Escolha da propriedade
O primeiro passo para se iniciar uma criação de cavalos é comprar uma propriedade adequada, em relação ao clima, topografia, qualidade de solo, pastagens. Em seguida, escolhe-se a raça, de acordo com a qual será construída a infra-estrutura básica, moderna e funcional. As duas ultimas etapas da implantação de uma criação de cavalos serão a seleção dos animais e a contratação de mão-de-obra especializada, sendo necessários um tratador e um treinador para um plantel de 10 a 15 animais.
Como o Brasil é um país de clima tropical, cavalos podem ser criados em todas as regiões brasileiras, à exceção de algumas micro-regiões de clima excessivamente úmido. Quanto à topografia, as propriedades planas ou levemente onduladas são as mais indicadas. As áreas de brejo devem ser evitadas, pois danificam os cascos e favorecem diversos tipos de enfermidades. Um solo de qualidade é essencial para a formação de boas pastagens, o que reduz custos operacionais.
Dimensionamento da criação
A área da propriedade depende do dimensionamento da criação. Muitos criadores começam a criar cavalos em áreas de tamanho incompatível com o do plantel, passando por dificuldades de falta de pasto e capineira, o que onera bastante a criação. Em torno de 70% dos gastos de criação são relativos à alimentação e mão-de-obra. De acordo com o porte a criação de cavalos pode ser dividida da seguinte forma:
Pequeno porte – até 10 matrizes, com um reprodutor ou utilização de sêmen
Médio porte – de 10 a 20 matrizes, ainda podendo usar apenas um reprodutor
Grande porte – acima de 20 matrizes, com dois reprodutores
Obs.: Um segundo reprodutor será necessário para uso nas filhas das éguas base. Nos planteis de pequeno porte, serão poucas as potras selecionadas em cada safra, sendo mais interessante para o criador comprar sêmen de reprodutor testado, ao invés de investir na compra de um segundo reprodutor, ou de um potro, que é como dar um “tiro no escuro”.
O numero de animais por hectare dependendo do tipo de graminea. No caso do Tifton, de alto valor nutritivo, a lotação anual pode chegar até 3 animais adultos por hectare. Para outras gramineas a media é de 1 animal adulto por hectare. Mesmo obedecendo estas recomendações de lotação de pastagem, durante o período seco do ano os animais deverão ser suplementados com feno de boa qualidade. É erro grosseiro de avaliação pensar que um pasto seco (fenação natural), mesmo que abundante, estará atendendo as exigências nutricionais, especialmente no caso de éguas gestantes e potros (as) em crescimento.
O criador iniciante deve considerar que em sistema natural de reprodução as matrizes podem parir uma cria por ano. Os produtos recriados extensiva ou semi-intensivamente também necessitarão de áreas de pastagem. Em torno de 20 a 30% dos produtos podem ser reservados, para futuros reprodutores (as) e/ou animais de exposição. O restante da safra terá destino na comercialização direta no haras, na internet, em leilões. No caso de machos a serem castrados, recomenda-se a recria para futuro adestramento de sela, visando a obtenção de melhor preço. Assim, haverá um crescimento gradual do plantel. Para um plantel estabilizado em 10 matrizes, considerando a taxa de natalidade, e de desmame, em 90% e a idade ao primeiro parto sendo por volta dos 4 anos, vamos desenvolver a evolução do plantel:
1o ano – 9 produtos, reservando um macho e duas fêmeas
2o ano – idem. Teríamos mais 6 animais no plantel
3o ano – idem. Teríamos mais 9 animais no plantel, sendo que as duas fêmeas selecionadas no primeiro ano entrarão em reprodução. O criador deverá decidir se aumenta o plantel para 12 matrizes ou se descarta duas éguas, priorizando aquelas que não produziram bem.
4o ano – idem. Teríamos mais 12 animais no plantel, Dos quatro machos selecionados, um em cada safra, os dois melhores deverão ser reservados para teste em reprodução. Os outros dois poderão ser comercializados como reprodutores.
