14 de jan. de 2017

Aspectos Agro e Zooecológicos em Bovinos de Leite



A região de São Carlos caracteriza-se, principalmente, pela existência de grandes áreas com topografia suavemente ondulada (4 a 10% de declividade), solos ácidos e de baixa fertilidade natural, do tipo Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico, de textura média (25 a 30% de argila). Nessa região, a vegetação era constituída originalmente por espécies de Cerrados e de Mata Atlântica. Com o desmatamento ao longo de dezenas de anos, essa região sofreu alterações substanciais, com a substituição das matas por pastagens e culturas anuais e perenes.
Geograficamente, o Sistema Intensivo de Produção de Leite da Embrapa Pecuária Sudeste está localizado na Fazenda Canchim, em São Carlos - SP, cujas coordenadas são 22º 01’ de latitude sul e 47º 53’ de longitude a oeste de Greenwich, numa altitude de 856 metros (sede da fazenda). A média anual da precipitação pluvial é de 1.590 mm, apresentando um período mais seco de maio a outubro, com média de precipitação de  374 mm, e um período mais chuvoso, de novembro a abril, com média de precipitação de 1.216 mm. A média da temperatura anual é de 20,1º C e a média dos meses mais quentes (janeiro a março) de  22,6º C e a média dos meses mais frios (junho a agosto) de 18,6º C. A média da umidade relativa é de 73%.
O verão é quente e muito úmido (77,2% de umidade relativa), enquanto o inverno (junho a setembro) é frio e seco (65,9%). Essa baixa distribuição de chuvas durante esse período do ano, aliada às baixas temperaturas e baixa luminosidade, reduzem drasticamente a taxa fotossintética das culturas, diminuindo a produção de matéria seca e, conseqüentemente, afetam a estabilidade da produção de leite. A redução na produção de matéria seca obriga o produtor a utilizar suplementação volumosa nesse período.
As condições ambientais exercem fortes influências nos bovinos (na verdade, em todos os seres vivos). Diretamente afetam as funções orgânicas envolvidas na manutenção do equilíbrio interno do organismo (homeostasia). A influência indireta se dá na qualidade e quantidade de volumoso, no favorecimento ou não de doenças infecto-contagiosas, na ocorrência de endo e ectoparasitas etc. Os principais componentes do meio ambiente que afetam os bovinos são: clima (temperatura do ar, umidade relativa do ar, radiação solar, ventos), solo (fertilidade, topografia), luminosidade, precipitação.


As raças de origem européia (Bos taurus) foram selecionadas ao longo de centenas de anos para viverem e produzirem leite e carne em condições de clima temperado, estando portanto bem adaptadas a tal ambiente. As condições mais adequadas para os bovinos de origem européia correspondem a temperatura média mensal inferior a 20º C em todos os meses e umidade relativa do ar variando entre 50 e 80%. A temperatura crítica, sob a qual caem o consumo de alimentos e a produção de leite, está entre 24 e 26º C para a raça Holandesa, entre 27 e 29º C para a Jersey e acima de 29,5º C para a Pardo-Suíça. A zona de conforto térmico está entre -1º C e 21º C, com poucas variações conforme a raça européia, para animais adultos.

Solos
A região caracteriza-se, principalmente, pela existência de grandes áreas com topografias acidentada, solos ácidos e de baixa fertilidade natural, que se estende por toda a Zona da Mata de Minas Gerais. Nessa região, a vegetação era constituída originalmente por espécies da Mata Atlântica. Com o desmatamento ao longo de dezenas de anos, essa região sofreu alterações substânciais, com a substituição das matas por pastagens, principalmente capim-gordura (Melinis minutiflora Beauv.), que ainda hoje constitui boa parte da cobertura vegetal dos morros, nesta região
As áreas montanhosas desta região representam cerca de 70% de toda a paisagem, sendo predominantemente formada por podzólicos e latossolos. Os podzólicos em geral são de fertilidade elevada, enquanto os latossolos, em sua quase totalidade, são álicos e distróficos. As áreas de baixadas são ocupadas por solos aluviais eutróficos. A proporção de áreas planas é inferior a 20%, normalmente baixadas às margens dos cursos d’água ou fundo dos vales

Clima
Geograficamente, o sistema está localizado em Coronel Pacheco – MG, cujas coordenadas são 21º 33’ 22” de latitude sul e 43º 06’ 15” de longitude WGr, numa altitude de 414 metros. A precipitação média anual é de 1.600 mm aproximadamente, apresentando um período mais seco de maio a outubro, com precipitação média de  350 mm, e um período mais chuvoso, de novembro a abril, com precipitação média de 1.250 mm. A temperatura média anual é de 22,5º C e a média dos meses mais quentes (dezembro a março) de  25º C e a média dos meses mais frios (junho a agosto) de 19,5º C. A umidade relativa média é em torno de 77%.
Em linguagem bem simples, o verão é quente e muito úmido, enquanto o inverno (maio a setembro) é frio e seco. Essa baixa distribuição de chuvas durante esse período do ano, aliada às baixas temperaturas e baixa luminosidade, reduzem drasticamente a taxa fotossintética das culturas, diminuindo a produção de matéria seca e, conseqüentemente, afetam a estabilidade da produção de leite. Essa redução na produção de matéria seca obriga o produtor a utilizar suplementação volumosa nesse período, o que onera o custo de produção de leite.

Exigências Ecológicas
As condições ambientais exercem fortes influencias nos bovinos (na verdade, em todos os seres vivos). Diretamente afetam as funções orgânicas envolvidas na manutenção do equilíbrio interno do organismo (homeostasia). A influência indireta se dá na qualidade e quantidade de volumoso, no favorecimento ou não de doenças infecto-contagiosas, na ocorrência do endo e ectoparasitas etc.
Os principais componentes do meio ambiente que afetam os bovinos são: clima (temperatura do ar, umidade relativa do ar, radiação solar, ventos), solo (fertilidade, topografia), luminosidade, precipitação. Estes fatores agem isoladamente ou em conjunto e interferem na ocorrência de doenças e de ecto e endoparasitas, na alimentação, produção, reprodução, longevidade e conforto térmico dos bovinos.
As condições mais adequadas para os bovinos de origem européia correspondem à temperatura média mensal inferior  a 20º C em todos os meses e umidade relativa do ar variando entre 50 e 80 %.  A temperatura critica sob a qual cai o consumo de alimentos e a produção de leite, está entre 24 e 26º C para a raça Holandesa, entre 27 e 29º C para Jersey e acima de 29,5º C para a Suiça-Parda. A zona de conforto térmico está entre -1º C e 21º C, com poucas variações conforme a raça européia, para animais adultos.
Já as raças zebuínas (Bos indicus) foram selecionadas naturalmente para as condições de ambiente tropical da India - Clima mais quente e até árido. A raça Gir é originária da região ao sul da península de Kathiawar, na costa ocidental da India, sob o Trópico de Câncer, em ambiente quente e seco. A raça Guzerá é originária da região norte de Gujarat, território vizinho ao do Gir. A região tem clima muito quente, quase inóspito.   
A temperatura  que limita o conforto térmico dos zebuínos é de 10º C a 32º C, com temperatura crítica máxima de 35º C e mínima de 0º C.
Não existem muitos dados de pesquisa para as raças mestiças Europeu x Zebú. Mas é bem aceito pelos especialistas que os mestiços tem tolerância ao calor intermediária entre as raças parentais. Alguns autores indicam que a zona de  conforto térmico está limitada pela temperatura ambiente mínima de 5º C  e máxima de 31º C.

