2 de set. de 2015

Prática Básica para Apicultores

5. Prática Básica

5.1 Quais são as principais ferramentas do apicultor?

Na hora do manejo, as ferramentas essenciais são o fumegador, o formão e o espanador.

5.2 Como é o fumegador?

É um cilindro metálico - a fornalha, acoplado a um fole. Há dois modelos básicos, o tradicional, usado no mundo inteiro, e um modelo brasileiro, conhecido como SC-Brasil. O modelo brasileiro é maior e mais apropriado para se trabalhar com africanizadas, pois essas abelhas requerem mais fumaça. Em contrapartida, o modelo tradicional geralmente pode ser utilizado com uma só mão, enquanto que o SC-Brasil precisa de duas mãos ou, pelo menos, de uma mão e de uma perna (ou barriga).
Diversos apicultores usam o fumegador pendurado numa lateral da caixa, e aproveitam o "bico de pato" (um espalhador de fumaça) para fumegar o topo dos quadros usando uma só mão. A desvantagem desse método é que muita água com alcatrão pinga pelo bico, sujando os quadros e os favos.

5.3 Qual é o combustível ideal para o fumegador?

Há inúmeras fórmulas mirabolantes, geralmente inventadas por gente que acredita que as abelhas devem ser narcotizadas. Não falta também quem pense que o fumegador é um incinerador de lixo e jogue ali qualquer porcaria que esteja à mão. Mas é preciso lembrar que a fumaça entra em contato e deixa resíduo em toda a colméia, inclusive no mel. O melhor é usar apenas restos vegetais bem secos, como palha (restos de roçada de campo, por exemplo) ou maravalha de madeira bruta (restos de aplainamento de tábuas). Cuidado para não usar restos de compensados ou aglomerados, inclusive MDF, pois eles são produzidos com colas que, ao queimarem, podem produzir fumaça ainda mais tóxica do que o normal.

5.4 Como acender o fumegador?

Se o combustível estiver bem seco, não haverá problema. Coloque um pouco no fundo da fornalha e acenda com fósforo, ou, melhor ainda, com um daqueles acendedores a gás para fogões. Espere até formar algumas brasas, ajude um pouco com o fole. Depois vá colocando mais combustível, pouco a pouco, e acionando o fole até que uma fumaça branca, espessa e fria saia pela boca do fumegador. Recarregue-o com mais combustível sempre que a fumaça começar a escurecer um pouco ou sair acompanhada de fagulhas.
Se o combustível estiver um pouco úmido, uma pequena dose de álcool em gel resolverá o problema.

5.5 E como reacender o fumegador?

Se sobrar combustível na fornalha de um dia para outro, não tente acender o fumegador por cima, pois o resultado sempre será ruim. Se o combustível velho estiver muito carbonizado, jogue-o fora. Se ainda houver uma boa porção não queimada, despeje-o numa folha de jornal, inicie o fogo do fundo e recoloque-o aos poucos na fornalha. Depois, complete o nível com combustível novo.

5.6 Para que serve o formão?

As abelhas tendem a propolisar todas as frestas estreitas da colméia, a acabam assim colando todas as partes móveis da colméia. Por essa razão, a ferramenta mais importante do apicultor é o formão, uma barra chata de aço, dobrada em L, com as extremidades levemente afiadas (mas não cortantes). Esse formão é usado sempre como alavanca, para levantar a tampa, separar os quadros e descolar as caixas. Também é muito útil para raspar restos de cera e de própolis.

5.7 Como é o espanador?

O espanador (ou escova), apesar do nome, parece-se mais com um grande pente, porque possui apenas uma fileira de cerdas. Essas cerdas devem ser bem macias, para removerem as abelhas sem machucá-las ou danificar os favos. Também é importante que as cerdas sejam de cor clara, menos irritantes para as abelhas.
O espanador deve ser passado de forma a não irritar ou machucar as abelhas.

