31 de ago. de 2015

Enxames e Rainhas

7. Enxames e Rainhas

7.1 Como se movimenta uma colméia para um lugar próximo?

Este pode ser um problema mais complicado do que parece à primeira vista. Acontece que as abelhas campeiras memorizam a localização da sua colméia, e quando ela é movida, as abelhas não aprendem imediatamente a nova localização. Como resultado, muitas campeiras (talvez a grande maioria), ao saírem da colméia recém movida, acabam voltando ao local original e perdendo-se.
Para evitar esse problema, há duas soluções eficazes: mover a colméia para longe, esperar duas semanas, e movê-la de volta ao local definitivo. Durante esse tempo, pelo menos a maioria das campeiras já morreu ou esqueceu seus pontos de referência, e não voltará ao local original.
Outra solução é mover a colméia cerca de um metro de cada vez, com a freqüência possível para o apicultor (1, 2, 3 vezes por semana, etc.) Com isso, as abelhas nunca chegam a se perder, pois conseguem identificar sem problemas a sua colméia, se ela estiver muito próxima do local original. Para usar esse método, um cavalete móvel é muito útil.
Uma outra solução recomendada por alguns é garantir a ventilação da colméia com uma tela, e fechar completamente o alvado com palha ou serragem molhada, para que as abelhas percebam a mudança. Infelizmente, tão freqüente quanto a recomendação dessa técnica são os relatos do seu insucesso.
Quando a colméia a ser movida para um local próximo tiver sido ocupada recentemente por um enxame voador, haverá dois momentos bons para movê-la diretamente para o local definitivo – na primeira noite e por volta do 30º dia (veja item 3.25).


7.2 O que fazer com as campeiras que voltam ao local de origem?

Quando não há alternativa para a movimentação curta de uma colméia, pode-se tentar um reaproveitamento das campeiras perdidas. Para isso, é preciso recolhê-las em um núcleo durante o dia e sacudi-las à tardinha na colméia deslocada. Há relatos de apicultores que repetiram esse procedimento por poucos dias, e as campeiras não retornaram mais ao local original.

7.3 A partir de que distância as abelhas não voltam mais ao local original?

Considerando-se a distância de vôo útil de 1,5 km, o transporte da colméia para além de 3 km não deve produzir um retorno significativo de campeiras.

7.4 Como se movimenta uma colméia para um lugar distante?

Distâncias grandes, que requerem o uso de um veículo, exigem a fixação das partes móveis da colméia e uma boa ventilação para as abelhas. A fixação pode ser feita com sarrafos e pregos ou grampos, de forma que nenhuma caixa, fundo ou tampa deslize sobre os demais. As melgueiras devem ser removidas, especialmente se tiverem mel, pois este pode vazar e afogar as abelhas. Para segurar somente a tampa, um elástico desses de prender carga em motocicleta (extensor) pode resolver.
A ventilação pode ser proporcionada por uma tela de alvado de escape invertido, se o tempo total for pequeno (2 a 4 horas, no máximo) e a temperatura não for muito alta, ou por uma tela plástica fixada no lugar da tampa. Eu prefiro montar a tela numa moldura e depois pregar a moldura na caixa. Apicultores de Santa Catarina, que trabalham com polinização de macieiras, relatam que o uso de escape invertido dispensa completamente a tela superior, desde que as caixas sejam alinhadas no sentido da carroceria do caminhão, isto é, com os alvados virados para a frente, de forma a melhorar a ventilação.
A colméia deve ser fechada para transporte no momento em que o mínimo de campeiras estiver fora. Isso pode se dar ao anoitecer ou mesmo durante o dia, com uso da tela de alvado com escape invertido, cerca de 1h30min após a sua colocação.
As colméias não podem ficar em ambiente quente demais. O vento, durante o deslocamento, também pode matar as crias e até as adultas. Quadros com muito mel podem se quebrar e causar o afogamento das abelhas. Muita vibração e quadros soltos podem causar o seu esmagamento.
Como os movimentos horizontais mais bruscos e freqüentes ocorrem na direção do deslocamento, por acelerações e freadas, recomenda-se que as colméias sejam alinhas da mesma forma. Em outras palavras, o lado mais comprido das colméias deve ficar paralelo à lateral, com o alvado voltado para a frente ou para os fundos do veículo. Dessa forma, os favos dificilmente sofrerão o movimento de pêndulo, que pode ser fatal para muitas abelhas e para a rainha.

7.5 Como se faz a divisão de um enxame?

Há várias técnicas. A idéia básica é, a partir de uma colméia, formar duas ou três menores. Um critério possível é o do equilíbrio das colméias resultantes, que é obtido pela divisão aproximadamente justa das quantidades de cria, pólen e operárias. Os quadros são separados de acordo com o seu conteúdo e postos em outras caixas. As novas colméias são depois completadas com outros quadros, com lâmina de cera, favos vazios ou favos com cria, mel ou pólen de outras colméias. Os seus alvados devem ser diminuídos ao máximo.
Se uma das colméias for movida para um local próximo, ela deverá ficar com o mínimo de mel possível, dando preferência ao que estiver operculado. Isso vai diminuir a possibilidade de saque pelas ex-companheiras. Após alguns dias, essa colméia (e a outra também, se necessário) deve receber alimentação, em alimentador interno ou externo de consumo rápido. Para dificultar a pilhagem, o xarope deve ser fornecido à noite e em pequenas quantidades. Alimentação protéica também é muito importante nessa fase.

7.6 O que fazer com a rainha numa divisão?

Uma prática recomendável é capturar a rainha antes de se proceder à divisão, tanto para protegê-la quanto para reintroduzi-la numa colméia certa. Quando o enxame é muito grande e a identificação da rainha é muito difícil, pode-se usar o seguinte método para dividir uma colméia em duas:
1. Se houver melgueiras, deve-se removê-las, cuidando para que a rainha não esteja nelas. Deixá-las fechadas por enquanto;
2. Tirar metade os quadros do ninho original e transportá-los, sem abelhas, para o novo ninho;
3. Completar os dois ninhos com novos quadros;
4. Pôr uma tela excluidora sobre o ninho original e o ninho novo sobre a tela excluidora;
5. Fechar a colméia e aguardar algum tempo (630 minutos).
6. Remover o ninho superior e formar com ele a nova colméia (está será a colméia sem rainha).
7. Redistribuir as melgueiras e mover a nova colméia ao seu local de destino. Cuidado neste ponto: o enxame movido pode tornar-se alvo de pilhagem severa, com as abelhas tentando levar o seu mel de volta ao local de origem. Uma saída possível é manter as duas colméias lado a lado, de forma que as campeiras confundam os alvados.
Na nova colméia, o apicultor pode introduzir uma rainha nova, ou deixá-la com cria e provisões suficientes para que possa produzir a sua. Caso ele opte pela produção natural de rainha, e se a separação das duas colméias resultantes for pequena, a colméia órfã provavelmente ficará melhor no local original, abastecida por todas as campeiras. A colméia com a rainha antiga perderá as campeiras, mas terá capacidade quase imediata de reposição.

7.7 O que fazer se houver saque entre as colméias?

Este problema é especialmente grave no final das safras, quando as populações estão fortes, mas não há mais néctar para colher. Nesse caso, um simples manejo mais demorado pode levar todas as colméias a entrarem em conflito. Isso ocorre porque abelhas de todas as colméias descobrem as provisões da colméia vítima e avisam as suas parceiras. No entanto, como a comunicação das abelhas não é muito precisa, as colegas tentam recolher qualquer possível fonte de mel nas imediações, o que inclui as colméias que não haviam sido abertas. Como resultado, têm-se todas as colméias tentando saquear quase todas as demais. Eventualmente, as mais fracas acabam sucumbindo.
Uma vez iniciado o saque, pará-lo é muito difícil. Quando o enxame é pequeno e suas provisões são grandes (pode acontecer com colméias sem rainha há bastante tempo), a destruição do enxame é quase certa. Fechar a colméia imediatamente e carregá-la para mais de 3 km pode ser a única saída.
Temporariamente, a pilhagem pode ser interrompida com o uso de escapes invertidos em todas as demais colméias do apiário, mas essa é uma solução emergencial, apenas para dar tempo ao apicultor realizar outros procedimentos. Quando os escapes forem retirados, se tudo permanecer como antes, o saque recomeçará.
Uma tentativa que pode funcionar para enxames médios ou grandes que estejam sob ataque é a fumegação pesada. O apicultor deve postar-se ao lado da colméia e fumegar abundantemente a região frontal ao alvado, sem deixar a fumaça entrar na colméia. Isso deve ser feito por vários minutos, sempre tentando repelir as saqueadoras, até que o movimento diminua bastante. Depois disso, muitas vezes o enxame agredido consegue se reorganizar e acabar com a pilhagem.
O melhor é sempre evitar a pilhagem, reduzindo o tempo de manejo ao máximo nas entressafras. Quando isso não for possível (no caso de troca de rainhas, por exemplo), podem-se colocar escapes invertidos em todas as colméias, aguardar algum tempo e só depois iniciar o manejo, tornando a colocar os escapes nas caixas já manipuladas e só retirando todos ao final do procedimento.
Um dispositivo freqüentemente recomendado na literatura é a tela anti-pilhagem, que é colocada à frente do alvado para enganar as abelhas saqueadoras. A entrada é por cima da tela, mas só as moradoras locais, já acostumadas, se dão conta. As saqueadoras tentem por algum tempo e depois desistem. Eu não tenho experiência com o uso desta tela e nunca consegui encontrar algum apicultor que a usasse e tivesse alguma opinião a respeito.

7.8 Para que serve uma união de enxames? 

Enxames são unidos, principalmente em duas ocasiões: por necessidade, quando um deles está fraco demais ou perdeu a rainha (e a chance de produzir uma nova), ou para aumento de produção.
Pelo menos em tese, um enxame grande deve produzir mais do que dois médios. A razão disso é que cada colméia requer um determinado número de operárias para trabalhos internos, que não varia muito com o aumento da população. Numa união, é como se todas as operárias ocupadas com o trabalho interno de uma das colméias fosse liberada para a coleta. É uma quantidade muito significativa: numa colméia de 15.000 a 30.000 abelhas, entre 60 e 80% da população (11 a 18 mil indivíduos) cuida dos trabalhos internos. Numa colméia de 60.000 abelhas essa quantidade se mantém, mas se torna muito menos significativa percentualmente (20 a 30%) [AMB92].

7.9 Então é melhor unir o máximo possível de enxames?

Em tese sim, mas é preciso tomar alguns cuidados. Uma união que resulte num enxame grande demais pode acarretar dois problemas: dificuldade de manejo para o apicultor e aumento do risco de enxameação (pela desagregação for falta de feromônio de rainha em quantidade suficiente). Na prática, talvez o melhor seja unir cada 3 ou 4 enxames pequenos, e cada 2 médios.

