1 de jun. de 2018

Controle de Verminose em Caprinos e Ovinos


Sanidade - Controle de Verminose

O uso efetivo de drogas anti-helmínticas proveu, durante muitos anos, a base para manutenção da sanidade dos rebanhos de caprinos e ovinos no mundo todo. No entanto, devido ao surgimento da resistência parasitária e devido ao alto custo dos medicamentos, o controle tradicional vem sendo substituído por uma combinação de métodos e alternativas cujo objetivo é atacar o problema de diferentes formas e reduzir ao máximo o uso de medicamentos. Essa estratégia, associada a um conjunto de práticas de manejo, irão constituir um programa integrado de controle, cuja elaboração deverá ter por base as seguintes orientações: 1) usar várias estratégias; 2) manter uma carga parasitária mínima; 3) manter o desempenho produtivo; 4) retardar o aparecimento da resistência anti-helmíntica; 5) reduzir os resíduos na carne, no leite e no ambiente.
No entanto, um bom programa de controle da verminose é aquele que foi adaptado à realidade de cada propriedade, que é influenciada por diferentes fatores. Sendo assim, embora recomendações gerais sejam descritas aqui, não existe um programa pronto a ser entregue ao produtor rural como uma “receita de bolo”. O criador deverá, portanto, avaliar suas condições particulares e, com a ajuda de um técnico, ter habilidade para aplicar as ferramentas disponíveis de acordo com sua realidade. Ao montar um bom programa de controle, o criador se permitirá, da melhor forma possível, realizar o equilíbrio entre os animais e parasitas, minimizando os prejuízos e mantendo a viabilidade da produção.

Conhecendo a Doença

A verminose é um dos principais problemas na criação de caprinos e ovinos no mundo todo. Afeta praticamente todos os animais a campo, sendo mais grave em animais jovens. Causa prejuízos para os produtores devido às despesas adicionais com mão de obra, medicamentos e mortalidade. A doença é causada por diversas espécies de vermes, sendo o principal Haemonchus contortus que se alimenta de sangue.

Conhecendo os Sintomas

Os principais sintomas são diminuição do apetite, emagrecimento, pelos arrepiados e sem brilho, anemia e, às vezes, diarreia (Figuras 1 e 2). A mortalidade gira em torno de 30%.
Autor: Raymundo Rizaldo Pinheiro
Figura 1. Animal com diarreia.
Autor: Raymundo Rizaldo Pinheiro
Figura 2. Mucosa do olho branca (sinal de anemia).

Conhecendo a Contaminação

A principal fonte de contaminção é o próprio pasto onde as larvas dos vermes se desenvolvem após serem eliminadas junto com as fezes. Água e alimentos contaminados também podem servir de fonte de contaminação.

Fatores que Influenciam a Ocorrência da Verminose

A verminose pode ser mais grave em alguns rebanhos ou em alguns animais, e principalmente em algumas épocas, devido à influência do manejo, fatores do meio ambiente e das características do próprio animal. Esses fatores são:
  • Clima: calor e presença de chuvas aumentam a verminose.
  • Animais: categorias como cabritos e cordeiros jovens, fêmeas em gestação ou lactação, bem como algumas raças são mais sensíveis à verminose.
  • Doenças e nutrição: animais com doenças, como a linfadenite (mal do caroço) e a CAE (mal do joelho) e animais malnutridos são mais susceptíveis.
  • Resistência dos vermes aos medicamentos: o uso frequente e inadequado dos medicamentos leva à perda da sua eficiência.

