A reprodução assistida ou manejo reprodutivo tem
grande relevância dentro de um sistema de produção em pequenos ruminantes. Ele
é composto por uma série de decisões técnicas (Sanitárias, Nutricionais e
Zootécnicas) a serem tomadas pelo criador no sentido de monitorar, controlar e
elevar a eficiência reprodutiva do rebanho de forma racional. Assim, o manejo
reprodutivo tem foco na elevação das taxas reprodutivas de acordo com a
exploração desejada, tornando-o mais rentável.
Um dos primeiros passos para organizar o manejo
reprodutivo em um rebanho é a identificação individual dos animais. Os
critérios dependem da preferência do criador (tatuagem, brincos, colares,
identificação eletrônica, marcação a fogo ou marcação a frio). Sugere-se, para
uma maior segurança, a associação de duas ou mais formas de identificação,
evitando ou diminuindo perdas de informações do animal. Nos pequenos
ruminantes, os métodos mais usuais são tatuagens, brincos e colares com placas
identificadoras. Uma vez feita a identificação, o criador pode selecionar os
animais durante os ciclos de produção (estação de monta, parto, desmama e
recria). Dessa forma, podem ser obtidas informações zootécnicas e reprodutivas
individuais no rebanho e identificar no plantel apenas os animais produtivos ou
não.
Como
escolher uma fêmea para reprodução
A escolha de fêmea para reprodução é um passo
importante para a eficiência reprodutiva. Essa seleção ocorre dentro do rebanho
ou por intermédio de aquisições oriundas de criatórios externos. Dependendo da
condição fisiológica da fêmea (jovem, gestante ou com cria ao pé) e do tipo de
exploração, algumas características devem ser preconizadas. Entre elas, as
características a serem observadas, destacam-se:
- Presença de habilidade materna – boa produção
de leite para atender as necessidades da(s) cria(s) e não rejeitar a(s)
cria(s);
- Possuir
bom desenvolvimento corporal compatível à idade e raça;
- Ter
atingido pelo menos 70% do peso adulto das femêas do rebanho;
- Ter
aspecto feminino e docilidade;
- Apresentar
prenhezes e partos normais;
- Ter
bons aprumos e cascos sadios;
- Ter
fertilidade comprovada (ser fecundada a cada ciclo reprodutivo);
- Ausência
de doenças e defeitos físicos.
Um dado relevante que pode indicar o potencial
produtivo da fêmea é a relação de desmama, sendo o valor gerado em função da
divisão do valor em kg de cria desmamada pelo peso da ovelha à desmama
multiplicado por 100 (Figura 1).
Então, uma fêmea será considerada superior à outra,
não apenas considerando o peso de suas crias desmamadas, mas também seu próprio
peso. Lembre-se que matrizes mais pesadas necessitam de mais alimento de boa
qualidade em quantidade suficiente para manterem seu corpo quando comparadas
com fêmeas mais leves. Um equilíbrio deve ser considerado neste aspecto e
sempre com foco na meta do sistema produtivo.
Figura
1.
Fórmula da relação de desmama que avalia o potencial produtivo de uma matriz.
Em caso de aquisição de animais de outros
criatórios, dar preferência às matrizes que pariram pelo menos uma vez e, em
caso de aquisição de animais jovens (cabritas ou borregas) também se recomenda
a observação da produção dos pais, avós e irmãs.
A realização de um exame clínico-ginecológico, que
consiste em avaliar a matriz em questão por meio de inspeção visual, palpações
e exames específicos (Hemograma, Ultrassonografia, dentre outros) o
funcionamento correto do seu organismo, antes da aquisição e deverá ser
executado por um médico veterinário de sua confiança.
