Para se ter rentabilidade na atividade leiteira, uma alta eficiência reprodutiva deve ser a principal meta dos produtores para atingir produtividade e retorno econômico.
Para que se alcancem estes parâmetros, é necessário que se faça uma criação adequada das bezerras, porque essas bezerras é que vão ser as futuras reprodutoras do rebanho. Animais que têm pouco desenvolvimento, seja por alimentação inadequada ou problemas sanitários, não têm condições de expressar todo o seu potencial ao longo da vida produtiva.
Este objetivo primário visa à idade ao primeiro parto, que deve ser o mais jovem possível dentro do manejo daquele rebanho. Neste processo está incluída a meta econômica da criação. Uma análise do custo econômico desta criação tem que ser considerada, pois não adianta querer um desenvolvimento muito rápido do animal se este custo ficar tão elevado que não seja compensador para o futuro produtivo do animal. Normalmente, em fêmeas da raça Holandesa, a idade ao primeiro parto deve ser entre os 22 e 26 meses.
Os animais gestantes também requerem cuidados especiais. Quando as vacas estão no terço final de gestação, o feto tem seu maior desenvolvimento e isto exige mais da mãe. Este animal deve permanecer num ambiente tranqüilo com alimentos e água de boa qualidade.
Para se ter boa eficiência reprodutiva do rebanho, é necessário que se faça periodicamente um exame ginecológico das fêmeas em reprodução. Para isso, há necessidade de se contratar os serviços de médicos-veterinários e, mais importante, seguir as suas recomendações técnicas. As cooperativas de laticínios da região mantêm departamentos de assistência técnica com o objetivo de prestar serviços especializados aos cooperados, especialmente na área de reprodução.
Manejo reprodutivo
O manejo reprodutivo de um rebanho é uma das atividades de maior importância dentro de um sistema de produção de leite, pois determinará sua eficiência e efetividade, tornando-o produtivo e rentável, uma vez que para a vaca iniciar uma lactação é necessária uma parição.
Os processos de acasalamentos podem ser por monta natural, monta controlada ou inseminação artificial. No processo de monta natural, utiliza-se em média um touro para cada 50 matrizes. No entanto, é recomendado um exame andrológico nos reprodutores para que se faça uma relação touro-vaca mais adequada. No acasalamento por monta natural, recomenda-se o uso de reprodutores da raça Gir Leiteiro ou Girolando, conforme a composição genética do rebanho. O uso de reprodutores da raça Holandesa é recomendado somente nos sistemas em que a inseminação artificial será utilizada, pois touros dessa raça não se adaptam bem às condições climáticas do Acre, passando por um intenso estresse térmico, o que afeta diretamente sua condição reprodutiva. É importante salientar ainda que touros da raça Holandesa só devem ser utilizados em matrizes com elevado grau de sangue zebuíno.
No sistema de monta controlada, os reprodutores são criados separados das matrizes. Nesse sistema, as matrizes, quando manifestam estro (cio), são separadas e conduzidas ao curral de acasalamento para o reprodutor realizar a cobertura.
Para utilização da inseminação artificial, as vacas devem ser inseminadas a partir de 45 dias após o parto e são observadas quanto à manifestação de estro pelo menos duas vezes ao dia, preferencialmente pela manhã e à tarde. As matrizes que apresentam estro pela manhã serão inseminadas no mesmo dia ao final da tarde e aquelas que apresentam cios à tarde serão inseminadas na manhã do dia seguinte. Matrizes que foram inseminadas duas vezes e não ficaram gestantes deverão passar por exame ginecológico para diagnosticar um possível problema reprodutivo e, então, serem submetidas a tratamento ou descartadas.
Tanto para a observação dos estros quanto para a execução da inseminação propriamente dita, é necessário um funcionário bem-treinado. Para melhorar a eficiência na observação de estros, recomenda-se o uso de rufiões (machos de baixo valor zootécnico, de preferência mestiços de sangue europeu, que passaram por cirurgia para impossibilitar a realização do coito). Esses animais permitem aumentar o número de vacas inseminadas no rebanho, pois permanecem o tempo todo com elas, possibilitando assim a identificação daquelas que manifestaram estros noturnos ou silenciosos, por exemplo. Adicionalmente, o uso de buçal marcador facilita ainda mais a identificação. Esse dispositivo é acoplado a um cabresto contendo um reservatório de tinta para marcar o dorso das vacas em estro que aceitaram a monta.
Independentemente do processo de acasalamento utilizado (monta natural, monta controlada ou inseminação artificial), é importante que um médico-veterinário capacitado realize periodicamente o diagnóstico de gestação nos animais, possibilitando avaliar a eficiência reprodutiva e detectar o mais rápido possível algumas vacas com problemas reprodutivos. Essa ação permite o levantamento de índices de prenhez ou de retorno de cio e, consequentemente, a avaliação da eficiência reprodutiva do rebanho.
Uma alternativa mais recente de biotecnologia reprodutiva é a inseminação artificial em tempo fixo (IATF). Essa técnica consiste na utilização de hormônios em dias específicos com o intuito de sincronizar a ovulação (fazer com que as vacas ovulem no mesmo dia). Dessa maneira é possível realizar a inseminação sem observar o estro, facilitando muito o manejo da propriedade. No entanto, sua adoção deve ser feita de forma criteriosa, sempre sob a supervisão de um médico-veterinário e de acordo com as condições de manejo de cada propriedade. Caso essas condições não sejam levadas em consideração, os resultados podem ser insatisfatórios, gerando por consequência um prejuízo econômico para o produtor. Essa técnica, se bem- aplicada, pode servir ainda para o planejamento do número de vacas inseminadas durante o ano e, consequentemente, o número de vacas lactantes no ano seguinte, evitando uma grande flutuação na produção leiteira anual, além de manter um número adequado de parições todo mês.
