Para sobreviverem, as abelhas necessitam alimentar-se e atender às exigências de seu organismo quanto às necessidades de:
- Água
- Carboidratos (açúcares)
- Proteínas
- Vitaminas
- Sais minerais
- Lipídeos (gorduras).
Esses nutrientes são retirados da água, mel (néctar) e pólen das flores, mas também podem ser encontrados em outras substâncias usadas pelas abelhas como alimento; é o caso do caldo da cana-de-açúcar, sumo de caju, xarope de açúcar, goma de mandioca, vagem de algaroba, farelo de soja, entre outros.
As abelhas necessitam de reservas de alimento suficientes para atender a sua própria alimentação e das crias em desenvolvimento. Em épocas de escassez de néctar e pólen, é comum os apicultores perderem seus enxames que, enfraquecidos em razão da fome, migram à procura de condições melhores.
O enfraquecimento se inicia quando a rainha diminui sua postura, reduzindo a quantidade de cria e abelhas na colônia.
Quando as condições ambientais estão extremamente desfavoráveis, a pouca cria existente na colmeia pode morrer devido a fome, surgimento de doenças ou ser eliminada pelas operárias, que consomem parte da cria para saciar a falta de alimento.
Na tentativa desesperada de procurar alimento, as operárias começam a voar cada vez mais longe, podendo passar até 4 horas seguidas no campo, desgastando-se muito e reduzindo seu tempo de vida.
A desnutrição das abelhas jovens também prejudica o desenvolvimento do tecido muscular das asas e das glândulas, inclusive da glândula hipofaringeana, produtora de enzimas que serão acrescentadas ao mel e à geléia real. A geléia real é o alimento fornecido às rainhas e crias jovens. Sua falta reduz a capacidade de postura da rainha e a sobrevivência da cria.
A desnutrição e estresse provocados pela falta de alimento deixam os enxames fracos e facilitam o surgimento de doenças e o ataque de inimigos naturais, como traça-da-cera, abelhas tataíras (Oxytrigona sp.), formigas e o ácaro Varroa destructor.
Em razão de todas essas causas, a falta de alimento prejudica a produção de mel e pólen, bem como de rainha, cera, própolis e apitoxina.
Período de Alimentação
A época correta para iniciar o fornecimento de alimento suplementar varia de acordo com a região. Em geral, nos períodos secos, chuvosos ou frios, falta alimento no campo. Por isso, o apicultor deverá ficar atento para a entrada de alimento em suas colmeias e fazer seu próprio calendário alimentar. Ademais, deverá realizar revisões periódicas em seus enxames e socorrer suas colmeias com alimentação complementar quando houver menos de dois quadros de mel na colônia.
Alimentação e Produção de Mel
Quando as primeiras floradas aparecem no campo, as operárias intensificam o trabalho de coleta de néctar e pólen. No alvado da colmeia, é possível observar grande quantidade de operárias entrando e saindo da colmeia, trabalhando ativamente.
Entretanto, ao fazer a revisão em seu apiário, alguns apicultores ficam decepcionados, pois, apesar de tantas flores no campo e muitas abelhas trabalhando, não existe estoque de mel nas colmeias. Isso ocorre porque os enxames, que se encontravam enfraquecidos, utilizam as primeiras floradas para se fortalecerem e se estabelecerem. Ao perceber que as condições ambientais mudaram e que já existe alimento nas colmeias, a rainha aumenta sua postura e todo alimento que entra na colônia é fornecido para a cria.
Somente após as crias tornarem-se adultas e o número de abelhas aumentar nas colmeias, é que se pode verificar grande quantidade de mel estocado. Alguns enxames muito fracos só conseguem começar a "produzir" após a metade do "período de florada", causando prejuízo ao apicultor.
Em regiões onde existe uma florada rica, pouco antes do período da safra, como a florada do "juazeiro" no semi-árido, não ocorre atraso na produção. Isso ocorre porque as abelhas aproveitam essa fonte de alimento para aumentar a população da colmeia e dessa forma, ao iniciar o período produtivo, o enxame está pronto para começar a estocar mel.
