9.1 O que é o pólen?
É a célula reprodutiva masculina das plantas floríferas. Ele é produzido pelas anteras e deve alcançar o estigma da flor (a porção terminal do seu órgão reprodutivo feminino, o gineceu) para que ocorra a fecundação e a posterior formação de sementes. Este processo é chamado de polinização, e ele ocorre muitas vezes com a ajuda de agentes externos, como o vento, a chuva e animais que se alimentam do pólen ou do néctar, como as abelhas. Em comparação com o néctar, o número de espécies que produz pólen é muito maior.
Pólen
9.2 Como as abelhas ajudam na polinização?
Quando a abelha pousa numa flor, para colher néctar ou pólen, grãos de pólen ficam presos nos seus pêlos. Em razão do movimento da abelha, os grãos podem ser levados ao estigma da mesma flor ou de outra. Essa ação da abelha é involuntária, e a polinização, um resultado acidental.
9.3 Como o pólen é armazenado pelas abelhas?
As bolotas de pólen trazidas pelas campeiras são empilhadas nos alvéolos logo acima da área de cria. Ao pólen, são adicionadas algumas secreções glandulares e uma fina cobertura de mel, formando o alimento básico das larvas e abelhas jovens (chamado por alguns de "pão de abelha").
9.4 Como o apicultor coleta o pólen?
O que é coletado, na verdade, são as bolotas trazidas pelas campeiras, não o que é depositado nos alvéolos. Para essa coleta, empregam-se armadilhas, chamadas de caça-pólen.
Basicamente, o caça-pólen é constituído por uma grade e uma gaveta. As abelhas passam apertadas pela grade e acabam perdendo a bolota de pólen, que cai dentro da gaveta. As abelhas não têm acesso à gaveta, que é protegida por uma tela mais fina.
Há dois modelos básicos de caça-pólen, o de alvado e o interno. O de alvado é colocado na frente da entrada da colméia, tem uma capacidade menor e deve, portanto, ser esvaziado mais freqüentemente. O interno é posicionado entre o fundo da colméia e o ninho e tem uma capacidade maior.
9.5 Por quanto tempo o caça-pólen pode ser deixado na colméia?
É preciso considerar que o pólen é um produto de extremo valor para as abelhas. Sem ele, não é possível alimentar as larvas mais velhas e as abelhas jovens que, por sua vez, dependem dele para produzir as secreções hipofaringeanas e mandibulares que alimentam as larvas jovens e a rainha. Some-se a isso o fato de as abelhas não estocarem pólen em grandes quantidades, como fazem com o mel, e se terá uma limitação muito forte para o tempo de permanência do caça-pólen na colméia. E essa limitação é tanto maior quanto mais eficiente for o caça-pólen.
Um estudo realizado em Botucatu (SP) [FUN98], identificou uma redução de cerca de 10% na área de cria de operárias e de 4% na área de cria de zangões, quando um caça-pólen era utilizado num esquema com alternância de sete dias (sete dias com, sete dias sem), em comparação com colméias de controle (sem caça-pólen). O estudo foi realizado nos meses de agosto a dezembro de 1996, e cada colméia produziu, em média, 1,5 kg de pólen em quatro meses.
É claro que diferentes resultados serão obtidos em épocas e locais diferentes. O importante é que o apicultor interessado em produzir pólen observe atentamente a resposta dos enxames e, a partir daí, desenvolva um esquema que garanta ao mesmo tempo uma boa produtividade e uma boa manutenção do enxame.
9.6 Como é o beneficiamento do pólen?
Inicialmente, caso o pólen não possa ser secado imediatamente, ele deve ser congelado. A etapa de secagem é a mais importante. O pólen possui de 18 a 25% de umidade, um nível que deve ser reduzido até cerca de 3%, para impedir o desenvolvimento de fungos e fermentos. A limpeza do pólen, manual ou mecanizada também é muito importante. Por fim, a armazenagem deve ser feita em recipiente hermeticamente fechado, para que não haja nenhuma contaminação.
9.7 É possível produzir mel e pólen na mesma colméia?
Sim, mas nenhum dos produtos de forma otimizada. Quando um produto falta na colméia, um número maior de abelhas passa a buscá-lo na natureza. Ao usar-se o caça-pólen, muitas abelhas provavelmente deixarão de colher néctar para colher pólen, o que resultará numa produção do mel inferior à capacidade do enxame em condições normais. O mesmo acontece com a produção de própolis.
