Para se alcançar maiores índices de produtividade, alguns produtores rurais buscam alternativas para incrementar a produção de carne e leite na propriedade e, consequentemente, aumentam os seus lucros gerados. Com a irrigação das pastagens, o manejo da bovinocultura de corte e leite torna-se mais simples do que em um sistema tradicional de pastejo rotacionado. Sem as flutuações na produção, devido a veranicos, o sistema torna-se mais estável, em regiões que não tem problemas de temperaturas e fotoperíodo. A irrigação e a fertirrigação em pastagem são técnicas cujas aplicações vêm crescendo no Brasil, possibilitando obter forrageiras de melhor valor nutricional e maiores índices de produção de matéria seca, além de favorecer o manejo racional do sistema de produção animal.
Segundo Dovrat (1993), em muitos países, técnicos e produtores inicialmente usaram a irrigação na tentativa de solucionar o problema da estacionalidade de produção das pastagens, que é determinada pelo déficit dos fatores temperatura, luminosidade e água. A irrigação da pastagem pode reduzir custos de produção e tempo de trabalho para alimentar o rebanho, comparada a outras alternativas de suplementação no outono-inverno, tais como a silagem e o feno, conforme Figura 1. Isso ocorre pela utilização de menor área, uso de água de baixa qualidade e possibilidade de prolongar o período de pastejo durante a estação seca.
Segundo Drumond, Aguiar (2005), em regiões onde a temperatura não é fator limitante, a irrigação pode ser uma alternativa para a produção intensiva de carne e leite em pequenas áreas, sendo possível reduzir custos de produção e de mão-de-obra.
De acordo com Andrade (2000), a irrigação de espécies forrageiras deve ser a última etapa a ser cumprida num sistema de produção pecuário ou de agricultura-pecuária. Todos os demais cuidados relativos ao planejamento da propriedade, a genética animal, o manejo do rebanho, a recuperação e a adubação das pastagens já devem ter sido tomados.
Figura 1 - Comparação de custos de produção de tonelada de matéria seca
Fonte: Adaptado de Drumond; Aguiar (2005)
Fonte: Adaptado de Drumond; Aguiar (2005)
PRODUÇÃO DE PASTAGENS EM CONDIÇÕES IRRIGADAS
Aguiar; Silva (2002) mediram o acúmulo de forragem de uma pastagem de capim Braquiarão adubada e irrigada em condições de campo (Tabela 1), na Fazenda Santa Ofélia, localizada no município de Selvíria, MS. Observaram que a participação da forragem acumulada na estação de inverno foi 61% da acumulada na estação de verão. A média de lotação foi de 6,89 UA ha-1, muito superior à média brasileira.
Tabela 1 - Acúmulo de matéria seca (t ha-1) estacional, anual e taxa de lotação em uma pastagem de capim Braquiarão adubada e irrigada para o ano pastoril 2001/2002, Selvíria, MS.
Aguiar (2002) apresenta dados importantes dos potenciais de produção de leite em diferentes sistemas de produção na Austrália, de acordo com o nível tecnológico adotado (Tabela 2). O que chama a atenção nesses trabalhos realizados em outros países é que não é comum encontrar dados de irrigação de pastagens para bovinos de corte. Isso contraria a realidade atual no Brasil diante da grande adoção da irrigação de pastagens pelos pecuaristas de gado de corte, sendo a maioria dos dados disponíveis para os sistemas de produção de fazendas.
Tabela 2 - Capacidade de carga e produção por hectare de vários pastos sem suplementação na Austrália.
Fonte: AGUIAR; SILVA (2002).
Aguiar (2002) cita que em outro experimento realizado na Fazenda Escola da Fazu em Uberaba, com capim Tifton 85, ocorreu diferença significativa entre os tratamentos irrigado e sequeiro ao longo de um ano, exceto no inverno. A diferença foi devido a maior produção de forragem nas estações de primavera, verão e outono, quando as condições climáticas permitiram uma resposta da planta à irrigação. Entretanto, quando ocorreu redução da temperatura, ou seja, no inverno, não houve diferença entre os tratamentos irrigado e sequeiro (Tabela 3).
Tabela 3 - Massa de forragem (kg de MS ha-1) em pastagem irrigada e pastagem não irrigada de Tifton 85, submetido a manejo intensivo do pastejo, Uberaba, MG.
Fonte: AGUIAR; SILVA (2002).
SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO PARA PASTAGEM
A maioria dos sistemas de irrigação disponíveis poderia ser utilizada para irrigar espécies forrageiras. Porém, na prática, vários fatores limitam esta generalização, como custos de investimento e operação do sistema, disponibilidade de mão de obra para operação, topografia, solo, clima, espécie forrageira, presença do animal e questão cultural. No Brasil, a maioria dos projetos de irrigação de pastagem está sendo realizada por aspersão, com o uso de pivô central, aspersão em malha e, em menor escala, aspersão convencional com canhão e autopropelido.
Aspersão em malha
Tem como características principais a utilização de tubos de PVC de baixo diâmetro, que constituem as linhas laterais que, ao contrário da aspersão convencional, são interligadas em malha; baixo consumo de energia; adaptação a qualquer tipo de terreno; possibilidade de divisão da área em várias subáreas; facilidade de operação e manutenção; possibilidade de fertirrigação e baixo custo de instalação (entre R$ 3.000,00 a R$ 4.000,00) e manutenção, conforme Figuras 2 e 3 (DRUMOND; FERNANDES, 2001).
Figura 3 - Aspersão em malha com mini-canhão
Nas Figuras 4 e 5 podem ser vistos exemplos de pastagem com irrigação:
Nas Figuras 4 e 5 podem ser vistos exemplos de pastagem com irrigação:
Pivô central
É o equipamento mais utilizado na irrigação de pastagem, devido às facilidades de instalação, manejo e fertirrigação. Além disso, este sistema permitiu a automação de todo o processo. Tem custo de instalação de R$ 4.000,00 a R$ 5.000,00.
A divisão da área em piquetes tem sido realizada de formas diferentes. Algumas favorecem o manejo da pastagem e dos animais e outras favorecem o manejo da irrigação e da fertirrigação.
É realmente difícil encontrar uma maneira que favoreça as duas situações. A mais utilizada é a forma de “pizza” (Figura 6), pois dentre outras coisas, favorece em muito o processo de fertirrigação. A área de lazer pode ser feita no centro ou na periferia do Pivô. Quando instalada no centro, têm-se observado problemas de compactação na região de estreitamento e formação de grande quantidade de lama na ocasião de uma chuva. A vantagem é a facilidade construção, manejo, distribuição de bebedouros e cochos de sal mineral, conforme Figuras 6 e 7 (DRUMOND; AGUIAR, 2005).
Figura 6 - Divisão em pizza, com área de lazer no centro do Pivô (Fonte Valley).
É o equipamento mais utilizado na irrigação de pastagem, devido às facilidades de instalação, manejo e fertirrigação. Além disso, este sistema permitiu a automação de todo o processo. Tem custo de instalação de R$ 4.000,00 a R$ 5.000,00.
A divisão da área em piquetes tem sido realizada de formas diferentes. Algumas favorecem o manejo da pastagem e dos animais e outras favorecem o manejo da irrigação e da fertirrigação.
É realmente difícil encontrar uma maneira que favoreça as duas situações. A mais utilizada é a forma de “pizza” (Figura 6), pois dentre outras coisas, favorece em muito o processo de fertirrigação. A área de lazer pode ser feita no centro ou na periferia do Pivô. Quando instalada no centro, têm-se observado problemas de compactação na região de estreitamento e formação de grande quantidade de lama na ocasião de uma chuva. A vantagem é a facilidade construção, manejo, distribuição de bebedouros e cochos de sal mineral, conforme Figuras 6 e 7 (DRUMOND; AGUIAR, 2005).
A técnica de irrigar pastagens possibilita uma melhoria na qualidade da forragem e um aumento significativo na produção de matéria seca por área, com consequente acréscimo na taxa de lotação (UA/ha), proporcionando a obtenção de índices satisfatórios de lucratividade, tornando a atividade altamente competitiva no agronegócio nacional.
A distribuição de água de maneira artificial em pastagens por meio de irrigação é a garantia para se produzir como planejado, sem que a falta de chuvas altere os índices de produtividade e de rentabilidade previamente estabelecidos. Entretanto, a utilização dessa tecnologia para exploração de pastagens no Brasil ainda é bastante empírica, sendo às vezes até casual, como o surgimento de projetos na região Centro-Oeste, em decorrência do fracasso de outras explorações agrícolas, como soja, milho, feijão ou tomate. Nesses casos, a opção pela pecuária ocorreu pela busca de alternativas de uso do equipamento de irrigação, normalmente pivô central (Rentero, 1998). Esse fato se deve, basicamente, aos trabalhos sobre irrigação de pastagens desenvolvidos entre 1966 e 1978, que expressavam aumentos de produção entre 20 e 70% ao se utilizar irrigação por 150 dias nas estações de outono e inverno.