Como
escolher um macho para reprodução
A seleção de um macho para reprodutor é definida
por um padrão de características produtivas desejáveis dentro do rebanho. O
macho passa por uma maior pressão de seleção em relação às fêmeas, visto que um
macho consegue deixar um número maior de descendentes que uma fêmea
naturalmente. Assim, o reprodutor é o principal responsável pelo melhoramento
genético de um rebanho. Um equívoco nessa seleção poderá trazer prejuízos
inestimáveis aos criadores. Portanto, essa escolha deve ser criteriosa,
realizada em indivíduos oriundos do próprio rebanho, ou de outros criatórios. A
seguir, são listados alguns aspectos que devem ser observados na escolha:
- Presença da libido ou apetite sexual. O macho
deve possuir interesse sexual por fêmeas. O número de fêmeas que o macho
pode cobrir ou o número de saltos, na mesma fêmea, em um intervalo de uma
hora é um bom indicador. Machos que cobrem até quatro fêmeas ou realizam quatro
saltos em um intervalo de uma hora são considerados excelentes e devem ser
priorizados quando comparados com outros que cobrem ou saltam menos dentro
de um mesmo padrão genético e racial;
- Ter
desenvolvimento corporal compatível com a idade e a raça;
- Apresentar
aspecto masculino e ter comportamento dominante;
- Nos
caprinos, evitar animais mochos de nascença;
- Possuir
aparelho genital externo, testículos, pênis e saco escrotal compatível à
normalidade;
- Ter
bons aprumos e cascos sadios;
- Estar
livre de doenças.
Em várias situações, animais são selecionados
apenas em função de sua composição genética ou pedigree. Isso por si só não
assegura a seleção de um macho para ser utilizado dentro de um rebanho.
Um exemplo disso pode ser observado na Figura 2.
Trata-se de um animal que utilizado em sistema de monta natural, visto
lateralmente, torna-se flagrante a posição vertical dos membros posteriores,
postura popularmente conhecida como “pé de frango”. Quando observado de um
ângulo posterior, percebe-se outro grave defeito que são os jarretes para
dentro. Ambas as condições dificultam a cobertura e machos com essas
características devem ser retirados do rebanho.
Foto: Jeferson Ferreira Fonseca
Figura
2. Visão
lateral (A) e posterior (B) de bode adulto selecionado e utilizado em sistema
de monta natural. Atente-se aos graves defeitos de aprumo dos membros
posteriores.
De acordo com a procedência e idade do animal,
fazem-se necessárias observações na produção dos seus ascendentes, como pais ou
avós, para uma predição de seu potencial reprodutivo. No caso de reprodutores
sexualmente maduros, procurar informações sobre suas crias. Recomenda-se, se
possível, numa aquisição de animais de outros criatórios, a realização de um
exame andrológico do reprodutor em questão, que deverá ser executado por um
médico veterinário de sua confiança.
Lembre-se que a vida útil de um reprodutor pode ser
de até oito anos. Todavia, de forma geral, indica-se sua permanência por até
quatro anos dentro de um rebanho, em função da consanguinidade.
Época
ideal para acasalamentos
A maturidade sexual é a época em que os animais
estão aptos fisiologicamente e hormonalmente a exercerem plenamente a
reprodução. Para tal, no tocante às fêmeas em fase de recria, o peso é o
parâmetro zootécnico mais indicado para início das atividades reprodutivas.
Cronologicamente, cabritas e borregas atingem 60 a 70% do peso adulto por volta
dos seis a oito meses (Figura 3). Isso pode variar em função da raça e da forma
como são criadas. Indica-se um peso mínimo que se aproxime dos 70 % do peso de
uma fêmea adulta e uma idade de oito meses como padrão para a primeira cobertura.
Os machos devem ser utilizados um pouco mais tarde (12 meses). A esse tempo, já
puderam ser selecionados e caracterizados como adequados para o plantel, além
de terem alcançado bom desenvolvimento e reservas corporais.
Figura
3. Relação
do percentual de peso corporal referente a uma fêmea adulta da raça e idade à
puberdade em cabras e ovelhas em três diferentes sistemas de ganho de peso.
Fonte: Adaptado de Fonseca e Bruschi
(2008).