9.8 O pólen é um alimento completo para os humanos?
Não, ele é deficiente em algumas vitaminas, por exemplo. Também possui uma porção relativamente alta de matéria indigerível por humanos, a celulose.
Apesar disso, o pólen pode ser considerado um excelente alimento. Para manter o mesmo raciocínio apresentado em relação ao mel, se alguém quiser suprir 30% da sua necessidade diária de algumas vitaminas e minerais, precisará consumir de 6 a 100 g de pólen. Quem ingerir 100 g de pólen estará, em média, consumindo 246 kcal e 24 g de proteínas. Em 100 g de carne bovina há 385 kcal e 23 g de proteína. No caso de frango frito, 100 g correspondem a 165 kcal e 25 g de proteína. O pólen, porém supera esses alimentos amplamente no conteúdo de vitaminas e minerais.
9.9 O pólen pode ser consumido por qualquer pessoa?
A princípio sim, mas estudos identificaram que 12 a 33% das pessoas experimentaram algum tipo de problema ao ingerir pólen, especialmente no que se refere às funções gastrintestinais. Na dúvida, inicie comendo quantidades bem pequenas e observe o resultado.
9.10 Para que o pólen pode ser usado como remédio?
O pólen também é freqüentemente apresentado como panacéia universal, o que obviamente não é. No entanto, há alguns efeitos já estudados e bem documentados do pólen. O principal é o seu efeito sobre a prostatite. Diversos estudos identificaram redução da inflamação, do desconforto e da patologia de pacientes que sofriam de inflamação prostática benigna. Em qualquer caso, porém, procure sempre um médico antes de adotar qualquer tratamento.
Um dos problemas do pólen em relação ao seu uso terapêutico é que, como ele raramente tem origem monofloral, cada amostra possui sua composição química particular. Por essa razão, a variabilidade quantitativa de seus componentes é muito grande, chegando à ordem de 500% ou até mais. Isso dificulta a prescrição de uma dosagem terapêutica específica.
Própolis
9.11 O que é a própolis?
Própolis é uma substância resinosa, coletada pelas abelhas em uma grande variedade de plantas, especialmente em brotos de árvores. Dentro da colméia, essa substância é manipulada pelas abelhas e misturada a um pouco de cera a fim de adquirir propriedades mecânicas adequadas ao seu futuro uso. Tal como o pólen e o mel, a própolis é uma substância de composição variável, por provir das plantas disponíveis na região de cada colméia. No entanto, essa variabilidade não é tão grande quanto se poderia esperar; alguns estudos mostram uma razoável similaridade entre amostras de origens bastante diferentes.
9.12 Para que as abelhas utilizam a própolis?
Para vedar frestas que permitam a entrada de frio ou inimigos naturais, para "envernizar" o interior da colméia e assim repelir outros insetos e inibir o desenvolvimento de alguns microrganismos, para recobrir corpos estranhos que não possam ser retirados da colméia, como animais mortos, para impermeabilizar a colméia e para reforçar partes frágeis da colméia, entre outros.
9.13 Como o apicultor coleta a própolis?
Para produzir própolis, o apicultor cria frestas na colméia ou insere algum elemento que induza as abelhas a cobri-lo de própolis. Uma maneira simples é levantar a tampa por meio de pequenos calços. Outra é introduzir uma tela plástica abaixo da tampa. Há ainda dispositivos especiais, de maior facilidade de uso e rendimento. Entre os dispositivos disponíveis, há vários que usam melgueiras com paredes externas especiais, que permitem a abertura progressiva de frestas, por meio de barras ou janelas deslizantes. Um exemplo desse tipo é modelo Pirassununga [CON98].
9.14 É possível produzir mel e própolis na mesma colméia?
Sim, mas nenhum dos produtos de forma otimizada (veja item 9.7). A despeito disso, o coletor Pirassununga, acima mencionado, foi desenvolvido exatamente para proporcionar a produção dupla nas melgueiras - própolis nas laterais e mel no centro.
9.15 Por quanto tempo pode ser mantido o coletor de própolis?
Por tempo indeterminado, desde que o enxame esteja suficientemente alimentado e forte. Segundo [CON98], um enxame forte leva cerca de 30 dias para produzir 600 gramas de própolis, mas isso, é claro, varia muito com o tipo de flora local, as condições do enxame e a sua tendência mais ou menos propolisadora.
