24 de mar. de 2016

Proteção para o Apicultor



4. Proteção

4.1 Como se proteger durante o manejo?

O apicultor protege-se principalmente de duas formas: com o uso de vestimenta adequada e o emprego de fumaça.

4.2 Como deve ser a vestimenta do apicultor?

Botas, jaleco e calças ou macacão, luvas e máscara. O ideal é que sejam usadas apenas cores claras, de preferência o branco, pois elas estimulam menos a agressividade das abelhas.
As botas devem ser de borracha branca, melhor se tiverem o cano firme e estreito, que proteja até o meio da panturrilha, aproximadamente.
O macacão, ou o conjunto de jaleco e calça, pode ser feito de algodão (brim) ou de tecidos sintéticos, como nylon ou albene. Há inúmeros modelos, alguns ventilados, alguns com máscara integrada, alguns com mais de uma camada. Ao fazer um curso de apicultura, você provavelmente será apresentado a vários modelos e poderá escolher o que lhe parecer melhor. Mas como primeira escolha, eu recomendaria um macacão de brim branco, bem simples. É o que eu uso até hoje, e garanto que você não jogará dinheiro fora. Ele deve ser bem folgado, pelo menos dois números acima do seu, para evitar que fique muito esticado sobre a pele e facilite a vida das abelhas agressoras. Por baixo do macacão, é bom usar sempre uma camiseta de algodão e uma bermuda, para que o macacão, quando molhado de suor, não fique colado ao corpo. Para mexer em enxames muito agressivos, a roupa de baixo pode ser reforçada.
A máscara deve ter uma área de visão ampla, protegida por uma tela preta (para evitar ofuscamento). De preferência, essa tela deve contornar toda a cabeça, para permitir uma ventilação melhor. Eu uso máscaras independentes do macacão. O modelo tradicional, feito com chapéu de palha e tela metálica, é confortável, seguro, fresco e durável, e você pode apostar nele sem medo. Para iniciantes, porém, o modelo de máscara integrada ao macacão pode ser preferível, pois dá uma sensação de segurança maior.
As luvas podem ser feitas de borracha, courvin ou couro (vaqueta). Eu gosto das luvas de couro, que dão proteção máxima em qualquer situação, e são muito resistentes.
Essas são as minhas preferências, certamente diferentes das de outros apicultores. Só depois de adquirir alguma experiência, você poderá definir bem qual é o seu conjunto ideal.

4.3 Como vestir todo esse equipamento?

Simples: as peças das extremidades devem recobrir o macacão. A máscara (quando separada) recobre a gola, as luvas recobrem os punhos e as botas recobrem as pernas do macacão.

4.4 Não se morre de calor?

Pelo menos, não muitas vezes.
Na verdade, o calor pode ser um inimigo terrível do apicultor, e ainda assim será preferível a uma porção de ferroadas. Mas alguns procedimentos podem diminuir um pouco o sofrimento:
· Mantenha as colméias a meia-sombra no verão.
· Leve água ao apiário. Se ela puder ser mantida gelada ou fresca, melhor. Para beber, providencie um buraco na máscara, à altura da boca, de forma que seja possível beber com um canudo. Faça uma tampa para esse furo (com velcro, por exemplo).
· Carregue dentro da máscara uma toalhinha para secar o excesso de suor do rosto. Segure-a pelo lado de fora da máscara.

4.5 Mas as abelhas não entram pelas frestas?

No ajuste da máscara e das luvas, não devem sobrar frestas, ou as abelhas poderão entrar. Algumas abelhas agressivas dentro da máscara não é uma situação nada agradável de se enfrentar.
Entre o macacão e as botas, o problema é menor, porque elas raramente descem para ferroar. Se o cano não for muito largo, as canelas e o pé serão os locais com menor risco de serem ferroados.

4.6 O que eu faço se entrarem abelhas na máscara?

Uma saída é afastar-se bastante do apiário e tirar a máscara, mas isso raramente é possível. Quando essa situação ocorre, o nível de ataque é muito alto, e você acabará sendo perseguido por outras abelhas que o impedirão de livrar-se da máscara (veja também item 4.12 abaixo).
O que eu faço é matar as abelhas que entraram com golpes rápidos, esmagando-as contra a minha cabeça. Mas o melhor mesmo é ter muito cuidado ao colocar a máscara, ou usar máscaras integradas ao macacão, que impedem a entrada de abelhas (a não ser que haja um furo, é claro).