Arborização de pastagens
A arborização de pastagens é uma modalidade de SSP que prioriza o produto animal. Esses sistemas são também conhecidos como sistemas agroflorestais pecuários e se caracterizam por integrar componentes lenhosos (árvores e arbustos), herbáceos (gramíneas e leguminosas) e animais herbívoros.
a - Conseqüências benéficas para as pastagens
A inclusão de árvores e arbustos em pastagens de gramíneas pode acarretar vários efeitos benéficos para o ecossistema, em alguns casos ocorrendo externalidades positivas que ultrapassam os limites da pastagem ou da propriedade. Entre esses efeitos destacam-se:
i)     Conforto para os animais;
ii)   Controle de erosão e melhoramento da fertilidade do solo;
iii) Melhor aproveitamento da água das chuvas;
iv) Aumento na disponibilidade de forragem em certas épocas do ano e maiores teores de proteína bruta na forragem sombreada;
v)   Incremento da rentabilidade da propriedade rural, com redução nos gastos com insumos, e algumas vezes, com a obtenção de pelo menos dois produtos comercializáveis (leite, carne, madeira, frutas etc.);
vi)  Aumento e conservação da biodiversidade;
vii)     Proteção dos mananciais de água.
Vários impactos positivos podem resultar da obtenção desses benefícios em diversas regiões do País, entre os quais se incluem: a) Em associação com outras práticas de manejo, contribuir para o uso sustentado de pastagens cultivadas evitando a sua degradação; b) Recuperação e desenvolvimento de pastagens e de áreas degradadas; c) Melhoramento das condições econômicas de produtores rurais; d) Preservação dos recursos naturais, contribuindo para valorização das propriedades rurais; e) Embelezamento da paisagem, contribuindo para desenvolver o turismo rural.
b - Efeitos da arborização sobre os animais a pasto
Além de contribuírem para atenuar as temperaturas extremas em pastagens, as árvores reduzem o impacto de chuvas e ventos, promovendo conforto e servindo de abrigo para os animais. Esses fatores de conforto se refletem também no desempenho produtivo e reprodutivo dos animais.
Em regiões quentes, a existência de sombra nas pastagens influencia positivamente os hábitos de pastejo dos animais (Daly, 1984), permitindo uma distri­buição mais apropriada da ruminação durante o dia e garantindo mais tempo de descanso. Em pastagens manejadas extensivamente, a presença de árvores distribuídas por toda a área deve contribuir para facilitar o acesso dos animais aos locais mais distantes da pastagem.
O estresse pelo calor afeta a fertilidade do rebanho, reduzindo a taxa de concepção e peso ao nascer dos bezerros (Daly, 1984). Sabe-se também que o sombreamento é fator de grande importância para a produtividade bovina, principalmente na pecuária de leite. Segundo Baccari (1998), a melhor sombra é aquela fornecida pelas árvores. O autor  recomenda que o sombreamento deve ser parte obrigatória em piquetes para vacas leiteiras, para que elas possam ser aliviadas da carga térmica radiante proveniente da radiação solar direta. 
c - Efeitos sobre as condições de solo
A conservação do solo em pastagens depende da manutenção de adequada cobertura vegetal. Quando essa condição é observada, as pastagens são uma das formas mais eficientes de controle de erosão (Lombardi Neto, 1993). Em pastagens degradadas ou em início de degradação, a cobertura vegetal deficiente expõe o solo aos efeitos da erosão hídrica e eólica. As árvores mantidas ou introduzidas nas pastagens constituem um estrato adicional de vegetação e  podem exercer um importante papel na conservação do solo e no melhoramento da sua fertilidade.
d - Conservação do solo e da água
A parte aérea das árvores (copa e fuste) pode constituir-se em proteção física para a pastagem, reduzindo a velocidade dos ventos e o impacto da chuva sobre a superfície do solo. Uma das conseqüências do controle da erosão hídrica, é o aumento na infiltração de água no solo, com melhor aproveitamento da água das chuvas. Isso é facilitado pelo desenvolvimento do sistema radicular das árvores, que favorece as condições físicas do solo, melhorando sua estrutura, aumentando a porosidade e a capacidade de retenção de água (Hernandéz, 1998). De acordo com Dagang & Nair (2001), em condições de baixa disponibilidade de água no solo, as árvores podem bombear água de camadas mais profundas do solo e distribuí-la na superfície.

e - Melhoramento da fertilidade do solo
Diversas informações da literatura indicam enriquecimento do solo de pastagens em áreas sob a influência das copas de árvores. As árvores, principalmente as que possuem sistema radicular profundo, podem aproveitar nutrientes de camadas do solo que estão fora do alcance das raízes das plantas forrageiras, que são geralmente mais superficiais, tornando esses nutrientes disponíveis às forrageiras. Outro meio de enriquecimento do solo é a incorporação gradativa de nutrientes ao sistema solo/pastagem, por meio da biomassa das árvores (Ovalle & Avendaño, 1984; Nair, 1999). Esse efeito é maior no caso de legumino­sas arbóreas que possuem a capacidade de fixar o nitrogênio (N) do ar atmosférico.
Aumentos nos teores de fósforo (P), potássio (K) e outros nutrientes foram observados em amostras de solo coletadas sob copa de árvores em relação àquelas coletadas em áreas de pastagem sem árvores (Joffre et al., 1988; Velasco et al., 1999). A deposição gradual de biomassa no solo, sob a influência de árvores, aumenta também a matéria orgânica (MO) do solo (Ovalle & Avendaño, 1984; Mahecha et al., 1999). No Chile, Ovalle & Avendaño (1984) observaram que os teores de MO nos primeiros 5 cm do solo, coletado sob a copa da leguminosa Acacia caven, aumentou em 2,5 unidades percentuais quando o índice de recobrimento da pastagem nativa com essa espécie aumentou de 30 para 50%. No Vale do Cauca, Colômbia, Mahecha et al. (1999) estudaram o efeito de dois SSP (capim-estrela + leucena + algaroba e capim-estrela + algaroba) comparados com capim-estrela em monocultura, sobre algumas propriedades químicas do solo, e verificaram que nas profundidades de 0-10 e 10-20 cm, os teores de N e de MO foram menores no solo do capim-estrela em monocultura do que nos sistemas com leguminosas.
O efeito das árvores sobre a fertilidade do solo em pastagens é mais evidente em solos de baixa fertilidade do que em solos de fertilidade mediana a alta. Além disso, o efeito parece ser maior com espécies leguminosas do que com não-leguminosas. No Cerrado brasileiro, Oliveira et al. (2000) examinaram o efeito de árvores isoladas de baru (Dipterix alata) e de pequi (Caryocar brasiliense) sobre as características do solo sob pastagem de Brachiaria decumbens e observaram que a concentração de C orgânico foi maior sob as duas espécies arbóreas do que em área sem árvores, porém o Ca, Mg e K trocáveis foram mais altos apenas sob as árvores da leguminosa baru (Tabela 1).
Tabela 1 -  Características químicas de um solo de cerrado, na camada de 0-30 cm, em pastagem de B. decumbens, sob as copas de baru e pequi e a pleno sol. 
Características do solo
Em área aberta
Sob Pequi
Sob Baru
pH
4,95 a
4,95 a
5,20 a
Al (cmolc/dm3)
0,74 a
0,79 ab
0,51 a
C orgânico (mg/kg)
7,11 a
9,65 b
13,36 c
Ca (cmolc/dm3)
0,13 a
0,15 a
0,31 b
Mg (cmolc/dm3)
0,27 a
0,29 a
0,53 b
K (cmolc/dm3)
0,29 a
0,39 ab
0,68 b
 Fonte: Oliveira et al. (2000).
Na Tabela 2 podem ser observados os efeitos positivos de diferentes porcentagens de sombreamento sobre algumas características do solo, tendo como forrageira herbácea a Brachiaria decumbens.
Tabela 2 -  Efeito da densidade arbórea sobre as características do solo em pastagem de B. decumbens (amostras coletadas a duas profundidades).

