12 de out. de 2016

Nutrição de Bovinos (Gado de Corte)


Alimentação

Alimentação de bezerros na fase de cria

Efeito da alimentação no desenvolvimento funcional do rúmen
Ao nascer, os bezerros são considerados pré-ruminantes, com o estômago apresentando características diferentes do ruminante adulto, não sendo capazes de utilizar alimentos sólidos. Nessa fase inicial da vida, o leite é um importante alimento para os bezerros. As mudanças anatômicas, fisiológicas e metabólicas que ocorrem no sistema digestivo dos bezerros são caracterizadas pela transição de digestão semelhante à de um monogástrico (essencialmente enzimático) para digestão de ruminante. Isto ocorre geralmente no período entre o nascimento e o terceiro ou o quarto mês de idade. A extensão dessas modificações é função do tipo de dieta ingerida. Assim, a diminuição da ingestão de leite (que passa diretamente para o abomaso, através da goteira esofágica) e o início da ingestão de forragem e/ou concentrado (que permanecem no rúmen-retículo) estimulam a atividade celulolítica e, conseqüentemente, a absorção de ácidos graxos voláteis (AGV), principal fonte energética dos ruminantes.
Efeito da produção de leite das vacas sobre o peso de bezerros à desmama
A produção de leite das vacas de corte é importante para a alimentação dos bezerros na fase de cria, pois a maior parte dos nutrientes ingeridos pelos bezerros nos primeiros meses de vida é suprida pelo leite materno. A desmama tradicional realizada aos 6 a 8 meses de idade segue a curva de lactação da vaca de corte. Vacas da raça Nelore atingem seu máximo de produção (4,7 litros/dia) nos primeiros 30 dias de lactação, permanecendo a produção mais ou menos estável até os 90 dias, quando declina rapidamente até atingir a média diária de 2,7 litros aos 5 meses. Vacas de origem européia e seus mestiços apresentam maior produção de leite do que vacas nelores, conforme pode ser verificado na Tabela 6.1. Além de raça ou grupo genético, a produção de leite de vacas em pastejo é dependente tanto da quantidade e da qualidade da forragem disponível, quanto da reserva de nutrientes que a vaca armazena antes do parto, e influenciará no peso à desmama dos bezerros. 
Existe relação linear positiva entre a produção de leite da vaca e o peso do bezerro à desmama. Embora o aumento da produção de leite permita aumentar o ganho de peso e o peso à desmama dos bezerros, não se pode esquecer que o nível nutricional, na maioria dos sistemas baseados em pastejo, é limitante para dar suporte a níveis elevados de produção de leite. Por outro lado, à medida que o bezerro cresce, sua dependência do leite materno vai diminuindo, sua capacidade de pastar aumenta e, conseqüentemente, reduz a quantidade de leite necessária para determinado ganho de peso. Tem sido observado que o consumo de matéria seca de forragem aumenta com a idade e observou-se que esse consumo representa 0,62; 1,46; 1,51; 1,75 e 2,20% do peso do bezerro aos dois, três, quatro, cinco e seis meses de vida, respectivamente. 
Suplementação para bezerros em aleitamento
À idade de aproximadamente 3 meses, mais da metade da energia necessária ao bezerro de corte provém de outras fontes alimentares que não o leite da mãe. A suplementação dos bezerros em pastagens é necessária quando se objetiva maior taxa de ganho de peso ou maior peso à desmama. Pode-se observar, na Tabela 6.2, que para um animal ser desmamado com 150 kg de peso vivo aos 7 meses de idade, a média diária de ganho de peso será de 0,57 kg, ganho possível de ser alcançado somente com leite e pastagem. Para desmamar um bezerro com 200 kg de peso vivo, seria necessário ganho de peso vivo diário de 0,80 kg, o que pode ser conseguido sem suplementação somente em situações em que se utilizem animais com bom potencial genético e bom manejo da pastagem. Para obtenção de média de ganho diário superior a 0,80 kg até a desmama, é necessário algum tipo de suplementação de boa qualidade.