5.8 Há outras ferramentas úteis para o manejo?

Uma lâmina afiada (faca, canivete ou estilete) é imprescindível no dia-a-dia do apicultor.
Um acendedor para o fumegador é necessário. Podem ser fósforos ou isqueiro, mas o melhor é um acendedor a gás para fogões, daqueles com uma haste comprida.
Há um tipo especial de formão, com uma extremidade em forma de "J", que funciona muito melhor que o formão convencional na hora de retirar os quadros.
Uma outra ferramenta, de alguma utilidade, é o pegador (sacador) de quadros. Trata-se de uma espécie de alicate duplo, usado para retirar e segurar os quadros que serão examinados, com mínimo risco de danificar o favo ou machucar as abelhas. Alguns apicultores gostam do sacador, mas outros, depois de algum tempo, acreditam que podem trabalhar muito bem sem ele. Eu estou no segundo time.
Elásticos ou barbantes podem salvar o dia, caso você se depare com favos tortos ou quebrados.
Outras ferramentas podem ser importantes, mas de uso muito eventual, como alicate, martelo, arame, pregos.

5.9 Como fazer para não perder essas ferramentas?

Nada mais fácil do que perder essas ferramentas num apiário. Para evitar isso, faça o seguinte: vá a uma ferragem e compre dois rolos de fita isolante, um vermelho e outro amarelo. Coloque uma ou duas fitas de cada cor em volta das suas ferramentas e nunca mais você as perderá. Se você for daltônico, escolha cores que você consegue distinguir perfeitamente no campo, em ambiente claro e quase escuro.

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5.10 Com que freqüência devo examinar as colméias?

Depende da época e do tipo de manejo. Uma inspeção rápida pode ser feita a cada semana (ou duas, ou três), mas talvez não haja nenhum problema se você esperar um mês ou mais. Revisões completas podem ser feitas cerca de 2 a 4 vezes por ano.
Se você quiser usar alimentação estimulante antes da florada, o ideal será fornecê-la com grande freqüência - dia sim, dia não, por exemplo. Se isso não for possível, procure fornecer uma quantidade maior de xarope em alimentadores lentos (veja o capítulo 6).
Durante a safra, há duas abordagens antagônicas. A primeira é verificar a colméia freqüentemente para tentar conter alguma enxameação. No entanto, o controle de enxameação não é nada trivial nem 100% garantido, e muito melhor é fazer-se uma prevenção adequada (veja o capítulo 7).
A segunda abordagem, preferível na minha opinião, é mexer o mínimo possível na colméia, abrindo-a poucas vezes e rapidamente, apenas para verificar a acumulação de mel e colocar ou retirar melgueiras. Isso evita perturbações na que podem até significar perda de mel.
De qualquer forma, independentemente da abordagem adotada, é importante que
As colméias não sejam abertas com temperatura ambiente muito baixa, da ordem de 10 ºC ou menos. Caso contrário, muitas crias poderão morrer.

5.11 Como é feita uma revisão completa?

Primeiro, ponha fumaça e abra a colméia, como mencionado acima. Se houver melgueiras, avalie o seu conteúdo retirando um ou dois quadros. Com o tempo, bastará dar uma olhada superficial e suspendê-la, para estimar bem a quantidade de mel armazenado. Verifique se há postura na melgueira. Faça o mesmo com todas as melgueiras e vá retirando-as até chegar ao ninho, usando um pouco fumaça sempre que necessário. Se houver mel desoperculado, use a fumaça lentamente, dirigindo-a apenas para o topo dos quadros. Se estiver ventando, direcione a fumaça para o lado da colméia que estiver recebendo o vento, diretamente na parede. A fumaça vai subir e apenas lamber a parte superior dos quadros.
No ninho, retire cada um dos quadros e examine-os Com o tempo, você será capaz de selecionar apenas alguns quadros bem representativos da situação do ninho, abreviando esse trabalho. No início, ajuda bastante remover o quadro mais vazio de uma das extremidades e pô-lo de lado, para ampliar o espaço de trabalho. Em seguida, faça as verificações e correções necessárias, recoloque todos os quadros, de preferência com a mesma orientação frente-fundo original, e recoloque as melgueiras, usando um pouco de fumaça para esmagar o mínimo de abelhas possível.
Numa revisão de rotina, verificam-se diversos pontos:
· O enxame está bem desenvolvido para a época?
· Há reservas de mel suficientes até a próxima revisão?
· O tamanho do alvado é compatível com a temperatura média da estação e com o movimento de entrada e saída das abelhas?
· A rainha está presente e a postura é adequada?
· Há realeiras?
· As crias estão se desenvolvendo bem?
· Há espaço suficiente para aumentar a postura?
· Há espaço suficiente para armazenar mais mel?
· Há sinal de doença na colméia?
· Há sinal de ataque de formigas, traças ou outros animais?
· Há favos velhos ou quadros danificados a serem substituídos?
· Há umidade condensada na colméia?
· Há sinais de excesso de calor dentro da colméia?