Densidade arbórea(%)
pH em água
Ca
Mg
K
P
mg/dm3
MO
(%)
cmolc/dm3

------------------ 0-10 cm de profundidade -------------------
12
 4,6 a1
0,45 b
0,15 b
0,11 a
2,89 ab
2,48 a
22
 4,6 a
0,92 a
0,47 a
0,31 a
4,15 a
3,24 a
30
4,5 a
0,49 b
  0,35 ab
0,24 a
5,07 a
3,18 a








-------------------10-20 cm de profundidade -------------------
12
4,5 a
0,36 a
0,11 a
0,05 b
1,20 b
1,86 b
22
4,5 a
0,41 a
0,21 a
0,17 a
1,59 ab
2,32 a
30
4,4 a
0,25 a
0,11 a
  0,10 ab
1,97 a
2,19 a


Médias seguidas por letras diferentes na mesma coluna diferem    significativamente pelo teste   Newman-Keuls

 f - Efeitos sobre a disponibilidade de forragem e nutrientes
A redução na luminosidade normalmente diminui o crescimento das plantas, porém, no caso dos SSP, as mudanças que as árvores podem promover nas áreas de pastagem sob sua influência, principalmente na fertilidade do solo e nas condições microclimáticas, podem alterar as respostas esperadas.
Algumas das modificações microclimáticas mais importantes que as árvores promovem em áreas sob sua influência são: reduções na temperatura do ar e do solo, e manutenção de maior teor de umidade no solo. Essas alterações nas condições ambientais no solo e na interface solo/serrapilheira contribuem para incrementar as atividades biológicas do solo, e, como conseqüência, aumentar a mineralização de N em comparação com as áreas não-sombreadas da pastagem (Joffre et al., 1988; Hang et al., 1995; Wilson, 1996). Em sistemas silvipastoris naturais do Chaco árido argentino, Hang et al. (1995) verificaram que o N mineralizado, disponível e imobilizado na biomassa microbiana, foi mais alto sob as copas das árvores do que nos espaços abertos.
A temperatura ambiente nas áreas sombreadas das pastagens é geralmente mais amena em comparação com áreas à céu aberto. No entanto, o efeito do sombreamento sobre as temperaturas do solo é ainda mais marcante. Em área subtropical da Austrália, Wilson (1996) observou que as temperaturas máximas medidas no nível da serrapilheira de quatro gramíneas foram de 7-11,5°C mais baixas em áreas submetidas a sombreamento artificial (50%) do que nas áreas a pleno sol, onde em alguns casos as temperaturas atingiram valores superiores a 40°C. O sombreamento teve pouco efeito sobre as temperaturas mínimas durante o verão, porém essas foram elevadas no inverno.
Todos esses aspectos podem contribuir para minimizar o efeito prejudicial do sombreamento sobre a produtividade das pastagens, porém outros fatores, entre os quais as condições ambientais no ecossistema considerado e as características das espécies forrageiras herbáceas e das arbóreas, podem influenciar significativamente na resposta das pastagens ao sombreamento.



2 de jan. de 2017

Importância Econômica do Gado Leiteiro



Importância Econômica

O Brasil é o sexto maior produtor de leite do mundo e cresce a uma taxa anual de 4%, superior à de todos os países que ocupam os primeiros lugares. Respondemos por 66% do volume total de leite produzido nos países que compõem o Mercosul. Pelo faturamento de alguns produtos da indústria brasileira de alimentos na última década, pode-se avaliar a importância relativa do produto lácteo no contexto do agronegócio nacional, registrando 248% de aumento contra 78% de todos os segmentos.

Em 2001, o Valor Bruto da Produção Agropecuária foi de 91 bilhões de reais. Destes, aproximadamente 38 bilhões de reais são de produtos pecuários, tendo o leite posição de destaque, com o valor de 6,7 bilhões de reais, ou 17% do Valor Bruto da Produção Pecuária, superado apenas pelo Valor da Produção da carne bovina.

O leite está entre os seis primeiros produtos mais importantes da agropecuária brasileira, ficando à frente de produtos tradicionais como café beneficiado e arroz. O Agronegócio do leite e seus derivados desempenha um papel relevante no suprimento de alimentos e na geração de emprego e renda para a população. Para cada real de aumento na produção no sistema agroindustrial do leite, há um crescimento de, aproximadamente, cinco reais no aumento do Produto Interno Bruto – PIB, o que coloca o agronegócio do leite à frente de setores importantes como o da siderurgia e o da indústria têxtil.

Acrescentando-se a importância nutritiva do leite como alimento, estaremos diante de um dos produtos mais importantes da agropecuária brasileira. O leite é rico em uma grande quantidade de nutrientes essenciais ao crescimento e à manutenção de uma vida saudável. A indústria de laticínios tem potencializado o valor nutritivo do produto. Existe no mercado uma série de bebidas lácteas enriquecidas com vitaminas, minerais e ômegas, assim como leites especiais para as pessoas que não conseguem digerir a lactose.

Embora seja essencial para crianças até os 12 anos, é um erro pensar que o leite não é importante na fase adulta. Beber três copos por dia garante uma vida saudável na maturidade e ajuda a evitar problemas na terceira idade. Estudos provam que o seu consumo diário reduz a incidência de osteoporose. Além da sua importância nutritiva, o leite desempenha um relevante papel social, principalmente na geração de empregos. O País tem, hoje, acima de um milhão e cem mil propriedades que exploram leite, ocupando diretamente 3,6 milhões de pessoas. Para ter-se uma idéia mais objetiva do impacto deste setor na nossa economia, a elevação na demanda final por produtos lácteos em um milhão de reais gera 195 empregos permanentes. Este impacto supera o de setores tradicionalmente importantes como o automobilístico, o de construção civil, o siderúrgico e o têxtil. Numa análise retrospectiva, a produção brasileira de leite nos últimos 25 anos aumentou 150%. Passamos de 8 bilhões (1975) para 19,8 bilhões de litros (2000). A expectativa é de que se tenha produzido próximo a 21 bilhões de litros em 2001 (Gráfico 1).




Para esse significativo crescimento, não se deve desconsiderar a abertura de novas fronteiras, como a Região do Cerrado (especialmente Goiás) e as Regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba em Minas Gerais, além de outras regiões emergentes como Rondônia, Mato Grosso e sul do Pará. O ganho na produtividade também contribuiu para este aumento. No início da década de 1970, a produtividade do rebanho leiteiro nacional era inferior a 700 litros por vaca ordenhada por ano; um número que praticamente dobrou no final dos anos 90. Estes índices referem-se a dados agregados, provenientes de rebanhos leiteiros especializados e rebanhos de dupla-aptidão. Em bacias leiteiras tradicionais e propriedades com rebanhos especializados para leite, temos registros de produtividade anual cinco vezes superior à registrada 25 anos atrás.

É seguro afirmar que os ganhos de produtividade advêm, basicamente, da adoção de tecnologias que melhoram a eficiência do uso dos fatores de produção. Os melhoramentos na genética de nossos rebanhos leiteiros, na alimentação e na saúde animal, tiveram importantes participações nesta evolução. No melhoramento genético, houve nos últimos anos aumento da participação das raças européias na composição dos rebanhos, hoje predominantemente mestiço Holandês x Zebu, assim como uma extraordinária evolução no melhoramento do Zebu para leite, particularmente o Gir e o Guzerá.

Na alimentação, a revolução foi marcante. Nos últimos 25 anos, as áreas de pastagens cultivadas no Brasil aumentaram 151%. Estimativas mais recentes indicam que essas áreas atingiram 100 milhões de hectares no final da década de 1990.

A produção de leite tem perspectiva de continuar a crescer nos próximos anos, com condições reais de o País mudar o panorama de importador para exportador de produtos lácteos. Dentro do cenário mundial, o mercado brasileiro tem um potencial, como poucos, para tal. Esforços têm sido direcionados para impulsionar as vendas externas de lácteos, o que, associado ao crescimento da produção nos últimos anos, garante excedentes de oferta, refletindo diretamente na redução das importações de lácteos (Gráfico 2), estimada em 780 milhões de litros de leite, 44% inferior à inicialmente projetada para 2001, de 1,4 bilhão de litros de leite.




