzir o número de crias por vaca no rebanho. Dessa maneira, várias medidas de alimentação e manejo devem contribuir para redução dos períodos de serviço.
Os efeitos nutricionais são os principais fatores controladores do anestro lactacional após o parto, que representa o principal problema reprodutivo do rebanho bovino nacional. O peso e a condição corporal, embora pareçam imprecisos ou subjetivos, são indicadores funcionais do estado energético e do desempenho reprodutivo após o parto. Assim, a monitoração da condição corporal é a melhor maneira de avaliar o estado nutricional dos bovinos e é considerada o melhor indicador do funcionamento fisiológico normal de todos os sistemas orgânicos. Sua avaliação à parição tem sido recomendada porque é um dos fatores mais importantes que influenciam o intervalo pós-parto e a taxa de prenhez em vacas.
As atividades de manejo necessárias para a reversão desse quadro de anestro devem ser orientadas para proporcionar boa condição corporal ao parto e evitar perda de peso após o parto, já que a maior fertilidade está relacionada com o ganho de peso da parição até o final da estação de monta. Bom nível nutricional pré-parto acelera o aparecimento de cios, reduzindo o intervalo parto-concepção e, conseqüentemente, proporcionando maior número de fêmeas gestantes no início da estação de monta. Já o nível nutricional pós-parto influencia o índice de prenhez, principalmente ao primeiro serviço, já que as necessidades nutricionais nesse período são maiores para a retomada da ciclicidade ovariana.
Para sistemas intensivos, em que não haja limitações de ordem nutricional, os animais devem ser manejados de acordo com a condição corporal, evitando excessos de peso e permitindo o ganho de peso durante a estação de monta.
Tabelas de pontuação da condição corporal têm sido usadas como ferramenta auxiliar no manejo reprodutivo.
Controle da amamentação das crias
A amamentação indiscriminada atrasa o aparecimento do cio pós-parto pela influência inibitória que o estímulo da mamada pelo bezerro exerce sobre os elementos regulatórios controladores da liberação das gonadotrofinas hipofisárias. Algumas alternativas de manejo têm sido usadas com o objetivo de melhorar a eficiência reprodutiva. Tanto a desmama precoce dos bezerros como a interrupção da amamentação por curto espaço de tempo (48 ou 72 horas) ou a redução na freqüência de amamentação para uma ou duas mamadas diárias podem ser adotadas, desde que as vacas estejam ganhando peso quando o bezerro é removido.
Para a adoção de amamentação uma vez por dia, alguns requisitos devem ser atendidos:
  1. os bezerros devem ter pelo menos 30 dias de idade,
  2. os bezerros devem ter curral seco e água fresca a disposição, e
  3. deve-se fornecer aos bezerros ração balanceada e feno de boa qualidade ou forragem verde cortada fresca, à vontade.
Uso da sincronização do estro
A otimização e a racionalização dos recursos disponíveis em propriedades que usam a inseminação artificial (instalações, mão-de-obra, alimentação) pode ser alcançada com a adoção da técnica da sincronização de cios, pois esta reduz o tempo e a mão-de-obra envolvida no processo.
A sincronização de cios é, portanto, uma técnica alternativa de manejo reprodutivo, que oferece a possibilidade de manipulação do ciclo estral das fêmeas para indução da ovulação e estro, em parte delas, dentro de um período pré-determinado. Necessita de planejamento prévio, requer insumos, e a chave do sucesso depende dos animais estarem ciclando. Necessita também de um plano nutricional adequado, rebanho saudável, mínimo de condições estressantes, inseminadores devidamente treinados, sêmen de boa qualidade, adequado sistema de apontamentos e controle e acompanhamento de todo o procedimento.
Vários protocolos estão disponíveis no comércio sob a forma de progestágenos, estrógenos e prostaglandinas F2a e seus análogos, bem como suas combinações. A escolha do método e a opção para adoção devem considerar a eficiência fisiológica e a relação benefício: custo.
Considerações Finais
Outras práticas de manejo, tais como, a utilização de creep feedingcreep grazing, uso de misturas múltiplas, uso de macho íntegro para a antecipação da atividade ovariana, etc., têm sido utilizadas, para buscar maior eficiência de produção de carne. Contudo, acredita-se que um rebanho mantido em boas condições sanitárias, com critérios bem definidos para entrada e saída de animais e bom senso de gerência, seja a chave do sucesso, na maioria das propriedades que usam manejo racional de produção.