7.10 Qual é o melhor momento para fazer-se a união?

Em caso de necessidade, a qualquer momento. Para aumento da produção, o melhor é no início de uma grande florada.
Uniões durante a entressafra só devem ser feitas para salvar algum enxame sem rainha ou pequeno demais. Os enxames muito pequenos às vezes demoram demais a se desenvolver, mesmo quando bem alimentados. Provavelmente, a pequena quantidade de operárias seja um fator limitante para o cuidado e o aquecimento da cria, impedindo uma postura abundante da rainha, ou inviabilizando o seu desenvolvimento. Isso acontece muitas vezes com enxames resultantes de divisões de outros; no entanto, enxames capturados (de enxameações naturais) muitas vezes não apresentam a mesma dificuldade de desenvolvimento, mesmo quando pequenos. É possível que essa diferença seja explicável pelo fato de que as enxameações naturais priorizam o abandono das abelhas mais jovens e, portanto, mais aptas a cuidar das crias.
Fora essas duas situações (enxames muito pequenos ou sem rainha), não há nenhuma vantagem em se fazer uniões na entressafra. Ao contrário, quanto mais enxames houver, maior será o número de rainhas no apiário e maior será a quantidade de cria disponível no início da próxima safra. Só então, quando a postura de todas as rainhas tiver sido estimulada com alimentação energética e protéica, e houver bastante néctar disponível, podem-se unir todos os enxames pequenos e médios e preservar os que conseguiram crescer o suficiente para garantir uma boa colheita.

7.11 Como unir os enxames sem diminuir o número de colméias?

Durante o período de safra, um apiário menor e mais produtivo é mais vantajoso sob os aspectos de rendimento e mão-de-obra empregada. No entanto, é importante que o apicultor consiga repor pelo menos o mesmo número de enxames que foram subtraídos do apiário pelas uniões. Para isso, há duas alternativas.
Primeiro, a divisão ao final da safra. Todas as colméias fortes podem ser divididas, de forma a manter a lotação original do apiário. Nesse momento, podem ser adquiridas boas rainhas para os novos enxames. No entanto, é preciso ficar atento para o fato que no final da safra, freqüentemente é difícil encontrar rainhas à venda, especialmente se na sua região a safra é um pouco atrasada em relação às demais. Por outro lado, divisões de enxames que não sejam muito grandes podem resultar em frustração. Isso ocorrerá se os enxames resultantes forem muito pequenos, de modo que possam abandonar a colméia ou demorarem demais a se recuperar, mesmo sendo alimentados abundantemente,
Outra forma, na minha opinião muito melhor, é compensar as perdas das uniões com capturas de enxames, instalados na natureza ou com caixas-isca. Isso é preferível porque, ao mesmo tempo em que preserva a força de todos os seus enxames, ainda remove enxames da natureza que posteriormente fariam concorrência aos seus. Além disso, é comum conseguir-se capturas durante a safra, num período de maior disponibilidade para aquisição de rainhas. Outra razão é que enxames capturados em caixas-isca freqüentemente se desenvolvem muito melhor e mais rapidamente do que aqueles produzidos por divisão.
Na prática, podem-se combinar as duas formas acima, quando as capturas não ocorrerem em quantidade suficiente. Trabalhando dessa forma, teremos um apiário do tipo "sanfona", com mais colméias na entressafra e menos colméias na safra.

7.12 Qual é o roteiro de um apiário "sanfona"?

· No início da safra (florada grande e duradoura), unir os enxames segundo o critério de tamanho: 2 médios, 3 ou 4 fracos, tentando equilibrar a força dos enxames resultantes e preservar as rainhas melhores e/ou mais jovens.
· Também no início da safra, preparar e distribuir as caixas-isca para as capturas.
· À medida que as capturas forem ocorrendo, as novas colméias podem ser colocadas ao lado das produtivas, em suporte ou cavalete duplo. Isso facilitará bastante uma eventual união no futuro.
· Aos poucos, as colméias capturadas poderão ter as suas rainhas substituídas por outras adquiridas de um bom produtor.
· No final da safra, após a última colheita, é hora de fazer as divisões (apenas as possíveis e necessárias), substituir as rainhas do restante das colméias novas e providenciar alimentação para todas as colméias que precisarem. (Note que apenas as colméias novas recebem rainhas novas). Muito cuidado com o manejo neste momento: é o período crítico para pilhagem das abelhas (veja o item 7.7).
· Durante a entressafra, as colméias devem ser mantidas bem alimentadas. Dois meses antes da nova safra, as colméias (pelo menos as menores) devem receber alimentação estimulante, energética e protéica.
· No início da próxima safra, recomeça o ciclo.

7.13 Mas, afinal, como se faz uma união?

A união é um procedimento relativamente simples:
· Primeiro, abra a colméia com a rainha mais antiga ou mais fraca. Se houver melgueiras, ponha-as de lado, fechadas e com o mínimo de abelhas dentro. Cuidado para a rainha não ficar numa delas.
· Elimine a rainha e feche a colméia.
· Faça o mesmo em todas as colméias com rainhas antigas ou fracas.
· Mais para o final da tarde, reabra estas colméias e cubra-as com uma folha de jornal. Alguns apicultores preferem usar um sanduíche de jornal e mel, mas eu não vejo vantagem. Pelo contrário, mel com tinta de jornal não parece muito apropriado para as abelhas.
· Em seguida, sobre cada uma destas colméias orfanadas, coloque uma colméia que possui rainha nova, e, sobre esta, as melgueiras retiradas no início.
· Aguarde uma semana e faça um rearranjo nos ninhos, de forma a deixá-los prontos para a safra.
Quando o apicultor trabalha rotineiramente com união de enxames, suportes ou cavaletes duplos facilitam muito o trabalho, já que as colméias unidas já estarão lado a lado. Além disso, evitam a perda de campeiras, pois as da colméia deslocada entrarão automaticamente na colméia unida.

7.14 Com quantos ninhos deve ficar uma colméia?

Tratando-se de ninho Langstroth normal, com altura de 24 cm, e considerando o uso de melgueiras para a colocação de mel (quem só usa ninho e sobreninho não se preocupa com esse problema), há duas correntes de pensamento. Uma delas prega o uso de dois ninhos. Os argumentos a favor desta idéia incluem um espaço amplo para a rainha e um controle de enxameação mais simples, pela reversão dos ninhos (passando o de cima para baixo).
A outra corrente recomenda o uso de apenas um ninho. A idéia aqui é simplificar o manejo, usando uma caixa a menos. Ao mesmo tempo, a probabilidade de as operárias depositarem mel nas melgueiras durante um fluxo de néctar não muito grande, especialmente quando se usa tela excluidora, parece ser maior quando apenas um ninho é usado.
A minha opção é por um único ninho. A idéia de a rainha precisar de dois ninhos inteiros para a postura é discutível. Considere, por exemplo, uma excelente rainha, que chegue à média de postura de 2.500 ovos por dia durante a safra. Se cada favo de ninho receber 5 mil ovos em média (cada um possui 7 mil alvéolos), o máximo possível de cria aberta e fechada da colméia ocupará apenas dez quadros (porque o ciclo médio de desenvolvimento das africanizadas é de 20 dias), ou seja, um único ninho. Na prática, situações como esta são bastante raras, e dificilmente uma colméia chega a dez quadros de cria por si só.
Por outro lado, quando o manejo é cuidadoso, com troca freqüente de rainha e alimentação estimulante, ou quando a florada é intensa e longa, o enxame pode se desenvolver muito. Neste caso, a intensa atividade durante a safra pode provocar a ocupação de vários favos do ninho com mel e pólen, forçando a postura da rainha em caixas superiores (ou a enxameação, caso não haja espaço disponível). Embora isso dê a muitos apicultores a falsa impressão de uma postura excepcional, a conclusão é a mesma para as duas interpretações: se a rainha for confinada a um único ninho (por uma tela excluidora), a probabilidade de enxameação aumenta muito.
Assim, quando se usa um só ninho, é importante não colocar a tela excluidora diretamente sobre ele. Os apicultores que não usam a tela freqüentemente tem cria na primeira melgueira, e passam a considerá-la como parte do ninho (pelo menos os quadros com cria, já que os demais podem ser colhidos normalmente). Quem usa a tela, pode colocá-la acima da primeira melgueira, com razoável segurança de que não faltará espaço para a postura.

7.15 O que fazer com um ninho bloqueado por mel?

Algumas vezes, as próprias abelhas tratam de transferir às melgueiras o mel ali armazenado, se houver espaço disponível e, especialmente, se a rainha não puder usar os favos logo acima do ninho, pela presença de tela excluidora ou favos de mel operculados. Também por essa razão, é importante que o apicultor remova os favos que estiverem cheios de alimentação artificial no início da safra, ou ela pode acabar nas melgueiras colocadas posteriormente.
De qualquer forma, embora não seja aconselhável perturbar as abelhas durante a safra, o apicultor pode aliviar o bloqueio por mel de um ninho. Para isso, os favos devem ser removidos, centrifugados e devolvidos à colméia, de preferência um a cada 3 dias ou mais. Isso abre espaço para a rainha e é preferível à simples troca de um favo com mel por um quadro com cera alveolada, pois as abelhas iniciam a deposição de néctar nos alvéolos logo que eles começam a ser puxados, antes que a rainha possa efetuar a postura. Contrariamente, quando é fornecido um favo puxado, a rainha pode usá-lo imediatamente, e garantir o seu espaço (não significa que vá fazê-lo de fato, mas as chances são maiores). Se muitos favos puxados forem fornecidos de uma só vez, a rainha possivelmente não terá tempo de apossar-se de todos antes que a deposição de néctar inicie.
Uma outra técnica interessante é a reversão de caixas. Uma vez que a rainha esteja fazendo a maior parte da postura na caixa superior, esta pode ser trocada de lugar com o ninho (mesmo sendo uma melgueira). Neste caso, porém, é preciso verificar se o ninho possui espaço para postura, e não apenas mel operculado, o que funcionaria como uma forte barreira para a rainha voltar a usá-lo.

7.16 Como reforçar uma colméia com cria sem uni-la a outra?

É preciso retirar quadros com cria de algumas colméias e colocá-los na colméia necessitada. Alguns apicultores, ao invés de apenas estimular os enxames ou uni-los, adotam a tática de manter colméias criadeiras e colméias produtivas. As colméias produtivas recebem cria das outras, aumentando rapidamente a sua população e, dessa forma, a sua produtividade.

7.17 Como é uma colméia criadeira?

É uma colméia da qual não se obtém nada a não ser crias. Ela deve ter uma boa rainha e receber farta alimentação energética e protéica, inclusive durante a safra. Nessas condições, ela é capaz de gerar pelo menos dois quadros completos de cria por semana (cerca de 12 a 14 mil crias). Quando a cria está madura, prestes a nascer, uma parte é transferida para outro enxame (produtor), e outra parte é deixada na colméia criadeira para reposição das abelhas que forem morrendo. A cria aberta não deve ser transferida, para não sobrecarregar a colméia produtiva com mais trabalho.