Quando os bezerros se aproximam da desmama, suas exigências nutricionais aumentam. O aumento das exigências é maior em bezerros com potencial maior de ganho de peso (por exemplo, machos cruzados). Se as exigências nutricionais do bezerro são maiores do que os nutrientes supridos pelo leite e pelo pasto, obviamente o ganho de peso será restrito. A produção de leite da vaca decresce no final da estação chuvosa, assim como a disponibilidade e a qualidade do pasto. Então, a diferença entre as exigências nutricionais do bezerro e a quantidade de nutrientes supridos pelo pasto e pelo leite tendem a aumentar. Como opções para evitar que deficiências nutricionais influenciem o desempenho dos bezerros, existem dois tipos de suplementação que podem ser utilizados para suplementar a dieta dos bezerros na fase pré-desmama, conhecidas como creep feeding e creep grazing.
Creep feeding
creep feeding é a suplementação alimentar para os bezerros durante a fase que eles mamam nas vacas. A suplementação tem sido feita geralmente com concentrado em cocho privativo, ao qual só os bezerros têm acesso. A estrutura para esse sistema de alimentação exclusivo para os bezerros é bastante simples. Compõe-se basicamente de um pequeno cercado, onde ficam os cochos e aos quais apenas os bezerros têm acesso. A vantagem dessa técnica é permitir a desmama de bezerros mais pesados e proporcionar redução no tempo de abate dos animais.
Recomenda-se fornecer diariamente de 0,5 a 1,0% do peso vivo do bezerro em concentrado. A média do consumo durante o período de fornecimento será de 0,6 a 1,2 kg de concentrado/animal/dia. A sugestão dos teores de nutrientes é de 75 a 80% de NDT e de 18 a 20% de proteína bruta. Como exemplo, a composição pode conter aproximadamente 78% de milho, 20% de farelo de soja, 2% de calcário calcítico e 1% de mistura mineral. É importante lembrar que a recomendação da composição e dos teores de nutrientes do concentrado para diferentes propriedades pode variar em função da taxa de ganho, da quantidade de leite produzida pelas mães e, principalmente, da quantidade de forragem disponível e da qualidade da forragem, lembrando que os bezerros possuem hábito de pastejo seletivo e que, portanto, na amostragem deve-se procurar colher amostras representativas da forragem que está sendo pastejada.
O aumento no peso à desmama com a utilização desse sistema é variável. Os fatores que influenciam a resposta são a quantidade e a qualidade do pasto, a produção de leite das mães, o potencial genético do bezerro, o sexo, a idade dos bezerros à desmama, o tempo de administração, o consumo e o tipo de suplemento. Alguns trabalhos mostram variação de 13 a 40 kg, conforme pode ser visto na Tabela 6.3
Na maioria dos programas de cruzamento utilizam-se matrizes da raça Nelore, cujos produtos ½ sangue europeu apresentam maiores exigências nutricionais. Quando essas exigências são atendidas, os bezerros cruzados expressam o maior potencial de ganho de peso que possuem, em comparação ao dos animais nelores puros. Para suprir as deficiências, o emprego da suplementação pelo métodocreep feeding tem proporcionado bons resultados no desempenho de bezerros ½ europeu + ½ Nelore , com pesos à desmama acima dos 230 kg para os machos. 
Creep grazing
creep grazing pode ser empregado de duas formas. Uma opção é utilizar uma área de pasto de acesso exclusivo dos bezerros. Outra alternativa é a utilização de sistema rotacionado, em que os bezerros têm acesso ao pasto antes das vacas. O objetivo é que os bezerros pastem as pontas tenras ou as partes mais nutritivas das plantas, em vez dos colmos ou folhas velhas (senescentes), que serão usadas pelas vacas no restante do pastejo.
Trabalho realizado nos Estados Unidos (Harvey & Burns, 1988) mostra aumento significativo no ganho de peso vivo por hectare com a utilização do creep grazingem milheto. Trabalhos com a utilização do creep grazing precisam ser realizados no Brasil para verificar a viabilidade dessa técnica nas diferentes condições edafoclimáticas.