Para que um rebanho leiteiro tenha boa eficiência reprodutiva é indispensável que fatores como nutrição, sanidade, mão de obra e controle zootécnico estejam sendo acompanhados, contribuindo diretamente para que as matrizes tenham períodos de serviço (da parição até a concepção) de cerca de 90 dias, possibilitando um parto por ano.
O escore de condição corporal (ECC) desejável de uma vaca varia conforme a fase produtiva em que se encontra. Recomenda-se que, à parição, o ECC esteja entre 3,5 e 4,0. Isso evita que o animal tenha problemas durante o parto e puerpério. Durante os primeiros meses pós-parto esse escore cairá para 2,5 e com a evolução da lactação o animal deve recuperar seu escore para 3,0 ou 3,5, permanecendo nesse patamar durante o período seco até o próximo parto.
Uma atenção especial deve ser dada à nutrição da matriz no pós-parto para que não haja uma acentuada perda de peso e, consequentemente, de escore corporal, uma vez que quanto maior for a queda do ECC, menor será a taxa de concepção. De acordo com Wattiaux (1994), foi observado um efeito da perda do ECC no início da lactação na taxa de concepção. Quando a perda foi de menos de uma unidade, de uma a duas unidades e mais do que duas unidades, as taxas de concepção foram, respectivamente, 50%, 34% e 21%.
Com mão de obra e controle zootécnico bem-aplicados é possível identificar problemas que porventura venham a ocorrer no rebanho. Além disso, esse controle servirá como ferramenta de seleção, permitindo identificar os animais mais produtivos, mantendo-os no rebanho, e usá-los intensamente na reprodução. Aqueles com baixa produção poderão ser descartados. Com a mão de obra eficiente identificam-se os possíveis problemas a tempo, permitindo que as soluções sejam aplicadas rapidamente para que o sistema de produção não perca rentabilidade econômica.
11.1. Manejo das bezerras
No sistema de produção de leite, uma atenção especial deve ser dada às bezerras nascidas na propriedade, uma vez que serão a principal fonte de animais para reposição do rebanho. Sendo assim, devem ser bem-criadas, tendo um bom ganho de peso para que possam chegar à puberdade em idade adequada e sem problemas sanitários, conforme detalhamento apresentado a seguir:
Logo após a parição: as bezerras devem ingerir o colostro até 12 horas após o nascimento, pois é rico em nutrientes e contém imunoglobulinas, que são anticorpos prontos para combater diversos patógenos, evitando o surgimento de doenças. Após esse período, as bezerras são conduzidas e mantidas em bezerreiros calçados e cobertos, até completarem 15 dias, quando passam a ocupar piquetes coletivos ligados aos bezerreiros. Diariamente, são levadas à sala de ordenha para mamarem em um teto e realizarem o repasse nos demais tetos. Durante a ordenha, ficam em boxe ao lado da mãe. Essa ação será processada até os 60 dias de idade.
Desmama: conforme preconizado neste sistema de produção, recomenda-se utilizar a desmama precoce, em que o bezerro deverá ser desmamado quando estiver consumindo de 500 g a 600 g de concentrado diariamente, aos 60 dias de idade. Porém, em propriedades que utilizam o aleitamento natural convencional, as crias deverão ser desmamadas aos 8 meses de idade. As fêmeas devem apresentar um bom desenvolvimento ponderal quando desmamadas, evitando perda de peso e garantindo um bom desempenho reprodutivo. Nessa fase, o índice de mortalidade em torno de 2% a 3% é o máximo esperado para um rebanho bem-manejado.
Puberdade: após o desmame, o bom manejo alimentar deve continuar, pois aos 12 meses ocorre o início da puberdade. Assim, a boa alimentação beneficiará o desenvolvimento adequado do aparelho reprodutor e a produção de hormônio para iniciar a vida reprodutiva. O amadurecimento do aparelho reprodutor e a produção de hormônios provocam a manifestação dos primeiros estros, com a demonstração de fêmeas subindo uma nas outras. No entanto, esses estros normalmente são inférteis, sem ovulação. Por isso, é importante avaliar o tamanho e principalmente o peso dos animais para evitar que uma novilha pré-púbere seja inseminada, o que acarretará prejuízos econômicos.
Manejo das novilhas: o desenvolvimento das novilhas tem uma importância significativa para que o sistema de produção tenha lucratividade, pois substituirão as descartadas. É desejável um índice de descarte em torno de 20%, sendo as novilhas substituídas por aquelas do próprio rebanho ou ainda por animais adquiridos de outros criatórios. No entanto, os animais de outros criatórios devem ser selecionados de forma criteriosa, tendo sempre capacidade produtiva maior do que a média do rebanho, permitindo assim um aprimoramento genético do plantel.
Idade à cobertura: pode ser um demonstrativo de que os manejos reprodutivo, nutricional e sanitário foram aplicados corretamente no rebanho. O ideal é que as novilhas sejam cobertas entre 18 e 24 meses, quando alcançam cerca de 300 kg de peso vivo. Com isso, a fêmea chegará com a idade ao primeiro parto em torno de 27 e 33 meses e com um ECC em torno de 3,5 a 4 (de regular a bom).
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