Importância econômica
Estudos sobre a produção apícola no Brasil mostram dados contraditórios quanto ao número de apicultores e colmeias, produção e produtividade. Quanto aos apicultores, as pesquisas apontam os extremos entre 26.315 e 300.000; esses produtores, juntos, possuem entre 1.315.790 e 2.500.000 colmeias e um faturamento anual entre R$ 84.740.000,00 e R$ 506.250.000,00 (Sampaio, 2000; Wiese, 2001).
Os dados conflitantes refletem a dificuldade em se obterem informações precisas quanto à produção e comercialização no setor agropecuário, entretanto, conseguem passar a idéia da importância dessa atividade para o País.
Produção de mel no Brasil e no mundo
Dimensionar o volume de mel produzido e comercializado é uma tarefa difícil, pois os poucos dados confiáveis sobre o assunto são conflitantes. Estima-se que a produção mundial de mel durante o ano de 2001 foi de, aproximadamente, 1.263.000 toneladas, sendo a China o maior produtor (256 mil toneladas). A Tabela 1 demonstra a produção de mel nos continentes e em alguns países nos últimos anos.
Segundo os dados do IBGE, a produção de mel em 2000 no Brasil foi de 21.865.144 kg, gerando um faturamento de R$ 84.640.339,00.
Os maiores exportadores mundiais são: China, Argentina, México, Estados Unidos e Canadá. Juntos, esses países comercializaram durante o ano de 2001 cerca de 242 mil toneladas, movimentando, aproximadamente, US$ 238 milhões (Tabela 2).
Entre janeiro e julho de 2002, o Brasil exportou 10.615 toneladas de mel, mas estima-se que o mercado internacional conseguirá absorver 170 mil toneladas/ano de mel oriundo do Brasil. Os principais compradores de mel do País são: Alemanha, Espanha, Canadá, Estados Unidos, Porto Rico e México.
Tabela 1. Produção Mundial de mel em mil toneladas.
Continente/País
|
1998
|
1999
|
2000
|
2001
|
Ásia
|
401
|
435
|
457
|
465
|
China
|
211
|
236
|
252
|
256
|
América do Norte e Central
|
218
|
201
|
208
|
205
|
Canadá
|
46
|
37
|
31
|
32
|
Estados Unidos
|
100
|
94
|
100
|
100
|
México
|
55
|
55
|
59
|
56
|
América do Sul
|
109
|
133
|
141
|
131
|
Argentina
|
75
|
93
|
98
|
90
|
Brasil
|
18
|
19
|
22
|
20
|
Europa
|
291
|
293
|
286
|
288
|
União Européia
|
109
|
117
|
112
|
111
|
Oceania
|
31
|
29
|
29
|
29
|
Austrália
|
22
|
19
|
19
|
19
|
Total
|
1188
|
1232
|
1265
|
1263
|
Tabela 2. Principais exportadores de mel (em mil toneladas) e os ganhos (em milhões de dólares)
País
|
1998
|
1999
|
2000
| |||
Mel
|
US$
|
Mel
|
US$
|
Mel
|
US$
| |
China
|
79
|
87
|
87
|
79
|
103
|
87
|
Argentina
|
68
|
89
|
93
|
96
|
88
|
87
|
México
|
32
|
42
|
22
|
25
|
31
|
35
|
Estados Unidos
|
5
|
9
|
5
|
9
|
5
|
8
|
Canadá
|
11
|
20
|
15
|
21
|
15
|
21
|
União Européia
|
44
|
46
|
48
|
Fonte: Braunstein, 2002.
Outros produtos importantes da atividade
Além do mel, que será descrito com maiores detalhes adiante, o produtor poderá obter renda de outros produtos como Cera,Própolis,Pólen,Polinização,Geléia real,Apitoxina.