Alimentação de novilhas na fase de recria

Dentre os fatores que contribuem para o baixo desfrute da bovinocultura de corte no Brasil, destaca-se a idade elevada de acasalamento das novilhas. Essa idade está associada com a fase de recria, que envolve o desenvolvimento do animal da desmama ao início do processo produtivo, ou seja, o estágio em que este atinge o peso ideal para manifestar a puberdade.
Em virtude de o desenvolvimento ponderal entre o desmame e o início da vida produtiva ser vagaroso, a fase de recria nas regiões tropicais reúne o maior contingente populacional. Ademais, a fase de recria retém os bovinos, especialmente os zebuínos, por longo tempo, entre 12 e 36 meses. Essas duas características combinadas, ou seja, grande contingente populacional e prolongada duração da fase de recria, contribuem para reduzir a eficiência do processo produtivo nos trópicos.
Face aos grandes investimentos (terra, instalações, animais, etc.) e aos altos custos de manutenção (alimentação, trabalho, produtos veterinários, etc.) que acompanham um rebanho de recria, torna-se desejável que os animais entrem em produção o mais precocemente possível e haja melhora da eficiência reprodutiva principalmente das fêmeas primíparas. Assim, torna-se necessário encurtar o tempo de permanência dos animais na fase de recria e para que isso seja possível é necessário o conhecimento das alternativas que propiciarão melhor aproveitamento dos recursos produtivos visando a maximizar o retorno econômico.
A idade à puberdade é de extrema importância quando o sistema de produção prevê acasalamento de novilhas para possibilitar o primeiro parto em idade mais precoce.
A puberdade e, conseqüentemente, a idade ao primeiro parto são reflexo direto da taxa de crescimento, que é determinado pelo consumo de alimentos. As novilhas que concebem cedo na estação de monta desmamam bezerros maiores e têm maior produtividade durante a vida. Novilhas com puberdade inerentemente precoce podem acasalar a custo menor do que novilhas com idade inerentemente tardia à puberdade.
As novilhas devem manter-se crescendo durante todo o ano para que alta porcentagem delas apresente ciclo estral e taxa de concepção normal. Períodos de irregularidade na distribuição de alimentos ocasionam severos efeitos no retardamento da concepção. Variações no consumo de alimento, com nível restrito durante a seca, exercem influência negativa sobre a idade à puberdade e a idade à primeira fecundação.
A taxa de fertilidade de novilhas cobertas em seu primeiro cio é menor do que a obtida no terceiro estro e, conseqüentemente, seria ideal que as novilhas atingissem a puberdade cerca de dois meses antes da estação de monta. Isto evitaria que novilhas concebam ao final da estação de monta e, conseqüentemente, tenham ainda menores possibilidades de conceber durante a estação de monta seguinte como primíparas.
A utilização de pastagens melhoradas, com espécies de maior qualidade e adequada disponibilidade, é uma garantia para índices reprodutivos altos e consistentes entre os anos, especialmente para vacas jovens, sendo fundamental em sistemas intensivos de pecuária.
Embora a fase de recria seja menos complexa do que a fase de cria, ela requer muita atenção do produtor, pois os requerimentos nutricionais do animal em crescimento estão constantemente mudando, em função de alterações na composição de seu corpo. À medida que a idade do animal vai avançando, reduz-se a taxa de formação de ossos e proteína, com aumento acentuado na deposição de gordura. Do início dessa fase até a puberdade, o monitoramento do ganho de peso diário é fundamental, não devendo ultrapassar a média de 900 gramas por dia. Este procedimento evita a má formação da glândula mamária (acúmulo de gordura e menor quantidade de tecido secretor de leite) resultando em menor produção de leite para o bezerro e, conseqüentemente, menor desempenho de sua progênie.