9.16 Como a própolis é beneficiada?
Primeiro, deve ser feita a limpeza manual da própolis, para eliminação de lascas de madeira (oriundas da raspagem), pedaços de abelhas e resíduos vegetais. Em seguida, ela deve ser classificada segundo o padrão de mercado vigente. Uma classificação simplificada, apresentada em [ESP02], é a seguinte: de primeira qualidade, própolis em grandes flocos ou tiras; de segunda, própolis granulada; de terceira, própolis pulverizada.
9.17 Como a própolis é armazenada?
Algumas substâncias presentes na própolis evaporam-se ou degradam-se com facilidade. Por isso, é importante que a própolis seja armazenada em recipientes hermeticamente fechados, como vidros e plásticos atóxicos. Após embalada, a própolis deve sofrer um resfriamento intenso (um dia no freezer, por exemplo), a fim de esterilizar possíveis ovos de traça. Depois disso, os recipientes devem ser guardados em local fresco, seco e escuro, sem necessidade de refrigeração [ESP02].
9.18 Como a própolis é comercializada pelo apicultor?
Bruta ou sob a forma de extrato alcoólico ou aquoso.
9.19 Quais são as propriedades da própolis?
A própolis possui diversas propriedades terapêuticas e biológicas, muitas delas já bem estudadas e compreendidas. Por exemplo, ela apresenta atividades antibiótica, anti-inflamatória, anestésica, antioxidante e cicatrizante, entre outras.
9.20 Qual é a dosagem de própolis a ser usada em cada caso?
Naturalmente, aquela que for indicada por um profissional de saúde habilitado.
Embora ocorra com alguma freqüência, não acho aceitável que apicultores, pelo simples fato de recolherem própolis ou outros produtos, arroguem-se o direito de preparar drogas e prescrevê-las aos seus clientes como se fossem farmacêuticos e médicos. Embora essa atitude possa parecer perfeitamente natural às pessoas inclinadas à automedicação e aos tratamentos caseiros, ela não me parece compatível com a postura ética que se esperaria de um apicultor sério. E mais do que isso, temo que ela prejudique também a apicultura em si, ao associá-la, injusta e erroneamente, a uma forma de curandeirismo.
Cera
9.21 O que é a cera?
Cera é uma substância produzida pelas glândulas cerígenas das operárias com idade em torno de 14 dias. Para produzir a cera, as abelhas convertem o açúcar consumido sob forma de mel, num processo de baixa eficiência - cerca de 8 kg de mel precisam ser consumidos para a produção de 1 kg de cera.
9.22 Qual é a cor da cera?
Branca, como pode ser visto nos favos recém produzidos. A cor amarela ou marrom de alguns favos resulta da impregnação da cera com própolis, resíduos de pólen e outras impurezas. Os favos de cria antigos têm uma cor ainda mais escura, por conta dos restos de casulo e dejetos deixados pelas larvas.
9.23 Para que as abelhas usam a cera?
Para construir os favos e para misturar à própolis, a fim de obter uma substância com melhores propriedades mecânicas.
9.24 Quanta cera há numa colméia?
Cada favo de ninho completo possui cerca de 100 g de cera. Para cada kg de mel maduro, operculado, são gastos 55 g de cera.
9.25 Qual é a vantagem de se fornecer cera à colônia?
Pelos dados acima, uma melgueira com 11 kg de mel possui uns 600 g de cera. Para produzir 600 g de cera, as abelhas devem consumir cerca de 5 kg de mel. Em outras palavras, se um enxame produz uma melgueira cheia sem receber nenhuma cera, o mesmo enxame produzirá quase uma melgueira e meia (uns 40% a mais, na verdade) se lhe forem fornecidos favos inteiros e vazios. Se lhe forem fornecidas lâminas alveoladas, a perda de mel será menor, mas ainda assim significativa. Por essa razão, alguns apicultores incluem os favos de melgueira entre os bens mais valiosos do apiário, e tratam-nos com extremo cuidado.
9.26 Como preservar os favos de forma natural?
Essa é uma questão ainda não muito bem resolvida na apicultura. Favos são delicados, ocupam muito espaço e são muito atrativos para roedores e insetos, particularmente as traças de cera. Os favos mais sujeitos a ataques são os usados para cria e para pólen; os usados apenas com mel são bem menos suscetíveis. Favos de ninho, porém, raramente são armazenados, apenas substituídos e derretidos.