Sendo assim, o apicultor pode e deve evitar esse atraso fornecendo alimento às colmeias nos períodos críticos. Experiências realizadas em Santa Catarina mostram que, 18 dias após o início da alimentação, a área de postura da colmeia duplica. A alimentação é fundamental, também, para fortalecer enxames recém-capturados, colmeias fracas e colmeias poedeiras em recuperação ou logo após a divisão.
Alimentação Energética
Um dos alimentos energéticos mais usuais é o xarope de água e açúcar, cujo receita é descrita a seguir.
Xarope de açúcar
Ingredientes: Água e açúcar na mesma quantidade.
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Modo de fazer: Colocar a água no fogo e adicionar o açúcar assim que levantar fervura. Mexer até o açúcar se dissolver por completo; desligar o fogo e deixar esfriar; misturar a solução antes de colocar nas colmeias. Fornecer duas vezes por semana.
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Para evitar que se estrague, o xarope deve ser fornecido no dia em que for feito e consumido pelas abelhas em 24 horas. Após esse período, o apicultor deverá recolher o alimento restante e jogá-lo fora. Em geral, as colmeias consomem 0,5 litros de xarope nesse período de tempo. Entretanto, é necessário que o produtor fique atento, pois colmeias muito fracas não conseguem consumir essa quantidade no prazo necessário. Para que não haja desperdício e problemas causados pela fermentação do xarope, dever-se-á fornecer uma quantidade menor de alimento para os enxames mais fracos, que não conseguem consumir 0,5 litros de xarope em 24 horas.
Cerca de 45 dias antes do período produtivo, o xarope pode ser enriquecido com um pouco de mel de abelha na proporção de 1 litro de xarope para 0,5 litro de mel. Alguns pesquisadores acreditam que o cheiro do mel incentiva o aumento da postura da rainha, preparando, assim, o enxame para o período de florada.
O xarope pode ser substituído pelo "xarope de açúcar invertido" que além de água e açúcar, contém ácido tartárico ou ácido cítrico, como pode ser conferido a seguir. Esses ácidos têm a função de conservar o alimento por mais tempo, além de quebrar a sacarose em glicose e frutose, agindo como a enzima invertase das abelhas.
Xarope de açúcar invertido:
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Ingredientes:5 kg de açúcar; 1,7 litros de água e 5 g de ácido tartárico ou ácido cítrico.
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Modo de fazer: Levar o açúcar e a água ao fogo. Quando começar a liberação do vapor, adicionar ácido tartárico e manter a mistura no fogo baixo por 40 a 50 minutos. Fornecer 1 litro a cada 2 dias.
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Alguns apicultores aproveitam o açúcar existente em outros alimentos para fornecer às abelhas. É o caso da vagem de algaroba (Prosopis juliflora). Segundo Ribeiro Filho (1999), para fornecer um alimento energético e protéico ao mesmo tempo para as abelhas, o apicultor poderá levar ao fogo 1 kg de vagem de algaroba triturada com 2 litros de água. A mistura deve ser fervida até atingir a consistência de xarope e ser fornecida no mesmo dia para as abelhas, evitando a fermentação do produto.
Em algumas regiões, é comum o uso da rapadura em substituição ao alimento descrito acima. Embora muito prático, uma vez que o alimento já se encontra pronto, sendo de difícil fermentação, muitos enxames acabam morrendo pela utilização da rapadura em virtude da falta dos seguintes cuidados:
- Baixa qualidade do produto - por se tratar de um alimento para consumo animal, alguns apicultores compram um produto de menor custo e baixa qualidade, muitas vezes já fermentado.
- Armazenamento inadequado – é comum os apicultores deixarem a rapadura armazenada em locais úmidos, favorecendo a fermentação do produto.
- Fornecimento inadequado – alguns apicultores fornecem a rapadura exposta ao meio ambiente e à umidade da noite, muitas vezes no chão, facilitando sua fermentação. A quantidade, aparentemente, também influencia: alguns enxames conseguem consumir uma rapadura com cerca de 300 g em 24 horas. O fornecimento de uma quantidade maior pode causar problemas intestinais e matar as abelhas. Assim, é recomendado que se ofereça, no máximo, uma rapadura pequena (300 g) duas vezes por semana.