O agronegócio do leite ocupa posição de destaque na economia brasileira, sendo grandes as expectativas, nesta década, de continuarmos o crescimento da produção e da produtividade, com índices maiores do que aqueles que têm sido alcançados em anos recentes.

Para isso, a iniciativa privada e o governo precisam unir esforços para impulsionar as vendas externas de leite e derivados, criando um programa de incentivo às exportações, incluir o leite na Política de Garantia de Preços Mínimos, possibilitando a implementação de mecanismos de comercialização de produtos lácteos, criar um fundo para a promoção do consumo de leite e derivados no mercado doméstico, e incentivar o uso de leite nacional na merenda escolar, estimulando as compras nos estados e municípios.

Por outro lado, não há dúvidas de que a estabilidade de preço do leite é um dos principais objetivos do produtor e que a relação produtor e indústria leva a isso e, para garantir uma nova eqüidade, ou seja, processos capazes de equacionar desigualdades entre os segmentos do setor leiteiro, os contratos surgem como uma boa opção a curto prazo. 




17 de dez. de 2016

Mercados e comercialização do Gado de Corte



Mercados e comercialização

No Brasil, a pecuária bovina de corte possui longo ciclo de produção, variando de 5 a 7 anos, de acordo com o nível da tecnologia adotado.
De acordo com a maturação do seu produto final, a produção de gado de corte é dividida em diversas fases, que podem ou não estar integradas dentro da mesma propriedade rural. São as fases de cria, recria e engorda, todas elas desenvolvidas predominantemente em pastagens. A fase de cria concentra-se na produção de bezerros, mantidos ao pé da vaca até a desmama (7 a 9 meses), sendo extremamente importante, nesta fase, o manejo da reprodução e da alimentação. Esta fase representa o cerne da pecuária bovina e é a mais sensível à baixa produção de forragens, principalmente no inverno ou na seca, sendo responsável, quase integralmente, pelos baixos índices de produtividade do rebanho nacional. A fase de recria vai da desmama até a época de acasalamento das fêmeas e engorda dos machos, variando de 2 a 4 anos, dependendo da tecnologia adotada. A fase de engorda tem duração de aproximadamente 12 meses, sendo na sua quase totalidade realizada em pastagens, embora nos últimos dez anos tenha aumentado significativamente o número de animais confinados no País. De 1992 a 2001, o número de bovinos confinados aumentou de 825.000 animais (cerca de 0,5% do rebanho efetivo em 1992) para 1.868.000 animais (cerca de 1,1% do rebanho efetivo em 2001), representando aumento de 126,42% no período (Anualpec, 2002). De qualquer modo, em relação ao efetivo bovino brasileiro, o número de animais confinados é muito pequeno, caracterizando-se a produção em pastagens.

Abate e comercialização

A concentração geográfica, a proporção de machos e de fêmeas em oferta e as formas de compra e venda de animais são as principais características do abate e da comercialização no País. A maior concentração do abate e do comércio se dá no centro-sul brasileiro (cerca de 76% do total), sendo o maior mercado consumidor o Estado de São Paulo (Estado com maior rendaper capitado País), onde se encontra o maior número de estabelecimentos de abate do Brasil, muitos deles operando hoje com capacidade ociosa. Nas últimas décadas, têm se verificado deslocamentos de frigoríficos para as regiões de maior produção de gado de corte, caindo com isto a importância da capacidade instalada de abate do Estado de São Paulo, notabilizando-se hoje por concentrar mais estabelecimentos de desossa e de distribuição.
A taxa geral de abate no Brasil em 1992 foi de 19,6% e em 2001 de 22,6% (Anualpec, 2002).
Os preços são formados nas regiões de comercialização e as decisões dos produtores de compra e venda se baseiam nas cotações ali praticadas. No Estado de São Paulo, destacam-se as praças de Araçatuba, Marília, Bauru, São José do Rio Preto, Barretos e Presidente Prudente; no Estado de Mato Grosso do Sul, as praças de Três Lagoas e Campo Grande; no Estado do Mato Grosso, a praça de Barra do Garça; no Paraná, as praças de Londrina e Maringá; em Goiás, a praça de Goiânia; e em Minas Gerais, a praça de Uberaba.

Os preços do boi gordo nos Estados de maior importância na comercialização constam da 
Na Tabela 2.2, é mostrada a pequena variação real no preço da arroba do boi gordo nos diferentes Estados, sendo que o aumento real mais expressivo se deu no Rio Grande do Sul (13,46%) e o menor aumento na Bahia (2,72%). Com relação à variação real do preço da arroba em dólares, a maior redução se deu também na Bahia (26,61%) e a menor redução no Rio Grande do Sul (20,16%). Sob a ótica da oferta e da demanda, o aumento real do preço da arroba (R$) no Rio Grande do Sul reflete, num primeiro momento, maior demanda interna para o produto, pois esse Estado é tradicional consumidor de carne bovina, além de estar bem situado em termos de renda per capitafrente à maioria dos Estados brasileiros. Quanto à Bahia, a situação se inverte, principalmente pela má distribuição de renda, reprimindo a demanda. Contudo, em termos gerais, os aumentos reais no preço do boi gordo refletem no período (1995 - 2001) pouca demanda pelo produto, ou seja, média de aumento real de 5,42% no preço da arroba do boi gordo. A média da redução real no preço da arroba em dólares de 25,18% reflete depreciação cambial, o que tem favorecido, em parte, as exportações líquidas, que representavam 4,5% da quantidade produzida de carne bovina em 1997 e passaram a representar aproximadamente 12%, em 2001. As exportações líquidas poderão elevar-se muito mais em função da maior produtividade do setor, viabilizando quantidade e qualidade de carne, e da redução de barreiras tarifárias. Entre 1997 e 2001, o consumo interno de carne bovina reduziu em aproximadamente 1%, passando de 6.226 (97,3% da produção) para 6.179 milhares de toneladas de equivalente-carcaça (89,2% da produção), o que pode estar refletindo, no período, demanda reprimida, pela má distribuição de renda, e também oferta inelástica da produção de carne bovina. No mesmo período, as exportações passaram de 4,7% da produção para 11,4% e as importações, de 1,7% para 0,6%. Esses fatos evidenciam a necessidade de se elevar a produtividade (aumento da eficiência econômica e da mudança tecnológica) do setor de produção de carne bovina, aumentando a oferta com economias de escala (técnica e pecuniária), como forma de motivar a demanda reprimida por má distribuição de renda, fator de solução mais a longo prazo do que o aumento da produtividade.
Os ganhos de produtividade e o aumento da produção somente se viabilizarão mediante a utilização econômica eficiente de técnicas intensivas de produção, como, por exemplo, adubação e manejo intensivo de pastagens de gramíneas de alta produção de massa, possibilitando elevada carga animal por hectare, estação de monta (reprodução) concentrada e bem definida, visando à obtenção de taxas elevadas de natalidade e desmame, cruzamentos industriais para exploração da heterose e produção de novilho precoce com excelente qualidade de carcaça, compatível com a demanda internacional, principalmente, União Européia, EUA, Extremo Oriente, Oriente Médio e outros mercados, representando, segundo a ABIEC, no ano de 2000, respectivamente 53,0%; 11,79%; 15,34% e 19,84% das nossas exportações de carne bovina.
Visão geral da cadeia da carne bovina no Brasil