Condição
de Escore Corporal
A reprodução é uma função que exige muita energia
tanto do reprodutor quanto da matriz. Assim, nos pequenos ruminantes, a
nutrição e a sanidade são condições importantíssimas para que a função
reprodutiva tenha a eficiência desejada em um sistema de produção. Para tanto,
a caracterização da condição de escore corporal (ECC) é muito importante.
Trata-se de uma prática simples de visualização e palpação de pontos
específicos (região lombar e esternal) no animal. O objetivo é avaliar
subjetivamente o acúmulo de reservas do animal (músculo e gordura). São essas
reservas que serão utilizadas pelo animal para manifestar suas funções
reprodutivas (cio); ditarão sua fertilidade e potencial de levar uma gestação e
partos normais, produzindo, criando e desmamando crias dentro do padrão
esperado. Usa-se uma escala de 1 a 5 pontos para pequenos ruminantes. A
precisão dessa avaliação depende de treinamento, bem como do conhecimento das
particularidades das raças, espécies e ordem de partos das fêmeas. Neste
contexto, atente-se que raças leiteiras são normalmente mais descarnadas que
raças de corte, raças de corte deslanadas são também normalmente mais
descarnadas que raças de corte lanadas. Por fim, fêmeas que nunca pariram, como
cabritas e borregas, merecem atenção especial.
Figura
4.
Escore de Condição Corporal em função da fase do ciclo reprodutivo.
Fonte: Adaptado de Cezar e Sousa (2006).
Avaliações mensais são indicadas como rotina, ou
pelo menos, antes do início nos ciclos de produção, tais como: estação de
monta, pré-parto e recria. Nessas ocasiões podem ser necessários ajustes
alimentares para elevar o ECC. Preconiza-se para o uso de matrizes em
reprodução um escore mínimo de 3 pontos (Figura 4).
Estação
de reprodução (Monta)
Cabras e ovelhas, desde que tenham aporte
nutricional quanti-qualitativo suficiente, apresentam períodos cíclicos estrais
de 21 e 17 dias, respectivamente, durante o ano nas regiões semiáridas
brasileiras. Com base nisso, pode se dimensionar uma estação de monta que
proporcione uma concentração de parições por ciclo de produção. A estação de
monta é o manejo estratégico realizado em tempo definido (semanas ou meses)
durante o qual os animais são acasalados. Recomenda-se que seja feito um
planejamento com pelo menos 60 dias de antecedência. Isso é necessário para
planejar sua execução, preparar as fêmeas e machos que serão utilizados.
Por vezes, indica-se o uso do flushing ou
alimentação estratégica tanto nas fêmeas quanto nos machos. Isso consiste no
fornecimento, semanas antes e no início da estação de monta, de uma dieta rica
em energia e com proteína adequada capaz de elevar o ECC para níveis
satisfatórios para reprodução, além de estimular as ovulações nas fêmeas
(Figura 5). Dessa forma, pode haver uma resposta positiva na fertilidade e
prolificidade do rebanho, uma vez que tais índices dependem do ECC.
Figura
5. Efeito
do Escore de Condição Corporal (ECC) ao parto sobre o desempenho reprodutivo de
cabras e ovelhas, em dietas não suplementadas, em região tropical.
Fonte: Adaptado de Simplício e Santos
(2005).
Quando a estação de monta é implantada pela
primeira vez, ou retomada após longo período de não utilização, recomenda-se
utilizar um período que permita pelo menos três ciclos estrais para as fêmeas,
sendo 63 dias para cabras e 51 dias para as ovelhas. A partir dos anos
seguintes, reduz-se para dois ciclos, isto é, 42 dias para as cabras e 34 dias
para as ovelhas. Vale ressaltar que durante o período de preparação (60 dias),
as fêmeas devem estar separadas dos machos. Quando o contato é iniciado por
ocasião do início da estação de monta, muitas fêmeas entram em cio nos
primeiros três dias de exposição. Algumas delas podem não ser cobertas, pois
superam a capacidade de cobertura do macho, enquanto outras têm ciclo
irregular, retornando ao cio precocemente (oito dias), e outras são cobertas,
mas não ovulam enquanto outras mesmo fertilizadas podem perder precocemente a
gestação. Por esses motivos, recomenda-se a introdução de um rufião
cirurgicamente preparado (Ex.: vasectomizado) ou machos com avental que não permita
coberturas. Isso propiciará cios férteis e bem distribuídos de praticamente
todas as fêmeas durante a primeira quinzena da estação de monta.