7.18 Como evitar a enxameação?

Não existe método garantido. Há diversos deles propostos na literatura, alguns bastante complicados, quase todos exigindo verificação muito freqüente da colméia para a destruição de realeiras e ampliação do espaço de postura e armazenagem de mel. Às vezes, parece preferível ter algumas enxameações no apiário do que usar um desses métodos propostos.
Uma boa prevenção me parece o único caminho aceitável contra a enxameação. A troca anual de rainhas é um procedimento que ajuda a evitá-la, além de contribuir para uma maior produtividade do enxame. A manutenção de espaço de sobra na colméia, tanto para a postura quanto para a armazenagem de mel, desde o início da safra, também é uma boa prática. Também o são os manejos rápidos e infreqüentes e a manutenção das colméias com boa ventilação e em ambiente sombreado (ou com telhados amplos, de cor clara). Quando todos esses elementos estiverem presentes, a enxameação ainda será possível, mas ela provavelmente ocorrerá mais tarde, permitindo que o enxame armazene mel suficiente para ser colhido pelo apicultor.

7.19 O que fazer se houver realeiras no enxame?

Basicamente, há duas razões para haver realeiras no enxame: morte da rainha ou enxameação. No primeiro caso, as realeiras devem ser preservadas; no segundo, elas podem ser removidas se a rainha velha ainda está presente.
A inspeção dos favos pode ajudar a identificar a causa das realeiras. Muitas vezes (não sempre), um número grande de realeiras, localizadas nas bordas dos favos, são indícios de enxameação. Por oposição, poucas realeiras, localizadas nas faces dos favos, indicam reposição de rainha morta.
A esses sinais, deve-se acrescentar uma análise da cria. Rainhas prestes a enxamear param a postura por poucos dias. Portanto, realeiras fechadas com crias jovens podem indicar enxameação. Já realeiras fechadas e somente crias operculadas pode ser sinal de reposição de rainha.
De qualquer forma, é importante notar que a eliminação das realeiras na ausência da rainha velha (morta ou já enxameada) pode ser fatal para o enxame. O ideal, portanto, é que o apicultor sempre se certifique da presença da rainha antes de remover as realeiras.

7.20 O que fazer com as realeiras removidas?

Elas podem ser destruídas ou, se forem procedentes de um bom enxame e estiverem operculadas, podem ser aproveitadas em outras colméias ou núcleos.
Se a decisão for pela destruição, as que estiverem desoperculadas poderão ser guardadas num recipiente limpo para que a geléia real seja retirada e consumida, (nem que seja para matar a curiosidade dos familiares e amigos).

7.21 Como aproveitar as realeiras em outras colméias?

Realeiras retiradas de um enxame com boas características podem ser introduzidas em colméias previamente orfanadas ou núcleos criados para tal. No entanto, há um momento mais adequado para isso, que é por volta do décimo dia de construção da realeira, quando ela está fechada e a incubação ainda levará cerca de dois dias para se completar. Como o apicultor não pode estimar a idade de uma realeira "achada", o método não é muito garantido.
Por essa razão, a opção por núcleos pode ser mais interessante: se a introdução da realeira não der certo, o prejuízo com a perda de um núcleo é muito menor do que com a perda de uma colméia.
Para fazer um núcleo, pegue dois ou três quadros de cria em diferentes estágios e mais dois ou três quadros de provisões, todos com abelhas aderentes. Esses quadros podem ser procedentes de colônias diferentes, mas nenhum deles pode vir com a rainha. Os quadros serão postos numa caixa pequena (com volume de meio ninho) ou mesmo num ninho inteiro, dividido ao meio por uma tábua separadora.
Para fazer a introdução da realeira, tanto numa colméia orfanada quanto num núcleo, recorte-a cuidadosamente do quadro da colméia-mãe e fixe-a entre as barras superiores de dois quadros da caixa de destino, com o máximo cuidado para não danificar a realeira. Depois, feche o núcleo e não mexa nele por cerca de duas semanas. Dependendo das condições climáticas, durante esse tempo a princesa já deverá ter nascido e acasalado.
Antigamente, era recomendada a introdução da realeira num protetor do tipo "West", uma gaiolinha no formato de um cone de mola. Hoje, ele é considerado dispensável.

7.22 Por que a introdução de uma realeira pode não dar certo?

Vários motivos podem impedir que de uma realeira resulte uma rainha fértil. O primeiro é pela inviabilidade da pupa, já que ela pode estar morta dentro da realeira, ou ter sido lesada durante a manipulação. Por esta razão, introduzir pelo menos duas realeiras em cada núcleo ou colméia pode ser uma boa idéia.
Outro motivo é a falta de zangões na região. Após uma entressafra relativamente longa, a probabilidade de haver zangões em alguma colméia próxima é muito pequena. Nesse caso, a princesa pode nascer saudável, mas não encontrar seus pares para acasalar.
Da mesma forma, condições climáticas muito adversas podem retardar bastante os vôos nupciais ou ocasionarem a morte da princesa.

7.23 Como se acha a rainha?

Com sorte ou muita paciência. O método principal é remover cada quadro e verificar cuidadosamente as duas faces. Lembre-se que a rainha tentará esconder-se no ponto mais escuro, num canto, talvez por baixo das operárias. Olhe algumas vezes as duas faces, não desista logo. Se achar que ela não está mesmo ali, devolva o quadro à colméia (ou, melhor ainda, ponha-o num ninho vazio, previamente colocado ao lado) e passe para o próximo quadro.
Um método mais drástico é peneirar as abelhas. Primeiro, desloque a colméia para o lado e ponha uma vazia no seu lugar. Remova os quadros do ninho antigo e examine cada um para tentar achar a rainha neste momento. Se não for possível, sacuda-o e passe-o para o novo ninho sem abelhas aderentes. Quando terminar, ponha sobre o novo ninho uma tela excluidora e, sobre esta, uma melgueira vazia. A seguir, despeje todas as abelhas do ninho original dentro dessa caixa vazia, de maneira que elas tenham de passar pela tela excluidora para chegar aos seus favos. Então, ponha fumaça para forçar a descida das operárias e tente achar a rainha, que deverá estar passeando sobre a tela excluidora ou numa parede da melgueira.
Outro método que às vezes dá resultado é pôr bastante fumaça no alvado, antes de abrir a colméia. Com isso, há uma boa chance de que a rainha afaste-se dele o máximo possível, e talvez você a encontre no lado de baixo da tampa, assim que abrir a colméia. Naturalmente, trata-se de um método condenável pelo próprio abuso de fumaça (veja item 4.10) e ele não funcionará se houver uma tela excluidora. Também é especialmente danoso se houver melgueiras, pois o mel pode ser contaminado pelo excesso de fumaça, e a rainha pode se esconder numa melgueira, ao invés de subir até a tampa.

7.24 Durante as revisões é preciso sempre enxergar a rainha?

Não. A presença da rainha pode ser percebida pela presença de ovos. Mesmo quando a postura cessa completamente na entressafra, o apicultor experiente pode perceber a presença da rainha pelo comportamento mais pacífico (menos agitado, para ser mais exato) das operárias. Na verdade, há muito poucas ocasiões em que realmente é necessário achar a rainha.

7.25 Quando se deve substituir a rainha?

A melhor época de troca é dois a três meses antes da próxima safra, mas isso nem sempre é possível, já que muitos criadores de rainhas também passam por uma entressafra de produção. Se isso ocorrer, vale a pena procurar por produtores de outras regiões do país, já que a diversidade climática e as safras e entressafras são bastante distintas no Brasil.
Junto com a consideração de antecedência da próxima safra, outra que pode ser útil é o final da safra corrente. Como o fim de safra é uma ocasião de grande agitação na colméia, pela grande quantidade de abelhas presentes e pelo final do fluxo de néctar, muitas vezes é preferível esperar algum tempo (um mês, mais ou menos) para efetuar a troca da rainha. Assim, as populações serão menores, facilitando a manipulação das colméias e a procura pela rainha antiga.
Por outro lado, se o apicultor quiser fazer divisões das colméias, o ideal é aproveitar o momento de população máxima, que ocorre no final da safra. Embora a divisão não seja o método ideal para multiplicação de enxames, ele facilita grandemente a introdução de rainhas novas (veja o item 7.6).

7.26 Com que freqüência a rainha deve ser substituída?

Uma recomendação comum é que ela seja trocada anualmente. A razão disso é que uma rainha jovem é mais produtiva e menos propensa a enxamear. Há quem troque as rainhas a cada seis meses e a cada dois anos ou mais, mas a periodicidade anual me parece ser a ideal, considerados os aspectos práticos e econômicos.
Num estudo citado em [SAN93], foi medida a produção de 36 colméias, metade delas com rainhas de um ano, metade com rainhas de dois anos. As colméias com rainhas mais jovens produziram quase 40% a mais de mel do que as mais velhas – 141 kg contra 102 kg, respectivamente.

7.27 Como substituir uma rainha?

De duas formas: adquirindo uma rainha de um fornecedor e introduzindo-a na colméia ou forçando as abelhas a produzirem uma nova. Para forçar as abelhas a produzir uma rainha, basta eliminar a antiga e deixar na colméia pelo menos um quadro com ovos e cria nova. Deixe a colméia fechada por 7 a 10 dias e depois verifique a presença de realeiras. Se não houver nenhuma fechada ou em desenvolvimento, forneça mais um quadro com cria nova ao enxame. Se falhar de novo, una o enxame a outro antes que ele se torne zanganeiro. Essa técnica de ser usada apenas quando houver zangões nas colméias, para garantir a fecundação da princesa.
Para adquirir uma rainha, entre em contato com um fornecedor com boas referências. Se não conhecer nenhum, pergunte em algum grupo de discussão. Alguns fornecedores recomendam a eliminação da rainha antiga com 24 a 48 horas de antecedência, para que as operárias percebam a sua ausência e aceitem melhor a nova. Outros, no entanto, não vêem utilidade nisso e recomendam a introdução da rainha nova no mesmo momento da eliminação da antiga, o que simplifica bastante a operação. Depois da introdução, a colméia deve permanecer fechada por uma semana, pelo menos.

7.28 Como as rainhas são vendidas?

Salvo solicitação diferente, elas são vendidas fecundadas, testadas (já em postura), e marcadas na cor do ano. São enviadas pelo correio numa gaiola de transporte, junto com algumas operárias acompanhantes e uma porção de cândi.
Essa gaiola pode ser usada para se fazer a introdução, embora muitos manuais recomendem o uso de gaiolas de introdução específicas.