3 de nov. de 2016

Controle e Manejo de Invasoras em Pastagens


A degradação das pastagens e um dos maiores problemas da pecuária bovina do pais. Estima-se que 80% dos pastos cultivados, implantados nos cerrados do Brasil Central, apresentam algum nível de degradação com consequente perda de produtividade. A alta ocorrência de plantas invasoras nessas situações e um empecilho para reverter esse processo e restabelecer a produção das forrageiras. O controle das plantas invasoras e, portanto, uma necessidade na recuperação ou renovação das pastagens degradadas. O objetivo deste trabalho foi sintetizar as informações, como viabilidade e eficiência, relativas aos métodos de controle de invasoras de pastagem utilizados, de forma a oferecer subsídios para uma opção racional, eficaz e econômica para cada situação encontrada. Foram discutidos aspectos inerentes a competição exercida pelas plantas daninhas nas pastagens cultivadas, especialmente aquelas de folhas largas, no ambiente de Cerrados, e algumas considerações sobre a ocorrência e manejo de plantas tóxicas aos bovinos. Apresentam-se resultados de pesquisa dos efeitos do controle químico de invasoras em pastagens sobre o desempenho animal e o custo-benefício do uso de herbicidas, e ainda, uma relação das principais plantas de folhas largas, invasoras de pastagens nos Cerrados e fatores que afetam a persistência das forrageiras e dinâmica da população de invasoras. finalmente, sintetizam-se os principais métodos de controle utilizados no pais, suas eficiências, e alguns resultados de pesquisa sobre controle químico e os herbicidas mais utilizados em pastagens no Brasil.

Invasoras em pastagens

Invasora é a planta que pode interferir no agroecossistema, nesse caso a pastagem, de grande ocorrência geográfica nos trópicos e que não existia no ecossistema original. As principais invasoras de pastagens no Brasil estão relacionadas em diversos trabalhos regionais e nacionais (Aranha et al., 1982; Bacchi et al., 1982; Bacchi et al., 1984; Lorenzi, 1991; Afonso e Pott, 2001).
A causa do aparecimento de plantas invasoras em pastagens se deve principalmente às medidas inadequadas de manejo das plantas forrageiras, como pastejo ou roçadas impróprias, quanto ao número de cortes ou à época de controle das invasoras, empobrecimento do solo tanto quimicamente (deficiência de N, P, K, Ca, Mg, S e outros) como fisicamente (compactação), deficiência ou excesso de água disponível, e cultivo de plantas forrageiras não adaptadas às condições ambientais. De maneira prática, pode-se caracterizar uma pastagem degradada pela presença de plantas invasoras (plantas indicadoras), uma vez que, ao se instalarem em determinado local, encontram ali as condições que lhe permitem crescer e multiplicar-se. É o caso do sapé (Imperata brasiliensis), que indica acidez do solo, e da samambaia (Pteridium aquilinum), que indica altos teores de alumínio tóxico no solo.
Apesar de a maioria das plantas expontâneas serem indesejáveis às pastagens, e nem sempre serem competitivas, podem causar outros problemas a esse ecossistema, como ferimentos nos animais e no homem, e mesmo ações indesejadas na operacionalização da propriedade rural, pela invasão de cercas, currais, estradas e outros. Portanto, é mais correto referir-se às "interferências" das invasoras nas atividades pecuárias, cujas principais formas são:
Interferência – competição com plantas forrageiras por água, luz, nutrientes e espaço, sendo que as invasoras nesse balanço competitivo ainda são favorecidas, pois os animais não comem a planta invasora, mas sim a forrageira; Alelopatia – interferência de uma planta sobre outra por liberação de substâncias químicas, tendo como exemplo a inibição de capim-coastcross (Cynodon dactylon) por erva-de-bicho (Polygonum aviculares);
Parasitismo – as invasoras tornam-se parasitas de forrageiras, sendo exemplo clássico o parasitismo da cuscuta (Cuscuta spp.) em alfafa (Medicago sativa);