- Falta d'água - como a rapadura é sólida, as abelhas necessitam de muita água para dissolvê-la, transformá-la em mel para depois poderem consumir. O gasto energético dessa operação é alto e, para compensá-lo, a água deverá estar bem próxima ao apiário. Alguns produtores molham a rapadura para facilitar o trabalho das abelhas, porém, isso aumenta o risco de fermentação.
Alimentação Protéica
Existem várias receitas de alimentação protéica. O apicultor poderá utilizar uma das descritas a seguir ou procurar substitutos regionais para a fabricação de uma alimentação adequada.
Receita 1:
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Ingredientes: 3 partes de farelo de soja, 1 parte de farinha de milho e 6 partes de mel
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Modo de fazer: Misturar bem os dois farelos e adicionar o mel devagar até formar uma pasta mole. Fornecer 200 g do alimento duas vezes por semana.
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Receita 2:
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Ingredientes: 3 partes de farelo de soja, 2 partes de farinha de milho e 15 partes de mel.
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Modo de fazer: Misturar bem os dois farelos e adicionar o mel devagar até formar uma pasta mole. Fornecer 200 g do alimento duas vezes por semana.
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Receita 3:
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Ingredientes: 7 partes de farelo de trigo, 3 partes de farelo de soja e 15 partes de mel.
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Modo de fazer: Misturar os farelos e acrescentar o mel. Deixar em repouso por uma semana em local limpo e refrigerado. Fornecer 200 g do alimento duas vezes por semana.
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No lugar do mel, pode-se usar xarope ou açúcar invertido, no entanto, o mel deixa o alimento mais atrativo. É importante que os farelos estejam bem moídos, caso contrário, as abelhas rejeitam o alimento.
Outros alimentos podem ser usados, a levedura de cana-de-açúcar (receita a seguir). Alguns apicultores usam leite para enriquecer o xarope com proteína, entretanto, as abelhas não possuem mecanismo para digerir o leite e acabam morrendo intoxicadas.
Receita 4:
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Ingredientes: 6 kg de açúcar refinado, 3 kg de açúcar invertido e 1 kg de levedura seca de cana-de-açúcar.
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Modo de fazer: Misturar bem os ingredientes para formar a pasta.
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Fornecer a ração misturada com pólen aumenta a aceitação e a eficiência do alimento. O pesquisador Leoman Couto (1998) recomenda a receita abaixo:
Receita 5:
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Ingredientes: 2 partes de pólen seco moído, 5 partes de açúcar, 10 partes de farelo de soja e 3 partes de mel.
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Modo de fazer: Misturar bem o farelo, o pólen e o açúcar e adicionar o mel devagar até formar uma pasta mole. Fornecer 200 g do alimento duas vezes por semana.
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Se o produtor não quiser usar o mel ou não tiver mel disponível, poderá fornecer às abelhas a receita a seguir:
Receita 6:
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Ingredientes: 1 parte de pólen seco e moído, 4 partes de farelo de soja, 4 partes de açúcar e 2 partes de água
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Modo de fazer: Misturar bem os ingredientes secos e adicionar a água lentamente, mexendo sempre.
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Outra alternativa, segundo Ribeiro Filho (1999), é o fornecimento de xarope enriquecido com massa de jatobá (Hymenaea spp), usando-se 100 g de massa para cada litro de xarope. Segundo o pesquisador, o xarope também poderia ser enriquecido da mesma forma com pó de vagem de pau-ferro ou juá (Cesalphinia ferrea) ou pó de folhas de feijão, mandioca e abóbora.
Atualmente a Embrapa Meio-Norte vem pesquisando em parceria com várias instituições outras alternativas para alimentação das abelhas como: torta de babaçu (Orbygnia martiana), farinha de algaroba (Prosopis juliflora), farinha do bordão-de-velho (Pithecellobium cf. saman), feno de mandioca (Manihot esculenta), feno de leucena (Leucena leococephala). Esses resultados estarão sendo divulgados e disponibilizados aos apicultores em breve. A instituição também se coloca à disposição para testar e avaliar qualquer produto que o apicultor tenha interesse em utilizar como alimentação, desde que seja fornecido em quantidade suficiente para os testes.