7.29 Como é uma gaiola de introdução?

O modelo mais simples é um rolinho de tela metálica (ou um daqueles bobs de cabelo), fechado com madeira numa ponta e dois pedaços de jornal na outra, presos com um elástico. Na madeira, põem-se dois preguinhos, para pendurar o rolo entre dois quadros do ninho (que devem ser afastados um pouco um do outro). O jornal será roído aos poucos pelas operárias, dando tempo a que elas se conheçam antes da liberação definitiva da rainha.
Uma gaiola mais sofisticada é a Müller, que possui um ou dois túneis a serem preenchidos com cândi. Um túnel longo (às vezes o único) serve de saída para a rainha, assim que as abelhas removem todo o cândi. O túnel pequeno tem um estreitamento que não permite a saída da rainha, mas dá acesso mais rápido ao interior da gaiola para algumas operárias de cada vez. Supostamente, é uma gaiola com aceitação mais garantida da nova rainha (eu nunca percebi diferença), e especialmente recomendada no caso da introdução de uma rainha européia numa colméia africanizada.
A própria gaiola de transporte é o meio mais simples para fazer a introdução. De acordo com vários autores, as acompanhantes devem ser retiradas para a introdução. No entanto, diversos apicultores têm testado com sucesso a introdução da rainha junto com as acompanhantes na gaiola de transporte, o que representa uma boa economia de trabalho.
Quem prefere remover as acompanhantes só pode usar a gaiola de transporte se ela tiver malha larga, que permita que as abelhas da colméia possam alimentar a rainha através dos furos. O buraco por onde saíram as acompanhantes deve ser fechado com uma tampa (batoque), enquanto que o buraco que fica do lado do cândi deve ser liberado (cuidado para não esquecer dele, ou a rainha ficará presa).

7.30 Como as acompanhantes são retiradas da gaiola de transporte?

O melhor é fazer isso num ambiente fechado, a prova de abelhas. Assim, se alguma rainha sair voando, ela poderá ser recapturada.
Uma maneira relativamente eficiente é tirar a tampa da gaiola e sacudi-la com cuidado dentro de um saco plástico. Quando a rainha sair, segure-a gentilmente numa dobra do saco e sacuda o resto das acompanhantes. Depois, induza a rainha a entrar na gaiola de introdução.

7.31 Como a gaiola deve ser colocada na colméia?

Uma recomendação comum é que ela seja pendurada entre dois quadros de cria, com cuidado para não obstruir os orifícios de ventilação e acesso ao cândi. Eu não gosto dessa forma porque ela exige a retirada (temporária) de um quadro do ninho ou o sacrifício de uma parte das crias, pela proximidade dos seus alvéolos com a gaiola.
A alternativa é deixar a gaiola deitada sobre as barras superiores dos quadros. Também aqui é preciso garantir que as demais abelhas terão acesso suficiente à tela, para alimentá-la (caso as abelhas acompanhantes tenham sido retiradas), e ao cândi, para libertá-la. Também é preciso providenciar um extensor para o ninho, de forma que a gaiola não seja esmagada pela tampa ou pela primeira melgueira (veja comentário sobre extensores no item 6.25). Alternativamente, a gaiola pode ser colocada no fundo da colméia, com a tela para cima, se houver espaço.

7.32 O que é "cor do ano"?

É a cor da tinta usada para pintar o tórax da rainha, para identificar o seu ano de nascimento (último dígito):
1 e 6 - branca
2 e 7 - amarela
3 e 8 - vermelha
4 e 9 - verde
5 e 0 - azul
É difícil imaginar uma utilidade real para isso. Talvez seja bom para algum apicultor com muitas colméias, que troque apenas uma parte das rainhas a cada ano e não registre quais colméias receberam rainhas novas. Situação meio rara, eu imagino. Na prática, a vantagem mesmo é que uma rainha pintada é mais fácil de ser encontrada do que uma não pintada.

7.33 Como as rainhas são produzidas para venda?

A produção de rainhas para venda é um campo bastante específico da apicultura, cheio de minúcias e conduzido por uma pequena parte dos apicultores. Apenas para dar uma idéia do processo (ou de um deles), aqui vão os detalhes básicos.
Primeiro, o apicultor seleciona as colméias que fornecerão as larvas segundo seus critérios preferidos - produtividade, mansidão, comportamento higiênico, tolerância a doenças, baixa tendência à enxameação, entre outros. Das colméias selecionadas, são extraídas larvas jovens, que são "enxertadas" em cúpulas. Essas cúpulas podem ser de plástico ou cera, e são fixadas em grupos (20, 30, 40, ...) num quadro modificado. Este quadro é colocado em seguida numa colméia forte, que pode ter sido previamente orfanada ou não, dependendo do método escolhido. Essa colméia, se alimentada abundantemente, conseguirá garantir o desenvolvimento de todas, ou quase todas as larvas enxertadas. Após cerca de dez dias do enxerto, as realeiras são distribuídas a núcleos (mini-colméias) previamente orfanados, onde as princesas nascerão, farão seus vôos nupciais e iniciarão a postura, para somente depois serem vendidas.

7.34 Quanto custa uma rainha?

Varia bastante de acordo com o fornecedor, mas fica entre 1 e 2 kg de mel, em média.

7.35 O que fazer se a rainha morrer?

Uma solução é adquirir outra rainha e tentar uma nova introdução. Outra possibilidade é deixar as próprias abelhas produzirem a sua rainha. Neste caso, deve haver um quadro com ovos e larvas jovens disponível, além de alimento suficiente (especialmente pólen ou um substituto).

7.36 O que fazer se o enxame ficar zanganeiro?

Se a colméia não aceitar outra rainha ou não conseguir produzir uma nova, ela poderá tornar-se zanganeira. É sempre melhor intervir antes que isso aconteça, mas caso essa situação ocorra, há algumas tentativas que podem ser feitas. A introdução de uma nova rainha freqüentemente falha, mas pode ser tentada se houver disponibilidade de rainha.
Uma técnica possivelmente útil para enxames zanganeiros que ainda estejam fortes é sacudir todos os favos a uma boa distância do local original da colméia, para eliminar as poedeiras. Supostamente, por estarem mais pesadas e talvez desorientadas por dedicarem-se apenas à postura, elas não voltariam para a colméia. Depois, a colméia é remontada no local original, sem os favos de cria. Assim, apenas com as operárias normais, o enxame tem uma probabilidade maior de aceitar a rainha nova.
Outra idéia é a troca de lugar de uma colméia zanganeira com outra normal, forte. Nesse caso, é preciso remover os favos zanganeiros e acrescentar favos com postura boa e jovem, para que as operárias não zanganeiras, inclusive as da colméia normal que estarão entrando, produzam uma nova rainha.
No entanto, antes de se experimentar alguma forma de recuperação do enxame zanganeiro, é preciso avaliar a sua viabilidade. Enxames nessa situação, quando são encontrados, freqüentemente apresentam um número muito pequeno de operárias, muitas delas poedeiras, e não justificam esforços maiores na sua preservação individual. Além disso, nenhum desses métodos é garantido, o que valoriza ainda mais a ações preventivas para que a colméia não chegue a essa situação.
A opção, então, é a união da colméia zanganeira com uma normal, com a eliminação dos favos que estiverem cheios de ovos das operárias, para que não nasçam mais zangões. Mesmo que o número de campeiras da colméia zanganeira não seja muito grande, ao menos as provisões de mel, pólen e favos não serão perdidas.

7.37 O que fazer se o enxame morrer?

Se o enxame morrer ou abandonar a colméia, sobrará uma porção de favos cheios de crias e alimento. Em pouco tempo, estará tudo em processo de decomposição, atraindo uma porção de traças, formigas e forídeos (um tipo de mosca, muito pequena e rápida), que aproveitarão para ali depositar seus ovos e transformar tudo num cenário de filme de terror.
Nessa situação, há pouco a fazer. Remova a caixa logo. Lave e derreta os favos menos comprometidos. É possível derreter todos os favos, mas o processo será trabalhoso e, para os mais sensíveis, verdadeiramente nojento. Se você não se importar em ficar coando teias cheias de fezes e vermes cozidos, jogue tudo num latão com água quente. Caso contrário, enterre ou queime os favos em pior estado.
Depois, limpe bem as caixas, os quadros e os demais equipamentos atingidos.










O Mel e a Colheita

8. O Mel e a Colheita

8.1 O que é o mel?

Segundo o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA), do Ministério da Agricultura, mel é "o produto alimentício produzido pelas abelhas melíferas, a partir do néctar das flores ou das secreções procedentes de partes vivas das plantas ou de excreções de insetos sugadores de plantas que ficam sobre partes vivas de plantas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam com substâncias específicas próprias, armazenam e deixam madurar nos favos da colméia".
Em outras palavras, é uma substância produzida pelas abelhas a partir de secreções de plantas (o néctar) ou de determinados insetos (o pseudonéctar) e da adição de algumas substâncias por elas mesmas produzidas (enzimas, por exemplo), desidratada e armazenada nos favos da colméia.

8.2 O que é o néctar?

Néctar é uma solução de açúcares (principalmente sacarose, glicose e frutose) em água em proporção que varia de 3 a 87%, embora grande parte dos néctares esteja na faixa de 30-40%. Ele contém ainda diversas outras substâncias complexas, em pequenas quantidades, que determinam o seu aroma, sabor e características nutritivas (e tóxicas, em alguns casos). O néctar é produzido no nectário, um órgão presente em muitas plantas, freqüentemente (mas não sempre) nas suas flores.

8.3 O néctar pode ser produzido fora das flores?

Sim, nos chamados nectários extraflorais. Enquanto os nectários florais ajudam na reprodução das plantas, atraindo insetos e outros animais que acabam acidentalmente polinizando as flores, acredita-se que os nectários extraflorais ajudem a proteger as plantas. Por exemplo, uma planta rasteira, quando carregada de formigas coletoras de néctar, tem menor probabilidade de ser consumida por algum animal herbívoro que passe por perto.

8.4 O que é melato?

Melato, também chamado de pseudonéctar, é uma substância doce produzido por alguns insetos que vivem em plantas, como cochonilhas e pulgões. Esses insetos sugam a seiva elaborada das plantas em busca de açúcar e quanto o tem em abundância, excretam o excesso. No Brasil, a norma vigente considera melato também o néctar extrafloral, embora os textos clássicos tendam a diferenciar uma coisa de outra.
O mel de melato é normalmente mais escuro e menos ácido do que o mel de néctar, e possui menos frutose e glicose e mais maltose e outros açúcares complexos. Em alguns lugares, especialmente na Europa, o mel de melato é muito valorizado; em outros, porém, ele é considerado de segunda linha.

8.5 Quando o mel está pronto para ser colhido?

Assim que o favo for operculado, o mel estará "maduro" para ser colhido. Antes disso, ele é chamado de mel "verde", significando que a sua umidade ainda está muito alta. Como a operação de colheita é trabalhosa, os apicultores muitas vezes preferem esperar o final da safra para fazê-la de uma única vez, mas nada impede que o mel seja colhido aos poucos.
Aliás, a permanência do mel na colméia por longo tempo pode levar à sua reidratação, pois o mel é um produto altamente higroscópico, isto é, ele tende a absorver água rapidamente quando exposto a um ambiente úmido. Esse fenômeno pode acontecer mesmo com mel totalmente operculado, pois a cera é permeável à umidade.