Toxicidade aos animais – alta letalidade de algumas espécies aos bovinos na região Sudeste do Brasil, tais como o cafezinho (Palicourea marcgravii), a coerana (Cestrum axilare) e o cipó-prata (Mascagna pubiflora);

Redução da qualidade do produto pecuário – os produtos de origem animal (carne, lã, leite, couro) podem ser influenciados direta ou indiretamente pelas invasoras, por exemplo, a contaminação da lã de carneiros por propágulos de picão preto (Bidens pilosa) e capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), ferimento do couro de animais e tetos de vacas leiteiras por pontas de arbustos, e sabor de alho no leite por ingestão de alho bravo (Nothocordon fragans);
Redução na qualidade de forragens armazenadas (fenos e silagens) – redução da aceitabilidade desses alimentos pelos animais por causa da presença de partes vegetais, como capim-carrapicho, em fenos, e redução da qualidade de silagens, em conseqüência da presença de plantas indesejáveis, principalmente por problemas de fermentação; e

Hospedeiros de pragas e doenças dos animais – pontos de refúgio e criatório de animais nocivos (carrapatos, cobras, morcegos hematófagos, e outros) em árvores e arbustos não planejados (Rassini,1993).

O controle de invasoras em pastagens, basicamente, é realizado por meio de tratos culturais na planta forrageira, desde sua implantação (escolha da espécie mais adaptada e da cultivar mais indicada, preparo do solo, recuperação da fertilidade do solo com base em análise química) até seu manejo (adubações de manutenção e cobertura, freqüência e altura de cortes). Quando ocorrem falhas nessas práticas e em algumas situações especiais, como ocorrência de fogo, manchas de solo (fertilidade) ou compactação, recorre-se a um dos vários métodos utilizados para controlar as plantas invasoras em pastagens.
Na região Sudeste, o método mais utilizado de controle de invasoras em pastagens ainda é o corte com foice (roçada) ou a remoção da planta com raiz (destoca). Porém, a mão-de-obra despendida e seu elevado custo, aliado a resultados não satisfatórios de controle, pela repetição contínua da operação em conseqüência da brotação da maioria das espécies, têm contribuído para incrementar o controle químico de invasoras em pastagens por meio de herbicidas. Deve-se ressaltar quanto a esse aspecto que o controle químico ainda está restrito ao uso de pequeno número de princípios ativos seletivos às gramíneas forrageiras, como 2,4 D, picloran, 2,4 D + picloran, tebuthiuron, e fluroxipir + picloran. Além disso, a aplicação desses produtos deve ser bastante criteriosa, para que problemas como a utilização indiscriminada de herbicidas sejam visualizados e controlados evitados.
Antes de utilizar herbicidas em pastagens, é fundamental que se identifiquem as espécies a serem controladas, o estágio de desenvolvimento dessas plantas e os períodos em que a competição é mais grave ou acentuada, que se utilizem equipamentos de proteção individual (luvas, botas, chapéu de aba larga, óculos ou protetor facial, calça e camisa de mangas compridas, avental impermeável) durante o preparo da calda e a aplicação, que se armazene a embalagem vazia após lavagem tríplice para posterior encaminhamento ao vendedor (agropecuárias), e que se evite contaminação de corpos hídricos (rios, lagos), enfim, que o uso de herbicidas em pastagens seja avaliado e acompanhado por técnicos especializados (engenheiro agrônomo).



27 de out. de 2016

Irrigação de Pastagens



Para se alcançar maiores índices de produtividade, alguns produtores rurais buscam alternativas para incrementar a produção de carne e leite na propriedade e, consequentemente, aumentam os seus lucros gerados. Com a irrigação das pastagens, o manejo da bovinocultura de corte e leite torna-se mais simples do que em um sistema tradicional de pastejo rotacionado. Sem as flutuações na produção, devido a veranicos, o sistema torna-se mais estável, em regiões que não tem problemas de temperaturas e fotoperíodo.  A irrigação e a fertirrigação em pastagem são técnicas cujas aplicações vêm crescendo no Brasil, possibilitando obter forrageiras de melhor valor nutricional e maiores índices de produção de matéria seca, além de favorecer o manejo racional do sistema de produção animal.