Controlando a Verminose

Para se controlar a verminose, é preciso atacar a doença de diferentes formas e reduzir ao máximo o uso de medicamentos. Porém, o plano de controle da verminose deverá ser adaptado a cada realidade. Portanto, o produtor deverá avaliar a situação e escolher quais medidas poderão ser aplicadas na sua propriedade. As alternativas disponíveis são diversas e se baseiam no controle dos fatores que influenciam a ocorrência da doença. Elas buscam prevenir ou limitar ao máximo o contato entre o parasita e os animais. A seguir serão destacadas as principais medidas que podem ser utilizadas no controle da verminose, lembrando sempre que a pastagem é a principal fonte de contaminação.
Lembre-se: A verminose quando não controlada é a doença responsável pelo maior número de mortes e prejuízos nos rebanhos caprino e ovino.
Reduzindo a contaminação
  • Evite a superlotação de animais.
  • Forneça água e alimentos de boa qualidade.
  • Faça a limpeza regular das instalações. Mantenha cochos de água e alimentos sempre limpos e colocados fora das baias.
  • Escolha capim que possa ser utilizado em pastejo alto (> 15 cm), pois a maioria dos vermes se encontra até 5 cm do solo.
  • Alterne o pastejo com plantas nativas (Ex: Caatinga) e capim cultivado nas propriedades que possuam esta condição.
  • Reserve para feno ou silagem o capim oriundo dos piquetes mais contaminados.
  • Utilize o descanso de pastagens, ou alterne com culturas, pastejo de restolhos ou palhadas.
  • Coloque o esterco nas esterqueiras por um período mínimo de 60 dias antes de aplicar nas pastagens – a fermentação promove a morte das larvas.
  • Separe os animais jovens dos adultos, tanto na baia como no piquete. Animais adultos pastejam antes dos jovens; se possível, dê preferência ao confinamento de animais jovens (sensíveis).
  • Use o pastoreio rotacionado com espécies animais diferentes: utilizar outras espécies no mesmo pasto faz com que os vermes de ovinos e caprinos sejam reduzidos ao serem ingeridos por esses animais (Ex: ovinos e bovinos no mesmo pasto – Figura 3).
  • Forneça ração (1% peso vivo) para disponibilizar proteína a borregos e cabritos até a desmama.
  • Forneça ração para cabras e ovelhas em gestação e com crias ao pé.
Autor: Raymundo Rizaldo Pinheiro
Figura 3. Modelo de pastoreio rotacionado com ovinos e bovinos. Cada módulo é dividido em 8 piquetes e a cada 40 dias ovinos são transferidos para o módulo onde estavam bovinos e assim sucessivamente.
Fonte: Fernandes et al. (2004)
Selecionando animais para o tratamento
Atualmente, não se recomenda mais aplicação de vermífugos em todo rebanho sem antes identificar os animais com real necessidade de tratamento. Porém, a identificação pode ser difícil caso os animais não apresentem sinais evidentes de verminose. Nesse caso, poderão ser utilizados métodos específicos para seleção dos animais que necessitam tratamento mesmo sem sintomas. Um deles é a realização da contagem de ovos de parasitas nas fezes (OPG - ovos por grama de fezes). Porém, o exame de fezes exige o envio de amostras para um laboratório. Todos os animais que apresentarem resultados superiores a 1000 ovos/g deverão receber medicação. Esse método, embora eficiente, torna-se trabalhoso e de alto custo em grandes rebanhos. Uma forma mais prática é avaliar o grau de anemia dos animais através da observação da mucosa ocular, método conhecido como FAMACHA. Nesse método, utiliza-se um cartão com cores que indicam o grau de anemia dos animais. Os animais cuja coloração da mucosa ocular indicar nível de anemia igual ou superior a 3, precisam receber vermífugo, conforme a Figura 4.
Atenção!
  • Em regiões onde se usa pastagem cultivada e há grande incidência de verminose, recomenda-se o exame dos animais utilizando o cartão FAMACHA a cada 7 dias.
  • Em regiões semiáridas, recomenda-se a realização do exame a cada 15 dias no período chuvoso e a cada 30 dias no período seco.
Autor: Raymundo Rizaldo Pinheiro
Figura 4A. Exame da mucosa ocular.
Figura 4B. Cartão Famacha pequeno em várias línguas, lançado em 2005 - com o auxílio do cartão observa-se o grau de anemia e a indicação para a necessidade de tratamento ou não. Os animais deverão ser tratados quando apresentarem anemia do nível 3 ou superior.
Fonte: Van Wyk et al (1997).
Utilizando vermífugos corretamente
As drogas contra verminose ainda são muito importantes para o seu controle, porém o uso inadequado e por um longo período pode ser catastrófico para o produtor, levando a resistência dos vermes. Para evitar a perda da eficiência das drogas disponíveis, não se usa mais a vermifugação de todo o rebanho, devendo-se atentar para os critérios utilizados para o uso correto.
  • Vermifugue emergencialmente os animais em que os sintomas estejam visíveis (emagrecimento, anemia, papeira, diarreia, queda na produção de carne ou leite). Geralmente apenas 10% do rebanho manifestam tais sintomas. Animais sem sintomas evidentes devem ser avaliados quanto à necessidade de tratamento pelos métodos descritos anteriormente (OPG ou FAMACHA).
  • Trate os animais de compra antes de incorporá-lo no rebanho.
  • Não vermifugue as fêmeas no terço inicial da prenhez (primeiros 45 dias), para evitar problemas de malformação da cria.
  • Vermifugue as fêmeas 30 dias antes do parto.
  • Vermifugue os animais que vão entrar na estação de monta.
Atenção!
  • Após a vermifugação, deixe os animais presos no chiqueiro ou no aprisco por, pelo menos, 12 horas (faça as vermifugações sempre no final da tarde).
  • Cabritos e cordeiros deverão ser vermifugados somente após o contato com o pasto, geralmente após a terceira semana de pastejo.
  • Leia a bula do vermífugo e siga as instruções do fabricante quanto ao período de descarte do leite e tempo para o abate.
  • Reduza ao máximo a frequência de vermifugações.
  • Troque o vermífugo somente a cada ano para evitar resistência dos vermes.
Meta do Produtor
O produtor deve descartar os animais que receberam 8 ou mais doses de vermífugo num período de 6 meses (animais que repetem grau FAMACHA 3, 4 ou 5). No rebanho, devem permanecer os animais que repetem grau FAMACHA 1 e 2, ou seja, animais resistentes à verminose.
Escolha do vermífugo
Existem vários tipos de vermífugos classificados pelo grupo químico e princípio ativo (Tabela 1). Os vermífugos de um mesmo grupo químico podem ser vendidos com diferentes nomes (marca comercial) de acordo com seu fabricante. Ao trocar de vermífugo, escolha sempre um de diferente grupo químico do utilizado anteriormente. É possível consultar as opções disponíveis na internet através do endereço eletrônico http://www.cpvs.com.br/cpvs/index.html. Na dúvida, é melhor pedir a orientação de um profissional qualificado.
Atenção!
- Evite ao máximo a troca de vermífugo sem necessidade.
- Nunca troque o vermífugo antes de um ano de uso.