8.6 Por que a umidade é ruim para o mel?

Um alto percentual de umidade favorece a fermentação do mel, inutilizando-o para o consumo.

8.7 Qual é o percentual de umidade seguro para o mel?

Um percentual de 17% é tido como muito seguro [CRA83]. Até 19%, o mel é razoavelmente seguro, a partir daí o risco de fermentação começa a ser significativo. O Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel, do MAPA/SDA/DIPOA, admite umidade máxima de 20%. As diretrizes do IBD (Instituto Biodinâmico) para mel orgânico admitem, no máximo, 18% de umidade.

8.8 Como é medida a umidade do mel?

Com um instrumento chamado refratômetro. No entanto, esse controle geralmente é feito apenas por grandes compradores (entrepostos, exportadores) e não pelos próprios apicultores.

8.9 Como retirar umidade do mel?

Há desumidificadores disponíveis no mercado, mas eles são destinados a grandes produtores ou entrepostos. Para pequenas quantidades de mel, alguns apicultores recomendam a manutenção das melgueiras num ambiente seco por um dia ou dois antes do seu processamento.
Para remover umidade do ambiente, pode-se usar um desumidificador doméstico ou, se a temperatura for baixa, até um aquecedor de banheiro, destes com resistência elétrica e ventilador, pode ser muito eficiente. Um higrômetro comum pode ser usado para medir a umidade do ambiente. A tabela abaixo, extraída de [CRA83], mostra os valores de equilíbrio de umidade, quando o mel é deixado exposto por tempo suficiente (URA = umidade relativa do ar, UM = umidade do mel).
URA (%) UM (%)
50------- 15,9
55------- 16,8
60------- 18,3
65------- 20,9
70------- 24,2
75------- 28,3
80------- 33,1
O tempo de chegada ao ponto de equilíbrio depende muito da superfície do mel que está exposta e da sua agitação. Quanto maior for a superfície, mais rapidamente esse equilíbrio será atingido. Por outro lado, se o mel estiver em repouso e a umidade do ar for muito baixa, a desidratação rápida da sua superfície pode formar uma crosta isolante, o que atrasará bastante a continuação do processo.
Uma suspeita (desconheço algum estudo que a confirme ou negue) é que a centrifugação do mel, se realizada num ambiente seco, pode ajudar a remover parte da sua umidade, em razão da exposição de uma superfície grande (milhões de gotas, escorrimento pela parede da centrífuga) a uma ventilação forçada (produzida pelo rotor da centrífuga).

8.10 Em que condições o mel pode ser colhido? 

Normalmente, são colhidas as melgueiras que possuem todos ou quase todos os favos totalmente operculados. Favos desoperculados contém “mel verde”, isto é, mel que ainda não atingiu o nível de umidade ideal (ao redor de 18%). Como um nível alto de umidade está associado a um grande risco de fermentação, a colheita de favos desoperculados deve ser evitada, pelo menos em quantidade significativa.
Uma boa idéia é preparar as melgueiras e redistribuir os quadros na revisão anterior à colheita, de forma a já deixar as melgueiras prontas no topo das colméias. Dessas melgueiras, procura-se remover o máximo possível de abelhas, para elas chegarem vazias ao local de processamento. As melgueiras são então empilhadas, fixadas e transportadas.

8.11 Com que freqüência o mel deve ser colhido? 

O mais comum é fazer-se uma colheita de melgueiras cheias, tão logo elas estejam em número significativo no apiário. Se a florada continuar, outras colheitas podem ser necessárias.
No entanto, há uma corrente que prega que, quanto mais freqüente for a retirada do mel, mais mel será produzido. Nesse caso, o ideal seria colher com freqüência apenas os favos totalmente operculados, devolvendo-os vazios logo em seguida. A lógica por trás dessa idéia é que, percebendo a falta de mel, mais abelhas se dediquem à coleta de néctar, tornando a colméia mais produtiva neste aspecto. Não há dúvida que aumenta muito o trabalho, pois a colheita e a extração envolvem uma porção de procedimentos de preparação e conclusão, que teriam de ser repetidos muitas vezes nessa técnica.
Além disso, um número excessivo de colheitas pode prejudicar o desempenho da colméia, pelo excesso de estresse induzido. Um estudo canadense, conduzido por Tibor Szabo e citado em [SAN93], investigou o impacto de três variáveis na qualidade e na quantidade do mel produzido: a idade da rainha, o número de melgueiras colocadas e a freqüência de retirada do mel. No que diz respeito à freqüência de colheita, o estudo, que foi realizado em 36 colméias, obteve a produção de 142 kg com duas colheitas, 116 kg com quatro colheitas e 106 kg com uma colheita. Por este resultado, pode-se presumir que duas colheitas por safra é o número ideal.

8.12 Quantas melgueiras devem ser colocadas no início da safra? 

Também aqui há alguma polêmica. Grande parte dos apicultores recomenda a colocação progressiva das melgueiras, adicionando a seguinte apenas depois de alguns quadros da atual já estarem cheios. Um dos motivos seria evitar um desequilíbrio térmico da colméia com o aumento súbito e elevado de espaço vazio.
Outros apicultores defendem que as melgueiras, em número suficiente para acumular uns 30-50 kg de mel, devem ser colocadas todas de uma só vez, mas com um detalhe importante: todos os quadros devem ter favos puxados, e não cera alveolada. Isso evitaria em parte o desequilíbrio térmico e facilitaria a imediata deposição de néctar, ao mesmo tempo em que estimularia as abelhas a trabalhar mais, pela percepção de tantos favos vazios [AMB92]. No caso de melgueiras com cera alveolada, o empilhamento de mais de uma não traz nenhum benefício.
Na pesquisa mencionada no item 8.11, o número de melgueiras adicionadas no início da safra não teve influência significativa na produção. No entanto, o experimento usou muitas melgueiras empilhadas por colméia, da ordem de cinco a quinze, e é possível que o número de melgueiras empilhadas não faça diferença somente a partir de determinado patamar. Por outro lado, o mesmo estudo concluiu que um número maior de melgueiras estava associado a uma umidade menor do mel colhido, um resultado de grande interesse para o apicultor.
Assim, a opção pela colocação de um grande número de melgueiras, com favos puxados, no início da safra, tem a minha total simpatia. E ela é bem ilustrada pela recomendação "empilhe as melgueiras no início da safra e vá pescar", atribuída ao pesquisador Tibor Szabo, do Canadá. Um outro estudo conduzido por ele chegou à conclusão que manejos freqüentes na colméia durante a safra podem acarretar a perda (não-acúmulo, na verdade) de até 3,8 kg de mel, devido às perturbações causadas. Como esse estudo foi efetuado com européias, pode-se imaginar que talvez o impacto nas africanizadas seja ainda maior, dado o tempo de recuperação muito maior destas.

8.13 Onde deve ser colocada uma nova melgueira?

Aqui também há discussão. Parte dos apicultores acredita que uma nova melgueira deve ser colocada logo acima do ninho (e abaixo das já existentes), para diminuir o trânsito desde o recebimento do néctar até a sua armazenagem.
Já outros entendem que o resultado dessa técnica não compensa o trabalho de remoção das melgueiras existentes para a colocação da nova. E, além disso, uma melgueira vazia logo acima do ninho em plena safra, pode estimular a rainha a pôr ovos ali, caso não haja tela excluidora [AMB92].

8.14 Como colocar melgueiras com 8 ou 9 quadros?

A idéia de se usar melgueiras com 8 ou 9 quadros ao invés de 10 permite um melhor aproveitamento do espaço da caixa, economia de quadros e a produção de favos mais profundos, o que facilita muito a desoperculação, embora eles sejam mais frágeis e sujeitos a quebras e esmagamentos durante o transporte (veja item 2.9).
Para usar essa técnica, o melhor é começar com a produção de 10 favos normais, a partir de lâminas de cera alveolada. Se forem usados menos quadros com lâminas, eles não podem ser espaçados além do normal, ou as abelhas construirão favos intermediários, entre as lâminas. Alguns apicultores iniciam com nove quadros agrupados e vão separando-os à medida que os favos vão sendo puxados, mas isso não funciona direito, porque as abelhas podem finalizar os favos centrais antes mesmo de começar a puxar os da extremidade.
Depois da primeira centrifugação, os quadros já podem ser devolvidos em número menor nas melgueiras. As abelhas então apenas depositarão mel e estenderão os alvéolos até atingir o espaço normal entre dois favos de mel (6 a 9 mm).

8.15 Como as abelhas são retiradas das melgueiras?

A maneira mais simples é pela varredura dos quadros. Cada um deles é sacudido e depois varrido, de forma que as abelhas aderentes caiam dentro ou próximo da colméia. Depois o favo é levado para uma caixa auxiliar, que fica a maior parte do tempo fechada na parte superior e inferior. Esse método é demorado, trabalhoso e muito estressante para as abelhas.
Em outros países, é comum o uso de substâncias repelentes que são colocadas logo abaixo da tampa e forçam as abelhas a se deslocarem para baixo, permitindo a remoção de melgueiras inteiras. Aqui no Brasil, eu nunca soube que isto fosse utilizado.
Outra forma bastante usada lá fora para remover as abelhas é por meio de um soprador, que é muito mais rápido e eficiente que a vassourinha. Nunca vi nenhum específico a venda por aqui, mas já soube de alguns apicultores que usaram algumas improvisações: a saída de um aspirador de pó, um soprador de folhas ou um compressor de ar.
A técnica que eu prefiro é a que emprega a tábua de escape. Essa tábua deve ser introduzida logo abaixo das melgueiras a serem colhidas, com 48 horas de antecedência. Por essa tábua, as abelhas saem da melgueira e dificilmente conseguem voltar, o que transforma a colheita num verdadeiro passeio. A tábua de escape deve ser a que possui um buraco grande do lado de cima e uma tela montada sobre sarrafos (em triângulo, geralmente) do lado de baixo. É muito fácil fazê-la, procure na Internet (é conhecida também como "Québec board"). Evite, porém, o infame "escape-abelha", um dispositivo metálico que funciona (muito mal) como uma válvula de abelhas.
Essa técnica tem a desvantagem de exigir duas viagens ao apiário, e dificilmente pode ser empregada por quem possui muitas colméias. Mas é, sem dúvida a mais confortável para abelhas e apicultores. Um detalhe importante é que a tábua de escape não pode ficar muitos dias na colméia, ou as abelhas acabarão conseguindo achar o caminho de volta à melgueira. A tábua de escape também é menos eficaz quando há mel desoperculado nas melgueiras e, muito especialmente, cria aberta ou fechada.