A idade à primeira cobrição determinará a alimentação das novilhas nessa fase. Idades à primeira cobrição mais precoces (15 - 16 meses) exigirão planos mais elevados de alimentação do que aqueles para idades mais avançadas para a primeira cobrição (24 - 26 meses).
Embora a idade cronológica da novilha seja importante, geralmente a puberdade ou a idade ao primeiro cio para a maioria das raças européias ou cruzamentos é reflexo da idade fisiológica (tamanho ou peso). Desse modo, o plano de alimentação a ser adotado para as novilhas cruzadas será aquele que, de forma mais econômica, permita que elas atinjam o peso para cobrição o mais cedo possível. O peso vivo para cobrição das novilhas varia de acordo com a raça ou o grupo genético e também com o nível de alimentação que poderá ser fornecido após a cobrição, mas tem sido sugerido de modo geral o peso de 300 kg para as fêmeas cruzadas e de 280 kg para as fêmeas da raça Nelore. 
Recria de novilhas em pastagem
Pastos de excelente qualidade e bem manejados podem suprir os nutrientes para o crescimento das novilhas durante o período das águas, desde que uma mistura mineral esteja sempre à disposição. A suplementação volumosa na seca pode ser feita com forragens verdes picadas, cana-de-açúcar adicionada de 1% de uréia, silagens ou fenos. Para o fornecimento de volumosos em cochos, é necessário minimizar a competição por alimento entre os animais manejados em grupos e, para isso, é importante propiciar aos animais área suficiente de cocho, permitindo que todos tenham chance de se alimentar.
O fornecimento de concentrado às novilhas depende da idade, da qualidade do alimento volumoso utilizado e do plano de alimentação adotado. A suplementação da dieta de novilhas cruzadas Angus x Nelore, Simental x Nelore, Canchim x Nelore e Nelore, com aproximadamente 12 meses de idade, na Embrapa Pecuária Sudeste, com cana, 0,9% de uréia, 0,1% de sulfato de amônio e 1,5 kg de concentrado contendo 18% de proteína bruta, mantidas em pastagem na seca, resultou em média de ganho diário de aproximadamente 0,4 kg por animal por dia. Em outro trabalho realizado na Embrapa Pecuária Sudeste, utilizando fêmeas desmamadas com sete meses mantidas em pastagem e recebendo cana-de-açúcar e 1,5 kg de concentrado com 70% de farelo de soja, 17% de milho, 4,5% uréia, 0,5% de sulfato de amônio, 2,0% de calcário calcítico, 6,0% de mistura mineral e 48% de proteína bruta, observou-se média diária de ganho de 0,63 kg por animal por dia nos animais cruzados de Angus x Nelore e Simental x Nelore. 
Recria de novilhas em confinamento
Nesse sistema, os alimentos são levados às novilhas que permanecem confinadas durante todo o tempo, sem acesso ao pasto. Elas podem receber, no cocho, forragem verde picada, silagem e/ou feno. Mistura mineral deverá estar sempre à disposição, em cochos separados, independentemente do volumoso utilizado.
Ao se fornecer rações à base de silagem de milho para novilhas, deve-se observar a necessidade de suplementação protéica, se não houve utilização de uréia ou outra fonte de nitrogênio não-protéico na ensilagem. Às vezes, é necessário limitar o consumo da silagem de milho, para evitar que as novilhas fiquem obesas.
O fornecimento de concentrado vai depender do ganho de peso desejado durante essa fase. É importante ter sempre em mente que os extremos, subalimentação ou superalimentação, devem ser evitados. Resultados de consumo diário de matéria seca, ganho de peso e conversão alimentar obtidos em trabalho realizado na Embrapa Pecuária Sudeste (Rodrigues et al., 2002) com novilhas da raça Canchim, confinadas na fase de recria, alimentadas com variedades de cana-de-açúcar, são mostrados nas Tabelas 6.4 e 6.5. Todas as novilhas foram suplementadas com 1,3 kg de concentrado com 77% de farelo de soja, 12,5% de uréia, 1,4% de sulfato de amônio, 1,5 de calcário calcítico e 7,6% de suplemento mineral.  