5.12 As colméias mais fortes devem ser examinadas primeiro?

Não. Em apicultura, muitas vezes a idéia de se fazer primeiro o trabalho mais complicado é impraticável. A razão disso é que mexer primeiro na colméia mais difícil pode significar problemas para o manejo de todas as outras. Isso acontece especialmente em dias desfavoráveis para o manejo, como os nublados, úmidos e ventosos. Fazendo sempre as revisões mais simples primeiro garante que, se você tiver de interromper o trabalho, uma boa parte dele talvez já esteja concluída.

5.13 Por que pode ser necessário interromper o trabalho?

Uma possibilidade é começar a chover. Outra é que a agitação e a agressividade das abelhas podem atingir um nível alto demais, atrapalhando muito o manejo e causando um número alto de ferroadas, além de saque generalizado e mortandade de abelhas. Isso não é comum, mas é bom acostumar-se com a idéia de que o apicultor nem sempre consegue fazer no apiário tudo o que foi planejado, especialmente quando a sua experiência ainda não muito grande.

5.14 Onde ponho as caixas que vão sendo retiradas?

Quando se retira uma caixa da colméia, muitas abelhas que estavam ali saem (caminhando) para fazer uma investigação do que houve. Quando essa caixa é posta diretamente no solo, as abelhas que saem podem ser pisadas pelo apicultor, atacadas por predadores ou, na melhor das hipóteses, demorar muito para retornar à casa, já que muitas delas são jovens que nunca voaram.
O que eu faço (e recomendo) é apoiar a caixa sobre a tampa, previamente largada no solo. A caixa pode ficar apoiada numa lateral menor, isto é, de tal forma que os quadros fiquem em sentido vertical ("de pé"). Fica melhor ainda se um canto dessa lateral ficar sobre um ressalto da tampa. Essa posição é confortável para o apicultor, evita que muitas abelhas saiam da caixa, evita que o mel escorra e evita que os quadros se inclinem, o que acontece quando a caixa é apoiada numa das laterais maiores.
Após recolocar as caixas, basta varrer as abelhas que estão sobre a tampa para dentro da colméia, e a perda de abelhas é mínima.

5.15 Como retirar e examinar os quadros?

Se houver muitas abelhas sobre ele, ponha um pouco de fumaça para elas se afastarem. Depois, descole as laterais do quadro, usando o formão como alavanca. Fica mais fácil se um quadro da extremidade tiver sido retirado antes. A seguir, suspenda um canto do quadro com o formão e segure esse canto com os dedos ou o quadro inteiro com o sacador de quadros. Depois solte o outro canto com o formão e retire o quadro.
Se houver muitas abelhas sobre o favo, e você precisar ter uma visão melhor, remova o excesso com um leve chacoalhar, bem acima do ninho. Se precisar remover quase todas as abelhas, use seguinte manobra: segure o quadro por um canto com uma das mãos e, com a outra mão, dê um golpe seco, de cima para baixo, na mão que está segurando o quadro. Dependendo da força que você usar, poderão se desprender as abelhas, os ovos, as larvas e o néctar; muito cuidado, portanto.
Em seguida, segure o quadro pelos cantos e analise a face do favo que está voltada para você. Se você estiver de costas para o sol, o quadro ficará mais bem iluminado. Para analisar a face oposta, vire-o de cabeça para baixo, girando-o com os dedos das duas mãos. Tenha cuidado para não expor as crias muito tempo ao sol (mais de alguns poucos segundos), pois elas são extremamente sensíveis.
Tenha muito cuidado também ao recolocar o quadro, para não esmagar outras abelhas e, principalmente, a rainha.
Quando terminar de recolocar todos os quadros, aperte-os em direção a uma das extremidades, para que sobre o mínimo de folga entre eles, dificultando a propolisação das suas laterais.

5.16 Como saber se o enxame está bem desenvolvido?

Principalmente, por comparação com os demais. Mas a experiência ajuda muito.

5.17 Como saber se há mel suficiente até a próxima revisão?

Depende da temperatura média da época, do fluxo de néctar existente ou por iniciar, de quando será a próxima revisão e do tamanho do enxame. É um ponto em que a experiência do apicultor é muito importante para um bom julgamento.
Se as abelhas estiverem colhendo néctar, esse dado não é tão importante. Caso contrário, se houver um quadro de ninho com bastante mel ou várias coroas de mel sobre a área de cria, provavelmente você não precisará se preocupar por uma ou duas semanas, dependendo do tamanho do enxame. Na dúvida, sempre alimente a colméia.