Cera
Utilizada pelas abelhas para construção dos favos e fechamento dos alvéolos (opérculo). Produzida por glândulas especiais (ceríferas), situadas no abdome das abelhas operárias. A cera de Apis mellifera possui 248 componentes diferentes, nem todos ainda identificados. Logo após sua secreção, a cera possui uma cor clara, escurecendo com o tempo, em virtude do depósito de pólen e do desenvolvimento das larvas.
As indústrias de cosméticos, medicamentos e velas são as principais consumidoras de cera; entretanto, também é utilizada na indústria têxtil, na fabricação de polidores e vernizes, no processamento de alimentos e na indústria tecnológica. Os principais importadores são: Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Japão e França; os principais exportadores são: Chile, Tanzânia, Brasil, Holanda e Austrália.
Própolis
Substância resinosa, adesiva e balsâmica, elaborada pelas abelhas a partir da mistura da cera e da resina coletada das plantas, retirada dos botões florais, gemas e dos cortes nas cascas dos vegetais.
A própolis é usada pelas abelhas para fechar as frestas e a entrada do ninho, evitando correntes de ar frias durante o inverno. Em razão das suas propriedades bactericidas e fungicidas, é usada também na limpeza da colônia e para isolar uma parte do ninho ou algum corpo estranho que não pode ser removido da colônia.
Sua composição, cor, odor e propriedades medicinais dependem da espécie de planta disponível para as abelhas. Atualmente, a própolis é usada, principalmente, pelas indústrias de cosméticos e farmacêutica. Cerca de 75% da própolis produzida no Brasil é exportada, sendo o Japão o maior comprador.
Pólen apícola
Gameta masculino das flores coletado pelas abelhas e transportado para a colmeia para ser armazenado nos alvéolos e passar por um processo de fermentação. Usado como alimento pelas abelhas na fase larval e abelhas adultas com até 18 dias de idade. É um produto rico em proteínas, lipídios, minerais e vitaminas.
Em virtude do seu alto valor nutritivo, é usado como suplementação alimentar, comercializado misturado com o mel, seco, em cápsulas ou tabletes. Não existem dados sobre a produção e comercialização mundial desse produto.
Polinização
A polinização é a transferência do pólen (gameta masculino da flor) para o óvulo da mesma flor ou de outra flor da mesma espécie. Só após essa transferência é que ocorre a formação dos frutos.
Muitas vezes, para que ocorra essa transferência, é necessária a ajuda de um agente. Além da água e do vento, diversos animais podem servir de agentes polinizadores, como insetos, pássaros, morcegos, ratos, macacos; entretanto, as abelhas são os agentes mais eficientes da maioria das espécies vegetais cultivadas.
Em locais com alto índice de desmatamento e devastação ou com predominância da monocultura, os produtores ficam extremamente dependentes das abelhas para poderem produzir. Com isso, muitos apicultores alugam suas colmeias durante o período da florada para serviços de polinização.
Embora esse tipo de serviço não seja comum no Brasil, ocorrendo somente no Sul do País e em regiões isoladas do Rio Grande do Norte, nos EUA metade das colmeias é usada dessa forma, gerando um incremento na renda do produtor.
Dependendo da cultura, local de produção, manejo utilizado e devastação da região, a polinização pode aumentar a produção entre 5 e 500%. Dessa forma, estima-se que por ano a polinização gere um benefício mundial acima de cem bilhões de dólares (De Jong, 2000).
Geléia real
A geléia real é uma substância produzida pelas glândulas hipofaringeanas e mandibulares das operárias com até 14 dias de idade. Na colmeia, é usada como alimento das larvas e da rainha.
Constituída basicamente de água, carboidratos, proteínas, lipídios e vitaminas, a geléia real é muito viscosa, possui cor branco-leitosa e sabor ácido forte. Embora não seja estocada na colmeias como o mel e o pólen, é produzida por alguns apicultores para comercialização in natura, misturada com mel ou mesmo liofilizada. A indústria de cosméticos e medicamentos também a utilizam na composição de diversos produtos.