A cadeia da carne bovina no Brasil passa atualmente por transformações profundas, muitas delas ainda não completamente percebidas por agentes dos diferentes elos.
A cadeia tem como primeiro elo o produtor, que ressente bastante a mudança de paradigma da pecuária nacional, da pecuária extensiva, extrativista, apoiada na fertilidade natural das pastagens e, conseqüentemente, de baixo custo, para a pecuária que exige produtividade em decorrência da crescente utilização de insumos, principalmente de fertilizantes, elevando os custos de produção e reduzindo as margens de lucro. O segundo elo da cadeia é o do transporte, que opera com dificuldades, em virtude do sucateamento das rodovias e das ferrovias brasileiras, o que eleva os custos do frete. O terceiro elo é o de processamento e industrialização da carne bovina, cujos frigoríficos têm operado com capacidade ociosa. O quarto elo é o de transporte do frigorífico até o comércio atacadista e varejista. Na ponta da cadeia estão os supermercados e os açougues, fundamentais no processo de organização da cadeia, dada a grande interface com o consumidor.
A cadeia de carne bovina no Brasil carece de coordenação, embora vários esforços estejam sendo efetuados nessa direção. A falta de integração e de coordenação dos elos da cadeia têm interferido no seu desempenho, sendo que a ausência de contratos que regulem a comercialização tem causado prejuízos, impedindo a adoção de novas tecnologias e reduzindo a competitividade do segmento em nível internacional.
Na perspectiva acima, governo e o setor produtivo têm função especial. O Governo deve estimular o crescimento do produto interno bruto com estabilidade (menor inflação), equidade (distribuição de renda) e competitividade (menor tributação, menor taxa de juros, austeridade fiscal e investimentos em infra-estrutura). Quanto ao setor produtivo de carne bovina, este necessita avançar em termos de coordenação da cadeia, problema que deve ser resolvido em benefício da sua competitividade e do cumprimento da sua responsabilidade social.




13 de dez. de 2016

Doenças e Parasitos mais comuns nos Bovinos de Corte

Doenças e Parasitos mais comuns

Na pecuária de corte, pretere-se a clínica curativa em favor da clínica profilática. Isto se deve ao tamanho do rebanho e o seu manejo diferenciado. No rebanho criado a campo, torna-se difícil a observação de animal por animal, como acontece na pecuária de leite.
Atualmente, com a facilidade de transporte, tornou-se muito intensa a movimentação de animais de uma região para outra. Com isto, houve grande disseminação de doenças entre os bovinos, principalmente as doenças viróticas. Para controle dessas doenças, utilizam-se as vacinações como forma preventiva. No Brasil, existem vacinas obrigatórias por lei, como é o caso da vacina contra a febre aftosa e, mais recentemente, a da brucelose em alguns Estados. Outras tornam-se obrigatórias não por lei, mas pelo fato de que sem elas fica quase impossível a criação de bovinos em certas regiões, a exemplo da vacinação contra a raiva bovina e o carbúnculo sintomático.
Para obter sucesso na pecuária de corte, faz-se necessário elaborar um calendário profilático, esquematizando as épocas de vacinações. Há vacinas que são aplicadas no rebanho todo, outras são aplicadas somente em certas categorias de animais, selecionando idade e até mesmo o sexo, como é o caso das vacinações contra o carbúnculo sintomático e a brucelose. Uma das práticas para bom manejo sanitário na pecuária de corte é a implantação de uma estação de monta, para concentrar os nascimentos dos bezerros na mesma época do ano. O manejo profilático inicia-se com a cura do umbigo do bezerro, para evitar a onfalite (inflamação do umbigo). Em seguida, é recomendável a aplicação de l mL de avermectina, para evitar as miíases (bicheiras por larvas de moscas).
As doenças e as vacinações mais comuns na pecuária de corte são:
Febre aftosa: É uma doença aguda que acomete os animais fissípedes (que têm os cascos partidos), extremamente contagiosa e causada por um vírus. É caracterizada por febre alta e feridas na boca e nos cascos. Essa doença é de grande interesse para o Brasil, por ser um fator limitante na exportação de carne para outros países onde ela já foi erradicada. Atualmente, a vacina é oleosa, que dá imunidade mais duradoura. É uma vacina de caráter obrigatório e feita em todo rebanho, independentemente de idade. O seu calendário é determinado pela secretaria de agricultura de cada Estado.
Brucelose: É uma doença bacteriana, que interfere na reprodução, provocando aborto. Essa doença, além do prejuízo econômico, pode ser transmitida ao homem. A vacinação contra ela está se tornando obrigatória em vários Estados brasileiros. Ela é feita em dose única e somente em fêmeas de 3 a 8 meses de idade. É recomendável que se faça um teste de soro aglutinação anualmente em todos os animais em idade reprodutiva.
Tuberculose: Embora a tuberculose em bovinos de corte tenha menor incidência do que no gado de leite, ela não deixa de ser preocupante. Foi criado recentemente um programa nacional para erradicação da brucelose e da tuberculose no rebanho bovino brasileiro. Considerando que a vacinação contra a tuberculose é de pouca eficácia, faz-se o controle dessa doença em bovinos por meio do teste de tuberculinização. Em bovinos de corte, o teste é feito com a aplicação de tuberculina PPD bovina em animais de idade igual ou superior a seis semanas de vida. A aplicação é feita na prega caudal, fazendo-se a leitura 72 horas após. Os animais positivos são eliminados do rebanho. Animais reagentes positivos deverão ser isolados de todo o rebanho e sacrificados no prazo máximo de 30 dias após o diagnóstico, em estabelecimento sob serviço de inspeção oficial, indicado pelo serviço de defesa oficial federal e estadual. Na impossibilidade de sacrifício em estabelecimento sob serviço de inspeção oficial, indicado pelo serviço de defesa oficial federal e estadual, os animais serão destruídos no estabelecimento de criação, sob fiscalização direta da unidade local do serviço de defesa oficial, respeitando procedimentos estabelecidos pelo Departamento de Defesa Animal.
Raiva bovina: É uma doença causada por um vírus e transmitida por morcegos hematófagos. A vacinação contra essa doença só é feita em regiões onde existem colônias permanentes de morcegos sugadores de sangue. A vacinação se torna obrigatória quando aparecem focos esporádicos da doença em certas regiões. A aplicação da vacina é anual e feita em todo o rebanho, independentemente de idade.
Clostridiose: Das clostridioses que acometem os bovinos, a mais importante no Brasil é o carbúnculo sintomático. É uma doença típica de animais jovens (até 2 anos). Para sua prevenção, utilizam-se as vacinas polivalentes, isto é, que dão imunidade também contra outros tipos de clostrídios. Quando se utiliza a vacina polivalente, a aplicação é feita no pré-parto, ao nascimento, à desmama e aos 12 meses de idade. Nos animais adultos ela é aplicada uma vez ao ano.
Botulismo: É causada por uma toxina de uma espécie de Clostridium e que ataca o sistema nervoso dos animais. Essa toxina pode estar presente na medula de ossos de carcaças nas pastagens, em águas estagnadas e em cama de aves. A vacinação contra essa doença é feita quando ocorrem surtos na região. É uma vacina aplicada somente em animais acima de um ano de idade. De uma forma geral, recomenda-se o uso de duas doses iniciais com 4 a 6 semanas de intervalo e a seguir uma dose anual em todo o rebanho.
Leptospirose: É uma doença de distribuição mundial, sendo mais freqüente em áreas de clima quente e úmido. Essa doença é uma zoonose, isto é, pode ser transmitida ao homem. No bovino, a importância da doença é mais de ordem econômica, por influenciar o potencial reprodutivo do rebanho. No homem, porém, ela pode ser fatal. Essa doença nos bovinos pode ser controlada por vacinação, sendo a primeira dose aplicada entre 4 a 6 meses de idade, com reforço quatro semanas após. Todo o rebanho deve ser vacinado semestralmente.
Salmonelose: Essa doença, também chamada de paratifo, é mais comum em animais jovens. Ela provoca enterite (inflamação intestinal), acompanhada de diarréia, febre alta, descoordenação nervosa e morte em 24 a 48 horas. Embora os animais doentes respondam bem ao tratamento com antibióticos, a doença pode ser evitada com vacinação. A vacina é aplicada na vaca no pré-parto (8omês de gestação) e no bezerro entre 15 e 30 dias após o nascimento.
Pasteurelose: É uma doença infecciosa aguda, que causa febre, perda do apetite, diarréia sanguinolenta e prostração. Os animais enfermos respondem bem ao tratamento com sulfas. Essa doença pode ser evitada por vacinação, que é feita juntamente com a do paratifo (vacina polivalente). Sua aplicação se faz também no pré-parto e no bezerro entre 15 e 30 dias de vida.
IBR, BVD, PI3 e BRSV: São viroses comumente associadas com doenças respiratórias e perdas reprodutivas em bovinos. A prevenção contra essas doenças é feita com vacinas polivalentes, ou seja, existem vacinas para todas elas em conjunto. A vacinação é feita aos três meses de idade, com reforço 30 dias após, com revacinação anual em dose única.
Combate a ectoparasitos e endoparasitos: Os principais ectoparasitos de bovinos no Brasil são os carrapatos, os bernes e a mosca-dos-chifres. Só é recomendável combater esses parasitos quando as infestações forem altas. Isso ocorre mais nos meses de verão. Eles podem ser combatidos com produtos cujas vias de aplicação podem ser: pulverização, "pour-on" (sobre o dorso do animal), em banheiros de aspersão ou imersão e injetáveis. Quanto aos parasitos internos (vermes em geral), a preocupação maior é com os animais jovens, visto que os animais adultos são mais resistentes. Portanto, o combate à verminose deve estar mais voltado aos animais com menos de três anos. A melhor época para everminação deve abranger o período das secas.