As estações de monta devem ser programadas de
acordo com necessidade do sistema de produção de forma a reduzir o intervalo
entre partos e diminuir o período improdutivo de uma fêmea. O intervalo de
parto de 12 meses praticado na maioria dos criatórios no semiárido, às vezes,
pode não ser tão interessante para sistemas produtivos mais tecnificados.
Então, em criatórios mais organizados, sugerem-se intervalos de cerca de oito
meses. Dessa forma, pode-se obter três parições em dois anos, aumentando cerca
de 50% no número de crias por animal por ano em relação ao sistema tradicional
(Figuras 6 e 7). Todavia, mais uma vez é preciso considerar outros aspectos do
sistema de produção em questão. Cabras e ovelhas leiteiras de raças
especializadas são um caso à parte. Esse intervalo não poderá ser alcançado em
função da duração e do potencial de produção de leite da lactação são fatores
impeditivos. O ideal é que as fêmeas estejam sempre em fase produtiva. Isso
pode significar cria ao pé ou no ventre e/ou produção de leite eficiente.
Figura
6. Representação
esquemática de como obter três partos em dois anos em cabras.
Fonte: Adaptado de Fonseca (2006).
Figura
7. Representação
esquemática de como obter três partos em dois anos em ovelhas.
Fonte: Adaptado de Fonseca (2006).
O reconhecimento do cio também auxilia para o êxito
de uma estação de monta. O cio ou estro é um complexo de sinais fisiológicos e
comportamentais que ocorre antes de uma ovulação (Tabela 1). É o período em que
uma fêmea está receptiva sexualmente ao macho, com possibilidade de ser coberta
e tornar-se gestante.
A duração de um cio varia de 24 a 48 horas para
cabras e de 24 a 36 horas para ovelhas. A raça, a idade, o estádio nutricional,
a estação e a presença do macho podem influenciar na sua duração. Os sinais de
cio são mais evidentes nas cabras do que nas ovelhas, contudo, a presença do
macho (ou rufião) auxilia na detecção desses sinais que podem, às vezes, ser
assim exprimidos:
Tabela1. Evidências de cio
em fêmeas caprinas e ovinas.
Sinais
|
Cabra
|
Ovelha
|
Inquietude
|
Presente
|
Ausente
|
Urina e berra com
frequência
|
Presente
|
Às vezes
|
Procura o
reprodutor com interesse
|
Presente
|
Presente
|
Balança a cauda
frequentemente lateralmente
|
Presente
|
Às vezes
|
Apresenta a vulva
inchada e avermelhada
|
Presente
|
Presente
|
Monta e se deixa
montar em outras matrizes
|
Presente
|
Às vezes
|
Fica imóvel
quando montada
|
Presente
|
Presente
|
Presença de
secreção vaginal cristalina no início e caseosa no fim do cio
|
Presente
|
Às vezes
|
Fonte: Adaptado de Freitas et al.
(2005).
Uma técnica que auxilia no sucesso da estação de
monta é o efeito macho, pois pode induzir um alto percentual de cio em 72
horas, conforme descrito anteriormente. O efeito macho consiste em realizar um
afastamento total dos machos do rebanho, onde as fêmeas não possam visualizar,
escutar ou mesmo sentir odores deles. Após um período, em média 60 dias, os
reprodutores são reintroduzidos com as fêmeas e sua presença estimula o
aparecimento do cio. Essa técnica associada à indução ou sincronização de cio
por meios hormonais podem elevar a taxa de fertilidade dentro de uma estação de
monta.