No caso da adoção de sistema reprodutivo artificial, o criador poderá investir em duas ou três éguas ventres de ouro, a serem utilizadas como doadoras de embriões. Para cada égua doadora serão necessárias três éguas receptoras. De cada égua doadora é possível coletar, em média, três embriões viáveis em cada estação de monta. Geralmente, esta modalidade mais sofisticada de criação não mantem reprodutor próprio,. O criador investe em sêmen de garanhões testados e aprovados. Outro custo elevado é na assistência veterinária, seja para a coleta do sêmen, transporte e inseminação, coleta e transferência de embriões; tratamentos hormonais. A vantagem é que o aumento significativo da pressão de seleção, o que resulta em valor zootécnico superior dos produtos gerados, que podem ser comercializados a preços mais elevados.
Localização e acesso
Preferencialmente, o haras deve ser localizado em região de tradição na criação de cavalos, que disponibiliza as facilidades necessárias ao desenvolvimento da criação, além de reduzir custos de transporte para participar de eventos e viabilizar o escoamento mais fácil dos produtos. Outro aspecto interessante é a proximidade de alguma cidade com boa infraestrutura – supermercados, farmácia, hospital, escola de ensino publico, lazer
Para facilitar e estimular a frequencia rotineira de visitas do criador e familiares, a localização não deve ser muito distante da cidade onde residem. Distâncias superiores a 150 km já tornam as viagens cansativas, levando em conta o mal trânsito das grandes cidades e as condições precárias em grande parte das rodovias.
O acesso ao haras deve ser fácil, preferencialmente em via asfaltada. As estradas de terra, quando mal cuidadas, causam desconforto e transtornos em épocas chuvosas.
Clima e topografia
No Brasil, como país de clima tropical, há muitas variações de uma região para outra. No Sul e Sudeste, o frio é mais intenso, com o inverno seco e o verão chuvoso. Em grande parte do Centro – Oeste, a distribuição de chuvas é semelhante ao Sul e Sudeste, porem com medias pluviométricas inferiores. Nas regiões Norte e Nordeste, o inverno é chuvoso e o verão seco.
O cavalo adapta-se bem aos climas quentes e secos. Os climas mais úmidos não menos saudáveis, especialmente quanto às afecções respiratórias e infestações de ecto e endoparasitas. Entretanto, foram forjadas raças mais resistentes para cada tipo de clima e topografia, como foi abordado na introdução desta obra.
A topografia ideal de criação é a levemente ondulada, que possibilita melhor condicionamento aos animais criados extensivamente. A topografia montanhosa favorece os acidentes, impede a mecanização do manejo de pastos e dificulta a mão-de-obra na lida com os animais. A topografia plana facilita a distribuição dos piquetes, a movimentação dos animais no haras, o manejo geral da criação.
Qualidade da terra
Mais importante do que a localização é a qualidade da terra. Solos de baixa fertilidade devem ser corrigidos para a formação de pastagens, o que implica em elevados custos. As principais deficiências de minerais são de Calcio, Fósforo e Potássio. As correções de solo para formação de pastagens deverá ser feita através da aplicação grandes quantidades de adubos químicos, orgânicos e de calcareo, sendo este ultimo para a correção de acidez. Mesmo após formadas as pastagens, as aplicações periódicas de fertilizantes ainda serão necessárias, pois o solo não disponibiliza nutrientes para a planta. Este é um custo que pode inviabilizar a criação.
As terras de cultura, de coloração roxa ou avermelhada, são as preferenciais. Terras arenosas, de cerrado, de baixadas de brejo e solos pedregosos devem ser evitados. Entretanto, estes tipos de solos são incidentes em muitas regiões. Por exemplo, na região do planalto central, predomina o solo de cerrado, geralmente pedregosos, rasos, de pouca capacidade de armazenamento de agua, de vegetação mais baixa e rala. Nas faixas litorâneas geralmente predominam os solos mais ácidos, de baixadas, vegetação mais alta e densa. As terras de cultura são encontradas em grande parte do Estado de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, parte do Sul de Minas, mais próximo à divisa com São Paulo, grande parte do triângulo mineiro, como exemplos.
Tipo de pastagem – nativa X artificial
Os pastos nativas são pouco nutritivos e exigem gastos elevados de manejo da capina e limpa. Geralmente muito sujos, misturam vários tipos de gramíneas rasteiras e arbustivas, algumas podendo ser tóxicas para o equino. Outras desvantagens de pastos nativos é a maior incidência de cobras e carrapatos. Somente durante os períodos chuvosos atendem as necessidades de manutenção do equino. Também apresentam reduzida capacidade de lotação. Dois tipos de pastagens nativas incidentes no Estado de Minas Gerais são os capins gordura e Colonião. Este ultimo também incide no Sul da Bahia.