Em relação aos quadros de melgueira (entendido como aqueles usados apenas para mel), uma recomendação básica é que eles sejam devolvidos às abelhas após a extração, para que elas removam todos os resíduos de mel e deixem-nos suficientemente secos para a posterior armazenagem. Dependendo das condições climáticas (sem excesso de frio e umidade), as melgueiras podem ser deixadas nos enxames mais fortes, que se encarregarão de protegê-los contra as traças.
Se as melgueiras tiverem de ser removidas, a melhor medida para evitar a infestação por traças de cera é o tratamento térmico. O congelamento de favos por 4,5 horas a -7 ºC ou por 2 horas a -15 ºC mata todos os estágios da traça de cera. Note que esse tempo deve ser contado a partir do momento em que os favos atingiram essas temperaturas, e não do momento em que eles foram colocados no freezer. Na prática, o melhor é deixar os favos no freezer por 24 horas. Depois, os favos devem ser guardados em ambiente seco e isolado, para que não ocorram novas infestações. Se as próprias melgueiras forem usadas para armazenagem dos favos, o ideal é que elas também sejam congeladas, pois elas também podem conter ovos de traças, especialmente as muito propolisadas. Cuidado com a manipulação dos favos logo após o congelamento, pois eles se tornam extremamente frágeis e quebradiços.
Uma alternativa para a armazenagem é fazê-la em ambiente arejado e bem iluminado (mas sem exposição ao sol). Lembre-se de que, se os favos estiverem afastados uns dos outros, todas as faces receberão uma iluminação melhor. Essas condições são muito desfavoráveis ao desenvolvimento das larvas, e os favos acabam sendo rejeitados pelas traças. Se, adicionalmente, os favos puderem ser isolados do ambiente por telas mosquiteiras (num armário de tela, por exemplo), tanto melhor.
Quando nada disso for possível, deve-se, pelo menos, empilhar as caixas com algum isolante entre elas, como folhas de jornal. Isso evitará que uma infestação numa caixa se propague às outras.
9.27 Há produtos químicos seguros para a preservação de favos?
O Bacillus thuringiensis, uma bactéria fatal para lepidópteros, como a traça de cera, pode ser utilizado para preservação dos quadros. Ele é explicitamente permitido na apicultura orgânica. No Brasil, uma variedade do B. thuringiensis é vendida sob o nome comercial de Dipel, e empregada para a pulverização da soja. Num estudo realizado na Universidade Federal de Lavras [BRI04], o Dipel exerceu um controle eficiente da lagarta, tanto por pulverização quanto por imersão dos quadros, usando soluções do produto em água em várias proporções (9,43 g de Dipel para100 ml de água, por exemplo).
Já em relação a produtos químicos para preservação de favos, mantenho aqui a minha posição de evitá-los sempre que possível. A título de informação, porém, vão aqui algumas informações sobre o paradiclorobenzeno (PDB). Trata-se de uma substância muito empregada, no Brasil, como desodorizante de vasos sanitários e repelentes de traças domésticas. O PDB é aprovado para uso em muitos países desenvolvidos, mas aqui no Brasil é muito pouco usado e visto com desconfiança pela maioria dos apicultores. É um contaminante importante da cera em outros países, e é terminantemente proibido na apicultura orgânica.
O PDB só pode ser usado em favos limpos, sem resíduos de mel ou pólen. Ele é usado numa proporção de 100 g para cada pilha de 5 ninhos ou 8 melgueiras. O PDB sublima (passa do estado sólido para o gasoso), e o seu gás mata a traça em todos os estágios, exceto os ovos. Por essa razão, ele deve ser reaplicado periodicamente. Como o gás é mais pesado que o ar, o PDB deve ser colocado sobre a caixa de cima, logo abaixo da tampa, e todas as frestas devem ser fechadas. O gás pode contaminar a cera, e por isso os favos precisam ser arejados por alguns dias antes de retornarem às colméias.
Atenção: nunca use naftalina para preservar equipamento apícola. Ela deixa mais resíduos na cera, e há diversas referências na literatura sobre a sua toxidade para as abelhas.
9.28 Como se produz cera?
Quantidades relativamente pequenas são produzidas a partir do derretimento dos favos velhos que foram substituídos e também dos opérculos que resultaram da extração do mel.