Segundo Dovrat (1993), em muitos países, técnicos e produtores inicialmente usaram a irrigação na tentativa de solucionar o problema da estacionalidade de produção das pastagens, que é determinada pelo déficit dos fatores temperatura, luminosidade e água. A irrigação da pastagem pode reduzir custos de produção e tempo de trabalho para alimentar o rebanho, comparada a outras alternativas de suplementação no outono-inverno, tais como a silagem e o feno, conforme Figura 1. Isso ocorre pela utilização de menor área, uso de água de baixa qualidade e possibilidade de prolongar o período de pastejo durante a estação seca.

Segundo Drumond, Aguiar (2005), em regiões onde a temperatura não é fator limitante, a irrigação pode ser uma alternativa para a produção intensiva de carne e leite em pequenas áreas, sendo possível reduzir custos de produção e de mão-de-obra.

De acordo com Andrade (2000), a irrigação de espécies forrageiras deve ser a última etapa a ser cumprida num sistema de produção pecuário ou de agricultura-pecuária. Todos os demais cuidados relativos ao planejamento da propriedade, a genética animal, o manejo do rebanho, a recuperação e a adubação das pastagens já devem ter sido tomados.





                    Figura 1 - Comparação de custos de produção de tonelada de matéria seca
                    Fonte: Adaptado de Drumond; Aguiar (2005)
PRODUÇÃO DE PASTAGENS EM CONDIÇÕES IRRIGADAS
Aguiar; Silva (2002) mediram o acúmulo de forragem de uma pastagem de capim Braquiarão adubada e irrigada em condições de campo (Tabela 1), na Fazenda Santa Ofélia, localizada no município de Selvíria, MS. Observaram que a participação da forragem acumulada na estação de inverno foi 61% da acumulada na estação de verão. A média de lotação foi de 6,89 UA ha-1, muito superior à média brasileira.
Tabela 1 - Acúmulo de matéria seca (t ha-1) estacional, anual e taxa de lotação em uma pastagem de capim Braquiarão adubada e irrigada para o ano pastoril 2001/2002, Selvíria, MS.



                  Legenda: MS - Matéria Seca / UA - Unidade Animal
                  Fonte: AGUIAR; SILVA (2002).
Aguiar (2002) apresenta dados importantes dos potenciais de produção de leite em diferentes sistemas de produção na Austrália, de acordo com o nível tecnológico adotado (Tabela 2). O que chama a atenção nesses trabalhos realizados em outros países é que não é comum encontrar dados de irrigação de pastagens para bovinos de corte. Isso contraria a realidade atual no Brasil diante da grande adoção da irrigação de pastagens pelos pecuaristas de gado de corte, sendo a maioria dos dados disponíveis para os sistemas de produção de fazendas.
Tabela 2 - Capacidade de carga e produção por hectare de vários pastos sem suplementação na Austrália.



                    Fonte: AGUIAR; SILVA (2002).
Aguiar (2002) cita que em outro experimento realizado na Fazenda Escola da Fazu em Uberaba, com capim Tifton 85, ocorreu diferença significativa entre os tratamentos irrigado e sequeiro ao longo de um ano, exceto no inverno. A diferença foi devido a maior produção de forragem nas estações de primavera, verão e outono, quando as condições climáticas permitiram uma resposta da planta à irrigação. Entretanto, quando ocorreu redução da temperatura, ou seja, no inverno, não houve diferença entre os tratamentos irrigado e sequeiro (Tabela 3).
Tabela 3 - Massa de forragem (kg de MS ha-1) em pastagem irrigada e pastagem não irrigada de Tifton 85, submetido a manejo intensivo do pastejo, Uberaba, MG.