Por fim, mais uma vez, reitera-se a necessidade de
conhecer e ou comprovar a fertilidade dos reprodutores que irão trabalhar na
estação de monta. Exame andrológico prévio é uma exigência. Machos devidamente
qualificados reprodutivamente determinam o sucesso desse manejo.
Sistemas
de Acasalamento
Basicamente, o acasalamento pode ser efetuado de
duas formas: pela monta natural (descontrolada ou livre, Controlada e Dirigida)
ou pela inseminação artificial (IA). A escolha de uma ou outra forma deve ser
feita em função da meta do empreendimento produtivo, a otimização do uso de
reprodutores, instalações disponíveis, capacitação de técnicos e lotes de
fêmeas envolvidas compatíveis com a capacidade dos machos, bem como a
infraestrutura necessária à realização do acasalamento escolhido.
A relação de machos que servirão um número mínimo
de fêmeas está diretamente relacionada ao tipo de acasalamento. Assim, no
acasalamento livre a proporção é de 1:30, ou seja, um reprodutor para 30
matrizes, visto que as fêmeas nesse sistema ficam expostas ao macho
continuamente, sem intervalos determinados. O desgaste é maior, pois o
reprodutor identifica o cio e cobre ao mesmo tempo. Prática comum nos rebanhos
nordestinos brasileiros, onde não há controle zootécnico efetivo. Já na monta
controlada, as fêmeas são agrupadas com um macho, necessitando, então, de uma
infraestrutura mínima para tal. Assim, o controle zootécnico é mais eficiente e
pode ser otimizado com o uso de marcadores nos machos em serviço. A relação
macho:fêmeas na monta controlada deve ser de 1:50.
Quanto à monta dirigida, esta proporção chega a
1:100. Nesse caso, utilizam-se animais identificadores de cio, os rufiões, os
quais podem ser animais cirurgicamente preparados, fêmeas
masculinizadas/androgenizadas ou animais criptorquíticos bilaterais (“castrados
de nascença”). Vale salientar que esse tipo de acasalamento é bastante
utilizado em sistemas intensivos e de confinamento.
A inseminação artificial representa a primeira
linha de biotecnologias da reprodução. Seu uso ainda está restrito a rebanhos
de elite. Isso ocorre em função de dificuldades, custos e peculiaridades da
técnica em caprinos e ovinos. Sua relação macho:fêmeas pode chegar a 1:150 ou
até mais, dependendo do reprodutor e da disponibilidade de sêmen. A técnica é
efetuada com sêmen fresco, resfriado ou congelado. De forma geral, o sêmen a
fresco tem apresentado melhores resultados em fertilidade. Todavia, a taxa de
concepção ainda depende de algumas variantes, como: dose ou número de
espermatozoides viáveis; volume inseminante; da via e forma de inseminação
utilizada. Essa biotécnica pode ser realizada em tempo fixo (IATF) associada à
sincronização/indução de cio, que, por meio da manipulação hormonal, estimula
ovulações numa faixa temporal, fixando um tempo para as inseminações
acontecerem.
Diagnóstico
de gestação
Em pequenos ruminantes, várias técnicas em
diagnóstico de gestação vêm sendo utilizadas com vários graus de precocidade e
eficiência, não obstante, a sua utilização permite a minimização de perdas,
principalmente as econômicas, com a alimentação de animais não gestantes e/ou
com problemas reprodutivos permanentes. No entanto, o criador deve ponderar o
custo-beneficio da técnica, antes de programar esse manejo.
Com o diagnóstico, permitindo a identificação de
femêas não gestantes, o criador poderá decidir quem pode ser encaminhada para
uma nova estação de monta ou mesmo para um descarte (caso de doença
reprodutiva), refletindo positivamente na eficiência reprodutiva.