4.7 Como se proteger contra enxames muito agressivos?

Enxames hiperagressivos podem ser um problema sério. Felizmente, eles não costumam existir em grande número no apiário. Para começar, deixe a sua manipulação por último, para que a resposta agressiva não atrapalhe o manejo das demais colônias. Tente fazer um manejo rápido, aplicando mais fumaça do que de hábito. Se possível, evite dias sombrios, úmidos ou ventosos.
Por baixo do macacão, use algo grosso, como um abrigo esportivo. Use meias duplas e recubra-as o máximo possível com as extremidades do abrigo e do macacão. Cuide especialmente para não deixar frestas junto às luvas e às máscaras. Deixe qualquer equipamento furado ou descosturado em casa.
Alguns apicultores recomendam o uso de macacões de nylon nessas circunstâncias. O nylon é fino e não dá uma boa proteção, mas as abelhas têm dificuldade em ferroar por não conseguirem se agarrar bem à roupa. Com isso, muitas que morreriam ao ferroar um macacão de brim acabam se salvando.

4.8 A fumaça tonteia as abelhas?

Não, ela inibe a percepção dos feromônio de alarme que são liberados pelas abelhas quando elas se sentem ameaçadas. Há também uma teoria que prega que a fumaça desencadeia na colméia um comportamento de preparação para abandono, que faz com que muitas abelhas se encham de mel, ao invés de assumir uma posição de revide à ameaça. Supostamente, uma abelha cheia de mel teria também mais dificuldade em flexionar o abdômen para ferroar.

4.9 Como usar a fumaça?

Aqui há duas abordagens. Eu prefiro usar o mínimo indispensável. Por isso, preciso estar sempre com o fumegador à mão e usá-lo freqüentemente, com pequenas fumegadas. Não há dúvida que dá mais trabalho, especialmente quando se trabalha sozinho, mas as abelhas e os consumidores do seu mel agradecem.
A outra abordagem é o oposto: aplicar bastante fumaça. Com isso, inibe-se de uma vez quase toda a capacidade de resposta agressiva da colméia. Esse método é freqüentemente usado por quem possui um número grande de colméias e não pode perder muito tempo em cada uma delas. Na minha opinião, se alguém não consegue cuidar direito de suas colméias, deveria pensar em reduzir o seu número ou contratar ajudantes, não em piorar a qualidade do manejo.

4.10 Por que a fumaça é indesejável?

A fumaça causa um transtorno geral na colméia, atrapalhando todas as atividades. A volta à normalidade na colméia pode levar horas. Além disso, ela impregna todo o interior da colméia, inclusive o mel que será colhido pelo apicultor. Se você consome mel habitualmente, com certeza já provou mel com gosto de fumaça. Ele foi extraído por um apicultor que usou fumaça demais quando havia mel não operculado na colméia.
Mas o sabor ruim não é o pior da história. A fumaça proveniente da queima incompleta dos restos vegetais, que é o que ocorre no fumegador, é composta por uma quantidade muito grande de substâncias químicas tóxicas e carcinogênicas. Hidrocarbonetos, como metano, propano e octano, cetonas, álcoois, aldeídos, ácidos, entre outros, são produzidos no fumegador, e parte deles é expelida junto com o vapor d'água, as cinzas e o alcatrão que também compõem a fumaça [FIS02]. Para resumir: fumaça é sujeira, evite-a tanto quanto possível.

4.11 Quanto tempo devo esperar para abrir a caixa após pôr fumaça?

Uma recomendação freqüente na literatura é que se coloque algumas baforadas no alvado e se espere alguns minutos, "tempo suficiente para que as abelhas se encham de mel". Mas admito algum ceticismo em relação a este raciocínio. Eu nunca espero tempo nenhum e nunca encontrei diferença quando tentei experimentá-lo.
Ocorre que as abelhas dispostas a atacar e ferroar normalmente compõem um percentual muito pequeno do enxame, de algumas dezenas a poucos milhares. Se fosse diferente, o enxame facilmente poderia se inviabilizar pela morte de muitas adultas. Assim, para que a teoria de "encher-se de mel" funcione, é necessário que exatamente essas poucas abelhas guardas corram aos favos de mel, disputando-os com uma população de operárias centenas de vezes maior. É um pouco difícil de acreditar.
A minha recomendação é fumegar três ou quatro vezes pelo alvado, deslocar-se para trás da colméia, levantar a tampa e, a partir daí, usar o fumegador apenas quando necessário e apenas com intensidade suficiente. Deve-se ter cuidado especial quando há melgueira com mel desoperculado, para não contaminá-lo.
Obviamente, há condições de exceção que precisam ser tratadas de forma especial. Enxames excessivamente agressivos não podem ser controlados com pouca fumaça. Em dias sombrios, a concentração de abelhas nas colméias é maior, e a agressividade geralmente também. A presença de vento dissipa muito rapidamente a fumaça e, conseqüentemente, os seus efeitos. Nesses casos, um volume maior de fumaça e o seu uso com maior freqüência é inevitável.
Da mesma forma, enxames pequenos podem muitas vezes ser manipulados sem fumaça nenhuma, ou com quantidade absolutamente mínima. Por isso, nunca trate da mesma forma seus enxames diferentes.