Se o objetivo principal for a produção de cera, as colônias deverão ser alimentadas abundantemente com xarope, a fim de estimular a produção dos favos. Por exemplo, considere a produção de uma melgueira cheia de mel operculado, a partir de dez quadros que tenham apenas uma pequena tira de cera alveolada para orientação inicial das abelhas. Neste caso, é preciso fornecer à colônia cerca de 15 litros (= 19 kg) de xarope, na proporção de 12,6 kg de açúcar para 6,4 litros de água. Posteriormente, esses favos serão centrifugados e derretidos, resultando, aproximadamente, em 11 kg de "mel" mais 600 g de cera. Esse "mel" extraído será então diluído e devolvido às abelhas como xarope, para a produção de mais cera.
Já a cera produzida pode ser derretida, a fim de ser vendida bruta ou processada. Um processamento possível, extremamente importante para a apicultura, é a laminação e estampagem da cera, para produção de lâminas alveoladas.
Outra utilidade possível para esse método é a produção de favos completos, para uso na safra de mel.
9.29 A produção de cera é rentável?
Parece não haver muita gente produzindo cera, talvez pela quantidade de trabalho necessário, mas ela pode ser rentável, sim. Um quilo de cera laminada pode valer mais de 20 kg de açúcar, mas precisa de apenas 6,5 kg (o equivalente aproximado de 8 kg de mel) para ser produzida. E o melhor é que ela depende apenas de alimentação artificial, não de floradas. Chuvas não atrapalham, porque toda a atividade é interna, mas o frio pode inibir a produção de cera.
9.30 Como se derretem favos de mel?
Um equipamento relativamente eficiente para derreter favos de mel limpos e opérculos é o derretedor solar, que pode ser comprado ou feito em casa. Para isso, basta fazer uma caixa de madeira rasa, com tampa de vidro duplo (procure esquemas de construção na Internet). No fundo, pode ser improvisada uma bandeja para recolher a cera derretida (um funileiro poderá fazê-la com chapa galvanizada). Os quadros ficam apoiados sobre a bandeja, um pouco acima do fundo. A caixa deve ser posicionada inclinada, sempre com a tampa de vidro diretamente voltada para o sol. O calor do sol eleva a temperatura dentro da caixa a mais de 80 ºC, bem acima do ponto de fusão da cera.
Quando o volume de cera é maior, um derretedor a vapor pode ser uma boa solução. Um modelo compacto bastante usado é o que emprega um tonel de 200 litros. Esse tonel é dividido ao meio, ficando a "caldeira" na parte de baixo e os favos a serem derretidos na parte de cima. A sua descrição textual não é simples, mas a montagem pode ser feita por qualquer serralheiro, e podem-se encontrar esquemas na Internet.
Os pedaços de cera obtidos por estas formas de derretimento podem ser novamente derretidos para formarem um bloco - o mesmo vale para pedaços de favos e opérculos, se o apicultor não tiver os equipamentos referidos acima. Para tanto, basta colocá-los num recipiente com água quente, mexer um pouco até o derretimento completo e depois deixar a mistura esfriar. Como a densidade da cera (0,95) é menor do que a da água, ela ficará na superfície e, ao se solidificar, formará um bloco flutuante. Porém, é preciso tomar cuidado com o recipiente usado - se houver algum estreitamento na sua boca, o bloco de cera não poderá sair inteiro. Depois de retirado o bloco, deve-se raspar o seu fundo para remover as eventuais impurezas que restaram.
Favos com mel fermentado devem ser lavados antes, ou a cera poderá absorver o odor durante o derretimento.
9.31 Que tipo de recipiente deve ser usado para derreter a cera?
Conforme [BOG04], recipientes de aço comum, alumínio, zinco e cobre não devem ser usados, para não escurecerem a cera. Materiais que contenham chumbo também não devem ser empregados para não contaminar a cera. O aço inox, também aqui, é o material mais indicado.
9.32 Como se derretem favos de cria?
Os favos de cria têm restos de casulos nos alvéolos, que são tecidos pelas larvas antes do seu fechamento. Além disso, têm uma cera impregnada por impurezas e, por isso, mais escura.