Alimentação de vacas de corte em gestação

Pode-se considerar a nutrição da vaca gestante como sendo o primeiro passo na produção de bovinos e, como em qualquer outra atividade, o sucesso vai depender de como esse primeiro passo é dado.
A Tabela 6.6 evidencia a importância da alimentação pré-parto nos problemas referentes a mortalidade, peso ao nascer e incidência de diarréia nos bezerros.
Qualquer tentativa de produção eficiente de bovinos está diretamente ligada à melhoria de condições de alimentação, notadamente no período de seca. Ênfase deve ser dispensada especialmente ao fornecimento adequado de energia, proteína, cálcio e fósforo, bem como para deficiências regionais de microelementos.
A produção animal pode ser expressa como uma função de consumo e utilização de alimentos, como se segue: produção animal = consumo de alimentos x teor de nutrientes x digestibilidade dos nutrientes. Os nutrientes podem ser obtidos de diferentes fontes alimentares, sendo que fatores econômicos locais e momentâneos determinarão a decisão sobre as fontes recomendadas.
O custo dos alimentos deve ser baixo, considerando-se que a atividade como um todo deve ser lucrativa. A razão disso é o fato de que alta porcentagem dos nutrientes necessários pelos animais é utilizada para satisfazer as exigências de mantença da vaca (Rodrigues, 2002) e somente uma parte bem menor dos nutrientes necessários na atividade de produção de bovinos de corte é recuperada pela venda de animais para abate. Em condições normais de preço, isto significa que a vaca deve ser mantida em pastagens durante o verão, e no inverno ou na seca deve ser suplementada com outro tipo de forragem de baixo custo ou mantida em pastagens reservadas especialmente para essa categoria, podendo a dieta, caso seja necessário, ser corrigida com pequena quantidade (por exemplo, 0,5 kg a 0,7 kg) de farelos protéicos, como, por exemplo, farelo de algodão ou farelo de soja. Caso a opção utilizada seja cana-de-açúcar deve-se também incluir uréia.
Os requerimentos da vaca de corte nos primeiros meses de gestação são menores do que nos últimos meses de gestação. Os requerimentos de nutrientes da vaca de corte com 6 a 9 meses de gestação são mostrados nas Tabelas 6.7 e 6.8. Nessas tabelas são mostrados os requerimentos de proteína, energia, cálcio e fósforo. Contudo, outros nutrientes podem ser críticos, dependendo do teor na forragem, ou em outros alimentos que estão sendo consumidos, principalmente na seca. Os microelementos também podem estar deficientes. Como exemplo, cobre, cobalto e zinco podem ser deficientes em algumas áreas geográficas.
Os valores constantes das Tabelas 6.7 e 6.8 servem como guia, mas o leitor que não está bem familiarizado com o assunto não deve concluir que os requerimentos de nutrientes de vacas de corte em gestação são fixos conforme indicado nas tabelas. Existe grande variedade de fatores que podem influenciar as necessidades de um animal ou rebanho individualmente, como, por exemplo, deficiência de nutrientes, condição corporal da vaca, condições climáticas, idade da vaca, raça, etc.
Deve ser lembrado que a habilidade dos microrganismos do rúmen para utilizar forragem de baixa qualidade está relacionada a suprimento adequado de nitrogênio e minerais. Entre os macroelementos necessários para os microrganismos do rúmen, podem ser destacados o fósforo, o enxofre e o magnésio.
Durante a gestação, as necessidades de proteína na dieta são relativamente baixas. O teor de proteína na dieta para vacas em gestação pode ser suprido pelas forragens tropicais. Somente nos casos em que a forragem apresentar teor de proteína muito baixo, ou então quando se estiver usando alimentos como palhadas, sabugo, cana-de-açúcar e raiz de mandioca, haverá necessidade de suplementação protéica. Com relação a esse aspecto, e considerando a fase de gestação, é importante lembrar que normalmente o animal recicla parte da uréia sangüínea para o rúmen durante um período de baixo consumo de proteína, reduzindo, parcialmente, a quantidade necessária de suplemento nitrogenado. Nos animais zebuínos, a reciclagem da uréia sangüínea para o rúmen é maior do que em raças de gado de corte européias e, conseqüentemente, a resposta à suplementação com uréia será menor nas raças zebuínas.