As pastagens artificiais podem ser mais apropriadas quando se escolhe uma boa graminea, que deve ser bem adaptada ao clima e tipo de solo. Na atualidade, o Tifton é a graminea mais recomendada, devido ao elevado valor nutritivo e a possibilidade de produção de feno de boa qualidade. Os gastos com a formação, através de mudas e solo bem adubado, compensam. Havendo disponibilidade de agua para irrigação, melhor ainda, pois viabiliza a fenação. Em seguida ao Tifton, podem ser indicados o Coast Cross ( dá feno de boa qualidade ), capim Paraíso ( que também serve para capineira ), Tanzânia, Mombassa. Para regiões de clima mais seco, baixo indice pluviométrico, outras gramineas são recomendadas, tais como o Buffel Grass, Brachiaria Humidícola, Pangola. Outros capins consumidos pelo cavalo são o Pangolão, Andropogon, Colonião, Grama Estrela, Gordura, Jaraguá, Sempre Verde.
Após a escolha da raça, o interessado em iniciar uma criação de cavalos deve formar pastagens adequadas para a região de localização da propriedade e para a espécie equina. As melhores pastagens são formadas, em ordem de valor nutritivo pelas seguintes gramíneas: Tifton, Coast Cross, Pangola, Tangola, Pangolão, Tanzânia, Colonião, Sempre Verde, Jaraguá, Gordura.
É prática no Brasil a utilização de capineiras - áreas de plantio de capim para corte -, visando uma suplementação de volumoso para animais estabulados e para animais de campo durante longos períodos de estiagem. Todavia, o manejo de capineiras é oneroso e o valor nutritivo das gramíneas utilizadas para corte sofre sensíveis variações ao longo do ano, dependendo do estágio de maturação da planta. Assim, uma prática mais vantajosa é a formação de áreas para fenação, sendo que os melhores fenos são produzidos com Tifton e Coast Cross. Uma opção seria produzir alfafa para fenação, porém essa leguminosa é exigente em relação aos tratos culturais.
Para dimensionar o tamanho das pastagens deve-se destinar pelo menos um hectare para cada animal jovem. Para adultos, em especial éguas gestantes e lactantes, a ocupação aumenta para 1 unidade animal / hectare. As cercas não devem ser de arame liso, para evitar acidentes. Os piquetes para animais de exposição e garanhões devem ser, preferencialmente, de cerca com réguas.
As baias devem ser amplas, de 4 x 4 para garanhões e 3 x 4 para outras categorias. Os cochos devem ser separados, para o volumoso e a ração concentrada. O saleiro deve ser dividido para sal mineral puro e a mistura balanceada. Para utilização de feno, recomenda-se o uso de grades apropriadas ou de redes. Além das baias, uma cocheira completa inclui área para depósito de material para renovar a cama; depósito de ração, com tablados; selaria; farmácia; escritório e sala de troféus; lavador; brete para manejo reprodutivo; área cimentada; plana; para casqueamento e ferrageamento.
O material para as camas é um assunto à parte. Aparentemente simples, este é um dos principais problemas encontrados nos haras. A cama deve estar sempre limpa e seca, a fim de preservar a saúde dos cascos. Areia não deve ser utilizada como material de cama, pois tem pouco poder de absorção de umidade. Torna-se oportuno ressaltar que o material de limpeza das camas não deve ser armazenado nas proximidades das baias, para não atrair moscas.
Para a doma, exercícios de condicionamento e treinamento de cabresto, um amplo redondel deve ser construído, com diâmetro de, pelo menos 15 metros, cercado de régua ou murado. Para equinos de marcha, o piso de areia não é recomendado, a não ser na forma de uma fina (no máximo 4 cm de altura) camada de areia sobre terra batida. Como a marcha é um andamento bastante assimétrico na mecânica de locomoção, exercícios sobre piso pesado de areia sobrecarregam em demasia as articulações, tendões e ligamentos. Já para equinos de trote, o piso de areia é o mais recomendado nos redondéis.
Outras áreas apropriadas para exercícios de condicionamento e treinamento são: piscina, pista plana - mais ou menos 60 x 40m - para treinamento de andamentos e obstáculos de provas funcionais.
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