Precaução: 
Observar o período de carência dos medicamentos (ver informações com o técnico veterinário ou na bula). A carência é o período no qual o leite e a carne não devem ser consumidos devido à presença de resíduos do medicamento.
Tabela 1. Vermífugos disponíveis comercialmente separados pelo grupo químico e princípio ativo.
GRUPO QUÍMICO
PRINCÍPIO ATIVO
AÇÃO
IMIDATIAZÓIS
Levamisol
Tetramisol
Vermes gastrintestinais
PIRIMIDINAS
Pamoato de pirantel
Vermes gastrintestinais
SALICILANILIDAS
Closantel
Niclosamida
Vermes gastrintestinais)
Tênias
ORGANOFOSFORADOS
Triclorfon
Vermes gastrintestinais
BENZIMIDAZÓIS
Albendazol
Mebendazol
Oxfendazol
Febendazol
Vermes gastrintestinais

Vermes pulmonares e tênias
LACTONAS MACROCÍCLICAS
Ivermectina
Moxidectina
Doramectina
Abamectina
Eprinomectina
Vermes gastrintestinais, pulmonares e parasitas externos
SUBSTITUTOS NITROFENÓLICOS
Disofenol
Nitroxinil
Vermes gastrintestinais e pulmonares
DERIVADO DA AMINO-
ACETONITRILA
Monepantel
Vermes gastrintestinais

Aplicação do Vermifugo

A principal via de aplicação de vermífugos em caprinos e ovinos é a via oral ou bucal (dentro da boca). Para administrar o vermífugo na boca do animal, são utilizadas seringas comuns ou pistolas dosificadoras automáticas (Figura 5). 
Autor: Raymundo Rizaldo Pinheiro
Figura 5. Administração do vermífugo por via oral.
Atenção!
  • É importante administrar a dose recomendada pelo fabricante (bula), devendo-se para isso pesar animais.
  • Atentar para as diferenças entre caprinos e ovinos. As doses de um mesmo medicamento pode ser diferente ou não são recomendadas para ambos.
  • Tenha cuidado ao administrar medicamentos na boca do animal, pois qualquer descuido poderá levá-lo à morte.
  • Ao usar a pistola dosificadora, verifique se está funcionando bem, para evitar a aplicação de quantidades erradas.






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