Os efeitos da alimentação pré e pós-parto sobre a função reprodutiva de vacas de corte são marcantes. Na Tabela 6.9, é mostrado que animais bem alimentados antes do parto apresentam menor intervalo do parto ao primeiro cio do que aqueles submetidos a um plano nutricional baixo no período pré-parto, independentemente do nível nutricional pós-parto. O nível de alimentação pós-parto tem pouco efeito na atividade reprodutiva das vacas com boa condição corporal ao parto, mas tem influência marcante quando o nível nutricional pré-parto é baixo, particularmente na percentagem de vacas que exibem cio até 90 dias pós-parto. A literatura relata que a condição corporal ao parto é relativamente mais importante do que o nível de nutrição pós-parto. Assim, vacas que apresentavam baixa condição corporal ao parto, mas alimentadas para ganhar peso após o parto, tiveram média de intervalo à primeira ovulação de aproximadamente 76 dias. As vacas que pariram em boa condição corporal tiveram média de intervalo de 38 dias, embora tenham sido alimentadas após o parto apenas para manter o peso. 
No período pré-parto, novilhas e vacas gestantes com condição corporal abaixo do ideal, principalmente quando estão magras, tem de ganhar peso para apresentar boa condição corporal ao parto. Parte do aumento de peso, que normalmente se observa no terço final da gestação e que pode atingir de 40 a 50 kg, é resultado do crescimento do feto, das membranas e do acúmulo de líquidos fetais, bem como do aumento do próprio útero. Portanto, o animal pode ter apresentado aumento de peso sem ter melhorado a sua condição corporal ou mesmo pode ter tido perda de condição corporal, o que não é ideal, considerando que o desejado é que as vacas, principalmente as de primeira cria, voltem a ciclar o mais rapidamente possível após o parto.
As vacas de primeira cria geralmente têm o período do parto ao primeiro cio maior do que as vacas com duas ou mais crias. Por essa razão, deve-se ter maiores cuidados com a alimentação das novilhas gestantes. Uma técnica que pode ser utilizada para melhorar a alimentação das novilhas gestantes é permitir que essa categoria de animais realize o pastejo de ponta, ou seja, consuma as pontas do capim antes das vacas adultas.
Tem sido observado que vacas magras não têm boa taxa de gestação e levam mais tempo para apresentar cio dentro da estação de monta. Vacas com condição corporal moderada têm boa taxa de gestação, porém um pouco inferior àquela das vacas em boa condição corporal. Assim, deve-se procurar fazer com que todas as vacas tenham pelo menos condição corporal moderada ao parto. Para isso, deve haver avaliação dos animais três a quatro meses antes do parto e manejo diferenciado para os animais que apresentarem condição corporal abaixo da desejada, para que possam chegar ao parto em condições corporais adequadas.
É importante lembrar que vacas adultas consomem maior quantidade de matéria seca do que novilhas, conseqüentemente, a ingestão de energia por essas duas categorias de animais na mesma pastagem será diferente. Novilhas gestantes magras devem ter manejo diferenciado de vacas gestantes magras, visto que a demanda nutricional da novilha gestante é maior, por se encontrar em fase de crescimento. Portanto, o manejo nutricional de animais de diferentes categorias em gestação deve ser diferenciado, para que os animais tenham as condições adequadas de alimentação que satisfaçam os seus requisitos nutricionais. 