Calendário profilático para bovinos de corte

Febre aftosa: É feita em todo rebanho, sendo o calendário de aplicação determinado pela secretaria de agricultura de cada Estado.
Brucelose: A vacina é aplicada somente em fêmeas de 3 a 4 meses de idade, acompanhada da marcação com um V seguido do último número do ano de nascimento, no lado esquerdo da cara. Deve-se fazer teste de soro aglutinação em todos os animais em idade reprodutiva uma vez ao ano.
Tuberculose: Fazer o teste de tuberculinização com PPD bovino na prega caudal, seguindo orientação do PNCEBT (Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose).
Raiva bovina: Vacinar todo rebanho, nas regiões endêmicas uma vez por ano, E nas regiões livres, somente quando determinada pelas secretarias de agricultura.
Clostridioses:
  • Pré-parto
  • Nascimento
  • Desmama
  • Aos 12 meses
  • Todo o rebanho uma vez por ano
Botulismo: Proceder vacinações quando ocorrer surto da doença. De uma forma geral, recomenda-se o uso de 2 doses iniciais, com 4 a 6 semanas de intervalo e a seguir uma dose anual em todo o rebanho.
Leptospirose: Vacinar os animais de 4 a 6 meses de idade, com reforço quatro semanas após. Vacinação em todo rebanho semestralmente.
Salmonelose e pasteurelose: Vacas pré-parto (8o mês de gestação) e bezerros de 15 a 30 dias de vida.
IBR, BVD, PI3 e BRSV: Vacinar aos 3 meses de idade, com reforço 30 dias após. Revacinação anual com dose única.
Combate a carrapatos, bernes e mosca-dos-chifres: Combate conforme a necessidade.
Everminação:
  • Ao nascimento, 1ml de avermectina
  • Em maio e julho, todos os animais até 24 meses
  • Em outubro, todo o rebanho.