Alimentadores
A alimentação artificial pode ser administrada em alimentadores individuais ou coletivos. Cada modelo tem uma série de vantagens e desvantagens e cabe aos apicultor analisar e escolher o que seja mais adaptado para sua realidade.
O alimentador coletivo é uma espécie de cocho colocado em cada apiário, disponibilizando o alimento a todos os enxame de uma única vez. Esse modelo necessita de pouco manejo e é muito prático, sendo recomendado para apicultores que possuem grande quantidade de colmeias. Porém, apesar de mais prático, o alimentador coletivo apresenta as seguintes desvantagens:
- Fornece alimento para enxames naturais, de apiários vizinhos, pássaros, formigas, pequenos mamíferos, etc.
- Incentiva o saque.
- Pode ser uma fonte de transmissão de doenças.
- Desfavorece os enxames fracos, já que as colônias fortes coletam mais alimento do que as fracas.
Os alimentadores coletivos devem ser instalados a cerca de 50 metros do apiário e a uma altura aproximada de 50 cm do chão. Para proteger o alimento de formigas, o apicultor poderá colocar uma proteção em cada pé do suporte. Para evitar o afogamento das abelhas, esses alimentadores devem conter flutuadores, que podem ser pedaços de folhas de isopor, madeiras leves ou telas plásticas.
Os alimentadores individuais podem ser encontrados à venda nas lojas especializadas, em diversos modelos, de modo a fornecer alimento interna ou externamente, como pode ser visto a seguir. Os mais recomendados são os alimentadores internos, pois reduzem o saque.
Alimentador de Boardman
Usado na entrada da colmeia, destina-se apenas para alimentos líquidos. Consiste em um vidro emborcado sobre um suporte de madeira, que é parcialmente introduzido no alvado da colmeia. Prático, deixa o alimento exposto externamente, não havendo necessidade de abrir a colmeia para o abastecimento, contudo, pode incentivar o saque (Fig. 33).
Alimentador de Cobertura ou Bandeja
Consiste em uma bandeja colocada logo abaixo da tampa, com abertura central, permitindo o acesso das abelhas ao alimento. No mercado, pode ser encontrado todo em madeira ou revestido com chapa de alumínio. Fornece alimento líquido, sólido ou pastoso, entretanto, quando o alimentador não é revestido de alumínio, para fornecer alimentos líquidos, é necessário que se faça um banho com cera nas emendas para evitar vazamentos. Uma desvantagem do alimentador de cobertura é a quantidade de abelhas que morrem afogadas no alimento. Os modelos que contêm ranhuras na madeira próxima à abertura devem ser preferidos, pois essas ranhuras facilitam o retorno das abelhas para a colmeia, evitando que muitas morram afogadas (Fig. 34).
Alimentador Doolitle ou de Cocho Interno
Com as mesmas dimensões de um quadro de ninho ou melgueira, é usado dentro da colmeia em substituição a um dos quadros (Fig. 35). Para evitar que as abelhas morram afogadas no alimento líquido, o alimentador deve ter as laterais da superfície interior rugosas, de forma a criar uma superfície de apoio para as abelhas.
Precauções
Para que a alimentação seja eficiente e atinja seu objetivo, é necessário que o apicultor siga as seguintes recomendações:
- Quando usar alimentador individual, fornecer o alimento ao final da tarde para evitar o saque.
- Pelo mesmo motivo, evitar derramar alimento próximo ao apiário.
- Quando usar alimentador coletivo, fornecer o alimento durante o dia, de modo que as abelhas tenham tempo suficiente para a coleta.
- Para evitar ou diminuir o desperdiço, ao usar o alimentador coletivo, fornecer uma quantidade de alimento que possa ser consumida no mesmo dia.
- Alimento fermentado mata as abelhas. Por isso é necessário que o produtor tenha muito cuidado para não fornecer alimento fermentado ou não deixar que o alimento fermente nas colmeias.
Seguindo essas recomendações, o apicultor estará reduzindo o abandono em seu apiário e aumentando sua produção em até quatro vezes. Entretanto, a alimentação não pode ser usada como única forma de manejo para evitar o enfraquecimento e abandono dos enxames. É preciso, também, que o produtor fique atento para a falta de água, sombreamento, idade e qualidade das rainhas, ataque de inimigos naturais, mortandade das abelhas, etc.
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