Quando comparadas com a produção total do ano, as produções da safra (primavera e verão) e da entressafra (outono e inverno) não se equilibravam, não solucionando um dos maiores problemas da bovinocultura no Brasil, que é a estacionalidade de produção dos pastos. Porém, a partir da década de 80, os trabalhos passaram a comparar as produções de entressafra com as da safra, mudando os valores e os números quanto à técnica de irrigação em pastagens. Em Minas Gerais (Coronel Pacheco), a irrigação de 11 espécies forrageiras promoveu produção na entressafra de 30% da produção anual (5,6 e 18,3 t MS/ha), mas de 44% quando relacionada com a da safra (5,6 e 12,7 t MS/ha) (Alvim et al., 1986). No triângulo mineiro (Uberlândia), a irrigação do capim-tanzânia evidenciou acúmulo de forragem na entressafra de 57% do acúmulo da safra (Benedetti et al., 2000). Na região central do Estado de São Paulo (São Carlos), a produção de forragem na entressafra correspondeu a 53 e 68% da produção da safra, para o capim-tanzânia e o capim-elefante, respectivamente, com aplicação de água de maneira complementar por irrigação, podendo-se diminuir a produção de alimentos de entressafra para os animais, como silagem de milho e de capim, fenos, cana-de-açúcar, aveia e outros (Rassini, 2002a).
Deve-se salientar contudo, que a irrigação é uma tecnologia agrícola final, ou seja, o pecuarista que pretende utilizá-la deve também, ser um bom agricultor. Antes de irrigar o pasto, deve aplicar tecnologias que promovam altas produções de forragem, como preparo do solo, correção da fertilidade do solo com base em análise química, escolha da melhor espécie e cultivar, semeadura em nível a fim de evitar erosões, adubações de manutenção e cobertura para as plantas, e combate a pragas e doenças, especialmente formigas no caso de pastagens.
O manejo da irrigação é um recurso para racionalizar a aplicação de água às culturas de maneira complementar. Requer certos procedimentos para determinar o turno de rega (freqüência), bem como medir a quantidade de água da próxima irrigação (lâmina de água). No Brasil, as dificuldades para utilizar as inúmeras fórmulas para determinar a perda de água das plantas por evapotranspiração, por meio de vários métodos (balanço de água, empíricos de Thorntwaite e Blaney-Criddle e outros), têm levado os irrigantes a fazer o manejo de água com o maior erro do ponto de vista técnico, econômico e ecológico, que é o predeterminado, ou seja, a aplicação de 5, 8, 11, 12, 15 ou "n" mm de água (lâmina de água), a cada 3, 5, 6, 7, 8 ou "n" dias sem chuvas (freqüência).
Para evitar essa prática, foi desenvolvido o método EPS (Evaporação, Precipitação, Solo) para se manejar a água de irrigação, em vista de sua praticabilidade e, principalmente, facilidade de uso. Apesar de empírico, como os demais, envolve apenas dois parâmetros climáticos, mas que respondem por mais de 90% da demanda hídrica das plantas: evaporação e precipitação pluvial. Nesse manejo da água de irrigação, quando a diferença entre a evaporação do tanque do tipo classe A (ECA) e a precipitação pluvial (PRP), durante o desenvolvimento da pastagem, atingir valor de 25 a 30 mm (ECA – PRP = 25 a 30 mm), deve-se aplicar água de maneira complementar às plantas forrageiras, determinando-se a freqüência de irrigação. Para Latossolos de textura média, a quantidade de água a ser aplicada deve ser de 16 a 21 mm nos primeiros 20 cm de profundidade, que é a capacidade de armazenamento de água desses solos, determinando-se a lâmina de água. Deve-se ressaltar que os Latossolos de textura média compõem grande parte dos solos brasileiros (Rassini, 2002 b).