30 de nov. de 2016

Reprodução de Bovinos de Corte


Reprodução

Manejo Reprodutivo em Sistemas Intensivos de Produção de Carne

Sistemas intensivos de produção de carne bovina requerem a intensificação dos fatores básicos de produção, ou seja, da terra, do capital e do trabalho. Do uso desses fatores espera-se maior eficiência. Dessa forma, surge como condição fundamental a necessidade de elevada eficiência reprodutiva como meta principal dos produtores que objetivam rentabilidade na atividade pecuária.
No passado recente, várias biotécnicas de multiplicação animal têm sido desenvolvidas, estando algumas em rotina, outras em uso experimental. Entre estas podem ser citadas a transferência de embriões, a fertilização "in vitro", a transgênese e a clonagem. Contudo, a utilização de algumas dessas tecnologias, dado o elevado custo e a exigência tecnológica, fica limitada àqueles produtores de animais com genética tida como superior.
Mesmo a inseminação artificial, com todas as vantagens que proporciona e a facilidade de uso, apesar de disponível há mais de cinco décadas com material congelado, apresenta taxa de utilização em relação ao número de fêmeas em reprodução em nosso País, ao redor de 7%. Isso demonstra o grande potencial para expansão do uso dessa técnica, sobretudo para aqueles produtores de animais melhoradores de raças de corte, de cruzamentos industriais e produtores de leite.
Deduz-se, portanto, que mais de 90% dos bezerros nascidos no Brasil provêm de acasalamentos ocorridos em monta natural. Dessa forma, passa-se a descrever alguns tópicos importantes diretamente relacionados aos sistemas de produção de carne preponderantes no País.
Realização de exame andrológico
Estudos realizados no Brasil, envolvendo número expressivo de touros que estavam sendo utilizados em monta natural em diversos Estados da Federação, indicaram haver mais de 53% deles com problemas de fertilidade. As principais causas de baixa fertilidade ou infertilidade estão apresentadas na Tabela 10.1.
Segundo os autores, os fatores de meio ambiente desfavoráveis e o manejo indesejável constituíram as principais causas de baixa fertilidade para touros destinados a reprodutores em condições de Brasil Central. Assim, cuidadosos exames clínicos, sanitários e andrológicos são imprescindíveis para animais a serem usados como reprodutores, além de melhores critérios de seleção genotípica e melhor manejo.
Tabela 10.1. Principais causas de baixa fertilidade ou infertilidade identificados em touros usados em rebanhos, no Brasil.
Causa
Freqüência (%)
Degeneração testicular
21,5
Imaturidade sexual
11,9
Maturidade sexual retardada
3,5
Hipoplasia testicular
3,5
Espermiogênese imperfeita
2,9
Espermatocistite
2,7
Disfunção do epidídimo
2,1
Fonte: Vale Filho et al. (1978).
O exame andrológico completo deve incluir a avaliação clínica do animal, observando-se o histórico da vida reprodutiva e a avaliação do estado geral, do sistema locomotor, dos órgãos genitais internos e externos, e dos aspectos físicos e morfológicos do sêmen, bem como do comportamento sexual. Após os exames, os achados são interpretados, obedecendo critérios internacionais, e os animais podem ser classificados em:
  1. aptos ou satisfatórios para a reprodução,
  2. questionáveis, devendo aguardar novos exames, e
  3. inaptos ou insatisfatórios para a reprodução, devendo ser castrados e descartados.
Utilização de tabelas de circunferência escrotal
Durante a realização do exame andrológico, medida de extrema importância é a tomada da circunferência escrotal. O tamanho dos testículos está diretamente relacionado com a capacidade de produção espermática e existe correlação genética negativa entre a circunferência escrotal de touros ainda jovens e a idade à puberdade de suas meias-irmãs. Touros com testículos mais desenvolvidos apresentam maior volume e maior concentração espermáticos no ejaculado, podendo servir a maior número de fêmeas ou produzir maior número de doses de sêmen, quando em rotina de coleta e congelação. Existem tabelas de circunferência escrotal mínima, para a maioria das raças, em cada idade do touro.
Estabelecimento da proporção touro: vaca adequada
Embora tenha havido alguns esforços para definir experimentalmente o número exato de fêmeas que podem ser colocadas com um touro durante a estação de monta, a proporção touro:vacas adequada ainda não está determinada. Obviamente essa proporção depende de fatores ligados ao reprodutor, ao rebanho de fêmeas, às condições do ambiente e ao manejo definido para o rebanho.
Fatores ligados ao reprodutor estão ligados, além da idade, à sua capacidade de produção e maturação espermáticas, relacionadas com a circunferência escrotal e com o peso dos testículos, e também à libido, determinada pelos testes de comportamento sexual. Em geral, touros aptos em exame andrológico completo devem produzir no mínimo quatro ejaculados/dia, suficientes para cobrir até duas fêmeas, com sucesso, em cada dia da estação de monta.
Relacionado às fêmeas, o fator básico é saber a taxa de ciclicidade do rabanho em estação de monta. Taxa de ciclicidade pode ser definida como a percentagem de fêmeas em estro em relação ao total de fêmeas expostas por dia de estação. Essa taxa é de no máximo 5% e pode ser determinada observando-se o número de fêmeas em cio em dias prévios ao início da estação de monta e, a partir daí, determinar a proporção touro: vaca mais adequada.
O desafio imposto aos touros é resultante da taxa de ciclicidade do rebanho. Assim, numa proporção touro:vaca de 1:40, em que todas estejam ciclando, tem-se, em média, duas vacas em cio/dia, durante o primeiro ciclo (21 dias) da estação de monta, o que é compatível para touros em acasalamentos únicos. Dependendo então da taxa de concepção neste primeiro estro, o desafio proporcionado aos touros nos estros subseqüentes será inferior ao primeiro. Já numa proporção touro:vaca de 1:80 em que a taxa de ciclicidade seja 2,5%, o desafio imposto ao touro no primeiro ciclo da estação de monta, é o mesmo daquele para 1:40. Enfim, para definir a proporção touro:vaca adequada é necessário conhecer a taxa de ciclicidade do rabanho. Todavia, os fatores relacionados ao meio, tais como área das pastagens, topografia, tipo de vegetação, presença de acidentes geográficos, qualidade e quantidade de forragem disponível, bem como duração da estação de monta e uso de touros múltiplos, devem ser considerados. Em geral, os touros no Brasil são subutilizados.
Expectativa da dinâmica reprodutiva durante a estação de monta
A expectativa da dinâmica reprodutiva para estação de monta de 90 dias, taxa de ciclicidade de 100% (diária = 5%), taxa de concepção de 60% e proporção touro:vaca de 1:40 é apresentada no quadro a seguir:
Ciclos Estrais
1o
2o
3o
4o
Proporção touro: vaca cíclica
1:40
1:16
1:6
1:2
No estros/dia do ciclo
1,90
0,76
0,28
0,1
No de fêmeas gestantes ao final do ciclo
24
10
4
1
No fêmeas vazias no próximo ciclo
16
6
2
1
Para estação de monta de 90 dias, taxa de ciclicidade de 50% (diária = 2,5%), taxa de concepção/estro de 60% e proporção touro:vaca de 1:80, a expectativa é a do próximo quadro:
Ciclos Estrais
1o
2o
3o
4o
Proporção touro: vaca cíclica
1:40
1:28
1:20
1:14
No estros/dia do ciclo
1,90
1,33
0,93
0,67
No de fêmeas gestantes ao final do ciclo
24
17
12
8
No fêmeas vazias no próximo ciclo
56
39
27
19
Adoção de estação de monta
A adoção de um período restrito para o acasalamento dos animais é a maneira mais racional de conduzir o sistema de cria, pois permite a avaliação sistemática do desempenho reprodutivo, oferecendo oportunidades para a tomada de decisões, inclusive a realização dos descartes.
Para sistemas intensivos, em que não está prevista escassez de forragem, esse período de estação de monta na maioria das regiões do Brasil Central pecuário deve ser estabelecido de modo a atender as melhores condições fisiológicas dos animais, coincidindo com a melhor condição produtiva das forrageiras tropicais. Portanto, esse período tem sido estabelecido durante os meses de verão, quando ocorre alta pluviosidade e maior fotoperíodo, não necessitando ter prazo superior a 90 dias.
Independentemente do método de reprodução adotado, se monta natural ou inseminação artificial, uso de sincronização de cios, touros para repasse, etc., ao final do período é possível avaliar os resultados.
Monitoramento da condição corporal
A duração do período de serviço, ou seja, o período de tempo decorrido entre a parição e a concepção, é o aspecto mais importante na determinação do intervalo de partos. No Brasil, os trabalhos revelam longos períodos de serviço, o que contribui para aumentar os intervalos de partos e reduzir o número de crias por vaca no rebanho. Dessa maneira, várias medidas de alimentação e manejo devem contribuir para redução dos períodos de serviço.
Os efeitos nutricionais são os principais fatores controladores do anestro lactacional após o parto, que representa o principal problema reprodutivo do rebanho bovino nacional. O peso e a condição corporal, embora pareçam imprecisos ou subjetivos, são indicadores funcionais do estado energético e do desempenho reprodutivo após o parto. Assim, a monitoração da condição corporal é a melhor maneira de avaliar o estado nutricional dos bovinos e é considerada o melhor indicador do funcionamento fisiológico normal de todos os sistemas orgânicos. Sua avaliação à parição tem sido recomendada porque é um dos fatores mais importantes que influenciam o intervalo pós-parto e a taxa de prenhez em vacas.
As atividades de manejo necessárias para a reversão desse quadro de anestro devem ser orientadas para proporcionar boa condição corporal ao parto e evitar perda de peso após o parto, já que a maior fertilidade está relacionada com o ganho de peso da parição até o final da estação de monta. Bom nível nutricional pré-parto acelera o aparecimento de cios, reduzindo o intervalo parto-concepção e, conseqüentemente, proporcionando maior número de fêmeas gestantes no início da estação de monta. Já o nível nutricional pós-parto influencia o índice de prenhez, principalmente ao primeiro serviço, já que as necessidades nutricionais nesse período são maiores para a retomada da ciclicidade ovariana.
Para sistemas intensivos, em que não haja limitações de ordem nutricional, os animais devem ser manejados de acordo com a condição corporal, evitando excessos de peso e permitindo o ganho de peso durante a estação de monta.
Tabelas de pontuação da condição corporal têm sido usadas como ferramenta auxiliar no manejo reprodutivo.
Controle da amamentação das crias
A amamentação indiscriminada atrasa o aparecimento do cio pós-parto pela influência inibitória que o estímulo da mamada pelo bezerro exerce sobre os elementos regulatórios controladores da liberação das gonadotrofinas hipofisárias. Algumas alternativas de manejo têm sido usadas com o objetivo de melhorar a eficiência reprodutiva. Tanto a desmama precoce dos bezerros como a interrupção da amamentação por curto espaço de tempo (48 ou 72 horas) ou a redução na freqüência de amamentação para uma ou duas mamadas diárias podem ser adotadas, desde que as vacas estejam ganhando peso quando o bezerro é removido.
Para a adoção de amamentação uma vez por dia, alguns requisitos devem ser atendidos:
  1. os bezerros devem ter pelo menos 30 dias de idade,
  2. os bezerros devem ter curral seco e água fresca a disposição, e
  3. deve-se fornecer aos bezerros ração balanceada e feno de boa qualidade ou forragem verde cortada fresca, à vontade.
Uso da sincronização do estro
A otimização e a racionalização dos recursos disponíveis em propriedades que usam a inseminação artificial (instalações, mão-de-obra, alimentação) pode ser alcançada com a adoção da técnica da sincronização de cios, pois esta reduz o tempo e a mão-de-obra envolvida no processo.
A sincronização de cios é, portanto, uma técnica alternativa de manejo reprodutivo, que oferece a possibilidade de manipulação do ciclo estral das fêmeas para indução da ovulação e estro, em parte delas, dentro de um período pré-determinado. Necessita de planejamento prévio, requer insumos, e a chave do sucesso depende dos animais estarem ciclando. Necessita também de um plano nutricional adequado, rebanho saudável, mínimo de condições estressantes, inseminadores devidamente treinados, sêmen de boa qualidade, adequado sistema de apontamentos e controle e acompanhamento de todo o procedimento.
Vários protocolos estão disponíveis no comércio sob a forma de progestágenos, estrógenos e prostaglandinas F2a e seus análogos, bem como suas combinações. A escolha do método e a opção para adoção devem considerar a eficiência fisiológica e a relação benefício: custo.
Considerações Finais
Outras práticas de manejo, tais como, a utilização de creep feedingcreep grazing, uso de misturas múltiplas, uso de macho íntegro para a antecipação da atividade ovariana, etc., têm sido utilizadas, para buscar maior eficiência de produção de carne. Contudo, acredita-se que um rebanho mantido em boas condições sanitárias, com critérios bem definidos para entrada e saída de animais e bom senso de gerência, seja a chave do sucesso, na maioria das propriedades que usam manejo racional de produção.