8.16 Como as melgueiras devem ser transportadas?

Essa é uma preocupação importante, tanto em relação à segurança das pessoas, quanto à integridade dos favos. Melgueiras cheias são muito pesadas e deslizam facilmente umas sobre as outras. Para evitar esse problema, você pode utilizar dois pedaços de cantoneiras metálicas (alumínio é melhor) em cantos opostos da pilha, e amarrá-las em pelo menos dois pontos. As pilhas amarradas devem a resistir aos solavancos, curvas e freadas.
Lembre-se que um acidente com melgueiras não significa apenas mel perdido. A chegada de uma nuvem de abelhas em poucos minutos pode transformar qualquer lugar num ambiente assustador. Por isso, as melgueiras devem ser transportadas, sempre que possível, diretamente do apiário a um lugar inacessível às abelhas. Caso aconteça um acidente, procure lavar rapidamente o mel e remova o que for possível para um lugar fechado. Mesmo melgueiras em bom estado não devem ser deixadas ao ar livre por muito tempo.
Quando o caminho for muito ruim, é preciso considerar também a possibilidade de quebra dos favos, especialmente quando eles são usados em quantidade inferior à máxima (8 ou 9 na Langstroth). Para diminuir o risco de quebra, alinhe as melgueiras, de forma que a sua lateral maior fique no mesmo sentido que o veículo. Isso evitará o movimento de pêndulo dos quadros nas freadas e arrancadas.

8.17 Como é feita a desoperculação dos favos?

O método manual é com faca e garfo. A faca deve ser do tipo "serrote de pão", com um serrilhado bem largo e afiado. O quadro é mantido quase na vertical, apoiado numa lateral pequena, e a faca é passada logo abaixo da cobertura, de forma a remover as tampas sem prejudicar demais os alvéolos, para que o favo possa ser reaproveitado. Essa operação pode ser feita numa mesa desoperculadora ou mesmo sobre um recipiente largo, como uma bacia, que recolha a cera retirada e o mel que escorre. Quando a temperatura ambiente está alta demais, porém, a cera dos favos pode amolecer, e a faca não a cortará direito.
Alguns apicultores usam uma faca especial de desoperculação que é aquecida eletricamente, o que ajuda a cortar a cera. Outros usam uma faca metálica comum aquecida em água quente. Nesse caso, é preciso secá-la antes de cortar o favo, para não adicionar água ao mel. As duas técnicas têm críticos ruidosos: a faca aquecida eletricamente elevaria demais a temperatura do mel com que entrasse em contato. A faca aquecida em água quente esfria rapidamente e ainda aumenta a sujeira do ambiente, distribuindo de pingos de mel e água por todo lado. Normalmente, o serrote de pão funciona tão bem, que não consigo descobrir nenhuma vantagem em usar essas geringonças.
Como a faca normalmente não é suficiente para fazer um trabalho completo (a não ser com favos gordos e perfeitos), o passo seguinte é o acabamento. Para isso, o quadro deve deitado (com as faces na horizontal), apoiado na mesa desoperculadora ou num recipiente que recolha o mel que escorre. Utiliza-se então o garfo desoperculador nas duas faces, introduzido-o por baixo da cobertura e levantado com cuidado para não ferir muito os alvéolos.
Há algumas outras ferramentas de desoperculação, como um rolete cheio de pontas, mas não são muito populares. Há também desoperculadores motorizados, com escovas ou lâminas que removem os opérculos, mas eles normalmente se destinam a grandes produtores ou entrepostos.

8.18 O que é uma mesa desoperculadora?

Basicamente, é um tanque com um apoio para os quadros, um fundo inclinado para facilitar o escorrimento do mel e uma saída, por onde o mel passa para ser filtrado. Há modelos com telas que aparam a cera removida e já fazem uma pré-filtragem do mel.

8.19 Quanto custa uma mesa desoperculadora?

Uma pequena, para 20 quadros, em inox, custa aproximadamente o mesmo que 40 kg de mel (no varejo). A esse preço talvez precise ser adicionado o de uma torneira de corte rápido, dependendo do modelo da mesa e do esquema de trabalho do apicultor na extração. Uma torneira dessas, em latão, custa cerca de 5 kg, e, em inox, cerca de 13 kg.

8.20 O que é uma torneira de corte rápido?

É uma torneira em forma de tubo, com uma tampa que fecha com um movimento de guilhotina. Ela é chamada assim porque interrompe o fluxo de mel imediatamente, evitando fios e pingos.

8.21 Como é feita a centrifugação dos quadros?

Os quadros são colocados numa centrífuga, na posição vertical. Eles ficam apoiados no "cesto" da centrífuga, que gira junto com o eixo. Inicialmente, a velocidade da centrífuga deve ser pequena, pois os favos estão pesados de mel e podem romper-se com facilidade. No decorrer da centrifugação, o mel vai sendo extraído, os favos vão ficando mais leves e a velocidade pode ser aumentada gradualmente, até que os respingos de mel na parede interna da centrífuga cessem.
Numa centrífuga radial, o processo é exatamente assim, mas numa centrífuga facial ele é muito mais crítico e envolve pelo menos uma fase a mais, a reversão dos quadros.

8.22 O que são centrífugas radial e facial?

Os nomes se referem à posição em que os quadros são colocados no cesto. Na centrífuga radial, eles ficam alinhados com o raio, ou seja, quando vistos de cima, os quadros lembram fatias de um bolo redondo. Na facial, os favos ficam com uma face voltada para a parede da centrífuga e a outra para o eixo. Na posição facial, a centrifugação só consegue remover o mel da face que está voltada para a parede, e por isso o quadro deve ser virado, pelo menos uma vez, para que o resto do mel seja extraído.
Na centrífuga radial, a reversão não precisa ser feita. Embora nela haja também uma face privilegiada de cada favo, a inclinação natural dos alvéolos garante que ambas as faces serão igualmente esgotadas.
A centrífuga facial requer um cuidado maior na operação, pois os favos sofrem uma força perpendicular sobre sua face, que é muito frágil.

8.23 Como centrifugar favos quebrados?

Os favos quebrados devem ser desoperculados do jeito que for possível e depois amarrados ao quadro. Essa amarração pode ser feita com fio de nylon ou de arame fino. O fio deve ser amarrado a uma extremidade do quadro e depois enrolado sobre ele em ida e volta, formando assim uma espécie de rede de proteção ao favo.
Com uma boa amarração, o favo geralmente poderá ser centrifugado sem problemas. Em caso de dúvida, deixe-o para o final e faça uma centrifugação só dos quebrados, mais lenta e cuidadosa.

8.24 Por que a centrífuga vibra?

A centrifuga vibra quando o seu centro de massa não coincide com o eixo de rotação. Em outras palavras, quando o cesto está desequilibrado, com mais peso de um lado do que de outro. Quando o desequilíbrio é grande, a centrífuga pode até se mover ("dançar"), se não estiver com os pés fixados no chão.
Para evitar a vibração ou diminuí-la muito, basta prestar atenção ao carregar a centrífuga, colocando quadros de peso semelhante em posições exatamente opostas. É claro que isso só é possível quando a capacidade de quadros da centrífuga é par, o que, felizmente, é a configuração mais comum.
Outra possibilidade é carregar a centrífuga de qualquer jeito e, antes de começar a girá-la, suspender um pouco um dos cantos. Se a distribuição de peso estiver desequilibrada, o cesto vai girar até encontrar uma posição preferencial. Se isso ocorrer, basta redistribuir os quadros até que o cesto não tenda mais a ficar numa determinada posição quando o canto for erguido.

8.25 O que move a centrífuga?

Há centrífugas manuais, movidas por uma manivela, e elétricas, movidas por um motor. As motorizadas podem ter controle de velocidade manual ou automático.

8.26 Quanto custa uma centrífuga?

Tomando o preço do mel no varejo como parâmetro, uma centrífuga radial manual em inox para 8 quadros custa cerca de 50 kg, para 12 quadros, uns 65 kg, e para 16 quadros, uns 75 kg.
Centrífugas motorizadas em inox para 12 quadros custam cerca de 160 kg, e para 20 quadros, uns 230 kg, aproximadamente.
Esses preços não incluem a torneira de corte rápido.

8.27 A centrifugação dos favos é demorada?

Depende principalmente da temperatura ambiente. Grosso modo, a 30 ºC, o mel flui três vezes mais rápido do que a 20 ºC, e dez vezes mais rápido do que a 15 ºC. Também por essa razão, vale a pena aquecer o ambiente antes do processamento do mel.
Um teor de umidade baixo, por sua vez, aumenta a viscosidade do mel e dificulta o seu fluxo.
Quando o favo centrifugado tem alvéolos de zangão, o tempo de extração diminui bastante, pela facilidade maior de escorrimento do mel.

8.28 Como extrair o mel sem a centrífuga?

Sem uma centrífuga, o processamento do mel complica-se bastante. Nesse caso, normalmente há três alternativas para o favo: deixar o mel escorrer, espremê-lo ou guardá-lo inteiro (ou em pedaços).
Deixar o mel escorrer é o procedimento ideal, porque permite o reaproveitamento posterior do favo. No entanto, só pode ser feito em recipientes grandes (os favos devem deixados com uma face voltada para baixo, e depois a outra). Também é um procedimento demorado, e o mel pode acabar absorvendo umidade do meio por higroscopia. Aumentar a temperatura do ambiente e desumidificá-lo (com um aquecedor de banheiro, por exemplo) vai acelerar o processo e diminuir o risco. Mesmo assim, só é uma fórmula viável para uma colheita muito pequena.
Espremer o favo é uma maneira perfeita de inutilizá-lo para as abelhas e obter um mel cheio de impurezas. No entanto, se for a única solução possível, tente fazê-lo da forma mais higiênica possível.
A terceira alternativa, favos inteiros, pode ser preferível ao seu esmagamento. Infelizmente, ela só é possível se o quadro não tiver sido aramado. Assim, se você não possui centrífuga, não conhece ninguém que possua e não está pensando em adquirir uma, é bom prever esse problema antes de preparar e colocar as melgueiras. Nesse caso, a melhor opção é adquirir formas especiais e adaptá-las nos quadros das melgueiras. Outra saída, é usar quadros inteiros sem arame (veja o item 8.33).

8.29 O que fazer com as melgueiras após a extração?

Elas devem ser devolvidas às abelhas, que limparão todos os resíduos de mel e deixarão os favos prontos para serem usados novamente ou guardados até a próxima safra.
Há duas formas de devolver as melgueiras: empilhando-as em zig-zag a uns 100 metros do apiário, ou devolvendo-as às colméias. A primeira forma resulta em muitas brigas, mortes e, talvez, pilhagem. Também pode facilitar a transmissão de doenças entre as colméias. Além disso, não apenas abelhas, mas diversos outros insetos aparecem para comer o mel ou depositar ovos nos favos.
A segunda forma é mais trabalhosa e exige mais cuidado, mas dá um resultado muito melhor. Para isso, a devolução deve ser feita em horário calmo das abelhas (final da tarde, noite ou amanhecer), com as caixas bem limpas por fora, para não estimular os saques.
Uma alternativa interessante é devolver todas as melgueiras a umas poucas colméias, de forma a minimizar a perturbação no apiário. Esse procedimento é especialmente recomendável para a última colheita da safra.