De forma usual, os criatórios se utilizam do método
de “o não retorno ao cio”, ou seja, após serem cobertas presuntivamente, a
fêmea que não voltou a “ciclar” ou ciar estará prenhe. Embora muito simples,
esse manejo não quantifica o número de fetos, bem como, não possui uma
precocidade necessária para um planejamento prévio de alimentação desses
animais. Outro entrave é que fêmeas com problemas reprodutivos e ou alimentares
também podem não ciar. Isso torna o método falho ou pouco eficiente.
Atualmente, o uso da ultrassonografia em tempo real
(Modo Scan B) vem sendo popularizado pelos profissionais da área. Entre suas
vantagens, ressaltam-se:
- Alta eficácia e acurácia;
- Precocidade do diagnóstico, seja na inseminação
artificial (a partir do 25 dias), seja na transferência de embriões ou
outra biotécnica utilizada (Fecundação in vitro, clonagem, transgênese e
outras);
- Verificação da viabilidade fetal por meio da
detecção dos batimentos cardíacos;
- Identificação do sexo do feto (a partir do 50
dias de gestação).
Gestação
O período gestacional dos pequenos ruminantes é em
média de 150 dias, podendo variar de acordo com as raças, idade da mãe, ordem
de parição, números de fetos e espécie. Com isso, pode-se prever a época da
parição, para execução de medidas sanitárias, nutricionais e zootécnicas no
periparto que visem a sobrevivência tanto da cria quanto da mãe.
Vale salientar que nos últimos 50 dias de gestação,
ou seja, no terço final, há um aumento do tamanho do feto na ordem de 70%, além
da preparação do úbere para uma lactação. Nesse caso, o fornecimento de dietas
equilibradas ajuda tanto no crescimento do feto quanto na produção inicial de
leite. Ainda nesse período, de acordo com indicação regional ou de manejo
sanitário, pode ser recomendada a vermifugação e vacinação (Ex. clostridioses)
das fêmeas gestantes, desde que o manuseio desses animais não leve a acidentes
que possam acarretar o abortamento ou partos prematuros. Deve-se evitar todo
tipo de estresse ou esforço da gestante, para garantir uma parição tranquila e
uma recuperação do parto mais rápido. De preferência, separá-la em lote de
gestantes para facilitar o manejo.
Parto
O parto é uma situação fisiológica, cuja previsão
(Figura 8), pode auxiliar o criador em casos que necessitem de intervenções em
possíveis complicações, para evitar problemas com a mãe e perdas das crias.
Figura
8. Previsão
de parto em pequenos ruminantes, ajustado para 150 dias.
Fonte: Adaptado de Associação
Brasileira de Inseminação Artificial (2005).
O parto deve ocorrer de forma mais natural
possível, sem que haja intervenção ou auxílio para a fêmea gestante,
recomendando-se pelo menos uma semana antes, manter as fêmeas em piquetes ou
baias maternidades, locais limpos, arejados e mais tranquilos. Próximo ao
parto, observa-se um aumento no volume do úbere e inchaço da vulva. Com a
aproximação do parto, ocorrem sinais visíveis, como: o isolamento das femêas, o
balir com mais intensidade, o relaxamento dos ligamentos da garupa, a
inquietação, o olhar constante para os flancos, a ação de deitar e levantar
frequentemente e o extravaso pela vulva de uma secreção ligeiramente amarelada
e opaca, que vem a ser o tampão mucoso.
No momento do parto, as contrações uterinas
tornam-se mais fortes, há o rompimento da placenta e visualização da bolsa
amniótica com os membros anteriores ou posteriores, que se projetam pela vulva.
Logo após ocorre a expulsão do feto. Podem existir casos da cria nascer dentro
da bolsa ou distorcias, necessitando intervenções nesses casos. O parto pode
durar de uma a duas horas.