A China é o principal País produtor, responsável por cerca de 60% da produção mundial, exportando, aproximadamente, 450 toneladas/ano para Japão, Estados Unidos e Europa.
Apitoxina
A apitoxina é o veneno das abelhas operárias de Apis mellifera purificado. O veneno é constituído basicamente de proteínas, polipeptídios e constituintes aromáticos, sendo produzido pelas glândulas de veneno nas duas primeiras semanas de vida da operária e armazenado no "saco de veneno" situado na base do ferrão. Cada operária produz 0,3 mg de veneno, que é uma substância transparente, solúvel em água e composta de proteínas, aminoácidos, lipídios e enzimas.
Embora a ação anti-reumática do veneno seja comprovada e o preço no mercado seja muito atrativo, trata-se de um produto de difícil comercialização, pois, ao contrário de outros produtos apícolas, o veneno deve ser comercializado para farmácias de manipulação e indústrias de processamento químico, em razão da sua ação tóxica.
A tolerância do homem à dose do veneno é bastante variada. Existem relatos de pessoas que sofreram mais de cem ferroadas e não apresentaram sintomas graves. Entretanto, indivíduos extremamente alérgicos podem apresentar choque anafilático e falecer com uma única ferroada.
Comercialização
Informações de Mercado
A produção mundial de mel teve uma tendência crescente nos últimos 20 anos, apesar das flutuações, em regiões e países (industrializados e não-industrializados), atribuídas a um aumento no número de colméias e da produção por colônia. O consumo também aumentou durante os últimos anos, sendo atribuído ao aumento geral nos padrões de vida e também a um interesse maior em produtos naturais e saudáveis.
O mundo produz 1.200.000 toneladas de mel por ano. A Alemanha compra 50% do mel exportado no mundo e só produz 33.000 t/ano. A China é o principal exportador de mel para a Alemanha até 1987. No Japão, 60% do mel consumido se destina a usos na indústria e 40% constitui mel de mesa. O Japão tem-se transformado num dos maiores importadores de mel, principalmente devido à redução do número de apicultores, em decorrência da competição dos preços de importação e da diminuição de áreas melíferas. A Argentina, que produz cerca de 60.000t/ano, consome só 10.000 t/ano e possui uma área de apenas 2.776.700 Km2 (Munhoz, 1997).
Desde o início de 2002, decisões dos EUA e da Comunidade Européia suspenderam a importação de mel da China devido aos altos índices de resíduos de drogas veterinárias encontrados no mel oriundo daquele país. Concomitantemente, os EUA suspenderam também a importação de mel da Argentina, alegando distorções no preço do produto, o que estava promovendo uma concorrência desleal com os próprios produtores americanos.
Preço
Estes acontecimentos provocaram uma importante redução da oferta e, consequentemente, um desequilíbrio na relação oferta-demanda, elevando significativamente o preço do mel. Até 2001, o quilograma do mel era vendido, no mercado interno, em um intervalo de preço que variava de R$ 1,50 a R$ 2,00. Após o desequilíbrio citado, o quilograma do mel chegou a atingir R$ 4,50 no mês de setembro, no Estado do Piauí, preço líquido pago ao produtor. Mesmo considerando que é uma situação conjuntural, a tendência é de que esse preço se estabilize em patamares significativamente superiores aos praticados até 2001, pois a crise da apicultura chinesa, maior produtor e exportador mundial, é de difícil solução.
Comercialização
Esses dois fatos estão contribuindo para colocar o Brasil, pela primeira vez, na rota do mercado mundial. Até 2001, a produção brasileira de mel era totalmente consumida no mercado interno.
