18 de jun. de 2021

Criação de Rãs

 

 Todos já ouviram falar de “coxinhas de rã” como sendo um petisco e, embora poucos as tenham realmente provado, a verdade é que, quem experimenta, considera-as verdadeiras iguarias, estando disposto a pagar elevados preços por esta carne considerada das mais finas, nutritivas e saudáveis. 

O consumo de carne de rã só se generalizou na gastronomia europeia por volta do século XVI, e apesar de proibido o seu consumo pelo livro Levítico da Bíblia, a procura do anfíbio não para de aumentar em todo o mundo, sobretudo em França, principal consumidor mundial. 

Em algumas espécies, como a rã touro, a mais criada, a pele é ainda valorizada para marroquinaria, como outro qualquer couro, embora muito mais delicado, e certas partes dos intestinos são utilizados para fins cirúrgicos, embora em menor escala. 

Em Portugal, além da captura amadora para consumo local, e pontual exportação de espécies selvagens, eventualmente em regime de tráfico, a carne (importada) é proposta aos consumidores congelada nas maiores cadeias de hipermercados, embora os amantes considerem que desta forma se perdem algumas das suas características mais refinadas. 

A França, principal país consumidor do mundo (o Estado do Louisiana, nos EUA, é o segundo), durante anos foi praticamente auto-suficiente, mas à medida que o consumo ia aumentando, e as reservas selvagens foram rareando, chegou-se a um ponto em que se tornou inevitável a proibição de caça de rãs, que se estabeleceu em França nos anos 80. Deste modo, abriu-se um enorme mercado de importação, estimando-se que atualmente este ultrapasse as 4.000 toneladas por ano, sobretudo de “coxas” congeladas, e pouco mais de 1.000 toneladas por ano de animais vivos, para abate em França, sobretudo provenientes de criações industriais. 

De referir ainda que no espaço europeu se estima que o consumo de coxas de rã ultrapassa as 10.000 toneladas ano sendo a Suiça e a Alemanha, dos maiores importadores, a seguir à França. 

A Europa é abastecida, sobretudo, por duas vias: 

1) Carne congelada proveniente de caça, em países asiáticos, como Indonésia, Tailândia, China e cada vez mais do Brasil, onde a produção é industrial. 

2) Animais vivos, de abastecimento feito sobretudo a partir de países da orla mediterrânica, como Turquia e Egipto, e destinados maioritariamente a restaurantes. 

 A maior parte dos animais que entram no espaço comunitário provém de capturas de animais selvagens, com as consequências que daí advêm para os ecossistemas e que têm impulsionado alguns países, e também numa lógica de aumento da rentabilidade, a aumentar a produção em criatórios industriais. 

Precisamente por esta razão, e pela rentabilidade, é no Brasil onde a fileira se vem afirmando como uma das mais sustentáveis e vigorosas, fazendo com que este país seja já o segundo maior produtor industrial a seguir a Taiwan, sendo uma fileira ambientalmente sustentável. 

Aliás, o Brasil passa por um interessante período em que a indústria da ranicultu­ra, (e este país é um dos países que tem esta produção num estado mais avançado de desenvolvimento), inicialmente projetada nos anos 80 para abastecer sobretudo os mercados externos, está com dificuldade em abastecer a própria procura local, em virtude do acelerado aumento da procura. 

Nos dois gráficos que acompanham este texto encontram-se os preços médios pagos em França, no mercado Internacional de Rungis, principal porta de entrada de carne de rã. Aí vemos que no histórico recente a cotação do produto congelado tem-se mantido muito estável em torno dos 12,5€/kg, e o produto fresco está normalmente cotado entre o dobro e o triplo do valor do produto congelado.

Estas cotações são muito atrativas, sobretudo as do mercado fresco, que dão a países extremamente próximos, como Portugal, a apenas 1 dia de viagem, uma vantagem competitiva quase inigualável, havendo quem chame, em França, à produção de rã, “pequeno tesouro verde”.

O elevado preço da carne de rã (e a rentabilidade que esta pode dar aos criadores) tem impulsionado, na França, a instalação de uma fileira zootécnica profissional para a produção de rã apoiada pelo INRA (Institut National de Recherche Agricole), sobretudo das espécies nativas, constituindo uma oportunidade de negócio em acelerado crescimento, fenômeno que se verifica, igualmente noutros países da orla mediterrânica.

Além da importância econômica e a oportunidade que representa, sobretudo na exploração de pequenas áreas, esta produção zootécnica mostra-se como um imperativo ambiental, uma vez que só é possível refrear a destruição furtiva dos ecossistemas selvagens, na Europa, e sobretudo das regiões asiáticas, com a produção industrial.



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