Qualquer uma das formas acima mencionadas pode ser usada para derreter favos de cria, mas a cera precisa ser filtrada enquanto estiver derretida a fim de que as impurezas mais grosseiras sejam separadas. Quando a cera for derretida em água quente, a mistura pode ser passada por uma peneira para outro recipiente. Para tanto, um pedaço de tela metálica fina ou um saco de aniagem funcionam muito bem. No caso do derretedor solar, os quadros devem ficar sobre uma tela que retenha os casulos das crias (o que diminui a eficiência desse equipamento e aumenta o tempo do processo). No derretedor a vapor, normalmente já há uma tela para filtragem das impurezas.
9.33 Como purificar a cera?
Qualquer filtragem da cera em equipamento caseiro dificilmente conseguirá limpar a cera convenientemente. Quando for derretida em água quente, o processo pode melhorar bastante se a cera filtrada for mantida líquida pelo maior tempo possível. A razão disso é que, líquida e em repouso, a cera sofre um processo de decantação em que os detritos mais pesados afundam e os mais leves flutuam. Assim que o bloco de cera esfria, a maior parte das impurezas pode então ser facilmente raspada da sua superfície.
Quem prefere números mais exatos, pode tomar como ideal a permanência da cera derretida em água a 75-80 ºC por 8 horas, no mínimo [BOG04]. Quando isso não for possível, é recomendável que, pelo menos, o resfriamento da cera seja atrasado o máximo possível, envolvendo o recipiente com material isolante (panos, jornal) e deixando-o no ambiente mais aquecido que houver.
9.34 Há meios químicos para processar a cera?
Certamente, e a literatura registra alguns, como o uso de água oxigenada para o branqueamento da cera. Eles podem ser utilizados industrialmente e até em ambiente doméstico. No entanto, devido ao perigo de contaminação da cera, parece-me que o melhor é evitá-los sempre que possível.
Uma questão importante é o derretimento da cera em água dura (com excesso de minerais). Neste caso, pode ser produzida uma emulsão de água e cera. Para evitar o problema, em primeiro lugar, a temperatura da água deve ser mantida abaixo de 90 ºC. Uma alternativa é acrescentar 2-3 gramas de ácido oxálico para 1 kg de cera e 1 litro de água [BOG04] (o ácido se ligará ao cálcio e evitará a formação da emulsão, além de ajudar a clarear a cera).
9.35 Como se retira a cera dos quadros sem arrebentar os arames?
O melhor jeito é deixar os quadros ao sol por algum tempo. Em seguida, usar uma espátula com delicadeza para remover os favos. É um bom momento para raspar a própolis acumulada, que também estará amolecida pelo calor.
9.36 O que fazer com a cera derretida?
Ela pode ser usada em troca por lâminas alveoladas. Dependendo da qualidade da cera derretida, os produtores de lâminas atribuem-lhe um valor bastante variável, entregando entre 60 e 85% do peso da cera bruta em lâminas.
9.37 Qual é a temperatura de fusão da cera?
Entre 62 e 64 ºC. A partir de 50 ºC, no entanto, a cera já amolece significativamente, e a resistência mecânica de um favo diminui muito.
Geléia Real
9.38 O que é geléia real?
É uma substância produzida pelas operárias jovens para alimentação da rainha, desde o estágio de larva. Essa substância inclui secreções mandibulares e hipofaringeanas das abelhas.
Embora o alimento das crias jovens também seja freqüentemente chamado de geléia real, ele é diferente, possuindo uma proporção muito menor de secreção mandibular. Por essa razão, a geléia real contém algumas substâncias, como o ácido pantotênico e a biopterina, em quantidades muito maiores que a comida de cria.
9.39 Quantos anos a mais vou viver se comer geléia real?
Se comer apenas geléia real, provavelmente você vai viver quase 3 mil anos. A conta é simples: uma rainha, que só se alimenta de geléia real, pode chegar a viver 5 anos, ou 40 vezes a média de uma operária. Portanto, se você tomar a nossa média de vida como 70 anos, e multiplicá-la por 40...
Calma, é só uma brincadeira. A rainha de fato vive mais, mas há um problema básico nessa conta. A comparação feita é entre a expectativa de vida máxima da rainha com a média das operárias. Operárias podem viver muito mais do que isso se forem mantidas presas e alimentadas. No hemisfério norte, por exemplo, algumas colméias passam seis meses semi-enterradas na neve, e não sofrem baixas significativas se estiverem saudáveis e tiverem alimento suficiente (ou seja, nas mesmas condições da rainha).