No Brasil, as importações são maiores que as exportações. Praticamente tudo o que se produz é consumido no mercado interno. Os altos custos de produção e o bom preço do mercado interno, até 2001, desestimulavam a exportação. O consumo per capta é inferior a 300g/ano. A Argentina exporta cerca de 2,2% de sua produção para o Brasil (1.300t/ano) e o Uruguai 4% (350 t/ano) (Munhoz, 1997), observando-se que a área do Uruguai é 176.200 km2 e da Argentina é 2.776.700 Km2. A área territorial do Brasil é 8.512.700 Km2, três vezes maior que a Argentina e 48 vezes maior que o Uruguai.
Segundo dados disseminados pelo Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior, denominado ALICE-Web, da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as importações e exportações brasileiras de mel natural, de 1998 a 2001 (jan/dez), tiveram comportamentos inversos: enquanto as importações diminuíram, as exportações aumentaram (Tabela 8). A produção de mel nesse mesmo período também apresentou tendência crescente (Tabela 9), em função do aumento do número de colmeias e da produtividade.
Tabela 1. Exportações e importação brasileiras de mel natural, de 1998 a 2001*.
Produção de mel (Toneladas)
|
Ano
| |||
1998
|
1999
|
2000
|
2001
| |
Importações
|
2.428,8
|
1.820,7
|
287,2
|
252,5
|
Exportações
|
16,7
|
18,6
|
268,9
|
1814,4
|
Tabela 2. Produção de mel de abelhas no Brasil, 1998 a 2001, segundo a FAO.
Produção de mel (Mt)
|
Ano
| |||
1998
|
1999
|
2000
|
2001
| |
Brasil
|
18,308
|
19,751
|
21,865
|
20,000
|
Segundo Vilela (2000), nos últimos 15 anos a atividade apícola cresceu 94,7% no Piauí, com uma importante expansão entre 1996 e 1998, quando o aumento foi de 39,7%, numa média de 13,23% ao ano. Entretanto, entre 1999 e 2000 o incremento foi de apenas 6%, redução que pode ser atribuída às dificuldades encontradas nos anos de 1998 e 1999, devido ao longo período de estiagem, provocado pelo fenômeno El Niño, quando muitos apicultores perderam entre 80 e 100% de seus enxames, desistiram da atividade e desmotivaram futuros produtores. O registro de importações de mel pelo Estado, em 1999, de 20 toneladas (SECEX - Sitema Alice) vem confirmar esta ocorrência. Este comportamento também foi confirmado nos registros de exportações de mel do Piauí de 1998 a 2001, considerados insignificantes.
Coeficientes Técnicos, Custos, Rendimentos e Rentabilidade
A tabela abaixo explicita os principais parâmetros para o estabelecimento da relação custo-rentabilidade, considerando diferentes categorias de apicultores de acordo com o tamanho do empreendimento, que é definido pela quantidade de colméias com as quais ele trabalha.
DISCRIMINAÇÃO P/ 100 COLMÉIAS
Custo anual Total (R$)................................. 3.766,77
Preço de Venda (R$/kg de mel)...................... 1,40
Produção (kg de mel)................................... 3.000,00
Receita Total (R$)....................................... 4.200,00
Preço de Custo (R$/kg de mel)....................... 1,27
Lucro (R$/kg de mel).................................... 0,13
DISCRIMINAÇÃO P/ 350 COLMÉIAS
Custo Anual Total (R$)................................. 9.786,70
Preço de Venda (R$/kg de mel)...................... 1,40
Produção (kg de mel)................................... 10.500,00
Receita Total (R$)....................................... 14.700,00
Preço de Custo (R$/kg de mel)....................... 0,93
Lucro (R$/kg de mel).................................... 0,47
DISCRIMINAÇÃO P/ 1000 COLMÉIAS
Custo Anual Total (R$)................................. 27.281,90
Preço de Venda (R$/kg de mel)...................... 1,40
Produção (kg de mel)................................... 30.000,00
Receita Total (R$) ........................................ 42.000,00
Preço de Custo (R$/kg de mel)...................... 0,91
Lucro (R$/kg de mel)................................... 0,49
100 a 350 colmeias - individua
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