8.30 O que é feito do mel após a centrifugação?

Primeiro, o mel deve ser passado por uma peneira fina. A seguir, o ideal é deixá-lo decantando por alguns dias e só depois embalá-lo. Naturalmente, a segunda etapa só é possível com decantador.

8.31 O que é um decantador?

É um tanque com tampa e torneira. O mel é deixado nele por alguns dias (uma semana, por exemplo), para que as impurezas que sobraram da filtragem se depositem no fundo ou subam à superfície (junto com as bolhas de ar). Depois desse período, o mel é passado para as embalagens através da torneira, que deve ser de corte rápido. Como essa torneira se localiza um pouco acima do fundo, o mel que passa por ela é o mais puro possível, exceto bem no final, é claro.

8.32 Quanto custa um decantador?

Um para 100 kg custa cerca de 40 kg de mel, mais a torneira.

8.33 É possível produzir mel em favo?

É claro que sim. Podem-se usar fôrmas especialmente feitas para serem encaixadas nos quadros de melgueira - geralmente três por quadro. No centro dessas formas é colocado um pedaço de cera alveolada, que será puxado, enchido e operculado normalmente pelas abelhas. Após a colheita, basta desencaixar as fôrmas e embalá-las. É um processo muito mais simples e limpo que a centrifugação, mas possui um público alvo bastante restrito. No preço final do produto deve ser considerada também a cera que foi produzida e estará sendo vendida junto.
Alguns apicultores, na falta de fôrmas, usam quadros comuns, sem arames. Após a colheita, retiram o favo do quadro, cortando-o pelas beiradas, dividem o favo em três ou mais pedaços, deixam-nos escorrer por algum tempo e depois embalam-nos. Não fica com uma apresentação tão boa quanto os favos enformados.

8.34 Como o mel deve ser armazenado?

Em recipientes próprios para produtos alimentícios, hermeticamente fechados. Em relação à temperatura de armazenagem, o ideal é que ela esteja abaixo de 11 ºC, pois nessa faixa a probabilidade de fermentação é baixa e a formação de HMF é muito lenta, assim como a destruição das enzimas presentes no mel.
A faixa ideal de temperatura para a cristalização do mel é de 10 a 18 ºC, especialmente, 14 ºC.
A faixa ideal de temperatura para a fermentação do mel é de 11 a 21 ºC.
A partir de 21 ºC a produção de HMF se acelera, junto com o escurecimento do mel. Cada 10 ºC a mais de temperatura aumentam a velocidade de produção de HMF em cerca de 4,5 vezes. Por exemplo, um aumento que leva 100 dias para ocorrer a 30 ºC, leva apenas 20 dias a 40 ºC, 4 dias a 50 ºC e 1 dia a 60 ºC [CRA83].

8.35 O HMF é prejudicial à saúde humana?

Não na proporção encontrada no mel. A sua presença, acima de determinado nível, é apenas um indicativo de má qualidade do mel, por adulteração, superaquecimento ou longa estocagem.

8.36 As enzimas são benéficas à saúde humana?

Não há evidências disso, embora muitos apicultores refiram-se a elas como grandes vantagens do mel. As enzimas são responsáveis pela transformação de substâncias doces colhidas na natureza em mel, e a sua ausência também é um indicativo de má qualidade do produto.

8.37 Como o mel é adulterado?

Ele pode ser misturado a outras substâncias doces, como açúcar invertido, por exemplo. Um outro tipo de adulteração é feito com o fornecimento de xarope às abelhas e colheita do que as abelhas estocam, como se fosse mel. Em alguns casos, isso é vendido como "mel expresso", o que, na minha opinião já embute uma tentativa de engodo (pois não é mel), embora seja sutilmente diferenciada da denominação simples de "mel".

8.38 Há um modo simples de descobrir se o mel é adulterado?

Não. Quando a adulteração é grosseira, qualquer pessoa com razoável experiência de consumo de mel pode suspeitar da sua qualidade, mas não acredite em testes populares, como o do palito de fósforo.
A melhor forma de não adquirir mel adulterado é encontrar um fornecedor confiável. Para o apicultor, é importante não apenas produzir da maneira correta, mas informar muito bem seus consumidores, de forma a conquistar a sua confiança e aumentar a sua capacidade de discernimento.

8.39 É possível identificar a origem floral de um mel? 

No caso de méis monoflorais, há alguns parâmetros pré-definidos, que variam conforme a espécie de origem. Várias análises são necessárias, em conjunto, para a comprovação da condição de monofloral de um mel. Por exemplo, análise de cor, análise de contagem e identificação dos grãos de pólen presentes (análise polínica ou melissopalinológica), análise da condutividade (cujo resultado depende da quantidade de minerais presentes no mel), análise do espectro de açúcares (a proporção de glicose, frutose, maltose, etc.).
No caso de méis multiflorais, no entanto, a identificação precisa das fontes é muito difícil. Uma determinada cor pode resultar de inúmeras misturas diferentes de néctar, assim como a condutividade e o espectro de açúcares. Já a análise polínica é, por natureza, pouco confiável. Muitas plantas que produzem néctar em abundância não têm o seu pólen coletado pelas abelhas (nem acidentalmente), enquanto outras possibilitam uma contaminação pesada do néctar. Além disso, outras contaminações polínicas podem ocorrer dentro da própria colméia, pela manipulação do néctar e do pólen pelas abelhas, ou mesmo fora dela, provocadas pelo apicultor durante a colheita e extração do mel.

8.40 Por que o mel cristaliza?

O mel é uma solução supersaturada de açúcar, o que significa que há mais açúcar dissolvido na água do normalmente seria possível manter-se. Isso faz da solução uma mistura instável, e ela, ocasionalmente, pode retornar à estabilidade através da cristalização. Isto ocorre com a perda de água da água por parte da glicose, que se transforma em monoidrato de glicose e toma a forma de cristal.
Entretanto, nem todo mel cristaliza. Como o açúcar responsável pela cristalização é a glicose, a relação entre a sua quantidade e a de água no mel é que determina se o mel cristalizará ou não. Por exemplo, de acordo com um estudo citado em [WHI92], uma relação glicose/água de 1,58 (por exemplo, um mel com 17% de umidade e 27% de glicose) não cristalizará, enquanto outro, com relação de 1,98, provavelmente cristalizará até a metade do recipiente. Uma relação de 2,16 deve provocar uma cristalização total e mole, enquanto outra, de 2,24, deve provocar uma cristalização total e dura.

8.41 Como ocorre a cristalização?

A cristalização, além da relação glicose/água, depende da presença de "núcleos" para iniciar-se. Os núcleos podem ser impurezas microscópicas, grãos de pólen, partículas de cera, bolhas de ar ou cristais incipientes. O processo, após se desencadear, prossegue até que o ponto de equilíbrio da solução seja atingido ou até que o mel seja exposto a uma temperatura imprópria à cristalização.
Quando a proporção de glicose no mel é baixa, os cristais depositam-se no fundo do recipiente, formando um agrupamento mais sólido e grosseiro. Na superfície, forma-se uma mistura mais rica em frutose e água, que é muito mais propensa à fermentação que a forma líquida original. Por essa razão, uma cristalização grosseira e parcial do mel está freqüentemente associada a um início de fermentação. Já quando a proporção de glicose é alta, a cristalização forma uma espécie de rede, imobilizando os outros componentes do mel e levando a mistura a um estado semi-sólido, com uma consistência mais homogênea. Nesse caso, como não há separação de uma parte mais líquida, o risco de fermentação não cresce.
A velocidade de cristalização depende da quantidade de núcleos existentes, e por isso, um mel que tenha sido perfeitamente filtrado e previamente aquecido (para que até os menores cristais sejam desfeitos) demorará muito mais a cristalizar. Além disso, a velocidade depende também da temperatura de armazenagem do mel. Temperaturas abaixo de 10 ºC e acima de 21 ºC inibem ou retardam bastante a cristalização. A temperatura de 14 ºC é a ideal para a cristalização.

8.42 Como descristalizar o mel?

A descristalização do mel deve ser feita com o aumento da temperatura. Quanto mais alta for a temperatura, mais rápido será a descristalização. Altas temperaturas, porém, destroem muitas propriedades do mel, e devem ser rigorosamente evitadas. Industrialmente, o mel é aquecido por pouco tempo a temperaturas entre 60 e 70 ºC, aproximadamente, para inativar os fermentos existentes (e evitar uma futura fermentação), para expelir pequenas bolhas de ar e derreter os cristais microscópicos, que posteriormente serviriam de núcleos para a cristalização, e para permitir o bombeamento do mel e a sua filtragem sob pressão.
No uso doméstico, porém, recomenda-se que o derretimento do mel cristalizado seja feito numa temperatura mais baixa (cerca de 40 ºC), em banho-maria, por exemplo, com agitação freqüente.
De qualquer forma, melhor que superaquecer o mel ou descristalizá-lo, é transformá-lo em mel cremoso, que facilita o seu consumo de todas as formas possíveis.

8.43 O que é mel cremoso?

É um mel que foi induzido a uma cristalização fina e homogênea. Essa indução é puramente mecânica, a baixa temperatura e sem adição de nenhuma substância, o que preserva todas as qualidades do mel. O mel cremoso possui a consistência que o nome indica e o aspecto parecido com o do doce de leite, embora mais denso.
O mel cremoso é muito fácil de ser manuseado com colher e espátula, pois escorre lentamente, não despedaça pães e bolos e dissolve-se facilmente em líquidos. Ele também é mais estável que o mel comum e não forma cristalizações parciais e grosseiras.

8.44 Como se produz mel cremoso?

Há várias receitas disponíveis na Internet e em livros de apicultura. Eu adotei com sucesso uma receita dinamarquesa, divulgada pela Swienty. Ela inclui uma etapa de superaquecimento do mel para remoção de bolhas e derretimento de cristais que eu não sigo, nem sinto falta. A versão simplificada que uso é a seguinte:
1. Induzir um início de cristalização num pote de mel. Para isso, o ideal é deixar o mel descansando a uma temperatura de 14 ºC. Não sendo possível, tente o mais próximo disso - colocar o mel no refrigerador e retirá-lo diversas vezes, pode ser uma boa alternativa. Depois, espera-se que apareçam os primeiros cristais visíveis (isso pode levar de dias a meses). Quanto maior a relação glicose/água, mais fina e mais rápida será a cristalização.
2. Depois de aparecerem os primeiros cristais, deve-se bater o mel com uma batedeira quatro vezes por dia, durante 15 minutos, com os batedores de bolo (aqueles em forma de mola). Para isso, eu ligo a batedeira a um temporizador (facilmente encontrado em lojas de eletrônica), e fixo-a sobre a tampa do pote. As hastes dos batedores passam por pequenos furos, previamente feitos na tampa.
3. Em dois dias, mais ou menos, o mel adquire uma aparência de xampu. Neste momento, ele deve ser passado para os potes definitivos. Esses potes, então, devem ser deixados em repouso numa temperatura o mais próxima possível de 14 °C. Em uma semana ou duas, o mel já terá atingido a consistência definitiva.
4. Após a produção do primeiro mel cremoso, todos os demais podem ser feitos a partir de pequenas porções dele como "semente". Para isso, basta misturar cerca de 10% de mel cremoso ao mel líquido e iniciar o processo a partir do item 2 acima.