Recria e terminação de bovinos para produção de carne

A recria é geralmente realizada em pastagem, com suplementação de mistura mineral durante o ano todo e com ou sem suplementação de concentrados nos períodos críticos de produção de forragem. Alguns autores, principalmente nos Estados Unidos, sugerem o uso de concentrados durante o verão, para aumentar a taxa de lotação das pastagens ou em pequenas quantidades para explorar o efeito aditivo de volumoso e concentrado no aumento do ganho diário de peso vivo (Owensby et al., 1995). Quando a quantidade de concentrados é elevada (>0,4% do peso vivo) ou a qualidade da forragem (pasto) é adequada, pode ocorrer redução do consumo de pasto (efeito substitutivo) (Pordomingo et al., 1991). Como o desejado é o consumo máximo de forragem durante a recria em pastagens de verão, o fornecimento de concentrados deve ser limitado a 0,4% do peso vivo dos animais.
A terminação de bovinos para produção de carne pode ser realizada das seguintes maneiras:
  1. no pasto;
  2. no pasto com suplementação no verão;
  3. no pasto com suplementação na seca (semiconfinamento); e
  4. em confinamento.
Nos sistemas extensivos de produção, a terminação dos bovinos geralmente é realizada no pasto, com suplementação de mistura mineral. Em conseqüência das limitações de produção de forragem, em quantidade e qualidade, os animais apresentam desempenho inadequado na seca, idade de abate elevada (acima de 36 meses), carcaça com baixo peso e terminação inadequada, resultando em baixa produtividade por unidade de área.
Nos sistemas que utilizam a suplementação com mistura de concentrados na seca (semiconfinamento), há necessidade de vedar áreas de pastagem para utilização durante a seca. Nesses sistemas, ocorre melhor distribuição (redução da sazonalidade) da produção de carne em relação aos sistemas de produção unicamente em pastagem, porém, a produtividade da propriedade ganha pequenos incrementos. Esses sistemas são atrativos pela simplicidade, isto é, requerem investimentos apenas na compra de cochos e concentrados, que são fornecidos na proporção de 1% do peso vivo dos animais, na própria pastagem (Almeida & Azevedo, 1996).
A tomada de decisão de fazer semiconfinamento ou confinamento depende do tipo de animal que o criador possui, do ganho de peso desejado ou necessário para produzir bovinos prontos para abate e do planejamento antecipado na produção de alimentos volumosos, entre outros fatores. O baixo ganho de peso vivo, entre 0,34 a 0,64 kg/animal/dia, dependendo do peso vivo inicial (Almeida et al., 1994), obtido com animais nelorados em sistema de semiconfinamento, pode ser considerado como uma desvantagem deste sistema de criação, em relação aos sistemas que utilizam o confinamento para a terminação de bovinos para abate, como mostrado a seguir.
Nos sistemas mais intensificados, a recria e ou a terminação pode ocorrer em pastos com diferentes graus de correção e fertilização dos solos. A correção e a adubação das pastagens aumenta a produção e a qualidade da forragem disponível para os bovinos. Dessa maneira, é possível aumentar a taxa de lotação e o ganho diário de peso vivo, resultando em maiores produções por unidade de área.
Os sistemas de produção de carne bovina da região Sudeste, que utilizam mais intensivamente o fator terra, fazem uso do confinamento de bovinos como técnica para reduzir a idade de abate, liberar áreas de pastagens para outras categorias de animais, reduzir a taxa de lotação das pastagens nos períodos críticos (seca), obtendo, dessa maneira, melhor taxa de abate, carcaças mais pesadas na entressafra e maior produção de carne por unidade de área. O confinamento de bovinos na década de 1990 era realizado com o objetivo de "estocar boi em pé", isto é, obter lucro com a variação de preço de safra-entressafra do boi gordo. 
O diferencial de preço em moeda americana (dólar) foi de 15,3%, em média, de 1992 a 1997. Atualmente, o confinamento tem de ser realizado com planejamento de tipo ou grupo genético de animais, disponibilidade de alimentos volumosos e concentrados, formulação da dieta adequada para os animais, instalações, época do ano mais apropriada e idade dos animais, entre outros fatores. Diversos estudos mostram que animais que entraram em confinamento acima de 20 meses de idade apresentaram eficiência de conversão alimentar (ECA) de 8,7, enquanto que aqueles que possuíam idade entre 7 e 17 meses apresentaram ECA de 6,3 kg de matéria seca ingerida por quilograma de ganho de peso vivo, mostrando vantagem de 27% em favor do confinamento de animais mais jovens. Por outro lado, animais de alto potencial para ganho de peso que foram recriados em pastagens podem apresentar elevado ganho de peso compensatório por períodos de até 60 dias, sendo então adequados para os sistemas que produzem carne para mercados pouco exigentes quanto à terminação dos bovinos, como pode ser observando na Tabela 6.10. 
Tabela 6.10. Ganho diário de peso vivo (GDP), consumo de alimentos e eficiência de conversão alimentar (ECA) em diversos períodos do confinamento1
Parâmetros
Período (dias)
Média

0-21
21-42
42-63
63-84
84-112
0-112
GDP, kg
1,95
1,91
2,05
1,33
1,12
1,67
Consumo – Silagem, kg
17,0
21,7
22,3
20,3
21,4
20,6
Consumo – Concentrado
4,6
5,9
6,0
5,5
5,8
5,6
ECA, kg MS/kg GDP
4,72
6,13
5,85
8,27
10,35
6,72
1 Adaptado de Cruz (2000). Média dos valores de 72 animais (32 Canchim; 16 Canchim x Nelore, 16 Gelbvieh x Nelore e 8 mestiços leiteiros) distribuídos em 4 baias.
Médias mais adequadas de eficiência de conversão alimentar em confinamento, por períodos mais prolongados do que aqueles apresentados na Tabela 6.10, podem ser observados com diversos grupos genéticos mostrados na Tabela 6.11. A principal razão das diferenças observadas na eficiência de conversão alimentar (ECA) está relacionada à idade mais jovem de entrada dos animais em confinamento. É importante observar também que animais de diferentes tamanhos de estrutura corporal podem permanecer no confinamento por mais tempo, apresentando alta ECA, em razão da deposição de gordura na carcaça ser mais tardia.
Na região Sudeste, a época mais apropriada para a realização da terminação de bovinos em confinamento é durante o período seco do ano, como forma de amenizar os efeitos adversos de alta umidade (lama) e altas temperaturas sobre o desempenho dos animais e para não competir com a produção de carne exclusivamente em pastagem durante o verão, que possui custos de produção mais baixos. O confinamento a céu aberto é o mais recomendado para o período seco na região Sudeste, por apresentar custo mais baixo do que os outros tipos de instalações.
Tabela 6.11. Eficiência de conversão alimentar em diversos períodos do confinamento (kg de matéria seca/kg de ganho de peso vivo)1
Grupo Genético
Período de confinamento (dias)