Além disso nada garante que os mesmos efeitos causados nas rainhas pela geléia real também ocorram em mamíferos. Aliás, muitos deles é melhor mesmo que não ocorram - imagino que ninguém esteja atrás de ovários hipertrofiados, por exemplo. Na apicultura, como de resto em outras áreas de conhecimento, não é raro encontrarem-se argumentações baseadas em analogias estapafúrdias como esta.
9.40 Mas a geléia real é um bom alimento?
A geléia real possui uma composição variada, com carboidratos, proteínas, gorduras, algumas dessas com uma composição molecular bastante peculiar. Também possui algumas vitaminas e minerais (quase todos em quantidades menores do que no pólen), além de outras substâncias (esteróides, fenóis, etc.).
Diversas pesquisas atribuem benefícios variados à ingestão de geléia real, mas estudos mais elaborados, com protocolos de duplo-cego, ainda podem ser necessários para se chegar a um grau aceitável de certeza [SCH92a].
Segundo [MUR02], no entanto, já há evidências de que a geléia real pode ser eficiente como estimulante ou para tratamento distúrbios neurológicos, endócrinos, digestivos e hematopoiéticos (formadores de células sangüíneas).
9.41 Em que mais a geléia real pode ser usada?
A geléia real possui propriedades cosméticas e antimicrobianas que são aproveitadas largamente na indústria de cosméticos, especialmente sob a forma de cremes tópicos.
9.42 Quanto vale a geléia real?
Varia muito, mas uma relação possível é a de um quilo de geléia real para 40-45 kg de mel.
9.43 Como se produz geléia real?
Da mesma forma que se produz rainhas, mas com a interrupção do processo. Basicamente, é feita a orfanação de um enxame forte, seguida do enxerto de larvas de 12 a 36 horas num quadro com cúpulas artificiais, que é introduzido na colméia. Três dias depois, o quadro é recolhido, as larvas descartadas e a geléia real retirada. Cada cúpula fornece entre 200 e 300 mg de geléia.
9.44 Como a geléia real é armazenada?
Protegida da luz, em ambiente refrigerado, inclusive congelada. Ela também pode ser desidratada (por liofilização).
Veneno
9.45 O que é o veneno?
O veneno, ou apitoxina, é um produto sintetizado pelas glândulas de veneno das operárias e da rainha. É basicamente composto por uma ampla mistura de enzimas, proteínas e outras moléculas menores.
9.46 Quanto veneno possui uma abelha?
Operárias em fase de guarda ou forrageamento possuem entre 100 e 150 mg (milionésimos de grama). Rainhas possuem, em média, 700 mg.
9.47 Como o veneno atua?
Ele é injetado pelas abelhas, com o auxílio do ferrão, nos seus predadores (reais ou presumidos). Algumas de suas substâncias causam dor, enquanto outras provocam uma reação alérgica de intensidade variável, que depende do porte e da sensibilidade da vítima.
9.48 Como evitar uma reação alérgica ao veneno?
Evitando abelhas. Fora isso, um médico pode prescrever-lhe medicamentos antialérgicos para serem usados após as ferroadas e diminuir a reação, ou submetê-lo a uma dessensibilização. Mas isso, normalmente, só é feito em caso de sintomas mais graves do que simples reações locais.
9.49 Como se extrai o veneno das abelhas?
Por meio de um equipamento composto por uma tela metálica e uma membrana. A tela metálica é carregada eletricamente, o que provoca um pequeno choque nas abelhas e leva-as a ferroar a membrana e depositar ali o veneno. A membrana cede o suficiente para que o ferrão não seja arrancado, evitando assim a morte da abelha.
Pela pequena quantidade de veneno de cada abelha, o rendimento é muito baixo - um grama é obtido a partir de 100.000 ferroadas. E o processo de estimulação acaba estressando muito o enxame, que se torna hiperagressivo. Por essas razões, o valor do veneno é muito alto.
9.50 Quanto vale o veneno?
De 35-55 dólares por grama no mercado internacional, o mesmo que 3 a 5 gramas de ouro.
9.51 Para que serve o veneno?
O veneno ainda é objeto de muito pesquisa no mundo inteiro. O seu uso nos tratamentos de dessensibilização é prática corrente. Diversas pesquisas também apontam para uma possível utilidade no tratamento de artrite reumatóide, uma doença degenerativa das articulações, muitas vezes acompanhada por dor intensa.
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