5.18 Quais são os sinais de excesso de calor na colméia?

A presença de abelhas paradas no alvado, batendo as asas, significa que elas estão forçando a ventilação da colméia. Isso é normal, desde que não sejam muitas abelhas e que o zumbido interno (das que estão ventilando lá dentro) não seja muito forte.
Um indício forte de excesso de calor é o agrupamento de abelhas do lado de fora, formando uma "barba" perto do alvado. Embora seja às vezes entendido (corretamente) como prenúncio de enxameação, o mais provável é que as abelhas não estejam conseguindo refrigerar o interior da colméia quando todas elas estão lá dentro. Para resolver esse problema emergencialmente, podem-se colocar pequenos calços sob a tampa. Para resolvê-lo melhor, pode-se adotar um telhado maior, de cor clara, ou mover a colméia para um local mais sombreado. Uma boa alternativa é usar uma entretampa para ventilação (veja item2.37).

5.19 Por que os favos de cria devem ser substituídos periodicamente?

Há duas razões principais: Uma é evitar que o favo velho se transforme num veículo de contaminação, já que ele é sistematicamente exposto a dejetos das larvas. A outra é impedir que o estreitamente natural do alvéolo, provocado pelos restos de sucessivos encasulamentos, acabe influindo no desenvolvimento das crias, resultando em adultos menores.

5.20 Quando os favos devem ser trocados?

A fórmula mais simples é substituir, numa das revisões anuais, aqueles que estiverem totalmente escuros, de forma que não se possa ver a luz do sol através dos alvéolos.
Outra recomendação comum é trocar-se cerca de 1/3 dos favos por ano, o que daria, em média, uma vida útil de 3 anos por favo.

5.21 Quando devem ser colocadas as melgueiras?

No início da safra, quando a movimentação do alvado começar a crescer. Nesse momento, interrompa a alimentação energética (veja o capítulo 6) e, se houver quadros do ninho com "mel" feito a partir do xarope, remova-os, centrifugue-os e devolva-os vazios à colméia. Isso é necessário por duas razões: primeiro, se este mel estiver desoperculado, ele pode ser relocado pelas abelhas para abrir espaço para a postura da rainha, e as melgueiras recém postas são um ótimo destino. Segundo, se o mel estiver operculado, ele pode bloquear o ninho, impedindo que a rainha aumente sua postura. Veja também o capítulo 8 para maiores considerações sobre a colocação de melgueiras.

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5.22 É melhor fazer o manejo de dia ou à noite?

Isso é uma preferência bastante pessoal do apicultor. Acredito que a maioria prefira trabalhar à luz do dia, mas há alguns que não concordam. Quem trabalha à noite afirma que é mais fácil manejar os enxames muito agressivos, pois as abelhas voam muito pouco. Na minha opinião, o manejo à noite dificulta muito a inspeção visual, aumenta o risco de tropeços e quedas e causa muito mais mortes de abelhas, pois elas tendem a cobrir a caixa e os favos, numa atitude de defesa passiva (elas param com o ferrão voltado para cima, de modo a evitar o contato do "atacante" com a colméia).
A fumaça também parece ser muito menos eficaz à noite. Elas não retornam rapidamente à colméia quando fumegadas, e permanecem cobrindo o topo dos quadros e as paredes das caixas. Por esta razão, A quantidade de abelhas esmagadas na reposição das caixas também é muito maior. As que voam até o apicultor agarram-se firmemente às suas vestes, todas tentando ferroar, e só podem ser removidas com o espanador.
Uma vantagem é que o trabalho à noite é quase sempre mais fresco do que durante o dia.

5.23 Por que as abelhas voam pouco à noite?

Na verdade, elas voam se houver luz visível. O que os apicultores fazem é usar luz vermelha, que não é visível para as abelhas. Para isso, usam qualquer fonte de luz comum, como uma lanterna, e cobrem-na com papel celofane vermelho ou algo similar. Nessas condições, os objetos iluminados por essa luz não são bem visíveis para as abelhas, especialmente se a lua for nova ou estiver encoberta. Mesmo assim, elas conseguem fazer alguns vôos curtos e chegar ao apicultor, que, por essa razão, não pode prescindir do seu equipamento de proteção.

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