0-31
31-59
59-74
74-87
87-108
108-129
Blonde d’Aquitaine x Nelore
4,5
6,2
5,9
6,2
7,4
10,2
Limousin x Nelore
4,9
6,4
5,6
6,1
6,9
9,7
Canchim
5,9
5,6
5,5
6,6
9,1
10,8
Canchim x Nelore
4,7
6,2
6,3
7,2
10,8
10,6
1 Adaptado de Cruz (2000). Média dos valores de 3 baias, de cada grupo genético.
O desempenho de bezerros de seis grupos genéticos confinados aos 12 meses de idade pode ser observado nas Tabelas 6.12 e 6.13. O ganho diário de peso vivo e o consumo diário de matéria seca, expresso em percentagem do peso vivo, sofreram reduções com o aumento do peso vivo de abate. A conversão alimentar aumentou (piorou) de 5,92 para 6,26 ou 6,49 kg de matéria seca por quilograma de ganho diário de peso vivo à medida que os pesos de abate tiveram acréscimos de 400 para 440 ou 480 kg. Dois fatores devem ter contribuído para a redução do ganho de peso e a piora na conversão alimentar, quais sejam, a redução na ingestão de nutrientes e a mudança na composição do ganho de peso (aumento da deposição de gordura) com o aumento do peso vivo de abate. A vantagem do animal cruzado em relação ao Nelore comercial quanto ao potencial para ganho de peso vivo (Tabela 6.4) é evidente quando os animais receberam ração com 13% de proteína bruta e 70% de nutrientes digestíveis totais (50% de silagem de milho, 28,3% de milho em grão moído, 9,2% de farelo de soja, 10,8% de farelo de trigo, 0,7% de calcário calcítico e 1% de mistura mineral, na base seca).
O ponto ideal de abate de bovinos machos não-castrados depende do peso mínimo exigido pelo mercado, que é de aproximadamente 240 kg de carcaça quente (16 @), à idade máxima de aproximadamente 18 meses, para evitar problemas de manejo e obter proporções equilibradas de quartos dianteiro e traseiro na carcaça e terminação adequada de no mínimo 3 mm de gordura externa, para proporcionar a qualidade desejada no produto final.
Tabela 6.13. Média estimada de ganho diário de peso de machos não-castrados em confinamento, por grupo genético, de acordo com o peso de abate.

Peso vivo de abate (kg)

Grupo genético
400 (I)
440 (II)
480 (III)
Erro Padrão
Blonde d’Aquitaine x Nelore
1,57a
1,53a
1,54a
0,06
Canchim
1,83a
1,60a
1,55a
0,10
Canchim x Nelore
1,64a
1,38a
1,40a
0,08
Limousin x Nelore
1,70ab
1,80a
1,58b
0,06
Piemontês x Nelore
1,47a
1,48a
1,49a
0,05
Nelore1
1,13a
1,12a
1,11a
0,06
1 Pesos previstos para abate foram de 380, 410 e 440 kg.
abc Médias seguidas de letras iguais na mesma linha não diferem (P > 0,05) pelo teste SNK. 
A castração de bovinos destinados ao abate é tradicionalmente realizada no Brasil por motivos econômicos e de aceitação do consumidor. Na pecuária extensiva brasileira, os bovinos são colocados em pastagens com baixa disponibilidade de forragem e de baixa qualidade nutricional por longos períodos, ocasionando idade de abate tardia. Nessas condições, é imperativo que se faça a castração para tornar os animais mais dóceis (facilitar o manejo), produzir carne de melhor qualidade e evitar o deságio praticado pelos frigoríficos. Nos sistemas intensivos de produção, com pastagens de melhor qualidade em combinação e uso de confinamento, quando necessário, o abate dos bovinos deve ocorrer entre 14 e 20 meses de idade. A decisão da castração ou não dos bovinos jovens é dependente da política dos frigoríficos em cada região. Geralmente não há restrição para machos não-castrados com dentição de leite intacta, peso mínimo de 240 kg de carcaça quente e terminação adequada.




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