3 de nov. de 2016

Controle e Manejo de Invasoras em Pastagens


A degradação das pastagens e um dos maiores problemas da pecuária bovina do pais. Estima-se que 80% dos pastos cultivados, implantados nos cerrados do Brasil Central, apresentam algum nível de degradação com consequente perda de produtividade. A alta ocorrência de plantas invasoras nessas situações e um empecilho para reverter esse processo e restabelecer a produção das forrageiras. O controle das plantas invasoras e, portanto, uma necessidade na recuperação ou renovação das pastagens degradadas. O objetivo deste trabalho foi sintetizar as informações, como viabilidade e eficiência, relativas aos métodos de controle de invasoras de pastagem utilizados, de forma a oferecer subsídios para uma opção racional, eficaz e econômica para cada situação encontrada. Foram discutidos aspectos inerentes a competição exercida pelas plantas daninhas nas pastagens cultivadas, especialmente aquelas de folhas largas, no ambiente de Cerrados, e algumas considerações sobre a ocorrência e manejo de plantas tóxicas aos bovinos. Apresentam-se resultados de pesquisa dos efeitos do controle químico de invasoras em pastagens sobre o desempenho animal e o custo-benefício do uso de herbicidas, e ainda, uma relação das principais plantas de folhas largas, invasoras de pastagens nos Cerrados e fatores que afetam a persistência das forrageiras e dinâmica da população de invasoras. finalmente, sintetizam-se os principais métodos de controle utilizados no pais, suas eficiências, e alguns resultados de pesquisa sobre controle químico e os herbicidas mais utilizados em pastagens no Brasil.

Invasoras em pastagens

Invasora é a planta que pode interferir no agroecossistema, nesse caso a pastagem, de grande ocorrência geográfica nos trópicos e que não existia no ecossistema original. As principais invasoras de pastagens no Brasil estão relacionadas em diversos trabalhos regionais e nacionais (Aranha et al., 1982; Bacchi et al., 1982; Bacchi et al., 1984; Lorenzi, 1991; Afonso e Pott, 2001).
A causa do aparecimento de plantas invasoras em pastagens se deve principalmente às medidas inadequadas de manejo das plantas forrageiras, como pastejo ou roçadas impróprias, quanto ao número de cortes ou à época de controle das invasoras, empobrecimento do solo tanto quimicamente (deficiência de N, P, K, Ca, Mg, S e outros) como fisicamente (compactação), deficiência ou excesso de água disponível, e cultivo de plantas forrageiras não adaptadas às condições ambientais. De maneira prática, pode-se caracterizar uma pastagem degradada pela presença de plantas invasoras (plantas indicadoras), uma vez que, ao se instalarem em determinado local, encontram ali as condições que lhe permitem crescer e multiplicar-se. É o caso do sapé (Imperata brasiliensis), que indica acidez do solo, e da samambaia (Pteridium aquilinum), que indica altos teores de alumínio tóxico no solo.
Apesar de a maioria das plantas expontâneas serem indesejáveis às pastagens, e nem sempre serem competitivas, podem causar outros problemas a esse ecossistema, como ferimentos nos animais e no homem, e mesmo ações indesejadas na operacionalização da propriedade rural, pela invasão de cercas, currais, estradas e outros. Portanto, é mais correto referir-se às "interferências" das invasoras nas atividades pecuárias, cujas principais formas são:
Interferência – competição com plantas forrageiras por água, luz, nutrientes e espaço, sendo que as invasoras nesse balanço competitivo ainda são favorecidas, pois os animais não comem a planta invasora, mas sim a forrageira; Alelopatia – interferência de uma planta sobre outra por liberação de substâncias químicas, tendo como exemplo a inibição de capim-coastcross (Cynodon dactylon) por erva-de-bicho (Polygonum aviculares);
Parasitismo – as invasoras tornam-se parasitas de forrageiras, sendo exemplo clássico o parasitismo da cuscuta (Cuscuta spp.) em alfafa (Medicago sativa);

Toxicidade aos animais – alta letalidade de algumas espécies aos bovinos na região Sudeste do Brasil, tais como o cafezinho (Palicourea marcgravii), a coerana (Cestrum axilare) e o cipó-prata (Mascagna pubiflora);

Redução da qualidade do produto pecuário – os produtos de origem animal (carne, lã, leite, couro) podem ser influenciados direta ou indiretamente pelas invasoras, por exemplo, a contaminação da lã de carneiros por propágulos de picão preto (Bidens pilosa) e capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), ferimento do couro de animais e tetos de vacas leiteiras por pontas de arbustos, e sabor de alho no leite por ingestão de alho bravo (Nothocordon fragans);
Redução na qualidade de forragens armazenadas (fenos e silagens) – redução da aceitabilidade desses alimentos pelos animais por causa da presença de partes vegetais, como capim-carrapicho, em fenos, e redução da qualidade de silagens, em conseqüência da presença de plantas indesejáveis, principalmente por problemas de fermentação; e

Hospedeiros de pragas e doenças dos animais – pontos de refúgio e criatório de animais nocivos (carrapatos, cobras, morcegos hematófagos, e outros) em árvores e arbustos não planejados (Rassini,1993).

O controle de invasoras em pastagens, basicamente, é realizado por meio de tratos culturais na planta forrageira, desde sua implantação (escolha da espécie mais adaptada e da cultivar mais indicada, preparo do solo, recuperação da fertilidade do solo com base em análise química) até seu manejo (adubações de manutenção e cobertura, freqüência e altura de cortes). Quando ocorrem falhas nessas práticas e em algumas situações especiais, como ocorrência de fogo, manchas de solo (fertilidade) ou compactação, recorre-se a um dos vários métodos utilizados para controlar as plantas invasoras em pastagens.
Na região Sudeste, o método mais utilizado de controle de invasoras em pastagens ainda é o corte com foice (roçada) ou a remoção da planta com raiz (destoca). Porém, a mão-de-obra despendida e seu elevado custo, aliado a resultados não satisfatórios de controle, pela repetição contínua da operação em conseqüência da brotação da maioria das espécies, têm contribuído para incrementar o controle químico de invasoras em pastagens por meio de herbicidas. Deve-se ressaltar quanto a esse aspecto que o controle químico ainda está restrito ao uso de pequeno número de princípios ativos seletivos às gramíneas forrageiras, como 2,4 D, picloran, 2,4 D + picloran, tebuthiuron, e fluroxipir + picloran. Além disso, a aplicação desses produtos deve ser bastante criteriosa, para que problemas como a utilização indiscriminada de herbicidas sejam visualizados e controlados evitados.
Antes de utilizar herbicidas em pastagens, é fundamental que se identifiquem as espécies a serem controladas, o estágio de desenvolvimento dessas plantas e os períodos em que a competição é mais grave ou acentuada, que se utilizem equipamentos de proteção individual (luvas, botas, chapéu de aba larga, óculos ou protetor facial, calça e camisa de mangas compridas, avental impermeável) durante o preparo da calda e a aplicação, que se armazene a embalagem vazia após lavagem tríplice para posterior encaminhamento ao vendedor (agropecuárias), e que se evite contaminação de corpos hídricos (rios, lagos), enfim, que o uso de herbicidas em pastagens seja avaliado e acompanhado por técnicos especializados (engenheiro agrônomo).