             Fonte: AGUIAR; SILVA (2002).
SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO PARA PASTAGEM
A maioria dos sistemas de irrigação disponíveis poderia ser utilizada para irrigar espécies forrageiras. Porém, na prática, vários fatores limitam esta generalização, como custos de investimento e operação do sistema, disponibilidade de mão de obra para operação, topografia, solo, clima, espécie forrageira, presença do animal e questão cultural. No Brasil, a maioria dos projetos de irrigação de pastagem está sendo realizada por aspersão, com o uso de pivô central, aspersão em malha e, em menor escala, aspersão convencional com canhão e autopropelido.
Aspersão em malha
Tem como características principais a utilização de tubos de PVC de baixo diâmetro, que constituem as linhas laterais que, ao contrário da aspersão convencional, são interligadas em malha; baixo consumo de energia; adaptação a qualquer tipo de terreno; possibilidade de divisão da área em várias subáreas; facilidade de operação e manutenção; possibilidade de fertirrigação e baixo custo de instalação (entre R$ 3.000,00 a R$ 4.000,00) e manutenção, conforme Figuras 2 e 3 (DRUMOND; FERNANDES, 2001).



                       Figura 2 - Aspersão em malha com aspersor pequeno



                       Figura 3 - Aspersão em malha com mini-canhão
Nas Figuras 4 e 5 podem ser vistos exemplos de pastagem com irrigação:



                       Figura 4



                       Figura 5
Pivô central
É o equipamento mais utilizado na irrigação de pastagem, devido às facilidades de instalação, manejo e fertirrigação. Além disso, este sistema permitiu a automação de todo o processo. Tem custo de instalação de R$ 4.000,00 a R$ 5.000,00.

A divisão da área em piquetes tem sido realizada de formas diferentes. Algumas favorecem o manejo da pastagem e dos animais e outras favorecem o manejo da irrigação e da fertirrigação. 
É realmente difícil encontrar uma maneira que favoreça as duas situações. A mais utilizada é a forma de “pizza” (Figura 6), pois dentre outras coisas, favorece em muito o processo de fertirrigação.  A área de lazer pode ser feita no centro ou na periferia do Pivô. Quando instalada no centro, têm-se observado problemas de compactação na região de estreitamento e formação de grande quantidade de lama na ocasião de uma chuva. A vantagem é a facilidade construção, manejo, distribuição de bebedouros e cochos de sal mineral, conforme Figuras 6 e 7 (DRUMOND; AGUIAR, 2005). 



                    Figura 6 - Divisão em pizza, com área de lazer no centro do Pivô (Fonte Valley).


                          Figura 7 - Exemplo de pastagem irrigada com pivô central.
CONCLUSÕES
A técnica de irrigar pastagens possibilita uma melhoria na qualidade da forragem e um aumento significativo na produção de matéria seca por área, com consequente acréscimo na taxa de lotação (UA/ha), proporcionando a obtenção de índices satisfatórios de lucratividade, tornando a atividade altamente competitiva no agronegócio nacional.