8.45 Quem comprará mel cremoso?

No Brasil, a ignorância sobre o mel é apavorante, e chega a haver regiões em que ele só pode ser vendido líquido, em garrafas, pois o mel cristalizado é considerado adulterado ou impróprio para alimentação. Por enquanto, o mel cremoso é raro e, não duvido, de pequena aceitação no mercado. Para produzi-lo e vendê-lo, a única alternativa é propaganda e boa informação, especialmente no ponto de venda. Sem isso, a probabilidade de que as pessoas achem que você pôs farinha no mel ou qualquer outra bobagem, pode apostar, é muito grande.

8.46 Qual é a densidade do mel?

A densidade do mel, a 20ºC, com 18% de umidade, é cerca de 1,42. Isso significa que, nessas condições, 1 litro de mel pesa 1,42 quilos, em média.

8.47 Mel cura a gripe? 

Não, mel não cura gripe. Ele também não cura câncer nem é bom para a tosse. Há muita pesquisa sobre as propriedades terapêuticas do mel, e alguns indícios mais concretos de que ele pode auxiliar no tratamento de úlceras, ferimentos e queimaduras, em razão da sua atividade antimicrobiana.
Algumas substâncias antioxidantes também estão presentes no mel, e alguns estudos sugerem que ele pode trazer alguns benefícios à saúde pela proteção das células ao ataque dos chamados radicais livres [SCH03]. As conclusões ainda não são definitivas e esse respeito, mas alguns resultados são realmente promissores.
De resto, há muito mais folclore em relação ao emprego medicinal do mel do que evidências obtidas em estudos científicos. É claro que se você for suscetível ao efeito placebo, poderá imaginar alguma melhora da sua doença se tiver bastante fé. Faça o teste: na próxima vez em que estiver gripado prepare a seguinte receita:
3 colheres de chá de mel
1 colher de chá de manteiga sem sal
1 ou 2 tampas de conhaque ou outro destilado
Esquente por alguns segundos no microondas ou em banho-maria e misture bem. Beba quente e vá dormir. Não cura nada, mas é tão bom...
Atenção: não tente fazer isso se você tem qualquer um dos ingredientes proibido na sua dieta.

8.48 A quantas bananas equivale 1 kg de mel?

Alguns autores fazem comparações desse tipo, mas elas não têm o menor sentido à luz do que se sabe hoje sobre nutrição. Quando o mel é comparado favoravelmente com outros alimentos, geralmente o critério adotado é o da quantidade de energia fornecida por peso. Por esse critério simplista, um consumidor poderia, com justiça, concluir que é muito mais vantajoso adoçar o leite com açúcar comum, que possui 4 kcal/g (contra 3,04 kcal/g do mel), ou que é muito mais interessante passar manteiga (9 kcal/g) no pão ao invés de mel.
Na verdade, o alto teor calórico do mel mais depõe contra o seu consumo do que a favor. Quando se mencionam propriedades nutritivas, micronutrientes são muito importantes do que a energia fornecida pelo alimento.

8.49 E o mel não é cheio de vitaminas e minerais?

Sim, de fato o mel possui algumas vitaminas e diversos minerais, mas em quantidades muito pequenas. Só para dar uma idéia, se alguém quisesse suprir 30% da ingestão diária recomendada de qualquer vitamina ou mineral presente no mel, teria de comer entre 1 e 6 kg por dia, o que seria um completo despropósito.

8.50 Mas então, para que comer mel?

Por que as pessoas comem manteiga ou bebem café? Pelas suas propriedades medicinais? Pelas suas características nutritivas? É claro que não. É porque são produtos acessíveis, de sabor agradável e que se harmonizam com diversos outros alimentos. Como eles, o mel é um produto delicioso e ainda mais versátil.
Mas o mel não é e nunca será considerado um alimento básico. É um alimento complementar, e, como tal, excepcional. Na minha opinião, não há porque perder tempo com fantasias e exageros a respeito do mel. Alguns autores fazem comparações esdrúxulas e divulgam o mel como remédio. Depois, lamuriam-se quando a população o consome com a mesma freqüência que o chá de losna.
Em certos aspectos, o mel é muito semelhante ao vinho. Ambos possuem infinitos sabores possíveis, e cada safra de cada região produz exemplares únicos. Assim, em cada pote, ou em cada garrafa, há uma surpresa, e quase sempre muito agradável.
Infelizmente, muitas pessoas acham caro um pote de mel que levará um ou dois meses para ser consumido das mais diversas e deliciosas formas. No entanto, pagam o mesmo valor por uma garrafa de vinho, que será bebida em uma única refeição. Mesmo reconhecendo todas as diferenças entre os produtos e seus respectivos apreciadores, acho que esse fato indica um certo desequilíbrio de comportamento. E uma razão importante é o enorme desconhecimento da origem e das características do mel por parte da população. O mesmo não acontece com o vinho, que é muito melhor divulgado no Brasil do que o mel.

8.51 Diabéticos podem comer mel?

O mel é fundamentalmente uma mistura de carboidratos, e como tal deve ser tratado pelo diabético. Não há evidências de que o mel seja mais ou menos seguro para os diabéticos, e o seu eventual consumo deve ser combinado com o médico e considerado com a mesma cautela dispensada aos demais carboidratos.

8.52 Bebês podem comer mel?

Bebês de até um ano de idade não devem comer mel. A razão disso é que o mel pode conter esporos da bactéria que causa o botulismo (Clostridium botulinum), que podem germinar e se desenvolver no aparelho digestivo dos bebês. A contaminação do mel pode ocorrer na natureza, e a observação cuidadosa dos aspectos sanitários na colheita, extração e envase não é garantia de que o mel está livre de esporos.
A freqüência de contaminação é baixa (menos de 5% das amostras no Canadá, por exemplo [BAR99]). No entanto, o botulismo é uma doença grave, que até mesmo causar a morte, e esse fato justifica plenamente a ausência de mel na dieta dos bebês [SAN92].

8.53 Qual é o consumo de mel no Brasil?

Esse é um dado bastante incerto. Encontra-se em livros, revistas e Internet valores que variam de dez vezes - 70 a 700 gramas por pessoa e por ano. Quem trabalha com dados oficiais tende a divulgar valores menores, talvez porque grande parte da produção não seja registrada. Muitos apicultores produzem apenas para consumo próprio e da família ou amigos. Talvez uma pesquisa por amostragem pudesse dar uma idéia bastante realística da situação nacional, mas não consta que uma estatística assim já tenha sido produzida.

8.54 Qual é a produção de mel no Brasil?

Uma estimativa encontrada freqüentemente é 35-40 mil toneladas em 2002.

8.55 Qual é a produção de mel por colméia no Brasil?

A média histórica considerada é de um pouco menos de 20 quilos de mel por colméia por ano. Uma pesquisa informal, realizada no grupo de discussão da Apacame, em 2003, revelou uma produtividade média de 22,3 kg/colméia no ano de 2002, em 37 apiários de diversas regiões do país.
Um manejo bem feito ajuda bastante a obter-se uma produtividade maior, mas a flora apícola disponível, provavelmente, é o fator decisivo. Há relatos de produtores com médias de 50-60 kg/colméia/ano, ou até mais. Descartados possíveis exageros e folclores, é muito provável que sejam de apicultores que migram as suas caixas uma ou mais vezes por ano ou têm à sua disposição um pasto apícola excepcional, como florestas de eucalipto, por exemplo.

8.56 O que é mel orgânico?

É um mel produzido segundo normas específicas que, ao menos supostamente, qualificam-no como um produto isento de contaminações químicas e biológicas indesejáveis.

8.57 Como se produz mel orgânico?

Para produzir um mel que possa receber o título de "orgânico", o apicultor deve passar por um processo de certificação. Isso é feito por algumas empresas nacionais e estrangeiras (como a IMO). Elas enviam inspetores que analisam tecnicamente as condições do apiário e sugerem adequações para a conversão do apiário convencional em orgânico. Atendidas suficientemente todas as exigências, e passado certo período de carência (funcionando como orgânico), a empresa certificará o apiário. Essa certificação dá ao apicultor o direito de usar um selo especial (próprio de cada empresa certificadora) no seu produto, identificando-o como orgânico perante os consumidores.
Para garantia da manutenção da qualidade, a empresa certificadora repete a inspeção pelo menos uma vez por ano, com ou sem aviso prévio.

8.58 Quais são os critérios exigidos para o mel orgânico?

No site do IBD pode-se baixar os seus critérios de certificação orgânica. Para a apicultura, há diversas exigências, como a proibição do uso de pesticidas no apiário e imediações, obrigatoriedade de aquisição de insumos de outras empresas certificadas, proibição de lavouras de manejo convencional num raio de 3 km do apiário, critérios para alimentação artificial e extração do mel, proibição de determinados medicamentos e outros. Em especial, como para todos os produtos orgânicos, é importante a manutenção de registros de manejo, produção e identificação dos lotes, a fim de garantir a rastreabilidade do produto.
Alguns dos critérios são exóticos ou inexplicáveis, como a permissão de acrescentar "chá de camomila" e "sal" à alimentação artificial das abelhas. Mas isso não surpreende tanto quanto qualificar a presença de HMF como "acidez" do mel, o que também é feito. Um dos critérios é virtualmente impraticável: o raio de 3 km sem lavouras convencionais (isso dá uma área de quase 3 mil hectares). O que ocorre, por relatos de apicultores certificados, é que este critério é basicamente decorativo, não sendo cobrado com o rigor que o texto sugere e em que alguns consumidores provavelmente crêem.
Para o consumidor, o mel certificado tem um apelo de garantia que o convencional não possui. Essa garantia está longe de ser absoluta, pois há infinitas oportunidades de fraude no processo, mas parece certo que entre dois méis desconhecidos, aquele que for certificado terá uma probabilidade maior de ser isento de impurezas e contaminações indesejáveis.

8.59 O que é hidromel?

É uma bebida alcoólica fermentada, provavelmente das mais antigas na história da civilização. É feito a partir de uma mistura de mel e água, com a possível adição de fermentos e substâncias que favorecem o seu desenvolvimento. Na Internet, pode-se achar inúmeras receitas de hidromel, bem como em muitos livros, como [CRA83].