No Brasil, o uso da água foi institucionalizado pela lei Federal 9984/00, criando-se a Agência Nacional das Águas (ANA), cuja missão é implementar políticas, bem como criar resoluções sobre o gerenciamento dos recursos hídricos. Dentre essas, o aproveitamento da água para irrigação, quando essa atividade gerar concorrência entre os usuários, ou mesmo cause impactos ambientais, torna-se necessário a emissão de "outorga". A outorga, nada mais é do que o instrumento necessário para assegurar ao usuário o efetivo direito de acesso à água, bem como realizar os controles quantitativo e qualitativo dos recursos hídricos. A ANA é a responsável pela análise dos pleitos e da emissão de outorgas de direito de uso de recursos hídricos de domínio da União (rios ou lagos que banham mais de uma unidade federada, ou que sirvam de fronteira entre essas unidades, ou de fronteira entre o território do Brasil e o de um país vizinho). Em corpos hídricos de domínio dos Estados e do Distrito Federal, a solicitação de outorga deve ser feita às respectivas autoridades outorgantes estaduais. Atualmente, 20 unidades da Federação possuem legislações sobre recursos hídricos.
De acordo com a cobertura vegetal da superfície do solo pelas pastagens, recomenda-se utilizar a irrigação por aspersão. É um sistema, basicamente composto por tubulações, aspersores e conjunto motobomba, para captar água de determinada fonte (rios, lagos, represas e outras) e conduzi-la até as plantas. É mais indicado para solos de boa infiltração (franco-arenosos), que requerem irrigações mais constantes e em menor quantidade, a fim de não exceder a capacidade de armazenamento de água (Figura 8.1).
Figura 8.1. Modelo esquemático de diversos sistemas de irrigação por aspersão utilizados no Brasil.
Os sistemas por aspersão mais utilizados no Brasil são os convencionais (primeiro a ser utilizado e ainda o mais empregado) e os não-convencionais (utilizados em situações especiais de solo, topografia, tamanho da área e outros).
Na aspersão convencional, aplica-se a água à cultura por meio de aspersores instalados ao longo de uma tubulação. É portátil, quando as tubulações de distribuição e as linhas laterais são transportadas para várias posições na área irrigada. É fixa, quando as tubulações de distribuição e as linhas laterais cobrem toda área irrigada.
Atualmente, especificamente para pastagens, foi desenvolvido um sistema de aspersão em malha, em que os pontos de subida da água são distribuídos geometricamente em toda área, interligados pela tubulação (Drumond, 2002). É um sistema fixo, em que se mudam de lugar apenas os aspersores. As tubulações são fixas a 30 – 50 cm abaixo da superfície do solo e os pontos de subida são também de tubos de PVC tipo "caps". A linha lateral é constituída de tubos com 25 mm de diâmetro, enquanto que a linha principal é de tubos de 50 mm de diâmetro Por se tratar de material de baixo custo (baixa pressão), estima-se que, para 10 hectares, o custo desse sistema atinja aproximadamente R$ 1.500,00.
Os sistemas não-convencionais são empregados em condições especiais e dependem da capacidade de investimento do produtor. Nesse grupo, destacam-se o canhão hidráulico e o pivô central. O canhão hidráulico é um equipamento de irrigação normalmente utilizado de forma portátil, instalado sobre linhas laterais, funcionando com pressões que variam entre 40 metros de coluna de água (mca) a 100 mca, cujo raio de ação está entre 30 e 100 metros. Já o pivô central, fundamentalmente, é constituído de uma tubulação metálica que se apoia em várias torres triangulares (o número de torres depende do tamanho da área), em que são instalados os aspersores, promovendo irrigação uniforme em uma área de superfície circular. Essa tubulação recebe água de uma adutora subterrânea, que vai até o "ponto pivô" (dispositivo central), de onde o sistema se move continuamente por dispositivos elétricos ou hidráulicos instalados nas torres. Como salientado anteriormente, esses sistemas não-convencionais são de alto custo, variando de R$ 2.500,00 a R$ 4.000,00 por hectare.
No Estado de Goiás, foi desenvolvido um projeto de irrigação em pastagens para gado de corte, com área de 100 hectares, formada por Panicum maximum cvs. Tânzania e Mombaça, irrigada por um sistema pivô central com 11 torres, num raio irrigado de 564,19 metros. Nessas condições e durante 6 meses, foram terminados 1100 animais, ou seja, 11 animais por hectare. Na Tabela 8.1, encontram-se as variáveis de investimento, custo operacional e receita do referido projeto (Jacinto, 2001). Com base nesses resultados, observa-se que a irrigação em pastagens para gado de corte é uma técnica viável economicamente.
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