A distribuição de água de maneira artificial em pastagens por meio de irrigação é a garantia para se produzir como planejado, sem que a falta de chuvas altere os índices de produtividade e de rentabilidade previamente estabelecidos. Entretanto, a utilização dessa tecnologia para exploração de pastagens no Brasil ainda é bastante empírica, sendo às vezes até casual, como o surgimento de projetos na região Centro-Oeste, em decorrência do fracasso de outras explorações agrícolas, como soja, milho, feijão ou tomate. Nesses casos, a opção pela pecuária ocorreu pela busca de alternativas de uso do equipamento de irrigação, normalmente pivô central (Rentero, 1998). Esse fato se deve, basicamente, aos trabalhos sobre irrigação de pastagens desenvolvidos entre 1966 e 1978, que expressavam aumentos de produção entre 20 e 70% ao se utilizar irrigação por 150 dias nas estações de outono e inverno.
Quando comparadas com a produção total do ano, as produções da safra (primavera e verão) e da entressafra (outono e inverno) não se equilibravam, não solucionando um dos maiores problemas da bovinocultura no Brasil, que é a estacionalidade de produção dos pastos. Porém, a partir da década de 80, os trabalhos passaram a comparar as produções de entressafra com as da safra, mudando os valores e os números quanto à técnica de irrigação em pastagens. Em Minas Gerais (Coronel Pacheco), a irrigação de 11 espécies forrageiras promoveu produção na entressafra de 30% da produção anual (5,6 e 18,3 t MS/ha), mas de 44% quando relacionada com a da safra (5,6 e 12,7 t MS/ha) (Alvim et al., 1986). No triângulo mineiro (Uberlândia), a irrigação do capim-tanzânia evidenciou acúmulo de forragem na entressafra de 57% do acúmulo da safra (Benedetti et al., 2000). Na região central do Estado de São Paulo (São Carlos), a produção de forragem na entressafra correspondeu a 53 e 68% da produção da safra, para o capim-tanzânia e o capim-elefante, respectivamente, com aplicação de água de maneira complementar por irrigação, podendo-se diminuir a produção de alimentos de entressafra para os animais, como silagem de milho e de capim, fenos, cana-de-açúcar, aveia e outros (Rassini, 2002a).
Deve-se salientar contudo, que a irrigação é uma tecnologia agrícola final, ou seja, o pecuarista que pretende utilizá-la deve também, ser um bom agricultor. Antes de irrigar o pasto, deve aplicar tecnologias que promovam altas produções de forragem, como preparo do solo, correção da fertilidade do solo com base em análise química, escolha da melhor espécie e cultivar, semeadura em nível a fim de evitar erosões, adubações de manutenção e cobertura para as plantas, e combate a pragas e doenças, especialmente formigas no caso de pastagens.
O manejo da irrigação é um recurso para racionalizar a aplicação de água às culturas de maneira complementar. Requer certos procedimentos para determinar o turno de rega (freqüência), bem como medir a quantidade de água da próxima irrigação (lâmina de água). No Brasil, as dificuldades para utilizar as inúmeras fórmulas para determinar a perda de água das plantas por evapotranspiração, por meio de vários métodos (balanço de água, empíricos de Thorntwaite e Blaney-Criddle e outros), têm levado os irrigantes a fazer o manejo de água com o maior erro do ponto de vista técnico, econômico e ecológico, que é o predeterminado, ou seja, a aplicação de 5, 8, 11, 12, 15 ou "n" mm de água (lâmina de água), a cada 3, 5, 6, 7, 8 ou "n" dias sem chuvas (freqüência).
Para evitar essa prática, foi desenvolvido o método EPS (Evaporação, Precipitação, Solo) para se manejar a água de irrigação, em vista de sua praticabilidade e, principalmente, facilidade de uso. Apesar de empírico, como os demais, envolve apenas dois parâmetros climáticos, mas que respondem por mais de 90% da demanda hídrica das plantas: evaporação e precipitação pluvial. Nesse manejo da água de irrigação, quando a diferença entre a evaporação do tanque do tipo classe A (ECA) e a precipitação pluvial (PRP), durante o desenvolvimento da pastagem, atingir valor de 25 a 30 mm (ECA – PRP = 25 a 30 mm), deve-se aplicar água de maneira complementar às plantas forrageiras, determinando-se a freqüência de irrigação. Para Latossolos de textura média, a quantidade de água a ser aplicada deve ser de 16 a 21 mm nos primeiros 20 cm de profundidade, que é a capacidade de armazenamento de água desses solos, determinando-se a lâmina de água. Deve-se ressaltar que os Latossolos de textura média compõem grande parte dos solos brasileiros (Rassini, 2002 b).