A previsão do parto pode predizer a época esperada
para esse acontecimento. Com base nessa previsão, os partos podem ser
induzidos, evitando concentrações de partos no mesmo dia ou mesmo interrompendo
gestações que se prolongam para além da data esperada. Essa técnica consiste na
administração de medicamentos que iniciem o processo de parto. Nas cabras, a
utilização de análogos sintéticos de prostaglandina F2α induz o parto dentro de
30 a 40 horas após sua aplicação. Já nas ovelhas, a utilização de
glicocorticoides como a dexametasona ou betametasona tem efeito positivo na
indução em 36 a 56 horas. Lembrando sempre que a falta de critérios e
escrituração adequada podem levar a indução de partos de fetos em idades inadequadas
(Ex.: fêmea que repetiu cio, foi coberta e não devidamente anotada).
Cuidados
ao nascimento
Quanto ao nascimento, a mãe, por instinto, deverá
reconhecer sua (s) cria (s), lambendo-a (s) de forma vigorosa, sendo que essa
atividade, além de fortalecer os laços maternos, estimula os batimentos
cardíacos e movimentos respiratórios das crias, além de aquecê-las. Lembrando
que esse comportamento é vedado aos caprinos leiteiros especializados, como
medida adicional de controle de doenças, como a CAEV (artrite encefalite viral
caprina). Nesse caso, o parto é assistido e a cria removida imediatamente após
o nascimento. O próximo passo é a mamada de colostro obtido de cabras
comprovadamente livres da CAEV ou seu fornecimento termizado a 56 ºC por 30
minutos, que conferirá uma imunidade passiva (vinda mãe) para a cria. Esta
transferência deve ocorrer em até 2 horas para cordeiros e 4 horas para
cabritos.
A regulação da temperatura corporal nos
recém-nascidos de pequenos ruminantes não está desenvolvida o suficiente para
mantê-los devidamente aquecidos logo após o nascimento. Assim, recomenda-se,
neste caso, o uso de aquecimento artificial, seja por meio de campânulas, seja
por meio de lâmpadas aquecedoras, em locais apropriados do tipo berçário.
Os cuidados com umbigo também evitam a mortalidade
dos recém-nascidos. O umbigo deve, necessariamente, ser limpo e desinfetado com
tintura de iodo a 10% por, pelo menos, três dias seguidos, imergindo-o na
solução, promovendo assim uma cauterização local e sua cicatrização.
Posteriormente, o umbigo deverá cair naturalmente. Alguns criadores e técnicos
preconizam o corte do umbigo. Naturalmente, o umbigo é estrangulado por ocasião
do parto de forma a não permitir acesso de microrganismos. O corte, tração e
amarradura indevidas podem propiciar acesso de agentes infecciosos que podem
até mesmo levar à morte o recém-nascido, além de favorecer a formação de
hérnias umbilicais por interferirem na cicatrização e fechamento desse canal
umbilical.
As crias devem ainda ser pesadas, identificadas e
submetidas a medidas sanitárias necessárias de acordo com o calendário
regional.
Considerações
finais
A reprodução assistida ou manejo reprodutivo é um
dos maiores responsáveis pela eficiência produtiva dos rebanhos de caprinos e
ovinos. Sua dependência de outros manejos como nutricional e sanitário, eleva a
exigência de atenção no sentido de sua integração dentro do manejo geral do
sistema de produção. Compreender suas características e explorar suas
possibilidades é, portanto, uma condição indispensável ao criador. Recomenda-se
atenção adequada aos vários estádios que compreendem o manejo reprodutivo e a
possibilidade de aplicação das variadas ferramentas e técnicas disponíveis.
Toda orientação, implantação e monitoramento dessas técnicas devem ser
compatíveis com o sistema de produção em questão e, sempre que possível, ser
acompanhadas de uma escrituração zootécnica organizada. Uma vez seguidas essas
orientações, observa-se a elevação nas taxas reprodutivas no rebanho que se
reflete positivamente, tanto na eficiência reprodutiva e produtiva, quanto no
sucesso na exploração desses animais.
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