4.12 Como posso me livrar das abelhas que me perseguem?

Dentro do apiário, não é possível, você apenas deve manejá-las o mais suavemente possível para manter a resposta agressiva no nível mais baixo que puder.
Fora do apiário, há um método que funciona muito bem: atravesse um mato fechado em zig-zag. Às vezes, uma ou duas entradas e saídas num mato já despista quase todas as abelhas perseguidoras. Prevendo isso, você pode já deixar caminhos irregulares prontos para uso.

4.13 O que fazer quando eu levar uma ferroada?

Uma recomendação repetida por quase todos os apicultores é que o ferrão não deve ser removido com os dedos em movimento de pinça. Ele deve apenas ser raspado rapidamente, com a ponta do formão ou mesmo da unha (essa recomendação não é consensual, veja o item 4.14 abaixo). Depois, se for possível, limpe ou cubra a região, para que os feromônios ali depositados não provoquem outras ferroadas.
Se a ferroada atingir a pele através da roupa, veja se o ferrão ficou preso e remova-o. Em seguida, aplique um pouco de fumaça no local, para disfarçar o feromônio.

4.14 Por que devo retirar o ferrão rapidamente e sem usar os dedos?

Porque junto com o ferrão, normalmente é deixado também o saco de veneno. Quando isso ocorre, o veneno permanece sendo injetado por algum tempo e quanto mais rápida for a sua retirada, melhor. No entanto, muitos acreditam que se isso for feito com os dedos, é provável que o saco seja espremido, e o resto do veneno seja introduzido de uma só vez.
Um estudo recente, porém, contesta a hipótese de impropriedade de uso do dedo para a remoção do ferrão [VIS03]. Para isso, foram provocadas diversas picadas em voluntários, e variou-se o tempo (0,5 a 8 segundos) e a forma de remoção dos ferrões (arrancamento com os dedos e raspagem). Por fim, foram analisadas as respostas locais ao veneno injetado. A conclusão foi que, quanto mais rápida é a remoção, menor a quantidade de veneno injetada. Por outro lado, o método de remoção não teve nenhuma influência na resposta e o arrancamento com os dedos não causou a injeção de mais veneno. A explicação para isso é que o veneno de fato continua a ser bombeado após a deposição do ferrão, mas é um sistema de válvulas que controla o fluxo e não contrações do saco (cujas paredes nem sequer possuem músculos) ou a sua compressão.
Resumindo, quando você for ferroado, retire o ferrão o mais rápido possível, do jeito que der.

4.15 Como é que alguns apicultores trabalham sem proteção?

Com o tempo e a experiência, é possível dispensar alguma proteção, especialmente as luvas. Muitos apicultores profissionais, que trabalham com muitas colméias, acabam habituando-se às ferroadas e preferem evitar o uso das luvas, que sempre atrapalham um pouco. Num manejo simples, em dia favorável, você pode fazer uma experiência e ver como se sente.
Em nenhuma hipótese, porém, trabalhe sem a máscara. O pescoço e o rosto são áreas muito sensíveis, e não vale a pena correr o risco. Uma ferroada no olho é um acidente grave e pode deixar seqüelas que farão você se arrepender dessa imprudência pelo resto da vida.

4.16 Então, por que há gente que trabalha sem máscara?

Talvez pelas mesmas razões que as pessoas que guiam motos sem capacete ou que trabalham na construção civil sem EPIs: para evitar o desconforto e por excesso de confiança. No caso da apicultura, pode haver um componente adicional: o desejo de impressionar os amigos com uma demonstração de coragem.
Mas, desprotegido, o apicultor não apenas corre um risco desnecessário. Ele geralmente precisa diminuir esse risco com o uso exagerado de fumaça, o que é pior também para as abelhas.

4.17 Então não devo fazer uma barba de abelhas também?

Faça, se quiser, mas por sua conta e risco. É perigoso com abelhas européias e muito mais com africanizadas. Aliás, isso não é apicultura, é apenas espetáculo.

4.18 Por que as abelhas ficam naquela forma de barba?

A pessoa coloca a rainha de uma colméia numa gaiolinha, pendura-a no pescoço e sacode as abelhas ao lado. Em seguida, elas se agrupam em torno da rainha.



Um comentário:

Unknown disse...

cara, sou estudante de moda e estou fazendo uma pesquisa sobre o uniforme de apicultor, sei que este post eh meio antigo mas achei bem interessante, teria como me passar o seu contato?