No Brasil, o uso da água foi institucionalizado pela lei Federal 9984/00, criando-se a Agência Nacional das Águas (ANA), cuja missão é implementar políticas, bem como criar resoluções sobre o gerenciamento dos recursos hídricos. Dentre essas, o aproveitamento da água para irrigação, quando essa atividade gerar concorrência entre os usuários, ou mesmo cause impactos ambientais, torna-se necessário a emissão de "outorga". A outorga, nada mais é do que o instrumento necessário para assegurar ao usuário o efetivo direito de acesso à água, bem como realizar os controles quantitativo e qualitativo dos recursos hídricos. A ANA é a responsável pela análise dos pleitos e da emissão de outorgas de direito de uso de recursos hídricos de domínio da União (rios ou lagos que banham mais de uma unidade federada, ou que sirvam de fronteira entre essas unidades, ou de fronteira entre o território do Brasil e o de um país vizinho). Em corpos hídricos de domínio dos Estados e do Distrito Federal, a solicitação de outorga deve ser feita às respectivas autoridades outorgantes estaduais. Atualmente, 20 unidades da Federação possuem legislações sobre recursos hídricos.
De acordo com a cobertura vegetal da superfície do solo pelas pastagens, recomenda-se utilizar a irrigação por aspersão. É um sistema, basicamente composto por tubulações, aspersores e conjunto motobomba, para captar água de determinada fonte (rios, lagos, represas e outras) e conduzi-la até as plantas. É mais indicado para solos de boa infiltração (franco-arenosos), que requerem irrigações mais constantes e em menor quantidade, a fim de não exceder a capacidade de armazenamento de água (Figura 8.1).
Figura 8.1. Modelo esquemático de diversos sistemas de irrigação por aspersão utilizados no Brasil.
Os sistemas por aspersão mais utilizados no Brasil são os convencionais (primeiro a ser utilizado e ainda o mais empregado) e os não-convencionais (utilizados em situações especiais de solo, topografia, tamanho da área e outros).
Na aspersão convencional, aplica-se a água à cultura por meio de aspersores instalados ao longo de uma tubulação. É portátil, quando as tubulações de distribuição e as linhas laterais são transportadas para várias posições na área irrigada. É fixa, quando as tubulações de distribuição e as linhas laterais cobrem toda área irrigada.
Atualmente, especificamente para pastagens, foi desenvolvido um sistema de aspersão em malha, em que os pontos de subida da água são distribuídos geometricamente em toda área, interligados pela tubulação (Drumond, 2002). É um sistema fixo, em que se mudam de lugar apenas os aspersores. As tubulações são fixas a 30 – 50 cm abaixo da superfície do solo e os pontos de subida são também de tubos de PVC tipo "caps". A linha lateral é constituída de tubos com 25 mm de diâmetro, enquanto que a linha principal é de tubos de 50 mm de diâmetro Por se tratar de material de baixo custo (baixa pressão), estima-se que, para 10 hectares, o custo desse sistema atinja aproximadamente R$ 1.500,00.
Os sistemas não-convencionais são empregados em condições especiais e dependem da capacidade de investimento do produtor. Nesse grupo, destacam-se o canhão hidráulico e o pivô central. O canhão hidráulico é um equipamento de irrigação normalmente utilizado de forma portátil, instalado sobre linhas laterais, funcionando com pressões que variam entre 40 metros de coluna de água (mca) a 100 mca, cujo raio de ação está entre 30 e 100 metros. Já o pivô central, fundamentalmente, é constituído de uma tubulação metálica que se apoia em várias torres triangulares (o número de torres depende do tamanho da área), em que são instalados os aspersores, promovendo irrigação uniforme em uma área de superfície circular. Essa tubulação recebe água de uma adutora subterrânea, que vai até o "ponto pivô" (dispositivo central), de onde o sistema se move continuamente por dispositivos elétricos ou hidráulicos instalados nas torres. Como salientado anteriormente, esses sistemas não-convencionais são de alto custo, variando de R$ 2.500,00 a R$ 4.000,00 por hectare.
No Estado de Goiás, foi desenvolvido um projeto de irrigação em pastagens para gado de corte, com área de 100 hectares, formada por Panicum maximum cvs. Tânzania e Mombaça, irrigada por um sistema pivô central com 11 torres, num raio irrigado de 564,19 metros. Nessas condições e durante 6 meses, foram terminados 1100 animais, ou seja, 11 animais por hectare. Na Tabela 8.1, encontram-se as variáveis de investimento, custo operacional e receita do referido projeto (Jacinto, 2001). Com base nesses resultados, observa-se que a irrigação em pastagens para gado de corte é uma técnica viável economicamente.